Sunset
Primeira parte: Broken
O sol está morrendo, escondendo-se pouco a pouco entre as montanhas do horizonte. Uma a uma, as luzes vão sendo acesas, iluminando a cidade com milhares de pontos coloridos e brilhantes.
Eles são minha platéia.
Em breve, a lua e as estrelas chegarão, ocupando os lugares de honra, os elevados camarotes, ante o palco em que encenarei meu último ato.
Breve, muito breve...
Aqui, em meu lugar favorito, acima das luzes da cidade e seus sons, distante do Mugenjou. Distante de você, de seus negados sentimentos.
Aqui, esquecido, tendo apenas uma velha cerejeira como companhia.
Este é o meu cenário e o meu palco. O local onde findarei sozinho.
Mas as cortinas ainda não se abriram, não, ainda não é hora do espetáculo. É apenas um momento de memórias, doces e malditas, atos passados que me trouxeram até aqui, que fizeram de mim o que sou hoje.
Posso me orgulhar disso?
Não sei.
Porém, jamais vou esquecer.
Os momentos, os risos, as lágrimas...
Os cruéis golpes da humanidade.
A promessa do amanhã...
Ah, o amanhã! Suas infinitas possibilidades!
Todas belas como cristal e frágeis como vidro.
Eu acreditei nelas, tentei uma a uma, sempre com a esperança de que, dessa vez, daria certo.
Mas o dia se ia, levando com ele meu pequeno sonho, transformando-o em cinzas a serem espalhadas pelo vento. Porque elas não passavam disso, sonhos, ilusões, truques baratos de fumaça e espelhos.
Essa é a realidade. Não importa se eu gosto ou não, é assim que as coisas são.
Cruel... decadente... frio...
Esse é o mundo. Não há como mudar.
Já me conformei, já desisti.
Agora só quero descansar, parar de me ferir por algo que nunca vou ter.
Mesmo que me doa, é melhor assim.
Afinal, eu nunca consegui realizar meu maior desejo, nunca consegui ter o seu amor...
Por mais que tenha me enganado, chegou o dia em que a máscara finalmente se despedaçou, cravando seus pedaços em meu pobre coração.
Eu não conseguia mais mentir, nem para os outros nem pra mim mesmo.
Ah, Juubei...
Será que você se lembra? Foi nesse mesmo lugar, muitos anos atrás, longe da sufocante sombra de Mugenjou.
A época de ouro, quando você ainda sorria.
Quando eu ainda te conhecia.
Será que você ainda guarda essa lembrança? O dia em que vimos o Mugenjou pela primeira vez?
As memórias são tão fortes que ainda me fazem tremer. Eu consigo reviver tudo, tudo, naquele triste dia, como se mais uma vez ele passasse diante dos meus olhos. Como se eu ainda sentisse sua pele quente e trêmula; ouvisse seus gemidos abafados, sua respiração acelerada; sentisse o cheiro de seu suor...
Como se eu ainda o visse tombando aos meus pés...
Eu era tão patético, um inútil numa redoma de vidro, alguém acostumado a ser socorrido, nunca a socorrer. Sem Sakura ao meu lado eu fiquei totalmente perdido, nenhuma de minhas ações parecia boa o bastante para te ajudar.
No fim, tudo que consegui fazer foi achar um abrigo, e usar de meu corpo para amenizar o frio que você tanto sentia, rezando para que, de alguma forma, fosse o suficiente.
Até hoje não sei se fui eu, ou sua vontade férrea.
Mas você melhorou, voltando a ficar "ao meu lado", como sempre.
Nesse mesmo dia, tomei coragem e perguntei.
Mas você...não respondeu...
Apenas soltou minha mão e me deu as costas, seguindo em frente sem hesitar.
Você não faz idéia de como me senti. Depois de tantos anos, eu finalmente sabia que estava sendo deixado para trás.
Era inegável, imutável.
E doía como o inferno.
Logo, o seu sorriso foi morrendo, assim como as brincadeiras e toques. Tudo que restou foi sua proteção, agora fria como a pior das obrigações, e não algo do qual você costumava se orgulhar.
