Disclaimer: Lost e seus respectivos personagens não me pertencem. Esta fanfiction não possui qualquer vínculo lucrativo.
Gênero: Universo Alternativo/Romance/Aventura/Drama.
Censura: M
Shipper: Sana
Sinopse: Inglaterra/Espanha, 1274. O reino espanhol de El viento Salvaje está sem seu suserano há muitas luas. O Rei Espanhol Henrique I decide que o extenso feudo necessita de um novo senhor e para isso decide casar a viúva do suserano desaparecido e dado como morto com um nobre inglês desejando obter uma forte aliança com a Inglaterra. Sendo assim, o Rei Inglês Eduardo I designa para assumir o feudo espanhol e desposar a viúva um dos filhos do Conde Christian Shephard. Como a vontade do rei é lei, o nobre inglês resolve fazer um sorteio justo entre seus quatro filhos varões. Entretanto, seria mesmo justo obrigar qualquer homem a se casar com Lady Ana-Lucia Cortez, a mulher mais maligna e perigosa de toda a Espanha?
Nota: Alguns pormenores da fanfiction foram baseados em fatos históricos, no entanto, tomei a liberdade de usar da ficção no que diz respeito à maioria dos fatos, como os nomes dos reinos feudais mencionados e as possíveis alianças políticas entre Inglaterra e Espanha no século 13.
Amor Fati
Capítulo 1
A fortiori(Por mais forte razão)
Inglaterra, Outubro de 1274
Era uma noite festiva no castelo de Orión. O Duque de Colster, Christian Shephard comemorava junto à família, amigos e alguns aldeões do pequeno, mas próspero feudo Shephard, o aniversário de seu segundo filho em sucessão, James, que há pouco tempo recebera o título de Conde de Sawyer, designado pelo rei Eduardo I por seus serviços prestados à corte inglesa.
Havia muita cerveja sendo servida, os músicos tocavam sem parar as cantigas mais populares e alegres conhecidas. Tinham muitas damas bonitas disponíveis para seus filhos. A alegria que todos sentiam naquela noite parecia quase infinita e o Duque sentia o peso em seu coração por ter de destruir aquela alegria para pelo menos um de seus filhos.
O Duque de Colster era um homem muito justo. Pertencera desde sempre à nobreza inglesa, mas ao contrário de outros nobres ele acreditava em trabalho duro para a prosperidade do feudo. Seu filho mais velho, Jack, agora suserano do feudo de Austen após desposar a herdeira do reino, Lady Katherine, era exatamente como ele. Um homem bom, justo e trabalhador. Seu feudo era tão próspero quanto o do pai. O mesmo ele não podia dizer de seus outros filhos. Eram valentes soldados da coroa, mas em matéria de cuidados com o feudo e planejamento doméstico, Christian acreditava que seus filhos ainda tinham muito a aprender. Eram homens honrados, disso ele não podia reclamar, mas o senso de maturidade e responsabilidade ainda não tinha lhes batido à porta, especialmente o mais jovem, Armand. O rapaz sempre lhe dava muito trabalho, principalmente no que dizia respeito à envolvimento com mulheres.
Christian era pai de cinco filhos, dentre eles quatro homens e uma única menina, a quem ele enchia de mimos. O Rei Eduardo I conhecia a família desde antes de sua coroação e mantinha boas relações com eles. Inclusive, o soberano havia sido convidado para o casamento de Jack. Por isso mesmo, ele sabia que o Duque ainda tinha três filhos solteiros. Christian acreditava que o rei fosse um sábio, mas quando recebera o mensageiro do soberano naquela manhã durante os preparativos para a festa de aniversário de James, o Duque começou a duvidar disso.
Sua esposa, Lady Mary estava sentada ao seu lado à mesa durante a festa e notou seu semblante angustiado.
- O que houve meu marido? Pareces-me tão indisposto.
- E de fato estou, querida minha.- ele respondeu com sinceridade.
- E não vais contar-me o motivo de tua inquietação?
Ele segurou a mão dela junto à sua e disse:
- Por certo irei contar-te assim que os festejos terminarem. Preciso dizer algo muito importante a nossos filhos.
Lady Mary então, aguardou pacientemente até que o marido contasse o que o afligia, embora ela estivesse muito curiosa. Quando o imponente relógio de madeira anunciou a meia-noite, o Duque deu a festa por encerrada e os convidados vieram despedir-se dele e de sua esposa antes de deixarem o castelo.
Quando o salão de festas tornou-se quase vazio, a não ser pela presença dos servos e de algumas moças que ainda conversavam com seus filhos solteiros, Christian convocou sua família para uma importante reunião. James e os outros irmãos não gostaram nada disso, pois planejavam prolongar a noite em companhia das moças; Jack também se opôs à reunião tão tarde porque segundo ele, sua esposa, grávida de seis meses, precisava descansar.
