Unconditionally,
I will love you unconditionally.
Capítulo 1 – Sozinho.
Música: Unconditionally – Katy Perry.
EPOV.
Ela estava passeando de novo. Dessa vez com suas bonitas pernas cobertas com um jeans grosso, porém justo, um suéter azul marinho que a deixava ainda mais bonita e pálida. Seus cabelos sempre soltos estavam presos em um rabo de cavalo frouxo. Do alto eu podia ouvir o som da sua risada, imaginar que pela maneira que sorria e balançava o rosto, era algo doce e musical. Seu cachorro, grande, peludo e brincalhão começou a balançar o rabo desesperadamente conforme ela falava algo. Bob era bruto, eu podia imaginar a força que ele jogava nela toda vez que pulava. Seu corpo pequeno, com adoráveis curvas que gritavam minha atenção, sempre balançava pedindo apoio e força com o cão imenso. Todos os dias ela saia com ele, pela manhã apenas enrolada no seu robe longo preto com bolinhas brancas a espera de que faça suas necessidades no jardim do prédio. No fim da tarde, depois que chega de algum lugar que vai todos os dias no mesmo horário. Pode ser a universidade ou o trabalho, de todo jeito, ela sempre é pontual. Sempre está em casa.
Raramente vai a encontros... Pelo menos não vejo caras deixando-a em casa querendo ganhar um beijo na porta do prédio. Também não a vejo acompanhada de homens, apenas de dois. Ambos seus irmãos. Dois caras loiros e altos. Sei que um deles chama-se James, é casado com uma ruiva. Vivem em pé de guerra. Já discutiram muitas vezes na calçada. Bob adora fazer xixi no sapato dele. James parece ser um cara com dinheiro e muitas merdas. Ela é simples. A varanda da sua sala fica de frente pra minha, nós nos vemos todos os dias, ela sempre olha pra mim com seus grandes olhos castanhos de forma simpática e acena. Não sou sortudo, ela faz isso com todos os vizinhos e pessoas estranhas que encontra. Para quem vive em Nova Iorque, é uma anomalia feliz perambulando entre pessoas infelizes e ocupadas.
Bella é o seu nome. Descobri quando estava colocando meu lixo na lateral do prédio e o irmão dela estava chamando-a. Ela desceu as escadas como um anjo, vestindo uma saia branca que a fez parecer muito mais jovem. Sua risada encheu meus ouvidos e nunca mais esqueci a maneira que ela realmente era bela quando sorria. Já faz dois anos que a observo. Não como um maníaco. Não saio muito de casa, meu trabalho é em casa, não tem nada que me interesse fora do meu apartamento. Tenho tudo que preciso: Um piano, comida, computador, internet e água quente. E sempre que estou em casa e ela também, tudo deixa de ser interessante. Sei que nós nunca passaremos disso. Ela é jovem, livre, independente e jamais olharia na minha direção sem ser apenas para dizer olá e seguir em frente com seu caminho feliz.
- Bob, para com isso! Bob! – gritou tentando segurar a guia – Não seja um menino mau. – disse de forma maternal e sorriu carinhosamente para o menino que se assustou com os pulos do grande Golden Retriever com pelos dourados. – Ele é bonzinho, só um pouco bruto. – disse em tom de desculpas.
Eu gostava do eco da lateral do prédio. Podia ouvir tudo, até mesmo casais transando por ali. Ninguém imagina que um beco entre dois prédios possa ter tanta história para contar...
Bella convenceu o menino que fazer um carinho na cabeça de Bob o deixaria calmo e então os três passaram longos minutos conversando e brincando um com o outro. Ela sempre dava uma volta no quarteirão, uma coisa completamente louca de se fazer sozinha. Isso é uma cidade enorme e com muitos bandidos, maníacos e psicopatas à solta. Sentei na minha varanda com meu notebook aproveitando o fim de tarde. Tinha uma bela vista do Central Park e normalmente, observar as pessoas interagindo com suas vidas no parque me dava inspiração. Um casal de idosos, que deviam morar nas proximidades, alimentavam os pombos todos os dias no mesmo horário. Um pai aparecia com seus filhos gêmeos e ruivos para brincar no parquinho, mas ele sempre estava ocupado demais no telefone para dar muita atenção às crianças, que batiam e jogavam areia nas outras crianças para chamar atenção. Também tinha a morena que parecia latina que corria com pouca roupa e se exibia para qualquer homem bonito.
