Disclaimer: Sailor Moon e seus personagens pertencem a Naoko Takeuchi.
E eu não posso substituí-lo?
Por Amanda Catarina
Capítulo 1
Já era quinta-feira quando Serena Tsukino arranjou disposição para ir assistir aula. Porém, se tivesse tido a curiosidade de checar seu horário de disciplinas, certamente teria desistido: Economia Política, a matéria que encabeçava sua lista das mais chatas do curso de Direito.
Divagante, acomodada em seu lugar, ao fundo da sala, ela abriu um caderno e caçou as últimas páginas. Puxou a lapiseira e começou a escrever um poema. Cabisbaixa, estava quase a suar, em virtude do demasiado esforço mental, até que findou a composição:
Batatinha quando nasce
espalha a rama pelo chão...
Querido, se aqui estivesse,
eu lhe daria um beijão!
Releu os versos, cheia de orgulho, mas antes que tivesse tempo de dizer a si mesma: "bom trabalho!" escutou uma voz masculina lhe dizer:
– Chama isso de poema? Que rima sem nexo! Até meu priminho de três anos faz melhor!
Espantadíssima, ela ergueu o rosto ao impertinente. Tratava-se de um rapaz alto, de olhos azuis, cabelos negros e compridos, porte atlético e olhar penetrante. Apesar do desaforo que dissera a voz dele era de um timbre tão harmonioso que mais parecia voz de cantor.
– Qual é, cara? - ela respondeu por fim, com voz exaltada, atraindo a atenção dos colegas. – Não tem nada melhor pra fazer, não?
Mina Aino - uma loira de cabelos bastante longos e volumosos e uma das melhores amigas de Serena -, saiu abruptamente do aglomerado de colegas com os quais conversava e veio acudir a amiga mais que depressa.
– Ei, não precisa reagir tão mal a uma mera crítica - dizia o moreno, mas Mina não o deixou continuar.
– Seiya, o que acontece? - disse, metendo-se entre ele e Serena, e com as mãos na cintura e expressão reprovadora, ela indagou: – Por que deixou ela brava? Essa é a amiga de quem lhe falei - anunciou, tentando transmitir ao rapaz qualquer coisa com o olhar.
Seiya não captou a mensagem; em pouco mais de uma semana, Mina lhe falara de uma dúzia de amigas - pois Mina era daquele tipo de pessoa que se enturmava rapidamente, e mais rapidamente ainda ficava inteirada da vida de todos. Assim, antes que Seiya entendesse o que os olhos de um azul claríssimo queriam dizer, Serena ajuntou os materiais e deixou a sala tal qual um raio.
– Ei, estressadinha! Calma aí... - exclamou ele e já partia atrás dela, mas Mina o segurou pelo pulso.
– Deixa ela ir.
Ele só se deteve por causa do tom solene do apelo.
– Que mancada, Seiya! A Serena está passando por uma fase bem difícil. Foi ela que perdeu o namorado num acidente de carro.
Seiya pestanejou. A revelação teve o efeito de uma bomba atômica em seu íntimo. Endireitou o corpo e ficou encarando Mina por alguns instantes, sem saber o que dizer.
– Foi mal - falou por fim.
– Com certeza! Ela só passou de ano por camaradagem dos professores e esse semestre ela tem faltado mais do que vindo.
A cada instante ele se sentia pior.
– Eu não imaginava. Vou lá pedir desculpas.
– Não adianta. Deixa quieto, ela já deve estar no ponto de ônibus.
– Mas com sorte ainda alcanço ela! - retrucou e saiu apressado.
Caminhando com passadas arrastadas e os olhos fitos no chão, Serena resmungava:
– Carinha arrogante! Até meu priminho de três anos faz melhor... E quem aqui está querendo ser Camões?
Foi então que ela escutou novamente a tal voz de cantor.
– Aprendiz de poetiza! Espera, por favor!
Ela parou no lugar e girou o corpo para trás, abismada.
– Você de novo?
– Desculpe... Eu não quis ser rude. A Mina me contou tudo...
– Contou o que? - estava tão zangada, que o óbvio não lhe ocorreu.
