Prologo

Saio da boate cambaleando, dois passos pra lá, dois pra cá, não consigo parar de rir. Estou ébria de champanhe e depravação, e quero mais, não estou satisfeita. Conjugo toda a minha força interior para não perder o que sobrou do meu equilíbrio e cair de boca no paralelepípedo. Sou uma figura fazendo desenhos involuntários e, pouco a pouco, a idéia de que sou grotesca começa a se formar na minha cabeça. Olho ao meu redor e me deparo com varias pessoas a me olhar, provavelmente condenando meu estado lastimável.Mas pouco me importo. Estou mais preocupada em olhar com os olhos esbugalhados meu reflexo deplorável, através do espelho de uma das lojas. Um corpo prostrado agitado por sobressaltos, mais ou menos coberto por um vestido negro. Com mãos que se torcem. Um rosto destruído. Os olhos afundados em olheiras, desvairados. Uma boca coberta por um batom vinho, com os dentes trincados. Uma tez macilenta marcada por um filete de sangue coagulado debaixo da arcada da sobrancelha. Busco nos meus olhos azuis o brilho que me é familiar. Ele inexiste. Estou olhando para uma estranha. Uma estranha cujos olhos se apagaram.

Um momento. Vacilo em cima das minhas pernas moídas. Sinto vontade de vomitar. Ela cresce dentro de mim, sinto vontade de colocar para fora os litros de álcool ingeridos. Sinto que minhas pernas não mais agüentarão o peso de meu corpo. Deixo-me cair de joelhos na calçada.E vomito sem condições de parar. Ponho para fora litros de firewiski, litros de vodca e champanhe.O liquido sujo espirra todo no asfalto. Fico parada. Não quero me levantar de novo, não quero suportar o olhar dos outros. As lagrimas embaçam minha visão e rolam por meu rosto incrivelmente pálido. Sinto-me vazia por dentro. Estou perdida, imersa em meus devaneios. Quero morrer aqui. Não ouço os passos lentos atrás e mim.

Sinto alguém me levantar, passando um braço por baixo dos meus joelhos e o outro debaixo dos meus ombros, mas meus olhos estão cobertos por minhas lágrimas e estou tão entorpecida que meu raciocínio não funciona e não reconheço quem me carrega e me leva. Estou afogada na minha exaustão e vergonha, deixo minha cabeça cair no seu ombro parecendo um cadáver, e sinto seu perfume masculino, uma mistura forte e marcante que não me é completamente estranha. O cheiro familiar do apartamento dele me acalma. Ele me guia pisando devagar através dos cômodos até o banheiro. Me faz sentar na beira da banheira e passa uma esponja molhada sobre o meu rosto manchado pela maquiagem e lágrimas. Pacientemente, até que todos os traços desapareçam inteiramente. Até que o espelho me devolva a imagem de uma criança pálida de olhos tristes nas suas olheiras. Ele escova os meus dentes.

-Cospe.

Eu cuspo. Em seguida, desembaraça meus longos cabelos negros sem me machucar. Tira os meus sapatos e meu vestido. Ele me enfia uma camisa enorme. Pega a minha mão e me leva para outro aposento que me parece ser um quarto, visto que tem uma cama. Ali sou estendida bem no meio dos travesseiros e ele me cobre ate o queixo. Não larga minha mão. Aperto delicadamente a mão dele dentro das minhas em forma de agradecimento. Para logo depois mergulhar no sono.

Abro meus olhos lentamente, a claridade os ofusca. Como eu odeio o sol. Me sento de um sobressalto. As palavras martelam em minha cabeça, as lembranças fluem, os acontecimentos da noite passada giram em flashback na minha mente. Minha mão sem querer encosta em alguma coisa. Olho na direção dela e o vejo. Os cabelos negros e lisos iguais aos meus lhe caem sobre a face cobrindo seus olhos, que mesmo fechados sei que são azuis. A pele clara e alva, não pálida como a minha, com um leve tom avermelhado. Seu corpo másculo estirado por sobre os lençóis não deixa duvidas de que se trata de um belo rapaz de no máximo 20 anos. A visão de meu primo mais velho dormindo me deixa mais confusa ainda, e eu corro para o banheiro trancando-o em seguida.

Ao olhar-me no espelho não vejo mais um traço de minhas olheiras, o que parcialmente me assusta. Estou nervosa, não gosto de ficar nervosa. Ascendo um cigarro, eles sempre me acalmam. Estou encostada na banheira, sentada no meio dos azulejos brancos. Trago distraidamente enquanto brinco com a barra da camiseta preta dos Montrose Magpies, time de quadribol predileto de meu primo. Minha cabeça dói. Meu estomago revira. Estou morta de fome.

Levanto-me decidida. Jogo os restos do cigarro fora. Dou dois passos e paro em frente à bancada da pia girando a torneira. Sinto o contato da água gelada com a minha pele quente, é uma sensação agradável. Delicadamente lavo meu rosto e levo meus longos dedos ao meu pulso. As cicatrizes continuam lá, marcando minha pele pálida com suas formas involuntárias. Uma tristeza sem fim invade todo o meu ser. Tristeza essa, por nunca ter tido a oportunidade de ser feliz. Meus olhos novamente embaçam, e as lágrimas rolam por meu rosto. Tenho vontade de gritar, mas a voz falha. Meus dedos deixam meu pulso e se dirigem a gilete. Sinto o sangue escorrendo, ele queima como fogo minha carne, e a tinge de vermelho. A dor é insuportável, mas já estou acostumada com ela. Largo a gilete no chão, manchando os azulejos brancos com meu sangue. E novamente minha pele entra em contato com a água gelada. O sangue é varrido do meu pulso, dando lugar ao que em breve será uma cicatriz. Mais uma.

Saio do banheiro cambaleando. Sirius mais uma vez entrando no meu campo de visão. Lentamente vou ate ele e me sento ao seu lado, na ponta da cama. Em um ato repentino passo minha mão por seu rosto, tirando-lhe as mechas inconvenientes que teimavam em cair-lhe por sobre o rosto. Um suspiro. Uma certeza.
Enfio minhas roupas que estão limpas e caprichosamente dobradas em cima de uma poltrona. Meus cabelos por terem sido desembaraçados antes de dormir estão completamente lisos, sem meus adoráveis cachos na ponta, mas essa não é a hora de reclamar. Pego minha varinha em cima da mesinha de cabeceira. Olho-me rapidamente no espelho grande da entrada. Uma garota sorri para mim. Alivio, é isso que eu sinto ao deixar aquele quarto. Nem reparo em duas íris azuis a me analisar.

Ainda não me apresentei. Meus pais me chamaram Bellatrix. Bellatrix Black. Mas para meus amigos sou apenas Bella.


Obrigada a todos que leram.

Primeira fic...baseada em Hell(um dos meus livros preferidos!)...por isso talvez esteja uma bosta...

Desculpem se tiver algum erro...nao foi betada...--'

Deixem reviews plz!Nao custa nadinha neh?Hehehehe...aquela nao desesperada...