(Prólogo)

"Yaho! Sejam todos bem vindos ao festival de inverno do Itália!"

- Ah! Então era isso que você estava planejando Itália. – dizia o Alemanha, com seus braços cruzados e um sorriso fraco no rosto, sentado em uma das cadeiras do grande chalé. – Um festival de inverno realmente vai ser muito útil pra todos nós estreitarmos nossas relações.

- O frio normalmente une as pessoas mesmo. – dizia o Japão com um sorriso tímido e seu típico olhar indiferente. Ele partilhava a mesa do bar do chalé junto com o Alemanha. – Na minha casa, quando faz frio é costume nos reunirmos embaixo do kotatsu. Assim todos podemos conversar enquanto ficamos aquecidos.

- Sim, sim! Me lembro disso da ultima vez que fui á sua casa. – concordou o Alemanha.

- Da...È mesmo? Vocês costumam se divertir tanto assim quando faz frio? – perguntou o Rússia sorrindo inocentemente.

- Você não costuma se divertir com seus amigos no inverno, Rússia? – perguntou o Itália animadamente.

Rússia fitou o Itália confuso por poucos segundos então esboçou um sorriso calmo e inocente.

- No inverno? – Então ele fez aquilo de novo. Não importa o quanto você conviva com o Rússia, toda vez que aparece aquela sombra escura sobre a sua cabeça, é impossível não se sentir amedrontado. – O inverno da minha casa costuma matar muita gente de frio se você não estiver acostumado. Simples cobertores e roupas de frio não seriam capazes de te proteger. – e então de súbito desapareceu e ele voltou com sua expressão meiga e carinhosa novamente. – Bem, pode-se dizer que o bom disso é que costumamos ficar todos no mesmo cômodo pra aumentar o calor da casa ao máximo.

Como eu disse, não importa o quanto ele faça isso na sua frente, você nunca se acostuma com o jeito maléfico de ser do Rússia. E foi por isso que os outros países acabaram perdendo alguns segundos meio que esperando aquele ar gélido assustador passar entre eles.

E enquanto isso, um Inglaterra, que estava sentado no balcão do bar, um pouco mais afastado que os outros, dava um gole em sua xícara de chá.

- De fato, o Earl Gray fica especialmente mais apreciável nessa época do ano. – suspirou ele pomposamente.

- Non Non, mes ami – disse o francês que estava elegantemente sentado e uma das poltronas organizadas em fileira encostadas na janela do chalé. – Só existe um jeito de se aquecer devidamente no inverno.

- Que seria? – perguntou o inglês, que estava tentando ignorar completamente seu rival desde que chegara no lugar e que justamente por isso decidira sentar no balcão do bar, de forma a ficar de costas para ele. E ainda que cedendo á curiosidade pelo que França estava dizendo, Inglaterra ainda sim, se negava a virar-se pra olhar pra ele enquanto perguntava.

- Huh! È claro... – disse ele, tentando dramaticamente fazer algum mistério antes de tirar uma rosa de dentro de seu casaco e estendê-la com um sorriso sedutor. – Fazendo amor!

Ocorreu novamente aquela reação que houve quando o Rússia deu um de seus ataques. Todos ficaram olhando embasbacados na direção do francês, mas diferente de como foi com o Rússia, eles o olhar deles era mais como um desprezo cômico. E todos perderam pouco menos de um segundo esperando aquele silêncio passar enquanto pensavam em uníssono: "Affe"

- Eu sabia que iria me arrepender de perguntar. Por que diabos eu cheguei a pensar por um momento que esse idiota seria capaz de dizer algo inteligente?

-O que está tão insistentemente resmungando aí como o velho que você é, Inglaterra? – disse o francês olhando se soslaio para o outro, já não com um ar tão bem humorado quanto antes. – Se tem algo a me dizer, diga em voz alta. Ou será que está com medo?

- Meu único medo é perder meu precioso tempo discutindo com um sapo tarado e sem cérebro feito você!

- Repete isso seu bêbado!

- Eu estou tomando chá! – disse em tom de ameaça. Tal hora sagrada não deveria ser perturbada.

- Eu tive uma idéia! Que tal disputarmos uma partida de hóquei antes que os dois idiotas ali comecem a brigar? – sugeriu o América animadamente ajeitando os óculos de inverno que estavam presos em sua testa sobre o gorro.

- Você é que é o idiota! – disseram Inglaterra e França em uníssono.