Compreendendo isso, Seiya enrubesceu e resolveu desconversar:
– Você faltou esses dias, então ainda não fomos apresentados. Meu nome é Seiya. Seiya Kou, muito prazer! - ele até quis estender a mão, mas, num ato bem sensato, fez apenas uma meia reverência.
Toda a reação de Serena foi encará-lo. Nesse instante, Seiya reparou no quanto ela era bonita. Os cabelos eram quase do mesmo tom dourado dos de Mina, só um pouco mais escuros e menos volumosos, ela usava-os presos num rabo de cavalo alto; possuía um corpo esbelto, olhos de um azul céu e lábios rubros que receberam uma boa parcela de sua atenção. Em suma, uma linda garota, e esse fato fez com que ele se condoesse mais de sua trágica história.
Como ela ainda apenas o encarasse, ele comentou:
– Venho de outro campus, me transferi pra sua turma semana passada.
– Hum... - resmungou claramente desinteressada. – Faz o seguinte, Seiya, volta pro planeta de onde veio e me erra! - escorraçou ela, depois deu-lhe as costas e saiu andando.
Seiya ficou aturdido e estático, julgando que um temperamento tão ácido não combinava nada com o rosto de anjo dela. Notando que ela já estava quase no pátio, ele correu para alcançá-la.
– Espera! O seu nome é Serena, não é? - perguntou, andando no mesmo passo que ela, demonstrando que não se abalara com a hostilidade.
– Senhorita Tsukino pra você!
– OK, senhorita Tsukino, eu só quero me desculpar.
– Ah é? - ela parou de repente e olhou bem dentro dos olhos dele, como quem estivesse lhe perscrutando a alma. – Muito bem, desculpas aceitas!
Seiya sorriu, meio sem jeito, mas antes que dissesse algo, ela ajuntou:
– Boa aula pra você e passe bem! - então voltou a andar e num passo mais rápido, mostrando com isso que não queria ser seguida.
Seiya ainda pôde escutá-la bronquear, enquanto se afastava:
– É cada uma que me acontece...
Acomodada num dos últimos bancos do ônibus, Serena tentava, inutilmente, parar de repreender a si mesma; por mais vexatório que houvesse sido o ocorrido não justificava sua volta para casa. Seu rendimento na faculdade - que nunca fora digno de nota - decaía a cada dia. Se Darien estivesse vivo, certamente, ficaria decepcionado.
De repente, a imagem do moço chamado Seiya se fez nítida em sua mente, num lampejo.
– Ele se parece um pouco - falou sozinha, despertando a atenção da senhora à sua frente. Após ter gesticulado à mulher, esclarecendo que não falara com ela, voltou à meditação.
De fato, o tal Seiya exibia certa semelhança com Darien. Os mesmos olhos azul-aço e os cabelos negros - porém Darien tinha cabelos bem curtos, enquanto os de Seiya desciam fartos para além das costas. Abanou a cabeça, buscando afastar o novo colega de sala do pensamento. Assim, tratou de começar a pensar numa desculpa para dizer à mãe quando em casa chegasse.
Abatida, escondeu o rosto entre as mãos. Lá vinha a vontade de chorar de novo. Viver, ultimamente, tinha se resumido nisso: lágrimas e repreensão, repreensão e lágrimas. Darien, em seus últimos instantes de vida, lhe fizera prometer que não desistiria de viver. Ela só não imaginava que seria tão difícil cumprir essa promessa.
Seiya não conseguia prestar atenção à aula. Não tirava Serena do pensamento. Subitamente, teve um ímpeto de querer saber todos os detalhes do acidente que encerrara a vida do namorado dela. Rasgou então um pedaço da folha do fichário, escreveu um pequeno recado nele e jogou-o no colo de Mina, sentada na fileira ao seu lado.
"Qual era o nome do namorado dela? O nome completo."
Mina franziu o cenho e logo escreveu uma resposta, mas não a que ele queria; perguntou-lhe o motivo daquilo. Ele só a encarou com um olhar pidonho, então ela aquiesceu e logo lhe lançou outro papelzinho com o nome do sujeito escrito, Darien Chiba. Instantes depois, Seiya saiu da sala e antes de cruzar a porta já estava com o celular ligado. Fez uma chamada para seu irmão gêmeo, Yaten.
