Rony

Você escolheu não vir comigo. Mas eu devo ir. Não posso mais ficar presa às lembranças dessa guerra. Eu tenho pesadelos, eu estou sempre com medo, eu revivo os horrores no rosto das pessoas. Preciso me desintoxicar dessa vida, do que nos aconteceu.

Você poderia vir comigo, mas entendo os laços que o prendem aqui. A sua família.

Adeus, Rony.

Com amor,

Hermione

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Rony

Detesto despedidas, por mais que tenha dado adeus a muitas pessoas durante a guerra. Não queria ter que me despedir de você, mas eu não posso mais ficar por aqui. Preciso ver se há uma chance para mim longe das lembranças terríveis do passado. Se finalmente poderei me libertar da vida que tive e que só me trouxe desgraças.

Você é como um irmão para mim, espero que sempre se lembre disso. Também espero um dia ter coragem de voltar e poder estar perto desse mundo sem me entristecer.

Adeus,

Harry

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Hermione

Sei que você, assim como eu, decidiu deixar o mundo mágico para trás. Estarei por perto, mas não acho que estarmos juntos nesse caminho vá ser bom para nenhum dos dois. É hora de cada um encontrar sua liberdade.

Espero poder reencontrá-la quando esta dor estiver controlada.

Com carinho,

Harry

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Harry

Recebi sua carta pouco antes de partir. Quando eu estiver estabelecida, avisarei. Apenas para que possa me encontrar se precisar, também acho que a gente deva seguir separados.

Com carinho,

Hermione

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Harry

Entendo suas razões para partir e espero o dia em que você possa voltar. Apenas torço para que a dor que vive em nós pare de nos impedir de viver.

Fique bem, me procure se precisar.

Do seu amigo e irmão,

Rony

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Hermione

Não posso pedir que você fique, pois sei o quanto as lembranças estão atormentando seus pensamentos. Você não é mais a garota que eu conheci e sei que é a tristeza que a deixa assim. Espero um dia poder voltar a ver seu sorriso e seus cabelos balançando suavemente ao vento. Sentirei muito a sua falta e jamais poderei esquecê-la.

Com amor e saudades,

Rony

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Cara senhorita Hermione Jane Granger

É com muito prazer que informamos que você foi aceita no curso de Psicologia da nossa Universidade.

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Parabéns!

Harry Tiago Potter, queremos lhe dar as boas vindas à nossa instituição e informá-lo que você foi aceito no curso de Publicidade.

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Senhor Ronald Bilius Weasley,

Compareça ao Ministério da Magia, Departamento de Aurores, no próximo dia 7, às 8 horas da manhã para o início do seu treinamento.

Grato,

Quim Shacklebolt

Chefe do Departamento de Aurores

Ministério da Magia

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Hermione olhou para os dois lados da rua antes de abrir a porta do velho prédio. Entrou rapidamente, batendo a porta atrás de si. Subiu as escadas exausta e girou a chave na fechadura de seu apartamento.

"Finalmente, paz", pensou e se deixou cair pelo sofá da sala.

Mas sua tranqüilidade não durou nem dois minutos. Aline Maxwell, sua colega de quarto, entrou pelo apartamento fazendo muito barulho.

- Hermione! O que você está fazendo deitada aí? Esqueceu a festa de hoje? – ela quase gritava, estava muito agitada.

- Eu não vou. – Hermione respondeu sem forças.

- Ah, não é possível! Você nunca sai com a gente! Como pode ficar em casa todo esse tempo? Hoje é sexta-feira, é o dia em que você pode se divertir. Sei que amanhã vai querer ir visitar seus pais.

- Sim, vou. Vou pegar o primeiro trem. Por isso, quero dormir cedo.

- Você sempre foge nos fins-de-semana, sempre se tranca em casa nas sextas e passa o resto da semana estudando dia e noite. Isso não é saudável!

- Não, não é. Mas é o máximo que eu consigo fazer. – Hermione se levantou do sofá e foi até seu quarto. Era uma sorte ter conseguido um apartamento de dois dormitórios com um aluguel tão bom. Podia dividi-lo com apenas uma garota e ter seu próprio quarto e sua privacidade. Hermione trancou a porta e nem ouviu quando, já depois das onze horas, Aline saiu para a tal festa.

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- Ei, Harry, cara! Espera aí!

Harry parou no meio do campus da Universidade e esperou que Luke Weston, seu colega de sala, chegasse até ele.

- Está indo pro dormitório, cara? – ele perguntou, ofegante, quando conseguiu chegar a Harry.