- Não gosto muito desse tipo de coisa violenta, mas enquanto vocês jogam, eu posso montar uma barraquinha de yakisoba-aru. - disse o China.

- Acho que ao invés disso seria mais engraçado se nós fizéssemos a segunda guerra mundial de neve... – disse timidamente o... o...

Ah, esse daí é aquele cara, o... Não! Espera! Não fala! Eu sei... Ele é o... Caramba!... Ta na ponta da língua...

- Quem é você? – perguntou o adorável ursinho Kumajirou, que ele carregava em seus braços.

- Eu sou o Canadá. – respondeu ele com um sorriso meigo no rosto.

(...)

A vista é mesmo linda no topo daquela montanha. Canadá estava na saída de uma estação de esqui. Um pouco afastado do teleférico que ligava aquele chalé a toda a vila que tinha lá embaixo. Alguns apreciavam mais descer a montanha de teleférico, calmamente, apreciando a paisagem linda da montanha: Todos aqueles vales cobertos de neve como dunas de um deserto do branco mais puro que se pode imaginar, os bosques com as árvores secas e brancas congeladas circundavam os flancos de todo aquele lugar. Sim, uma vista linda realmente.

Mas, naquele dia, Canadá estava mais disposto á ter emoções fortes. E por isso ele decidira descer a montanha de um jeito muito mais radical.

Ele decidira esquiar.

Tudo bem, pode não parecer tão emocionante assim. Principalmente quando o América aparece desse jeito, escandaloso e extravagante como sempre, se exibindo em várias manobras com seu snowboard antes de parar bem ao lado do Canadá, freando e jogando uma onda de neve em cima dele.

- Ah! Muito obrigado mesmo Alfred! – reclamou o canadense enquanto espanava a neve de suas roupas, de seu rosto e tirava os óculos para limpá-los.

- Meu amado irmãozinho caçula! – disse ele com um sorriso animado abrindo os braços como se fosse abraçá-lo. – Eu nem vi que você estava aí! E aí Canadá? Vai descer a montanha também? È isso aí! Esse é o espírito americano! Vamos apostar uma corrida?

- Vale lembrar que eu não sou americano, ta? Só você que pensa isso.

- È, não é oficialmente, né? Mas, é praticamente como se fosse mesmo. Hahahaha! Olha só, eu tive uma idéia: E que tal se agente começasse a te chamar de América do Norte?

- Esse já é o nome do continente! – reclamou o mais novo, não com força o suficiente pra parecer realmente bravo diante da animação do americano. – Não fique inventando nomes pra mim e fingindo que tudo o que você quer é seu!

O América colocou o braço envolta do ombro do irmão e o puxou pra um abraço á contra gosto, dando-lhe um cascudo e bagunçando seu cabelo.

- Hahahahaha! Claro! Claro! Você é tão engraçadinho Canadá! Hahahahaha!

Canadá estava de braços cruzados e o rosto emburrado. Odiava aquilo. Não importava o quanto ele perdesse a compostura e tentasse gritar com o América, ele nunca o ouvia, nunca o levava a sério e parecia nunca perceber. Além disso ainda ficava fazendo aquelas piadinhas ridículas de : "Bem, você é praticamente americano mesmo, né?" , "Ah, Canadá! Eu nem te vi aí!". Ele nunca era reconhecido. Nunca! Por ninguém! E era tudo culpa dele! E ele ainda tinha a cara de pau de ficar tirando sarro dele por causa disso!

- Bem... Vamos lá! O papo ta bom, mas conversa tem hora. – Então América baixou os óculos de esqui e calçou as botas do seu snowboard, todo decorado com uma pixação moderna da bandeira de seu país. – Nos vemos lá embaixo Can! Tente não se machucar muito e eu te pago um copo big de chocolate quente no McDonald's. – depois disso o americano deu uma piscadinha sinuosa pro mais novo e tomou impulso pra descer a montanha soltando um "Uhul!" e um "Yeah!" bem animados e desaparecendo entre as dunas de neve fazendo vários giros em ângulos absurdos e manobras realmente difíceis.

- Hunf! – suspirou o Canadá inflando as bochechas e virando o rosto emburrado. – Quem é que gosta dessa comida cheia de agrotóxicos e corantes artificiais? – Então ele voltou-se na direção em que o América partira, e gritou vacilante e baixo demais como sempre: - E... E... Eu soube que o hambúrguer da sua comida é feito de minhoca, ta? – e depois disso ele mostrou a língua, só pra demonstrar toda a raiva que sentia. – Vamos, Kumajoujou. Quem precisa de um idiota americano como ele, não é?