"Eu nasci pra te proteger."
Se você soubesse a falta que essa frase antiquada faz. Não que eu quisesse te ter abaixo de mim, mas eu ainda tinha esperança de te ter ao meu lado.
Estávamos livres, não estávamos?
Sem tradições! Sem promessas impossíveis!
Só dois garotos e um sentimento novo, mas incrivelmente belo.
Porém, um tolo continua sendo um tolo, não importa se apaixonado ou não.
Acho que esse foi meu maior erro: achar que seria o suficiente.
No fundo, eu só fingia não ver as tantas coisas que ficaram para trás, condenadas ao esquecimento.
As mudanças em nós mesmos.
Juubei...
Desde quando seu nome é como cinzas em meus lábios?
Desde quando sua presença corta meu coração?
Não sei.
Mas ainda dói, como se fosse à primeira vez.
Por quê?
Porque você tinha que seguir esse caminho!?
Respiro fundo, me controlando. É por isso que estou aqui. Porque não foi, nem naquela época nem nas outras que vieram. Nunca seria suficiente.
Gomen, não sei mais o que fazer.
Não sei como fazer você voltar a olhar pra mim!
As possibilidades se esgotaram, nenhuma delas te fez olhar pra trás.
Agora, só me resta aliviar o sofrimento de nós dois.
O sol começa a beijar o horizonte. Estremeço.
Breve, muito breve...
É minha última aposta, nela jaz o que sobrou de meu coração.
Tudo depende da sua resposta, àquela pergunta que você ignorou por tantos anos.
Não sabe o que eu daria para saber a sua conclusão.
Não sabe do que vou desistir por não saber.
Ah meu amor...meu querido Juubei...
O destino nos foi cruel, assim como todo o resto. Deixou que nascesse algo puro e frágil apenas para judiar dele, ferindo-o com palavras venenosas e lutas sem sentido.
Sequer tive a chance de explicar o porquê de ter partido. Mesmo assim, o que você faria, se eu dissesse que foi por você?
Tsc, provavelmente não acreditaria. Mas isso não muda a verdade.
Eu te dei tudo que tinha e parti, tentando ao máximo não olhar pra trás. Achei que, sem mim, você se voltaria para outras coisas, algo além que me proteger.
Acho que nunca me decepcionei tanto.
Ao invés de fazê-lo se abrir, você só se fechou ainda mais, perdendo as poucas migalhas de gentileza que lhe restavam. Tornou-se ainda mais solitário e taciturno, até mesmo agressivo.
É...eu tenho as cicatrizes pra provar.
Mas não se preocupe, não é nada que macule a pele de alabastro que você cuidou tão bem. Não...essas são piores...
Mais fundas, mais dolorosas. Que sangram toda vez que te vejo.
Tentei agüentar como podia, fingindo que estava tudo bem, como sempre. Eu não queria te preocupar, muito menos te pressionar.
Mas doía tanto.
Será que você percebe o quanto se tornou frio? Ou nem se dá ao trabalho de olhar para trás?
Ah, Juubei...você sempre soube...
Eu só queria te dar uma chance pra crescer, te libertar das correntes do passado que você, teimosamente, insistia em carregar. Tão fácil, tão simples...
Estava preparado para receber seu ódio. Porém, acho que nunca passou pela minha cabeça que você me receberia com algo infinitamente pior.
Algo oposto ao que eu sempre senti por você. A total ausência de sentimento.
Indiferença.
Nesse ponto, percebi que não tinha mais volta. A minha luta era vã, um mero sonho distante.
A vontade esmoreceu, caindo por terra junto com minhas lágrimas, e os restos mortais do que um dia fora minha alma.
Você tinha vencido.
Mas você me conhece, e muito bem. Sabe o quanto sou orgulhoso, muito mais de que deveria. Eu prefiro fugir a desistir de ti.
Por isso, se apresse.
Quero ouvir de seus lábios a minha sentença.
O sol continua seu lento caminhar, um prisioneiro no corredor da morte. Pelo menos isso temos em comum.