Um gritinho animado chamou minha atenção. Era Bella, ela estava de volta, dessa vez acompanhada de sua melhor amiga, pelo menos é o que eu penso. A baixinha de longos cabelos castanhos parecia uma pequena fada de tão delicada. Elas faziam muitas coisas juntas, inclusive bebiam muito sempre que pediam pizza e já vi muitas vezes chorarem juntas com um filme. Não sei o nome dela, mas sei que tem um relacionamento com o outro irmão loiro e alto de Bella. Elas entraram no prédio com Bob na frente. Esperei pacientemente as luzes do apartamento acender e Bella abrir a cortina da varanda.
Seu olhar encontrou com o meu. Ela abriu um sorriso doce. Eu desviei o olhar para meu computador. Sei que continuou olhando até que deu as costas e foi conversar sentada no balcão da cozinha. A janela do seu quarto também era de frente para minha. Às vezes eu gostava de vê-la deitada na cama apenas com uma camiseta longa lendo algum livro. Aquelas pernas…
Prendi minha atenção no notebook a minha frente e comecei a digitar suavemente conforme ouvia o som confuso de buzinas e pessoas terminando mais um dia de trabalho e o meu estava apenas começando.
Quando as luzes de Manhattan acendem, tudo pode acontecer...
Trabalhei durante horas, porém, quando meus olhos deram os primeiros sinais de cansaço com a clássica ardência, percebi que tinha extrapolado meu tempo sem óculos e que talvez fosse um bom momento para um banho e jantar. Pedi para meu restaurante favorito que preparasse um bom bife com batatas assadas na manteiga e salada. Deixei meu vinho respirando e fui tomar banho. Quando retornei com meu jantar deliciosamente cheiroso para varanda, Bob estava latindo para rua. Ele sempre fazia isso. Ficava em pé na proteção e latia para quem quer que tivesse chamando sua atenção mesmo estando no sétimo andar.
Pensei em ter um cachorro. Alguém que pudesse me fazer companhia nos dias mais solitários, mas por outro lado, seria tão injusto até para um animal me aturar nos piores dias. Sem contar que eu nunca cuidei de ninguém. Não sei se lembraria de colocar comida e só de pensar em ter a obrigação de sair com o cão todos os dias em vários horários me dava um pouco de ânsia. Eu gosto de Nova Iorque, mas eu definitivamente não gosto de viver entre tantas pessoas. Meu cachorro me obrigaria a ser o sociável. E por isso comprei peixes. Eles comem bem uma vez ao dia e minha ajudante do lar comprou uma máquina que apita toda vez que o aquário precisa ser limpo e ela mesma faz isso com carinho.
Terminei de comer e apenas observei a noite iluminada da cidade. Nunca iria ter silêncio ou apenas uma madrugada como onde meus pais vivem, no qual tudo fica parado e deserto. Em Nova Iorque a vida é gasta de forma alucinante. Todos os restaurantes fecham tarde e alguns não fecham, possuem turnos de vários e vários funcionários. Outros entregam 24 horas e são bastante cheios o tempo todo. A maioria dos bares abrem ao anoitecer, mas é possível no meio de tanto estresse no trabalho encontrar um local para beber até cair. Tudo é possível nessa cidade.
Bella debruçou na sua proteção com uma caneca na mão olhando distraidamente para cidade. Ela estava com uma calça de pano larga e uma blusa justa, parecia sua roupa de dormir. Seus cabelos estavam molhados e balançando com o vento, jogados de um lado só. A luz da cidade e da lua me permitiam ver bem sua expressão serena... E tão bela. Bob estava deitado aos pés dela, com a língua pra fora, respirando forte e balançando o rabo. Ele sempre estaria esperando um bom momento para brincar, pular ou ter a atenção exclusiva dela. Bob era um tremendo sortudo por conseguir isso o tempo todo...
Finalizei mais alguns parágrafos, revisei todo meu texto e fechei meu computador, levando meu prato e minha taça para cozinha. Bella estava deitada lendo Divergente. Já fazia dois dias que estava com esse livro. Ela ficava bonitinha de óculos e eu tive a vontade de ser o cara que iria ocupar o espaço vazio da sua cama.
Tirei esses pensamentos da minha mente e me joguei na minha cama vazia que a muito tempo não sabia o que era outro corpo aquecendo o lado direito. Fazia muito tempo que estava sozinho, não sei o quanto, mas o suficiente para criar um muro ao meu redor. Já cheguei ao fundo do poço, já cometi loucuras e magoei pessoas que amo demais por ser um babaca imprudente.
