Parte 1- Preparativos
O Beco Diagonal. Um lugar onde a maioria dos bruxos vão para fazer compras, encontrar pessoas e se divertir. Sempre cheio de lojas novas, um lugar onde você encontra todo o tipo de coisas e pessoas. É por isso que todos adoram o Beco Diagonal. Exceto, é claro, nesta época do ano.
Faltando apenas alguns dias para o natal, esse é o último lugar que alguém quer estar. Lotado de pessoas correndo para lá e para cá atrás dos presentes comprados na última hora, crianças gritando para suas mães o que querem ganhar neste natal, comerciantes querendo vender todo o tipo de enfeites e coisinhas natalinas que não tem a menor utilidade. E eu quase ficando louco.
Fazer compras nunca foi meu passatempo favorito, ainda mais nessa época do ano. Para falar a verdade, eu nunca entendi porque as pessoas têm que fazer tantas festas e comprar tantos presentes nesse dia. É só mais um feriado, não é grande coisa. É uma pena que nem todos pensem assim.
Pelo menos eu aprendi uma coisa com isso tudo: Nunca, em hipótese alguma, vá fazer compras com a sua namorada. Especialmente dias antes do natal. Especialmente se sua namorada for Gina Weasley.
- Draco, você pegou tudo?
Eu queria que alguém tivesse me avisado isso antes de eu topar fazer compras com ela. Lá estava eu, cheio de sacolas de presentes, no meio daquela confusão do Beco Diagonal. Agarrei as sacolas de qualquer jeito e respondi:
- Peguei. Agora vamos embora, por favor.
- Calma, ainda não compramos tudo. – Eu a olhei incrédulo. – Vem, vamos encontrar algum lugar mais calmo para ver o que ainda falta.
Ela foi andando entre as pessoas e eu simplesmente a segui, tentando inutilmente não esbarrar em ninguém. As pessoas passavam por nós tentando abrir caminho pela multidão sem o menor cuidado, as crianças corriam esbarrando nas outras pessoas e estas derrubavam os pacotes e sacolas que estavam segurando. Um verdadeiro caos. Como eu odeio essa época do ano.
Eu continuei seguindo Gina, até que ela parou de repente, em frente a um café.
- Parece que este não está tão cheio... – Ela disse, antes de entrar e segurar a porta para eu entrar.
O lugar estava quente, bem melhor do que lá fora. E por incrível que pareça, não estava lotado. Nos sentamos em uma mesa perto da janela e eu logo joguei as sacolas em cima da mesa. Gina tirou um papel e uma caneta da bolsa.
- Certo. Já compramos para mamãe e papai – Ela foi riscando os nomes na lista – Fred, Jorge, Gui, Carlinhos, Percy, Harry, Rony e Hermione.
Dei um suspiro de alívio.
- Então compramos tudo.
- Você já comprou os seus? Pra sua família, amigos...?
- Minha rede social não é tão grande, Gina. – Ela me repreendeu com o olhar. – Sim, eu já comprei.
- Todos?
Eu sabia o que ela estava tentando fazer. Queria saber se eu já havia comprado o presente dela. É claro que eu já tinha pensado nisso semanas antes e o presente até já estava escondido em casa. E ela nem desconfiara de nada.
Eu fingi não saber do que ela estava falando e respondi com simplicidade:
- É, acho que sim.
Ela guardou a lista de presentes e voltou o olhar para a janela.
- Estou com a sensação de que esquecemos de alguma coisa...
Por que as mulheres têm que ser tão consumistas? Nós estávamos cheios de compras, passamos o dia inteiro procurando, pesquisando e comprando presentes e ela diz que ainda falta alguma coisa!
Claro que eu não ia protestar por causa disso, porque não queria ter que passar mais uma hora tendo de ouvir sobre o porquê o natal é tão importante e como as pessoas deveriam se importar mais com essa data.
