O paradoxo da serpente


Paradoxo: pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos que costumam orientar o pensamento humano. Declaração real que leva a uma contradição lógica. O oposto do que alguém pensa ser a verdade. A vida de Ginevra, nos últimos sete anos.


Prólogo

Como as coisas tomaram esse rumo? Quando foi que tudo mudou?

Ginevra não esperava estar numa sala que pouco a pouco desabava sobre sua cabeça no final daquele dia. Conseguia sentir o pó levantado pela metade caída da parede grudar em seu rosto, o sangue que pintava suas bochechas e testa sendo camuflado por uma fina camada de cinza. Gritos poderiam ser escutados no final do longo corredor. Escutou um par de magias cortar o ar, e então mais nada.

Os passos apressados que ouvia correr em sua direção só eram percebidos pelo novo silêncio trazido nos últimos segundos. Mexeu os próprios pés, uma carranca ao sentir uma fisgada quando o esquerdo tocou o chão. Respirou fundo e o forçou mais uma vez contra o piso de pedra, rasgando mais um pedaço de sua capa para tentar imobilizar o tornozelo com o fino tecido preto - ela era simplesmente péssima em feitiços curativos, e a última coisa que precisava era piorar aquele pé. Pisar doía, mas ainda não havia se tornado impossível correr dali, ao menos não fisicamente.

Fisicamente a bruxa estava bem: o pulso direito estava com certeza fraturado, o tornozelo esquerdo torcido, a testa cortada pela última queda, e jurava que um pedaço de seu cabelo cheirava a queimado. Ao menos era o cabelo, e não toda sua parte detrás como aconteceu com a parte não tão sortuda ao seu lado na hora em que um dos dragões abriu a boca. Sorte, definitivamente. Ela conseguiria sair da sala, antes que a mesma desabasse em cima de sua cabeça.

Fisicamente.

Emocionalmente, Ginevra não conseguia mover-se dali. Olhou com o coração pesado para o bruxo ao seu lado, ainda soterrado da cintura para baixo, e tentou novamente fazer desaparecer tudo que o impedia de andar. Por que diabos ela não conseguia mover nem ao menos um centímetro do concreto? Por que ela não conseguiria salvar a última pessoa que importava no meio de tudo aquilo? Era algum tipo de castigo, uma maldição por tudo que fizera naqueles últimos anos? Ela havia sido assim tão errada em suas escolhas?

Bem, não era como se a vida tivesse lhe dado um leque de ótimas opções desde seu primeiro ano em Hogwarts.

"Ginny," Seu apelido saiu dos lábios do bruxo junto com sangue o suficiente para pinta-los de vermelho - e outra vez, tudo que ela mais queria era gritar por ajuda. Ajoelhou-se ao lado dele, ignorando seu tornozelo gritando de dor ao mudar de posição, e tirou uma mecha de cabelo que cobria um de seus olhos antes de começar a falar.

"Quieto. Você precisa guardar essa força para-"

"Vá embora." Mais sangue.

Ela não aguentava mais ver tanto sangue. Desde o começo da manhã tudo que via era vermelho, e de verdade, não conseguia entender como Draco gostava tanto daquela cor tão amaldiçoada. Doeu puxar uma respiração mais funda: só de pensar em seu nome, seu coração parecia ser cortado por vidro. Fechou os olhos por um breve segundo, e voltou a abri-los respirando devagar. Quando voltou a encher os pulmões - como se precisasse de todo o ar ao seu redor para tirar da mente aquele tom de cinza - já não doía mais tanto quanto no último segundo.

Escutou o barulho de algo de metal bater no chão, e ali estava o bruxo se mexendo mais do que o necessário outra vez. Ele não conseguia entender que precisava ficar parado apenas o tempo suficiente para ela buscar ajuda?

"Aqui dentro tem o suficiente para você fugir."

"Caralho, eu já disse! Eu não vou-"

"Não importa o que você fez, Ginny. O novo Ministério vai te julgar." ele outra vez a cortou, empurrando o saco de moedas para as mãos da ruiva. "Ginny, eu estou morrendo. Eu sei, você sabe, qualquer medibruxo que aparecer aqui vai saber." A lágrima que escorria pelo seu rosto ardia. "Vai embora, Ginevra!"

Apertou com força a mão grande que segurava antes de limpar o rosto com sua manga direita se levantar. Amarrou o saco de moedas em sua cintura e pegou firme em sua varinha, escondendo-se atrás da única parte da parede ainda totalmente de pé. Os passos delatavam que a pessoa estava prestes a entrar no que restava daquela sala, e a ruiva não iria arriscar esperar para descobrir quem era antes de lançar o primeiro feitiço - e que seja muito bem o único. Com o pedaço de madeira já emanando uma luz verde de sua ponta, não conseguiu evitar pensar em como sua vida poderia ter sido diferente, tivesse discutido a decisão tomada por aquele chapéu estúpido há tantos anos atrás.

Teria algum dia o conhecido do jeito que conhecera não fosse pelo maldito Chapéu Seletor? Teria levado sua insanidade adiante?

A pontada sentida em todo seu lado esquerdo quase a fez deixar cair a varinha - merda, o que era agora? Bufou, apertando o braço contra o peito. Não, não importava mais o que havia feito ou deixado de fazer, assim como não importava sair viva ou morta daquela guerra. A única coisa que a fazia continuar se movendo era o nome que havia descoberto depois de meses de procura. O nome estava escrito num pedaço de pergaminho que ela guardava dentro do colar, único item pessoal que fazia questão de carregar consigo.

Não que precisasse anotar justo aquilo - não tinha como esquecer o nome que ouviu tantas vezes ao longo dos anos. Ela tinha marcas que não a deixavam esquecer jamais. Ela tinha marcas que a faziam querer matar a pessoa portadora daquele nome amaldiçoado.

Mesmo que isso custasse - e provavelmente iria custar - a sua vida.


Nota da autora: Eu não resisto a uma nova ideia! Que inferno, disse que ia parar de escrever! Mas é como eu já disse, escrever é tipo uma morning pages pra mim, é um tempinho que tiro por dia para me desligar dos problemas da vida real. Então aqui está uma nova ideia.

Não vai ser uma fic bonitinha, já aviso! Minha primeira tentativa de algo não tão água com açúcar - vamos ver se eu consigo! Vai ser totalmente focada na Ginevra, e sim, pode vir a ter momentos fofinhos, mas (se eu conseguir hahaha) vai estar repleta de momentos longe de bonitos.

Vou adorar se vocês me derem um feedback! Como planejo alguns capítulos grandes, vai demorar mais para sair do que o normal - não esperem atualizações semanais, para quem acompanhar. Mas vou gostar de saber quem vai ler, e o que vocês esperam disso, para eu ter um norte aqui.

Sim, eu estou terminando A Promessa, não abandonei não! (E me falem também o que estão achando do final, se puderem!)

Um beijo grande,

Ania.