A diferença é que ele vai voltar amanhã, iluminando tudo e todos, dotando de brilho e vida como sempre, como se nada tivesse acontecido.
Você me esquecerá? Virará a página, ignorando tudo que aconteceu? Roubando o pouco significado que eu ainda tenho em sua vida?
Rezo para que não. Peço, não, imploro para que você mantenha o meu lugar de direito, junto com tantas lembranças. Que ao menos a uma pequena parte de mim seja dada à honra de permanecer, para sempre, ao seu lado.
Nesse momento, é tudo que quero.
Lembro que uma vez me disseram que o homem mais triste não é o mais solitário, mas sim aquele que não sabe que assim o é. Se esse for o caso, então eu sou o ser mais triste que já existiu.
Gastei anos tentando enganar a mim mesmo e, quando finalmente desisto, me dou conta de que também não sei o que é amar. Gomen, se eu soubesse não te machucaria tanto, não é mesmo? Apenas te aceitaria como és agora, agradecendo aos céus por te ter por perto, mesmo que nunca ao lado.
Como explicar?
Como te fazer entender, nem que seja um décimo do caos em meu peito?
Não sei. Por isso te peço perdão.
Perdão por não querer que você mude por mim, mesmo sem conseguir esquecer o antigo Juubei.
Perdão por não ser forte o bastante.
Perdão por te amar acima de qualquer coisa, do céu e da terra e, principalmente, acima de mim mesmo.
O sol finalmente se põem, num silencioso e breve suspiro.
A cortina se abre. O último ato irá começar.
Tem mesmo que ser assim? Sempre juntos, sempre separados?
Isso me confunde.
Os guizos vibram quando os solto do cabelo, num singelo e tímido adeus. Não posso evitar sorrir. Foi você que me deu a idéia de prendê-los assim, lembra?
Puxo as linhas...pronto, está feito...
Os guizos vão ao chão, ressoando uma última vez. Engraçado, nunca pensei em manchá-los de vermelho. Acho que, pra tudo tem uma primeira vez, ou deveria dizer última?
Talvez...
Minha consciência aos poucos vai se apagando, nublando a querida e distante platéia. Recuo alguns passos, tonto, até que as pernas finalmente falham e se dobram, me deixando cair encostado na velha cerejeira. O vento sopra, trazendo algumas de suas flores até mim.
Sakuras. Impossível ser mais apropriado.
Olho para o chão com dificuldade, o controle de meu corpo se esvaindo aos poucos. Vejo uma imagem meio borrada, mas percebo que algumas já estão vermelhas, se alimentando da vida que aos poucos me deixa.
Só espero que essa vida seja mais útil pra elas do que foi pra mim.
Como eu queria que você estivesse aqui, ver seu rosto um última vez...
Sabe, foi nisso que eu pensei naquela hora, quando me joguei no meio da luta. Bem verdade que eu sabia que Toshiki nunca atacaria pelas costas, mas, naquele momento, tudo que consegui pensar foi em você.
E em como eu seria feliz, se morresse vendo seu rosto...
Antiquado, não? Deve ser a convivência.
Minha cabeça começa a pesar, assim como as pálpebras. Falta pouco...muito pouco...
Engraçado. Depois de tudo, não sei se estou feliz ou triste.
O que eu mais quero é nos libertar desse ciclo de dor.
Mas eu gostaria tanto de saber a sua resposta. O quê você diria, se estivesse aqui?Se tivesse chegado a tempo?
Não sei.
Mas, por favor, guarde essas palavras com carinho.
O mesmo carinho que costumavas ter por mim, naquela época tão distante.
Guarde a resposta...e diga...
...no próximo pôr-do-sol...
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Well, primeira fic d get backers, espero q alguém tenha gostado
E ñ, antes q alguém me jure d morte ou comece a fazer um e-mail bomba, esse ñ foi o final
Existe uma segunda parte, já pronta, q será postada daqui a +/- quinze dias ou um mês, dependendo do número d reviews
Bom, acho q é só isso, vou parar d enrolar
Agradecimentos especiais a Babi-chan, q revisou a fic pra mim .
Bjs e até breve! (eu axo u.u')