Ela continuou olhando para a janela, enquanto eu somente a observava. Ela parecia estar bastante concentrada e observava a fria neve que começava a cair lá fora. Gina sempre gostou de neve. Era incrível o jeito que ela ficava animada quando começava a nevar, e eu nunca entendi direito porque ela achava tão divertido fazer um boneco de neve ou patinar no gelo. Mas nunca discuti por causa disso. Acho que porque essa sempre foi uma das coisas que eu mais gosto nela. O jeito que ela fica radiante com um simples dia de inverno. E eu posso não amar a neve tanto quanto ela, mas eu amo vê-la assim.
E foi isso que me levou a comprar o que eu comprei para ela de natal. Passei dias pensando no presente perfeito, algo que ela gostasse de verdade. E eu sabia que para Gina o valor sentimental importa bem mais do que o material. Pensando assim, foi fácil encontrar o presente. E assim que eu o vi na vitrine de uma loja, me lembrei dela.
Um globo de neve. Um daqueles simples e pequenos globos de neve que as crianças adoram. Nunca vi muita graça neles, mas sabia que Gina seria capaz de passar um dia inteiro virando-o de cabeça para baixo só pra ver a falsa neve caindo de volta. Ela ia adorar. E fiz questão de comprar um que tinha um boneco de neve dentro, já que ela adorava fazer bonecos de neve. Acho que até eu acabei gostando do globo. Simples, mas perfeito.
- Lembrei! – Ela gritou de repente, fazendo com que eu me desligasse de meus pensamentos.
- Ótimo. Lá vamos nós de novo...
- Disso você não pode reclamar. É uma coisa essencial para o natal, Draco.
- E o que é?
- A árvore! – Ela respondeu, como se fosse um pecado ter esquecido desse detalhe.
Eu refleti por um momento.
- Eu acho que nunca comprei uma árvore de natal antes.
Ela ficou surpresa.
- Por que não?
Eu dei de ombros.
- Sei lá. Sempre achei que era uma coisa meio... Inútil.
E no momento em que eu pronunciei aquela palavra, vi que tinha cometido um erro. Gina pareceu ficar furiosa e eu sabia que agora ela iria começar mais um discurso sobre os significados dos símbolos de natal.
- Como você pode ter passado a vida inteira sem ter uma árvore de natal no natal? – Ela perguntou incrédula.
- Nunca me fez falta.
- Isso porque até o natal passado você morava sozinho. Agora vamos ter que mudar um pouquinho algumas coisas.
Eu a olhei desconfiado.
- Tipo o quê?
- A sua falta de espírito natalino, por exemplo.
- Eu tenho espírito natalino. Só acho que algumas coisas são... Hum...
Um pouco desnecessárias.
- Mas a árvore de natal é essencial.
Eu sabia que seria besteira querer discutir com ela, no fim ela sempre acabava vencendo. Decidi concordar logo, afinal quanto mais cedo acabássemos aquilo, melhor.
- Tudo bem, se uma árvore é tão importante para você...
E no instante seguinte ela já estava me puxando pela mão para fora do café, me arrastando de volta para a confusão do Beco Diagonal. E lá estava eu de novo, no meio de pessoas impacientes se esbarrando, crianças gritando, neve caindo... Ah, o Natal...
Quinze minutos depois, nós estávamos em frente a uma loja cheia de pinheiros. Havia árvores de todos os tamanhos e tipos. De plástico, verdes, brancas, com falsos flocos de neve, árvores de verdade plantadas em grandes vasos... Acho que eu nunca tinha visto tantas variedades de pinheiros antes. Gina ficou olhando para as árvores, tentando tomar uma decisão.
- Se você disse que nunca teve uma árvore de natal, provavelmente não tem enfeites também. – Ela disse e eu confirmei com a cabeça. – Certo, então enquanto você escolhe uma árvore, eu vou comprar os enfeites, ok?
- Você vai me deixar aqui sozinho? Mas eu nunca comprei uma árvore antes! Eu não sei como escolher e...
- Draco, é só uma árvore. Escolha alguma que não seja nem muito grande e nem muito pequena.
Grande dica. Às vezes Gina parece ter a ilusão que essas coisas são tão simples para mim quanto para ela...
- Ok, eu vou tentar...
- Encontro com você aqui, daqui a pouco.
Ela se virou e, andando alegremente, desapareceu entre a multidão. Eu me virei para as árvores.
