Sob o Último Luar
Frio... Escuro...
O sorriso da noite era praticamente a única luz...
Anoitecera? Quando foi que isso aconteceu?
O silêncio, a ausência dos cosmos aliados...
Asgaard fora derrotada?
Respirou fundo...
Ou, melhor, tentou respirar fundo, mas o duro peso do gelo o impedira.
Sim, agora se lembrara. O combate com um humano de cabelos escuros como a noite.A avalanche. Como estariam os lobos?
Tentou mover-se em vão. O gelo e o cansaço não lhe permitiram. Pensando bem, já não sentia boa parte do corpo.
Pensou em chamar os lobos, mas desistiu. Nas condições em que estava, seria apenas um peso para a Matilha. Era melhor aceitar uma morte honrada.
A lua minguante sorria irônica. Era a estrela Alioth que minguava...
Certa vez, King lhe dissera que não se devia lamentar a morte de um lobo. Lobos partem quando sua missão já estava cumprida.
Sua missão... qual era a missão que tinha cumprido, afinal? Perder um combate para um humano?
A lua sorria enigmática.
Não, não fora uma mera derrota. Algo mudara. Por alguma razão, apesar de odiar os humanos, não odiava o estrangeiro que o enterrara no gelo.
Se um dia o reencontrasse, perguntaria o que lhe tinha feito...
Sorriu da própria tolice.
É claro que o humano não revelaria seu truque, e era óbvio que não o veria novamente.
Mas algo mudara, não podia negar.
Encontrara um humano que combatia bravamente, que se sacrificava até as últimas conseqüências por sua matilha humana.
Isso lhe era inimaginável. Um humano honrado? Que tinha coragem de enfrentar inimigos ao invés de fugir como um covarde?
A noite sorria, satisfeita.
Encontrara um humano que lhe fazia questionar seu ódio e rancor pela humanidade. Quem sabe nem tudo estava perdido? Talvez ainda existissem humanos que valessem à pena, que compensassem pela mediocridade geral...
Seria essa a sua missão? Fazer as pazes com a humanidade antes de deixar seu corpo humano?
Um lobo sabe a hora de partir...
A noite sorria compreensiva... acolheria o Lobo do Norte, como sempre fazia... mas essa vez era definitiva.
Queria uivar pela última vez, despedir-se dos lobos, da lua, de tudo... mas mal podia respirar, seu desejo era impossível... acabou despedindo-se como um humano.
Seu último calor, na fluidez de uma lágrima.
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O que é ser um cisne? Leia em Cisnes. Em breve, em um PC próximo a você:
Somos tudo e nada.
Sou o tudo que o fez nada.
Em sua ausência, fizeram-me tudo.
Mas somos cisnes, os dois.