- Sim, estou. Preciso trocar de roupa antes de ir para o bar.

- Ah, beleza. Eu vou assim mesmo, é boteco, você sabe. Nossa, hoje eu vou beber! Esse fim de semana, não vou voltar para casa e posso ficar mal. – completou o que disse com uma risada. Harry também deu risada – Ah, será que eu posso ficar lá no seu dormitório? O Kevin disse que tudo bem. – Kevin era quem dividia o quarto com Harry.

- Claro, com certeza.

- Valeu aí, cara. Então, 'té mais.

- Falou.

Harry caminhou para os dormitórios da faculdade. Os seus amigos e suas amigas iriam se reunir no bar da rua em frente para mais uma noite de bebidas, conversas desconexas e risadas sem sentido. Todos pareciam se divertir muito com aquilo. Harry pensava, então, que bastaria um tempo para se acostumar e também começaria a freqüentar esses lugares por prazer. Um dia.

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- Você é Hermione Granger, não?! – a pergunta, acompanhada de voz em sussurro, sempre irritava Hermione.

- Sim, sou. – respondeu impaciente.

- Eu soube que você tinha abandonado o mundo dos bruxos. Uma pena, você é uma grande bruxa, sabia? – a garota que falava isso tinha o cabelo preso no topo da cabeça, usava jeans e uma camiseta propositalmente manchada e era pelo menos vinte centímetros mais baixa que Hermione.

- É um assunto pessoal.

- Não se preocupe, eu entendo. Estudei sete anos em uma escola de bruxos. Não Hogwarts, não entrei lá. – a garota deu um suspiro – Mas não pude ficar muito tempo naquela vida. Muitas regras, muita formalidade, sabe? Sei perfeitamente como você se sente, amo o mundo dos trouxas!

Não, ela não sabia perfeitamente como Hermione se sentia, ela não estava no mundo trouxa pelos mesmos motivos. A garota percebeu que sua intromissão não estava sendo agradável.

- Bem, de qualquer forma, quis apenas que você soubesse que também sou bruxa caso... Bem, caso surja alguma necessidade. Meu nome é Louise Simmons, sou do segundo ano de Fisioterapia.

- Prazer, Louise. – Hermione disse, apertando a mão da garota.

- Prazer, Hermione. Bem, eu já vou. Nos veremos pelos corredores, até.

- Até. – Hermione sentia-se mal por ter sido rude com a garota, mas a última coisa que desejava era precisar da ajuda de outra bruxa. Se possível, queria que a vida fosse tão calma que nada a levasse a isso.

Tinha seguido em direção à sua sala quando ouviu alguém a chamar. Virou-se, era Phillipe Robbins, aluno do segundo ano de Psicologia. Tinha sido ele a primeira pessoa que Hermione tinha conhecido na faculdade, ele tinha explicado como tudo funcionava e, desde então, não podia vê-la pelo corredor sem chamá-la. Hermione sabia que ele era apaixonado por ela, mas preferiria que isso não fosse verdade. Ainda não tinha esquecido Rony, tinha se separado dele por causa da sua dor, não porque tinha deixado de amá-lo. Incomodava-se com o jeito insistente e muito melado de Phillipe. Tentava fugir dele quando o encontrava ou apenas cumprimentá-lo com um aceno, sem ter que ir até ele. Mas, naquele dia, ele foi mais rápido e chegou até ela.

- Bom dia. – ele disse com voz melodiosa, tentando soar carinhoso, mas deixando Hermione extremamente desconfortável.

- Bom dia. – ela respondeu, desejando que ele tirasse aquele sorriso do rosto e parasse de tombar a cabeça para o lado, como fazia toda vez que conversava com ela.

- Que aulas tem hoje? – ele perguntou, segurando a mão dela.

- Donnelly no primeiro horário. Murray no segundo.

- Ah, Murray. Um vez...

E, novamente, Phillipe entrava nas histórias do seu primeiro ano, único assunto que sabia puxar com Hermione. Contava o que tinha acontecido com um amigo, o que o professor tinha dito, as histórias engraçadas, as histórias absurdas.

Hermione desejou que ele parasse. Maldita segunda-feira.

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Harry não estava na sala. Tinha passado a manhã toda na área dos restaurantes da faculdade. Jogava conversa fora com os outros colegas e não parava de olhar para a mesa do lado, onde estava Deborah Harris. Deborah era uma menina morena de olhos castanhos muitos fundos. Era bonita e engraçada. Muitos garotos eram interessados nela e ela parecia dar mais atenção a Harry.