- Certo... Não pode ser tão difícil. Afinal, são só árvores...
Esse era o problema. Eram só árvores! Como eu poderia saber qual árvore era melhor se todas eram só simples pinheiros! Peguei a primeira que vi. Parecia boa, nem muito grande, nem muito pequena, os galhos pareciam fortes o suficiente para agüentar os milhares de enfeites que Gina compraria... É, aquela estava boa.
Fui até o caixa para pagar, mas pensei melhor. E se Gina não gostasse daquela? Ela iria passar o natal inteiro me dizendo que eu não sei escolher uma simples árvore e que aquela era horrível, que não combinava com a nossa sala e iria inventar mais um milhão de defeitos para a árvore. Talvez fosse melhor esperar ela voltar.
Continuei parado perto da árvore que tinha escolhido, a fim de não deixar que ninguém a comprasse. E essa foi outra coisa que eu aprendi nesse dia: Nunca fique parado, sozinho, no meio de uma loja lotada. Isso porque depois de uns vinte minutos parado no mesmo lugar, as pessoas começam a te olhar de um jeito estranho. É como se você estivesse atrapalhando as compras delas. O que em parte é verdade, já que eu estava ali há um bom tempo com loja lotada de pessoas e toda vez que alguém chegava perto da minha árvore eu tentava impedir que essa pessoa a comprasse.
Quando já haviam passado quase trinta minutos, o dono da loja veio falar comigo, alegando que eu estava impedindo que ele vendesse a mercadoria dele e disse que se eu não fosse comprar nada era melhor eu me retirar da loja. Eu tentei argumentar, dizendo que só estava esperando uma pessoa e que com certeza eu iria comprar alguma coisa assim que ela chegasse. Mas depois que eu vi os olhares ameaçadores que algumas senhoras estavam me lançando, achei que era melhor mesmo esperar Gina lá fora.
Lá fora estava frio e nevava mais do que quando entrei na loja. As pessoas ainda passavam correndo de um lado para o outro, cheias de sacolas. Uma mulher passou carregando suas compras em uma mão, enquanto com a outra segurava a pequena mão de sua filha, tentando fazer com que ela andasse mais rápido.
- Olha mamãe, o Papai Noel! – Ela puxava a barra da saia de sua mãe e apontava para uma pequena multidão que se aproximava.
Ótimo. Já não bastava eu ter sido expulso de uma loja, ficar mais de meia hora esperando Gina no meio daquela confusão, embaixo da neve e agora ainda ia ter que agüentar a pequena multidão de crianças que se aproximava gritando e pedindo doces de um velho gordo vestido de Papai Noel.
Eu não sei direito por que, mas eu nunca gostei da história do Papai Noel. Acho que sempre fui muito cético para esse tipo de coisa. Nunca acreditei em Papai Noel, coelhinho da páscoa ou fada dos dentes. E sempre achei uma idiotice os pais incentivarem seus filhos a acreditarem nessas histórias. Eles iludem as crianças por anos, enganam seus próprios filhos e depois tem que lhe dar com a decepção deles ao descobrir toda a verdade. É simplesmente cruel.
Pouco tempo depois, a multidão chegara ao lugar onde eu estava. O falso Papai Noel distribuía doces e abraços para as crianças, enquanto elas gritavam para ele o que queriam ganhar neste natal. Uma delas perguntou para ele o que teria que fazer para ganhar o novo vídeo-game que queria. Ele respondeu:
- Se você se comportou durante todo o ano e foi um bom menino, tenho certeza que seu presente está na minha lista.
Outro menino completou:
- É, você tem que obedecer a seus pais e... – De repente ele se virou para mim e vendo minha cara nada animada, completou – E não pode fazer cara feia pro Papai Noel igual esse tio aí ta fazendo.
Só me faltava essa. Uma criança me acusando de fazer cara feia para o Papai Noel. Eu só estava parado ali, no meu canto, torcendo para que Gina chegasse logo... E eu nem estava prestando tanta atenção assim no Papai Noel e nem fiz cara nenhuma.
Ou será que fiz?