De manhã cedo minha irmã me acordou com os mesmo cutucões que sempre me irritaram a vida inteira. Não sei porque cedi o pedido da minha mãe que deixaria que Rosalie tivesse a chave do meu apartamento. Tia Esme e Tio Carlisle a alguns anos se tornaram papai e mamãe desde que perdi meus pais em um assalto em Chicago. Desde então passei a viver em Long Island com meus tios e fui oficialmente adotado como um Cullen, sobrenome deles. Eles só tinham Rosalie, que era minha irmã para todos os efeitos práticos. Ela era muito diferente de mim, Rose é perfeita. Casada, mãe de dois bebês mais lindos do mundo, do qual um deles sou o padrinho. Ela constantemente vem me ver para saber se estou bem quando me esqueço de comparecer no jantar semanal da família. Não era por mal, muitas vezes essa informação escorregava da minha mente.
- Você acorda todo dia tão tarde ou hoje foi um dia atípico?
- Isso importa? – rebati mal humorado seguindo-a pelo corredor da minha casa e vi que minha sobrinha caçula estava sentada no meu tapete com um brinquedo na mão. Lucy tinha apenas um ano e meio e era muito fofa para seu próprio bem. – Preciso de um café bem forte, é bom que faça panquecas também.
- Eu já fiz as panquecas, seu bobo. Você estava dormindo tão pesado que não ouviu Lucy berrar pelo cachorro que estava na varanda do prédio da frente. Emmett e eu estamos pensando em adotar um cãozinho. Ela e Louis irão amar, não acha?
- Dá muito trabalho. Você atribuiria mais funções a sua babá, ela já tem duas crianças e, com um cachorro seria bom aumentar o salário dela. – respondi e automaticamente virei em direção a varanda. Lucy estava hipnotizada por Bob, mas Rosalie tinha deixado minha porta de vidro de correr fechada. Bob estava olhando para rua e não vi Bella em nenhum cômodo. Todas as cortinas estavam abertas. Uma mãozinha pequena cutucou minha perna – Oi princesa.
- Auau.
- É, um cachorro grande e peludo que baba muito. – respondi pegando-a no colo – Vamos comer panqueca juntos? Tio Edward tem calda de chocolate.
- Não dê muitos doces a ela. – Rosalie instruiu calmamente e parecia pensativa – Talvez você tenha razão. Estou pensando em ficar com as tardes livres... Para ficar mais com as crianças. O que você pensa disso? – murmurou baixinho e nivelei meu olhar com o dela.
Se ela quer ficar em casa, significa que eu vou precisar voltar.
- Você está pensando em dar mais trabalho para sua secretária? – perguntei cortando um pedaço de panqueca e oferecendo a Lucy.
- Pensei que o presidente da empresa poderia fazer um turno completo, sabe? Dividir a responsabilidade comigo. – respondeu calmamente.
- Rosalie...
- Depois conversaremos sobre isso... – disse rapidamente e abriu minha geladeira – Vim só dar uma olhada em você, checar se está vivo e tem comida. E, além disso, obrigar sua presença no jantar da família semana que vem, já que ontem você não apareceu.
Sabia que estava esquecendo algo. Balancei a cabeça de acordo e terminei meu café da manhã sozinho. Lucy poderia ficar, afinal, ela não fala e dorme muito facilmente. Minha irmã e sua constante insistência em me tirar do meu mundo poderia ir e não voltar. Dentro da minha casa eu tenho completa paz e estou longe das tentações. Eu ainda tenho medo das tentações...
Como costume, peguei as planilhas prontas, mais uma caneca grande de café e meu notebook. Sentei na varanda e passei basicamente quarenta minutos olhando para o parque reconhecendo todas as pessoas que passavam por ali todos dias e então conectei com a empresa e comecei a trabalhar.
Bob começou a latir desesperadamente e olhava pra baixo sacodindo o rabo. Do sétimo andar ele avistou sua dona e ficou alegre. Ela riu reconhecendo o latido dele. Bella estava usando um vestido até os joelhos e tênis. Às vezes ela era muito menininha, exalando pureza e inocência. Tardiamente percebi que nem Lucy, a garotinha mais linda de olhos azuis tinha conseguido arrancar um sorriso meu. Mas Bella tinha. Ela sempre conseguia fazer isso, mesmo que vivesse em um mundo completamente diferente do meu.
Nota: Estamos de volta e dessa vez tem mais!
