I know we all, we all got our faults.
(Eu sei, nós todos, nós todos temos nossas falhas.)
We get locked in our vaults and we stay,
(Nós começamos trancados em nossas caixas-fortes e permanecemos,)

But when you're gone all the colors fade.
(Mas quando você está indo todas as cores desbotam.)

Amos Lee - Colors


Colors

Ciel Phantomhive & Sebastian Michaelis

Ciel estava comumente vestido de azul. O mesmo azulque refletia no belo olho que ainda lhe restava – do qual não exibia o funesto contrato com o mordomo negro. Foleava tediosamente um livro qualquer, enquanto dedicava-se a ouvir o tímido barulho da chuva que se fazia presente do lado de fora. Desviou o olhar para o céu estranhamente cinza, algo incomum naquela época do ano. Sebastian estava ao seu lado, contemplando consigo o silêncio que reinava naquele momento. Ouviu o gemido abafado sair dos lábios rosadosdo conde para em seguida exibir para si o dedo alvo e recém-cortado.

– Isso está doendo, Sebastian. – O corte era deveras simples, ocasionado por uma folha do livro dourado. Uma gota de sangue caíra sobre o braço da poltrona onde Ciel estava. O vermelho vivo em contraste ao estofado negro. A representação simbólica da vida que ainda corria nas veias do líder Phantomhive. A vida que o akuma tanto desejava para si. Livrou-se do devaneio em questão, voltando a observar o indicador um tanto inchado pelo profundo e inocente hematoma. Levou o dedo aos próprios lábios pálidos, sugando-o institivamente, vendo a face do conde ganhar inúmeros tons avermelhados. Percebeu a pele branca e intocável arrepiar-se diante de tal gesto. Um sorriso sacana brotou nos lábios do mordomo negro.

– O q-que pe-pensa estar f-fazendo? – A palavras saíram falhas, para o desprazer de Ciel. Sentiu a pressão no dedo aumentar. A língua alheia trabalhando de forma ordinariamente... Sensual? Desviou o olhar para o teto ocre, inebriado pela sensação que aquilo lhe causava, Sentiu um calor incomum subir lhe pelo corpo, ao mesmo tempo em que recobrou os sentidos, livrando-se do contato com o mordomo.

– Perdão, bocchan. Apenas uma maneira simples de fazer o sangramento parar. – Riu ironicamente, vendo o rosto de Ciel esquentar. Os lábios rosadose semiabertos tão atrativos para o seu deleite pessoal. Aproximou-se do rosto alvo do conde, sentindo a respiração alheia bem próxima de si. Habilmente retirou uma das luvas brancas, levando a mão recém-enluvada a boca do conde, fazendo uma carícia suave. Sentiu a língua do menor – tentadoramente quente – tocar-lhe um dos dedos de forma instigante. O olhoazul de Ciel brilhava como nunca, enquanto inutilmente tentava esconder algo que fisgara timidamente em seu baixo ventre.

Uma proximidade perigosa.

Ciel mal percebera quando mudara de posição. Estava sentado no colo do mordomo, de frente para ele, com uma perna de cada lado do corpo masculino. Os olhos do akumaexibiam-se vividamente vermelhos, enquanto suas mãos buscavam uma brecha na gola da camisa preta que o conde trajava. Livrou-se do incomodo, aproximando os próprios lábios ao pescoço leitoso, depositando um beijo casto no local. Ouviu o Phantomhive gemer inconscientemente, enquanto o mesmo agarrava-se a veste negra do demônio. Ciel ainda continuava um tanto resistivo aos toques, mas viu sua resistência cair quando sua boca encontrou a de Sebastian.

Tentadoramente perigosa.

O akuma mordeu seu o lábio inferior, puxando-o em seguida em um gesto sensual. E tão logo iniciaram um beijo simples. Ambos os olhares se encontraram. Azul e vermelhoem uma tensão inevitavelmente sensual. Ciel perdera o dom da réplica, quando umas das mãos pálidas e frias do mordomo invadiram a roupa de baixo, tocando–lhe impudicamente, enquanto habilmente terminava de retirar o casaco azul que o menor trajava. Os mesmos lábios pálidos que antes ocuparam em deleitar-se da boca do conde, se aproveitaram da guarda baixa do mesmo para distribuir beijos pelos ombros e colo intocavelmente brancos. Era deveras suave, porém marcante – no sentido literal da palavra. Sorriu ao ver algumas marcas ganharem cores arroxeadas.

– S-Sebastian, a-alguém pode en-entrar aqui... – O olhar anuviado pelo prazer que o toque do demônio que proporcionava, foi o suficiente para que o mesmo o calasse com um beijo que beirava a violência. O mordomo explorava a boca rosada do conde ao seu bel prazer, trazendo-lhe sensações jamais sentidas. Ciel agarrou-se ao pescoço alvo de Sebastian, buscando um contato mais preciso. Senti-lo era mais que uma necessidade. Tamanha necessidade como a de estar sobre o controle daquela situação. Ciel era Ciel.Azul conforme seus olhose negro conforme sua índole.

E como um Phantomhive, sentia-se no dever de controlar.

Afastou-se subitamente do contato que mantinha com Sebastian, sentindo a vista tornar-se escura e um prazer incontrolável apossar-se de seu corpo. O olho vermelho que lhe fitava desejosamente, como se pudesse radiografar sua própria alma. Deveras, a alma já não pura e alva não o pertencia mais.

Seu coração também. Desde o dia em que deixaram de ser apenas mestre e mordomo. Mestre e servo.

E se tornaram amantes.

Bocchan... – sentiu dedos frios tocar suas costas de maneira suave. Soltou uma risada irônica, ao perceber o quão Sebastian estava entregue a aquele momento – algo entre suas pernas condenava o mordomo negro. Percebeu as marcas avermelhadas em seus ombros, dedicando-se a tocar cada uma delas. Sim! Sebastian lhe pertencia. De todas as formas.

– Eu quero você, Ciel.

A pele branca arrepiara-se diante de tal palavra proferida. E então percebera ao ponto que sua relação com Sebastian havia chegado. Uma mistura de sentimentos estranhos que resultariam novos e outros sentimentos jamais conhecidos. Assim como cores que ao misturadas entre si, se transformam em outras. Ciel o desejava. Desejava que ele satisfizesse todos os desejos negrosque sua mente lhe impunha. Desejava tocar os mesmos lábios pálidos que desferiam palavras cínicas a sua pessoa. Desejava sentir a mesma pele branca que ousava esconder-se sob um terno negro.

E desejava descobrir. Descobrir um pouco mais do profundo e imenso abismo cujo nome – naquele momento– era Sebastian Michaelis. Por trás dos olhos rubros, da vestenegra, da mentalidade sadista e da suposta ausência de sentimentos. Poderia haver algo que se destacaria na imensidão escura que aparentava constituir aquele mordomo?

Assim como uma gota de sangue sobre o couro preto.

Lembrou-se da declaração do mordomo. O tom saíra sugestivo demais para o conde Phantomhive, porém existiam coisas ali que mereciam mais de sua atenção. Tomou a iniciativa de começar outro beijo, mas desta vez com um pouco mais de calma. Ambas as línguas se entrelaçavam de forma única, como se aquele fosse o primeiro beijo de ambos. Pode sentir uma onda de algo inexplicável invadir lhe completamente, levando-o para o completo nirvana. Tentou respirar de forma compassada, separando-se dos lábios doakuma, vendo-o novamente com aquelesorriso costumeiro. E como sentir-se no controle era algo que lhe satisfazia, deixou as últimas palavras escaparem no ar.

– Seja meu, Sebastian. Totalmente meu.