- Ei, eu não... – Eu tentei me defender, mas o Papai Noel foi mais rápido.
- Quem sabe um doce não alegra o moço? – E me deu um pirulito.
Eu quase não acreditei naquilo. Por acaso eu tinha cara de criança para ganhar doces? Fiquei olhando para o pirulito, enquanto o Papai Noel continuava andando pela rua com a pequena multidão o seguindo. Assim que eu percebi que tinham pessoas demais olhando para mim e dando risadinhas, rapidamente guardei o doce.
Por sorte, alguns minutos depois Gina apareceu com mais um monte de sacolas.
- Você demorou.
Ela me deu um beijo rápido nos lábios e disse alegremente:
- Olha quanta coisa eu comprei! Eu encontrei tantos enfeites bonitinhos! Tem uns anjinhos enfeitiçados que... – Só então ela percebeu que eu estava de mãos vazias. – O que você ficou fazendo se não comprou a árvore até agora?
- Vejamos... Eu escolhi uma árvore, mas não comprei. Depois, virei alvo de olhares furiosos e fui expulso da loja. Tive que ficar aqui esperando por você um século, na neve, no meio dessa multidão. Ah, e claro, ganhei um pirulito do Papai Noel.
Ela me olhou, curiosa.
- Depois você vai ter que explicar essa história de Papai Noel melhor. Agora vamos comprar essa árvore que você escolheu, antes que alguém seja mais rápido.
Ela entrou na loja novamente e eu a segui. O dono da loja não pareceu nem um pouco feliz ao me ver, mas não disse nada.
- Certo. Qual era a árvore que você tinha escolhido? – Gina me perguntou enquanto eu procurava a tal árvore.
- Essa aqui! – Eu fui até a árvore, feliz. Pelo menos meu esforço não foi em vão, afinal ninguém a comprou.
Gina olhou a árvore e, para a minha surpresa, não pareceu muito animada.
- Eu fiz como você disse, escolhi uma que não é nem muito grande, nem muito pequena e...
- Sim, o tamanho até que está bom, mas é que...
- O quê?
- Draco... Ela é de plástico.
Mas é claro que era de plástico! Era só uma árvore de natal, só um enfeite. Ela não queria uma árvore de verdade, queria?
Queria.
- Gina, você não está pedindo que eu coloque um pinheiro de verdade na minha sala, está?
- Nossa sala.
Ela foi até os pinheiros que estavam plantados em vasos e escolheu um.
- Viu? Este é bem melhor.
Tinha quase o dobro do tamanho da que eu tinha escolhido.
- Mas você disse nem muito grande, nem muito pequena.
- Está é perfeita. –Ela respondeu sorrindo.
- Mas... – Eu já queria argumentar, mas o dono da loja me olhou de um jeito meio ameaçador e eu achei melhor comprar logo. – Se é perfeita pra você...
Compramos a árvore e aparatamos para casa. Finalmente aquilo tinha acabado. Ou pelo menos eu achava que tinha.
A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi deixar as compras em um canto qualquer e me jogar no sofá. Eu estava cansado, mas Gina não pareceu gostar nada da minha atitude.
- Draco, o que você pensa que está fazendo?
- Descansando... Por quê?
- Descansando do quê? Nós mal começamos os preparativos!
- Ah, não me diga que tem mais coisas...
- Claro! Falta o principal! –Ela respondeu, animada. – Vamos montar a árvore de natal.
Como eu pude me esquecer. Já não bastava a luta para comprar a árvore, agora eu ainda teria que ajudar a montá-la.
- Você tem certeza que quer fazer isso agora? – Eu perguntei, suplicando.
Ela nem precisou responder. No momento seguinte eu já estava sendo obrigado a me levantar e ela já estava abrindo os enfeites.
Depois de separar tudo em duas partes, ela se virou para mim e pediu:
- Coloque essa parte que eu coloco esta outra.
- Tudo bem.
Eu comecei a pendurar os enfeites de qualquer jeito, quando ela me mandou parar.
- O que foi agora?