- Quem é você? – perguntou o ursinho polar que estava sentando na neve ao lado dele, apontando para o rapaz loiro seu narizinho azul e seus olinhos confusos.

- Ora! Eu sou o seu dono Canadá! Eu já te disse isso hoje!

Então o ursinho se levantou e começou a caminhar em direção ao bosque.

-E-ei! Kijumarou! Onde você vai? Não vai descer a montanha comigo?

- Se eu ficar nas suas costas você pode se desequilibrar. È perigoso pra nós dois se descermos juntos. – E antes que o canadense pudesse dizer mais alguma coisa, o ursinho já tinha sumido entre as árvores. – Eu vou esperar você lá embaixo.

Canadá piscou confuso por trás de seus óculos. Nunca gostava de se separar de seu ursinho. Sentia-se mais seguro com ele. Mas, bem... No final ele tinha razão, o peso extra poderia ser um problema na hora de esquiar.

Faziam poucos minutos que Canadá estava descendo a montanha. E era verdade que ele estava se divertindo muito. Não precisava ficar se exibindo com manobras radicais que nem o América. Ele descia calmamente, deslizando em diversas curvas de "S", desviando dos montes de neve e dos pinheiros congelados. Era leve suave e gracioso. Divertia-se ás vezes olhando pra trás pra ver os rastros serpenteantes desenhados na neve por seus esquis. E estava satisfeito apenas com a sensação de velocidade, e o vento frio batendo nas pontas dos seus cabelos, que, pouco mais longos que o do irmão, fugiam pelas bordas de seu gorro de lã.

Mas, essa satisfação não durou muito tempo. Enquanto esquiava, o canadense teve muito tempo pra pensar na própria vida, e obviamente pensou em América e a forma desaforada como se despedira dele no topo da montanha.

Droga! Mas que droga América! Eles não eram tão diferentes assim eram? Bem, na verdade eram, mas de uma forma negativa. E só eram parecidos de forma negativa também. Canadá não queria se parecer tanto com o América. Isso sempre o trazia problemas. Mas, por outro lado...

Então, repentinamente ele deu uma guinada com a parte traseira do esqui para frente, parando de repente e espirrando um jorro de neve. Então avistou uma pedra engraçada, coberta de neve, num formato que lembrava muito bem uma rampa. As marcas na neve da pedra mostravam que outros esquiadores tinham tido a mesma idéia que ele estava tendo agora.

Se o América estivesse ali, com certeza se mostraria saltando daquela pedra e fazendo altas manobras. E iria se destacar como sempre se destacava. Chamando a atenção de todos.

Então decidiu. Tomou impulso e partiu em alta velocidade na direção da pedra. O coração acelerado e o medo frio na barriga a cada momento em que Le ganhava mais velocidade. Se aproximando mais e se aproximando mais, até que... Ele saltou.

Os esquis deslizaram pela superfície coberta de neve da pedra e o impulsionaram num vôo como um pássaro. Nos poucos segundos que estava no ar e sentia a adrenalina correndo em seu sangue, admirando a vista, um sorriso genuinamente feliz se formou no rosto do canadense.

Aterrissou trêmulo, e sem acreditar no que tinha feito. Ah! Espera até que contasse pra todos! E que contasse pra seu ursinho Kumochijow (O certo é Kumajirou, Canadá)! E espere até que contasse para o América! Ninguém iria acreditar! Mas, se fosse necessário mostrar tudo na frente de todos novamente ele faria. E, então, aí sim todos o notariam tanto quanto notam o América.

Canadá continuou descendo a montanha, agora mais confiante e mais radical a cada curva que fazia. Avistou outra pedra muito semelhante a primeira mais com certeza bem maior. E não freou e nem hesitou. Apenas posicionou-se na direção da pedra, encolhendo o corpo como uma bala e inclinando-o pra frente para que ganhasse ainda mais velocidade.

E saltou novamente. E ainda se arriscou a fazer um giro de 180 graus que – quem diria! – realmente foi bem sucedido. E que teria sido perfeito se quando ele estivesse no ar ele não tivesse tido uma visão do Cuba – tremendo de frio, com sua camisa havaiana – xingando e gritando na sua direção.

- Cuba? Como você chegou aqui? Você não devia estar aqui!

