– Sel! – gritou Megan, pulando em mim.

– Meg! – gritei em resposta, a abraçando com toda minha força.

– Minha irmãzinha está de volta. – cantarolou em meu ouvido.

– E minha irmã mais velha continua não sabendo cantar. – ri, me afastando.

– Isso não vem ao caso. – ela arrancou as malas de minhas mãos. – Pronta pra se divertir como nunca?

– Nem tanto, não é. – reclamei. – Vou ficar vendo minha irmã se drogar.

– Prometo que não faço na sua frente. – Ela beijou minha bochecha e seguimos para fora do aeroporto.

– Resposta errada. – disse. – Eu esperava um: "nunca mais vou fazer isso Sel, por você."

– É, com certeza resposta errada. – riu.

Tinha vindo passar meus dois meses de férias com minha irmã e meu pai, já que minha mãe anda muito ocupada com seu novo romance. Afinal, ela merece uma folga de mi oportunidade perfeita para ver essa parte na família.

Nós sentamos no carro e junto com o som do motor do carro veio um toque de celular.

Apalpei o meu em meu bolso.

– É o meu. – sorriu, mas logo seus dentes sumiram ao ouvir a pessoa do outro lado da linha. – O quê? Aonde? No hospital? Sua... já vou, me espera. Cuidado, pelo amor de Deus.

Ela desligou o aparelho pisando no acelerador.

– Quem está no hospital? – perguntei preocupada.

– Sel, eu sinto muito. – disse ela honestamente. – Eu sei que você está super cansada e posso te deixar em casa se quiser, mas minha melhor amiga esta no hospital e... Droga, aquela idiota! Até que estranhei seu sumiço por três dias...

– Calma Meg, fica tranquila. – acariciei seu ombro. – Vamos, eu te acompanho. Nem estou cansada, só fiquei duas horas no avião.

– Obrigada Sel. – ela suspirava impaciente, a preocupação e insegurança tomando sua face. – Ela é muito importante para mim.

– Percebe-se. – sorri também insegura. Limpei a garganta antes de continuar, hesitante. – Ela é uma de suas... desculpa a linguagem, amigas drogadas?

Ela sorri levemente.

Em seu olhar eu via a verdade. Era.

Suspirei com medo.

– Calma Sel, eu... – eu a cortei.

– Por que você se importa com essas pessoas?

– Porque... – ela hesitou. – É minha culpa. No conheço desse ano eu a conheci e viramos melhores amigas instantaneamente e eu... eu não cuidei dela direito e ela me seguiu.

– Não acredito Meg, você a levou para as drogas? – disse indignada.

– Eu não queria! – contrapôs. – Quando eu vi, nós estávamos usando juntas. Podemos continuar essa conversa em casa?

Ela parou o carro em me olhou nos olhos.

Encarar aqueles olhos mudados era difícil. Eram tão diferentes dos de três anos atrás, secos e sem vida. Só não corria para longe dessa estranha pois ali, quase imperceptível, havia um brilho familiar. O brilho de seu bom coração, o verdadeiro brilho da minha Megan.

Assenti.

Nós saímos do carro com pressa caminhando para a grande porta do hospital, mas nem estávamos no meio da praça que o cercava e Megan parou.

– O que foi? – perguntei.

– Tinha que ser ela mesmo. – sorriu. – É ela ali.

Ela apontou para uma garota seguida de uma mulher.

– Mãe, eu já to bem. – bufou a garota, nos avistando. – Olha a Megan alí, até mais mãe.

Não via a menina direito, mas o cabelo preto foi a primeira coisa que notei.

– Demi, você acabou de sair do hospital, vamos para casa. – insistiu a mãe da garota, segurando seu braço.

– A senhora já me abraçou milhões de vezes, já me beijou trilhões de vezes e ficou olhando pra minha cara três dias. Deveria estar dando graças a Deus que vou me mandar. – ela beijou a testa de mãe. – Te vejo depois.

A senhora ia retrucar tentando convencer a filha, mas desistiu quando percebeu que seria inútil.

Ela virou para nós e caminhou em passos rápidos.

Ao ver sua face minhas pernas oscilaram ligeiramente.

A pele branca gritava em contraste com cabelo negro e a camiseta vermelha vibrante que usava só ajudou no destaque, uma calça jeans preta levemente rasgada descia apertada em suas pernas encontrando um all-star comum.

– Meg, to tão feli... – ela foi interrompida pela mão de Megan em sua cara. – AAI!

Segurei o braço de Megan, impedido-a de dar-lhe outro tapa.

– Pensei que ela fosse especial. – repreendia-a.