- Você está colocando tudo no mesmo lugar. Tem que espalhar mais, senão a árvore vai ficar vazia de um lado e cheia do outro! – Ela respondeu, enquanto trocava o lugar de alguns enfeites que eu tinha colocado.
- Eu te disse que eu não sei fazer essas coisas.
- Claro que sabe, qualquer um sabe enfeitar uma árvore de natal. É só colocar esse anjinho perto desse sininho e... – Ela trocou o anjo de lugar. – Aí está.
O pequeno anjo de repente se desgrudou da árvore e voou até o sino, fazendo-o tocar. Eu olhei para Gina, intrigado.
- O que foi isso?
Ela respondeu animada.
- Não são lindos? É meu enfeite favorito!
Eu continuei intrigado.
- E de quanto em quanto tempo eles fazem isso?
- Sei lá, depende da distância entre o anjinho e o sininho.
Olhei para a árvore e notei que eles estavam perto demais um do outro.
- Ah, que... Ótimo. Vou ter que ficar ouvindo esse sino tocando sozinho de cinco em cinco minutos.
- Exatamente! – Ela parecia bem mais feliz que eu. – Agora me passa aquelas bolinhas coloridas para eu pendurar...
E foi quase uma hora assim. Gina procurando o lugar prefeito para cada enfeite, eu tentando ajudar, ela trocando tudo que eu pendurava e os simpáticos anjinhos tocando os sinos. Até que não foi tão ruim, tirando a parte dos sinos. Pra falar a verdade, achei até divertido. Nunca achei o natal muito especial, mas com Gina estava sendo diferente. Quem sabe ela não estava conseguindo finalmente despertar um pouco de espírito natalino em mim... De qualquer forma, acabei concluindo que montar a árvore de natal com sua namorada é um incentivo bem maior do que ganhar um pirulito do Papai Noel.
Quando finalmente todos os enfeites já estavam na árvore, ficamos olhando para ela, orgulhosos. Estava bonita, eu tinha que admitir. Os anjinhos mais uma vez se desgrudaram e voaram até os sinos, tocando-os. Eu apanhei minha varinha no bolso do meu casaco e sussurrei:
- Silencio.
Bem melhor. Devia ter feito isso antes.
- Espera, falta uma coisa! – Disse Gina, tirando o último enfeite de uma caixa.
Era uma grande estrela dourada. Gina se aproximou da árvore, a fim de colocar a estrela no topo, mas acho que ela se esqueceu que a árvore era bem mais alta que ela. Na ponta dos pés, tentava encaixar a estrela na ponta da árvore, sem sucesso.
- Quer ajuda? Acho que sou um pouquinho mais alto que você, hein? – Eu disse ironicamente.
- Eu consigo.
Ela continuou tentando alcançar o topo da árvore.
- Foi você quem quis comprar uma árvore grande...
- Pode deixar, eu consigo.
- Está bem...
Deixei Gina tentando colocar a estrela e me sentei no sofá para finalmente descansar. Fechei os olhos por um momento e, de repente, ouvi um estrondo. O barulho era uma mistura de algo muito pesado caindo com pequenas outras coisas se quebrando. Ah, droga.
Abri os olhos e me levantei imediatamente. Gina estava no chão, assim como a árvore de natal e todos os enfeites.
- Eu estou bem... – Ela disse, enquanto eu a ajudava a se levantar.
- Eu te disse para deixar eu te ajudar com a estrela.
- Eu estava quase conseguindo.
Eu peguei minha varinha para tentar consertar aquilo tudo.
- Reparo.
Os enfeites foram consertados, mas a árvore ainda estava no chão, no meio daquela bagunça toda.
- Não me diga que vamos ter que fazer tudo de novo...
- Claro que não. – Ela respondeu, puxando sua própria varinha. – Mobiliarbus.
A árvore voltou ao seu lugar. Gina pronunciou outro feitiço e todos os enfeites foram para seus respectivos lugares na árvore. Eu a olhei espantado.
- Não poderíamos ter feito isso na primeira vez e poupado todo o trabalho de pendurar os enfeites manualmente?
- Não, não seria divertido.