- AMÉRICA SEU BABACA! –praguejava o cubano – EU TO AQUI POR SUA CULPA! (N/A: 0.0 ? Não me pergunte. È sério. Eu não sei.)

- Mas, eu não sou o América! Eu sou o Canaaaaa... – e a voz dele foi morrendo quando ele finalmente terminou seu vôo e começou a cair desajeitadamente na direção de um monte de neve.

- Canadá? Há! Não me faça rir! – dizia o Cubano tremendo de frio. – O Canadá ta sempre carregando um ursinho que eu sei.

Era tarde demais. O canadense já estava capotando na neve, e derrapou até se chocar contra um tronco de pinheiro caído.

Um dos esquis quebrou, ele bateu com a cabeça e fez um pequeno cortezinho que não parecia sério, mas que estava sangrando. Ficou feliz por não ter quebrado nada e estar só com alguns arranhões. Mas, quando tentara se levantar, sentira uma dor muito forte no tornozelo não conseguiu se levantar.

- Ah droga! – suspirou o canadense. – Hello? – seus gritos mal ecoaram pelas montanhas. – Tem alguém aí? Alguém pode me ajudar?

Não se ouvia a voz de ninguém além da sua própria. Ele suspirou e deixou a cabeça cair entre os ombros, olhando-o para si mesmo caindo e embolado em meio a montes de neve.

- Não vai vir ninguém. - suspirou ele melancolicamente. – Como poderia? Eu sou praticamente invisível pra todo mundo. Ninguém nunca me nota...

Um bloco de nuvens negras começou a se formar no céu, uma tempestade se aproximava. Canadá ficou ali sentado por mais alguns muitos minutos. Minutos nos quais pensamentos escuros levaram uma sombra significativa de tristeza aqueles olhos azuis turquesa, e a seu rosto delicado. As mechas de seu cabelo loiro sedoso, e suavemente ondulado caíra sobre seus olhos e sua voz ficara ainda mais baixa do que já era.

- Provavelmente... Nem vão sentir a minha falta.

E ficou ali jogado, por um longo tempo. Sentindo o nariz e as orelhas ficarem cada vez mais geladas e vermelhas pelo frio, a respiração se condensando e virando uma fumaçinha que se dissolvia no ar no segundo seguinte.

Apesar de ainda ser o cair da tarde, o céu escurecia pelo acúmulo de nuvens. Não demorou muito, e flocos delicados de neve começaram a cair suave e lentamente no ar. Canadá voltou seu rosto triste para o céu, vendo aqueles flocos caírem tão devagar. Não cairiam gentis assim por muito tempo, não segundo aquelas nuvens. Logo aquele pequeno espetáculo silencioso se transformaria numa tempestade de neve.

- E eu morrerei aqui... Congelado para que todos saibam. Que o Canadá sempre foi e sempre será esquecido e sozinho.

Então ele fechou os olhos, contentando-se com o seu destino.

E foi então que ele ouviu aquele silvo na neve. Ele ergueu o olhar e viu seu irmão mais velho deslizando em varias curvas em "S" com sua prancha de snowboard. Seus olhos se encheram de lágrimas.

- América... – disse ele quase chorando enquanto o irmão vinha a toda velocidade em sua direção.

O americano veio guinando a prancha delicadamente para frente, reduzindo a velocidade e parando devagar na frente do irmão mais novo, sem espirrar neve em seu rosto que já estava tão vermelho por causa do frio.

- Matthew! – disse ele desabotoando as botas da prancha, tirando os óculos protetores, e correndo na direção do canadense jogado no chão. – Caramba! O que aconteceu?

- América... – o garoto apertava os olhos com força e fungava, segurando-se pra não cair no choro. Não conseguia dizer mais nada além daquilo.

- Ta tudo bem. – disse ele encarando o irmão preocupado por alguns instantes. Mas aquela postura não durou muito tempo, logo depois já estava com um riso bobo. – Hahahaha! Você caiu não foi? Você é mesmo um desajeitado Can! Hahahahaha! Não leva jeito mesmo pra essas coisas! Por causa disso acabou de perder seu chocolate quente. – então ele olhou pro céu. – Ah-ah! È melhor nós sairmos daqui antes que isso piore.

Antes que o mais novo pudesse dizer alguma coisa, América já estava apanhando-o no colo, como se ele fosse tão leve quanto uma criança. Calçou meio que de qualquer jeito um dos pés das botas da prancha de snowboard e começou a descer suavemente a montanha.