– Pior que é. – respondeu ela, brava. – Isso é pra você aprender a avisar sua amiga que teve overdose!

– Aaah claro, eu deveria ter acordado do coma pra te ligar e seria uma conversa bem interessante: "Oi Megan, sim é a Demi e a propósito eu estou em coma porque apliquei uma dose tripla sem perceber. Beijo amor!" – ironizou a garota, ainda com a mão na bochecha. – Poxa, mão pesada hein.

– E realmente deveria ter acontecido isso. – gritou Meg. – Vem cá, retardada.

Ela duas se abraçaram e eu pude ver o sentimento de culpa expresso no contado de corpos.

– Uma retardada que você ama. – disse a de cabelos negros num sorriso sem dentes.

– Demais até. – elas se afastaram e eu me encontrei sorrindo para a cena. – Aaah ok, Sel, essa é a...

– Demi. – completou a outra. – E você deve ser a Selena, irmã mais nova dessa coisa. Você foi o assunto da sua irmã nos últimos meses.

– Fui? – olhei de relance para Megan.

– Talvez... – começou, mas foi cortada novamente por Demi.

– Talvez? – brincou. – Como era mesmo: "Você precisa conhecer minha irmãzinha Selena, ela é tão linda e canta tão bem!" e também: "Sabe o que isso me lembra? A minha irmãzinha brincando com seus fantoches".

– Você contou pra ela sobre meus fantoches? – bati em seu braço.

– Isso é só o começo. – completou Demi. – Mas ela tinha razão sobre ser bonita, agora vamos ver a teoria da cantoria.

– O quê? Eu não canto. – corei. – Mas, obrigada. Você também é... você sabe...bonita.

– Opa, vamos cortar esse clima. – Megan entrou entre nós. – E você Lovato, fique longe da minha irmãzinha.

Ela riu falsamente.

– Suponho que a senhorita vai conosco, não é? – disse Megan.

– Pra sua casa? Claro, pra minha mãe eu não volto. – confirmou ela.

– Então vamos. – disse ela dando a volta no carro.

– Aqui, entre. – Demi abriu a porta no passageiro para mim.

– O-obrigada. – gaguejei entrando.

– Estou falando sério sobre ficar longe dela, Demi. – cuspiu minha irmã, quando Demi sentou-se no banco de trás.

– Ela só foi gentil Meg. – disse.

– Até você ta do lado dela Sel? – queixou-se.

– Deus, cale a boca Megan. – Demi tinha as mãos na cabeça. – Minha cabeça parece que vai explodir.

– Tem certeza que o médico te deu alta? – perguntou Megan.

– Não. Eu fugi. – disse simplesmente como se não fosse nada. – Digamos que ele vai ter uma surpresa quando não me encontrar ligada aos aparelhos.

– O quê?! – exclamamos em uníssono.

– Não me levem de volta! – adiantou Demi. – Eu vou fugir de novo.

– Se vai fugir melhor que seja com a gente. – suspirou Megan com riso. – Já é a segunda vez que você me manda te buscar no hospital do nada, eu fico preocupada.

– Segunda vez? – encarei Demi pelo retrovisor.

Deu um sorriso tímido.

– Digamos que eu me meto em muita robada.

– Isso é verdade. – concordou Meg. – Se não é no hospital é na delegacia.

– Vamos mudar de assunto? Odeio quando falamos sobre mim. – disse ela. – A propósito, alguém tem um óculos de sol?

– Não acredito, você se drogou no hospital! – gritou Megan espantada. – Você acabou de sair de um coma!

– Não enche Meg, foram só três cigarros de maconha. – contrapôs. – E meus olhos já estão começando a ficar avermelhados.

Megan deu seus óculos a ela.

– Aaaaaaah minha cabeça! – gritou de forma dramática, nos fazendo rir. – Sério gente, dói.

– Então suba pro meu quarto e durma, eu vou ajudar a Sel. – Megan estacionou na frente de casa. Realmente não tinha mudado nada.

– Eu sempre sou a excluída mesmo, não é? – ela pulou para fora no carro abrindo a porta para mim novamente.

– Alem de os olhos vermelhos você vai ganhar um deles roxo se você não parar de ficar dando em cima da minha irmã. – brigou Megan.

– Não estou dando em cima dela. – riu Demi. – Estaria se fizesse isso.

Ela bateu a porta, me empurrando contra ela. O espaço quase insistente entre nós, os quadris roçando um no outro. Senti o cheio de limão que seu cabelo exalava, mas foi um momento rápido.

– Eu te avisei. – disse Megan para uma Demi com óculos quebrados.