Eu só consegui sorrir. Nunca tinha arrumado uma árvore de natal e não sabia que dava tanto trabalho assim. Mas só de olhar para o sorriso de Gina ao ver a árvore pronta, valia a pena.
- Ficou bonita, não ficou?
- Ficou. – Eu tive que admitir.
Depois de admirar por um tempo a árvore de natal, fui até o sofá e finalmente pude me sentar. Gina se sentou ao meu lado e apoiou a cabeça no meu ombro.
- Agora sim temos tudo pronto para o natal...
- Tudo? Você não reservou mais nenhum plano para a noite de natal? Não precisamos fazer nenhuma tradicional comemoração com um peru assado e nem...
- Claro que sim. – Ela me cortou. – Eu quis dizer que aqui em casa está tudo pronto. A noite de natal é outra coisa.
Era isso que eu temia.
- Gina... Onde exatamente você pretende passar a noite de natal?
Ela me olhou como se a resposta fosse óbvia.
- Na Toca, oras.
Ah, droga.
- É que eu pensei que nós iríamos passar o natal juntos.
- Quem disse que não vamos?
Duas vezes droga.
- Gina... Você não está pensando que eu irei para A Toca com você, está?
- Por que não?
- Sua família me odeia!
- Pára com isso, Draco. Você já foi lá outras vezes e não houve problema nenhum.
Várias lembranças rápidas passaram pela minha cabeça.
- Ah, claro, como daquela vez em que seus irmãos me deram um doce que me fez vomitar o resto do dia.
Gina pareceu se segurar para não rir.
- Ah, Draco, é que os gêmeos precisam testar as mercadorias antes de vender na loja. – Eu permaneci sério. – Desculpe, não foi engraçado. Mas eu prometo que não vai acontecer de novo, eles vão se comportar.
- Eu prefiro não me arriscar.
- Só desta vez... Ninguém vai te provocar. Além disso, o que mais você tem para fazer no feriado?
- Geralmente o pessoal do Ministério faz uma festa...
Ela fez uma cara de quem não tinha gostado da notícia. Não sei por que, era só uma festa entre amigos do trabalho...
- Ah, é mesmo? E onde vocês fazem essas festas?
- Cada ano é na casa de alguém...
Acho que eu estava piorando a situação.
- E onde vai ser este ano? Na casa da Julie? – Ela perguntou, tentando insinuar algo.
Eu sabia do ciúme que Gina tinha da minha secretária. Não sei de onde ela tirou a idéia que Julie dava em cima de mim...
- Não, claro que não. Na verdade... – Eu tentei falar calmamente, para não piorar ainda mais. – O Will sugeriu... Assim, não está nada confirmado... Ele só sugeriu e o resto do pessoal aprovou... Que talvez pudesse ser...
- Fala logo.
Eu desviei o olhar e disse:
- Aqui.
Não ousei olhar para ela. Às vezes eu tenho medo de quando a Gina fica brava.
- E o que você respondeu?
- Eu não disse nada. Provavelmente eles não vão vir, já que eu não confirmei que seria aqui. Aliás, eles já devem até ter combinado em outro lugar porque eu não dei nenhuma resposta, foi só uma sugestão deles...
- Se eu conheço bem seu amigo Will, eu não duvidaria que ele aparecesse aqui mesmo sem ser convidado...
- Se ele aparecer, vai ver que não tem nenhuma festa e vai ter que ir embora.
- Do jeito que ele é, ele traria a festa pra cá.
Eu passei o braço pelos ombros dela, abraçando-a.
- Não se preocupe, eu vou avisá-lo que não pode ser aqui porque eu vou passar o natal em outro lugar.
Ela me olhou, feliz.
- Então você vai?
- O que pode acontecer de tão ruim?
Ela me beijou.
- Obrigada.
Eu poderia sobreviver a um doce envenenado, pensei. Mal sabia eu que um doce não era nada comparado ao que estava para acontecer...
N/A: Olá! o/ Eu sei que o natal já passou, mas como essa fic foi escrita para um Challenge (do qual ganhou o segundo lugar) só deu pra eu postar agora...
A segunda e última parte vai ser postada logo, prometo. :)
Até lá, reviews são muito bem-vindas!
