Desfecho
De praxe escrevo:
Por raios claros riscadas
O céu encobrem nuvens cinzentas;
Como aquelas que cinzelam meus pensamentos.
Do alto, desarmada, me entrego.
Não ajoelho, tão pouco estremeço,
Quando meus olhos percorrem o desfiladeiro.
A brisa contígua faz trilha
gélida, seguindo as lágrimas
sorrateiras, que derramo quentes.
Há um frio profundo
Que me consome, corroe-me.
Um medo que não sei abandonar.
Uma mágoa infundada, enlouquecida a me agarrar.
Não é só a dor de um laço desfeito,
o estrondo foi de uma corrente quebrada;
um único elo visível,
como uma corda dantes bem segurada.
Sou rainha e não entendo,
como foi que me deixei levar.
Sou densa como o mar profundo,
aquele em que nenhuma luz pode chegar.
Mas sou de livre arbítrio,
um pássaro voador.
Ainda que ao vento, minha entrega
jamais conseguirei indispor.
Sou águia, falcão, ave de rapina certeira...
Foste tu vento que me alçou;
A ti completa me entreguei, imperceptível, inquieta...
Porém jamais esqueci:
Sou antes de tudo, águia, ave de rapina certeira...
Da beirada, olho o abismo sereno,
em milênios moldado, por mar incansável a acolher.
Em águas borbulhosas de presas repletas,
O mergulho é todo meu bem-querer.
Há naqueles nichos matreiros, ninho de águia falcão.
Queria ser eu águia verdadeira que pudesse ali me manter.
Seria possível de ti, ó vento, me esconder?
Sendo rainha ainda serva fui,
Depois, agora, será possível de ti me entrever?
Sem vento sou bem capaz de voar,
Apenas, talvez, não mais planar...
Há agora algo a fazer?
Deixo-me estar, ou um passo a mais dar...
Esqueço, enlouqueço?
Enfrento, e provavelmente, apenas perco...
E já não sei o quê dizer.
As palavras gastas estão perdidas, derrotadas.
Agora, quando vir olhos teus, o que irei eu escrever?
Ás vezes sou mestra em disfarçar...
Voar, deixar o céu azul me enlevar...
Mas de ti, ó vento, conseguirei eu escapar?
Sou águia, falcão, ave de rapina certeira...
Tu foste vento forte que meu caminho cruzou...
Ao léu encetei, mas se errei teu coração,
Que pena!
Porém, haver de hão outras centenas...
Pois sou águia, ave de rapina certeira,
E tu foste vento...
Mas meu caminho agora o sobrevoou...
Diana C. Figueiredo
(Diana Lua)
Desabafado em: 10/07/2008
Que começara em prosa terminou em poesia...
Não sei o que dizer, então dedos meus sabem o que escrever.
Não me importa o que pensas. Razão ou desilusão? Apenas mais uma corrente quebrada. Por dedos meus, tensos, apenas desabafei...