- Esta reunião não pode esperar, meus filhos.- disse Christian com seriedade e sua família não teve outra escolha senão aceitar.
Os servos foram dispensados e apenas a família permaneceu no salão de festas ao redor da enorme mesa de madeira com cadeiras forradas de veludo vermelho. James estava impaciente, sentado ao lado da irmã mais nova.
- E então, meu pai? Do que se trata tão urgente reunião? Se o senhor for breve talvez ainda possamos ir visitar as moças na aldeia.
- James!- ralhou Lady Mary. Não gostava que os filhos ficassem falando sobre suas libertinagens à mesa da família.
- Desculpe, mamãe.- disse James, baixando o rosto respeitosamente para a mãe. – Mas realmente estou curioso sobre essa reunião, papai.
- Então serei breve e direto, meu filho.- disse Christian, cruzando as mãos e colocando os braços sobre a mesa antes de começar a falar. – Recebi esta manhã uma missiva do rei Eduardo.
- O que dizia?- perguntou Samuel, o terceiro filho do Duque. – O rei está nos convocando para as cruzadas?
Jack sentiu um ligeiro aperto no peito. Tudo o que ele não queria era ser convocado para as cruzadas naquele período, pois sua esposa precisava dele, e ele não queria deixar seu feudo aos cuidados de ninguém. Mas nada disse, esperou pela confirmação do pai.
- Não, Samuel, o rei não me escreveu sobre as cruzadas. Mas escreveu sobre um problema que precisa de uma solução imediata. Há um feudo de grande extensão na Espanha chamado "El Viento Salvaje".
- Que espécie de nome é esse?- gracejou Samuel, mas ninguém prestou-lhe atenção, estavam todos concentrados nas palavras do Duque.
- O suserano deste reino está desaparecido há vários meses. Um corpo foi encontrado no pântano há alguns quilômetros da aldeia e todos acreditam se tratar de Lorde Daniel Cortez.
- E o que temos a ver com isso, papai?- retrucou Jack. - O rei Eduardo deseja que algum de nós vá até a Espanha e confirme se o corpo pertence mesmo a Lorde Cortez? Sinceramente, não vejo porque a coroa inglesa deveria intervir nos assuntos dos espanhóis...
- O rei Eduardo está atendendo a um pedido do Rei Henrique da Espanha.- Christian interrompeu Jack.
- Que pedido?- dessa vez foi James quem perguntou.
- A propriedade não pode ficar vulnerável, por isso, o rei Henrique deseja outro casamento para a viúva de Lorde Cortez. Um casamento com um inglês para fazer uma forte aliança entre ingleses e espanhóis.
Nesse momento, os olhos dos filhos solteiros se arregalaram. Haviam entendido do que se tratava a missiva do rei Eduardo.
- Portanto, o rei Eduardo deseja que um de vocês se case com Lady Ana-Lucia Cortez.
- A bruxa?- esbravejou Lady Mary, ficando de pé. Lady Kate e Lady Claire, a filha única de Christian se benzeram diante daquelas palavras.
- Nem que me joguem ao calabouço!- disse Armand, erguendo-se com violência de sua cadeira. – Eu ainda não tinha ligado o nome à pessoa, mas agora que mamãe falou, sei de quem se trata.
- È, nós ouvimos histórias sobre o desaparecimento de Lorde Daniel. Dizem que a bruxa o matou.- concordou Samuel.
Lady Ana-Lucia Cortez era conhecida nos reinos da Europa por seu comportamento autoritário, violento e sem nenhuma cortesia. Diziam que ela era a dama mais feia que já pisara a terra, que possuía deformidades medonhas, e que além de tudo isso ainda era uma feiticeira. Então por que o rei Eduardo queria sacrificar a vida de um dos filhos do Duque de Colster?
- Era melhor que o rei tivesse cravado uma estaca em nossos peitos.- protestou James.
- Vocês todos sabem que uma ordem do rei não deve ser contestada!- avisou o Duque. – Portanto, mesmo que isso possa parecer a pior coisa do mundo, é preciso que um de vocês três despose Lady Cortez.
- Mas não podemos mandar uma carta à Eduardo, meu senhor? Pedindo pra ele reconsiderar?
- Não pretendo fazer isso, Mary. Criei homens fortes, honrados e obedientes à Coroa. Vocês me envergonham com essa atitude infantil! Os três com medo de uma mulher?
- Ela não é apenas uma mulher, papai.- lembrou Samuel. – È uma bruxa!
