O arrependimento.

By: Inês Kiryuu

"É possível repousar sobre qualquer dor de qualquer desventura, menos sobre o arrependimento. No arrependimento não há descanso nem paz, e por isso é a maior ou a mais amarga de todas as desgraças…" G. Leopardi

Ela estava em choque. Sentia sangue a escorrer pela sua cara. Sentia-se suja, indigna de viver. Olhou á volta e só via morte, sangue, terra, suor. Sentia cheiros que desejou nunca sentir. Ali estava ela, insignificante em relação a ele. Shikamaru estava morto, Chouji estava morto e os 7 ANBUs que os tinham acompanhado também já não viviam.

E agora estava ali, perante a grandeza dele, de joelhos. A sua visão estava desfocada o que fazia o seu coração bater mais rápido. Sentiu uma brisa fresta e o seu cabelo voar… Era uma imagem irónica: Uma mancha de ouro no meio de tanto sangue. Ouviu passos e deu um pequeno grito de desespero que abafou com a mão.

Ela olhou para aquela figura que estava á sua frente, ali estava ele, os seus olhos vermelhos fixos nos azuis dela, o seu cabelo preto a esvoaçar com o vento e a capa da Akatsuki meio aberta mostrando o seu belo corpo. Ele estava perfeito. Até o arranhão na sua bochecha esquerda, resultado da luta anterior, o beneficiava.

- Não há maneira de me venceres e ambos sabemos disso.

A voz dele era fria como sempre. Ela sabia, ela sabia que ele era mais o forte ali e já não tinha qualquer esperança.

- E eu não posso deixar-te viver. – Ele fê-la pôr-se de pé e encostou os seus lábios ao ouvido dela. – Adeus, Ino.

Ela chorou como nunca tinha chorado. Agora já não tinha medo. Agora sentia raiva por saber que aquele homem que ela um dia amara era o responsável pela morte dos seus mais chegados amigos. Ele não tinha o direito de fazer aquilo. Sentiu-o a encaixar o seu corpo no dela e a encostar algo metálico á sua nuca. Mas não se importava. Pensava em como a Sakura ia chorar, em como o Naruto ia ficar desiludido, em como o seu pai ia ficar desesperado e pensou em como o seu noivo, Gaara, ia querer vingar a sua morte. Desta vez foi ela que encostou os seus lábios ao ouvido dele.

- Mataste o meu Time... – Sussurrou ela. – Magoaste a Sakura, magoaste o Naruto… Magoaste-me. Traíste Konoha, Sasuke. – Na voz dela estava toda a raiva e dor que estava a sentir naquele momento. – Não és melhor que o teu irmão e nunca serás. Odeio-te!

Ela sentiu que podia morrer em paz.

Ela esperou uma reacção mas não aconteceu nada.

Ele estava confuso e tinha sensações estranhas por todo o corpo. Começava a ser-lhe difícil manter aquela expressão de indiferença. Foi então que as sensações se concentraram todas no seu coração fazendo-o doer.

- Então? Do que estás á espera?! – Gritou ela, tão alto que os ouvidos dele doeram. Porque é que ele não acabava com tudo de uma vez? – Então, Sasuke, não ias matar-me?

O seu coração doía e a sua cabeça latejava.

Ele empurrou-a para longe de si.

Ele caiu no chão de joelhos e envolveu a cabeça com as mãos enquanto gritava de dor.

Foi então que ele percebeu o que tinha de fazer para nunca mais ter de voltar a sentir aquela dor.

Ele levantou-se e olhou-a nos olhos.

Ele permaneceu assim por alguns segundos a apreciar aquele pedaço de céu que tanto o magoava.

Ela não fugia, não valia a pena.

Antes que ela tivesse tempo para pensar, ele espetou-lhe uma kunai no peito, no sítio onde se encontrava o pequeno coração dela.

A dor parou.

Ela continuou em pé por alguns segundos e sorriu-lhe.

Quando ela perdeu as forças nas pernas, ele amparou-a e deitou-a delicadamente no chão.

Ela não tirava os seus olhos dele enquanto, ele ficava de joelhos ao seu lado… a vê-la esvair em sangue.

Agora mais ninguém podia magoa-lo.

Agora estava finalmente só.

Ele via atentamente o brilho nos olhos azuis dela a desvanecer. Foi então, ao ver que ela mesmo ás portas da morte sorria, que ele percebeu…

Ele percebeu que tinha matado um anjo.

Ele percebeu o que é o arrependimento.

Ele percebeu que dor era aquela ela tanto lhe causava.

Quando ela finalmente deu o seu último suspiro… Ele beijou-a mas já era tarde.

Ele olhou para o céu… e pela primeira vez em anos chorou.