Aqueles olhos azuis a encaravam. As duas íris extremamente azuis olhavam-na, do reflexo do espelho, mostrando-lhe o quão errado aquilo era. Ela encarava-as, fixa, e desejava mais que tudo que quando seus olhos se abrissem de novo, elas fossem castanhas. Que ela fosse castanha, desprovida de cores e luz, apenas castanha apagada, apenas não tão viva assim. E doía. Doía saber que tudo que ela desejava era ter íris cinzas encarando as suas castanhas, enquanto ela sentia. E doía tanto que ela quis. Tanto que ela odiou aquele reflexo, olhando para ela, para dentro dela, com as malditas íris azuis. Tanto que seu punho direito foi em direção ao vidro partindo-o. Tanto que sua mão sangrava e o sangue vermelho pingava no chão. Tanto que a dor na mão não superava a dor no peito. Tanto que ela se deixou escorregar, entre cacos de vidro, para o chão. Tanto que ela chorou. Tanto que seus olhos azuis só ficaram ainda mais evidentes na cor, e mais distantes do castanho. Tanto que ela desistiu.

E a luz verde veio saudar os olhos azuis.