- Dizem que ela não gosta de se banhar e que seu rosto é medonho como o do seu pior pesadelo.- completou Armand.
- Basta!- disse Christian, enérgico. – Vamos decidir isso agora! Algum de vocês três se habilita?
Os três rapazes se olharam com animosidade, nenhum dos três queria desposar a feiticeira espanhola. Mas Christian cumpriria a ordem do rei por mais que seu coração doesse. Que Deus o ajudasse!
- Já que nenhum dos três se habilita em cumprir seu dever de livre e espontânea vontade. Decidiremos com um sorteio.
- Um sorteio?- questionou James. – Não pode decidir nosso futuro através de um sorteio, papai.
- Não há mais nada a ser feito.- disse Christian, convicto. – Claire, peça à serva que lhe entregue alguns gravetos do fogão de tamanhos diferentes.
A moça assentiu e foi fazer o que o pai pediu, voltando logo depois. Christian entregou os gravetos aos filhos com as mãos fechadas para que seus tamanhos não fossem revelados e desejou-lhes boa sorte. Antes mesmo que o sorteio acabasse, Lady Mary já se debulhava em lágrimas, imaginando qual filho seria levado de perto dela para uma terra estrangeira onde forçadamente ele se casaria com uma bruxa.
Os três rapazes observaram seus gravetos. O clima no salão de festas era de pura tensão. James quase gritou de tanta raiva quando percebeu que de todos os gravetos, o seu era o menor.
- James...- começou a dizer Jack, com pena do irmão.
Mas James deu um passo atrás fitando sua família como se fossem seus inimigos por colocá-lo naquela situação. Samuel e Armand sorriam satisfeitos por não terem sido os escolhidos. Mary começou a soluçar e foi abraçada pela filha.
- Traidores!- James gritou e saiu do salão de festas disposto a pegar seu cavalo e ir para a vila. Se esqueceria daquele embuste pelo menos por uma noite nos braços de uma aldeã.
- Acha que ele irá fugir, papai?- Jack indagou ao Duque.
- Não, filho. Em nossa família não há lugar para covardes. Escreverei esta noite mesmo ao rei dizendo a ele que James se casará com a Cortez, e que uma comitiva partirá para a Espanha assim que o rei ordenar.
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James chegou à aldeia montado em seu cavalo negro. Foi direto para a casa dos Wallace. Já há algum tempo que mantinha um relacionamento com a filha mais velha deles, Sofia. A moça exultou de alegria ao vê-lo, correndo para a porta.
Ele desmontou do cavalo e foi até ela, abraçando-a.
- Pensei que não viesses me ver mais esta noite, Lorde Sawyer.
- Beije-me Sofia e faça-me esquecer.
Em sua mente, James só conseguia pensar que esta era sua última noite de liberdade antes de deixar seu reino para encarar a bruxa espanhola.
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Algumas semanas se passaram desde que Christian Shephard escrevera ao Rei Eduardo avisando-o de que sua ordem tinha sido acatada e que seu filho James, o Conde de Sawyer, se casaria com Lady Ana-Lucia Cortez.
A transação estava sendo feita, mas a noiva em questão só pôde tomar conhecimento da decisão de seu rei muito tempo depois e apenas alguns dias antes da chegada de seu futuro marido.
Ana-Lucia estava sentada à janela, escovando os longos e sedosos cabelos negros quando sua serva, uma moça bela e gentil chamada Juliet bateu-lhe à porta.
- Não quero ser incomodada! Vá embora!- Ana respondeu com sua costumeira grosseria, mas a serva já estava acostumada com isso.
- Me perdoe por interromper o seu descanso, senhora. Mas chegou esta carta do rei. O mensageiro disse que é urgente.
Ana tirou a carta das mãos da criada e com a mão fez um sinal displicente para que a serva saísse. A moça fez uma mesura e retirou-se do quarto. Sozinha, Ana-Lucia desdobrou o papel e pôs-se a ler a carta. Sua mãe fora uma mulher muito inteligente e a ensinara a ler ainda criança. Uma aquisição rara para uma mulher naquela época.
Ela percorreu rapidamente com os olhos a carta do rei Henrique I, que provavelmente deveria ter sido escrita por seu assistente. Ao chegar ao final da missiva, não acreditou no que lia.
- Outro casamento?- ela pegou a carta e rasgou em várias partes, lágrimas escorrendo por seus olhos. – Nunca irei casar-me outra vez. Nenhum homem com seus dedos sujos e sua língua pegajosa irá colocar suas mãos em mim outra vez! Que venha o maldito Conde! Irei amaldiçoá-lo pelo resto de sua vida se ele atrever-se a querer casar comigo!
Continua...