Ele gostava dessa atenção. Deborah sempre estava com o grupo dele nas noitadas no bar ou em alguma casa noturna. Também perdia muitas aulas para ficar pelo campus conversando. Ela morava na cidade e, por isso, não precisava utilizar os dormitórios da Universidade. Mas, por muitas vezes, acabava ficando no quarto de amigas para poder voltar tarde quando o grupo saia.

Harry sabia que ela não era uma garota especial, mas ela era bonita e divertida. E isso bastava. Ou deveria.

"De que adiantava sonhar com as princesas?", pensava. Por mais que, certa vez, tivesse tido a oportunidade se aproximar de uma.

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E era sexta-feira de novo. Hermione não podia acreditar. Estava sentada em seu lugar na sala de aula, mas não prestava atenção ao que o professor estava dizendo. Tinha se cansado de aulas inúteis.

Ela! Hermione Granger, a sabe-tudo de Hogwarts de repente achava que estudar era tedioso. E como era. Ela tinha um pequeno bloco de anotações que usava para escrever o que precisasse durante os dias. Desde números de telefone até frases que surgiam na sua mente. Estava rabiscando nele, uma infinidade de palavras que vinham não se sabe por que em seus pensamentos.

Flores.

Viagem.

Suposições falsas.

Tempo, tempo, tempo.

Relógio.

Atrás.

Ao seu lado, duas colegas discutiam alguma lição que não tinham feito:

- Não lembro todos os pontos.

- Você deveria ter prestado mais atenção. Francamente, nós vamos precisar saber disso na hora que quisermos colocar em prática.

Colocar em prática, colocar em prática. Hermione não conseguia pensar quando iria colocar em prática o que aprendia nas aulas. Ela como psicóloga. Tinha tantos problemas consigo mesma que não podia enxergar o dia em que poderia ajudar outras pessoas.

- É que está sendo tudo muito rápido.

- É claro que está! Nós temos pouco tempo, começamos tarde demais.

Tarde demais estava aquela aula. Parecia que não ia acabar nunca! Hermione olhava o relógio, mas ele não se movia com a rapidez que ela esperava. O tempo tinha passado tão devagar que, mesmo agora, que faltam poucos minutos para o fim da aula, parecia que uma eternidade iria passar antes que eles pudessem levantar das cadeiras.

- Deixe o seu caderno de lado, assim, para eu poder copiar.

- Você está louca? E se alguém vir?

Quanta preocupação com os trabalhos, os livros, os conhecimentos novos. Hermione já tinha sido assim, mas foi quando estudava coisas que realmente a interessavam. Ora, não tinha abandonado as aulas de Adivinhação? Que bom seria abandonar essa faculdade de uma vez. Mas ela tinha que ter paciência, ainda era só o primeiro ano. Quem sabe ela viria a gostar da profissão e do modo de vida trouxa? Quem sabe ela pararia de ser infeliz...

- É leviosa?

Hermione olhou assustada para as duas garotas ao seu lado. Tinha escutado direito? Uma delas tinha falado a palavra leviosa?

Mas as duas evitaram o olhar de Hermione, cobriram seus cadernos e, segundos depois, a aula tinha terminado e elas tinham saído correndo pelo corredor.

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Hermione estranhou quando Aline não apareceu no apartamento. Apesar nunca sair com ela e as amigas, sempre era convidada. Será que elas tinham cansado de esperar um "sim" como resposta a uma festa ou balada?

Talvez, pois aquela foi a primeira vez que Aline e as outras saíram sem a chamar, mas isso se repetiu por muitas semanas.

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Harry não entendeu porque todos seus amigos estavam ocupados demais para saírem naquele fim de semana. E nos seguintes. Onde eles arrumavam tanto para fazer?

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N/A: Eu disse que não conseguiria ficar muito tempo afastada das fics...

O roteiro de Nunca Mais já estava na minha cabeça fazia um tempo, esse primeiro capítulo e o próximo passaram para o computador quase que num desabafo. Escrevi rápido, nem sabia se o texto está chegando aonde eu queria.

Graças à minha beta, Mari, comecei a publicar. Ela garante que está ficando bom, espero que vocês também gostem.

Bem, reviews, pleeeeease!

E divirtam-se!

It's good to be back!

Detalhe: dessa vez eu vou entregar os shippers logo de cara: Ron/Hermione e Harry/Gina. Sou fã dos dois.

Beijos!