– Ei, mané, me passa por SMS o número daquele seu amigo que o pai é policial - do outro lado, Yaten falou um nome. – Deve ser! Manda logo, é uma emergência - o mais novo quis mais detalhes, mas Seiya voltou a insistir que ele fosse rápido e desligou.
Com um semblante compenetrado, Seiya pensou um pouco e então resolveu ir até a biblioteca do campus.
– Talvez tenham jornais antigos; posso checar os falecimentos.
Antes que ele chegasse ao destino, recebeu a mensagem de Yaten.
– Isso! Nada como ter os contatos certos! - vibrou e logo teclava o número. Dois toques depois, uma voz de mulher atendeu. – Alô? Eu gostaria de falar com o Keiji, por favor.
A mulher pediu um minuto, então ele ouviu alguns ruídos e depois uma voz masculina perguntando quem era.
– Oi, Keiji, meu nome é Seiya Kou. Eu sou irmão do Yaten, que estuda com você. Eu queria saber se você tem como conseguir informações sobre um acidente de carro pra mim, já que seu pai trabalha na polícia. Mas eu só tenho o nome da vítima.
O rapaz se gabou dizendo que seria simples a ele conseguir aquilo.
– Ah, é? Mas você pode me passar isso sem problemas?
Keiji explicou que iria depender da procedência da pessoa e da repercussão que o caso tivera na mídia.
– Entendi. Então eu gostaria que você tentasse conseguir isso, por favor. O nome da pessoa é Darien Chiba - depois que o rapaz concordou, Seiya perguntou: – E como faço para pegar isso com você?
O rapaz respondeu que deixaria tudo com Yaten.
– Perfeito! Muito obrigado pela ajuda!
Serena, escorada na pia da cozinha, às escondidas, tentava engolir um naco de pão, enquanto escutava a mãe, na sala, numa entusiasmada conversa pelo telefone com seu irmão. Sanny, diferente dela, era ótimo aluno e, pelo que ouvia, acabara de receber uma promoção na multinacional em que trabalhava há menos de um ano. Entre um e outro "estou tão orgulhosa de você, filho", ela ouvia as exclamações e as risadas contentes da mãe.
– Sim, ele é o orgulho da família, enquanto eu...
Chateada, do modo mais sorrateiro que pôde, Serena buscou refúgio em seu quarto, mas, num ato mal calculado acabou batendo a porta e denunciando sua presença. Não se importou. Atirou-se na cama e meteu a cabeça embaixo do travesseiro.
– Darien, não aguento mais! Não aguento...
Começou a chorar. Chorou até a exaustão e adormeceu. Acordou por volta de meia noite, com o corpo dolorido. Ao se mexer, percebeu que sua gata estava ali com ela.
– Sai, Luna... Qualquer hora, eu ainda acabo esmagando você.
A gatinha preta saltou da cama e, no meio do quarto, esticou o corpinho peludo, ronronando.
Serena seguiu ao banheiro. Lá, a visão de si mesma no espelho era mais que desastrosa, era horripilante. Via-se como um farrapo de ser humano e em momentos assim a ideia de por fim a própria vida lhe parecia a única saída. Mas era sempre a mesma coisa, essa ideia ia e vinha, porém, no íntimo de seu ser, sabia que jamais chegaria a tal extremo e era precisamente isso que tornava a realidade tão sufocante e opressora.
Tomou um banho rápido. Cuidou de não molhar muito os cabelos, para nem ter que ligar o secador; não queria perturbar o sono dos pais e do irmão. Pouco depois estava de volta à cama, onde tornou a se entregar ao sono. No mundo dos sonhos via-se confortavelmente aninhada nos braços de Darien, os dois sentados sob uma árvore frondosa, numa verdejante colina - um faz de conta tão acolhedor, no qual ela gostaria de poder ficar para sempre.
Na manhã seguinte, num dos bairros mais nobres da cidade, na cozinha de um amplo sobrado, com a decoração ainda por concluir, os trigêmeos da família Kou faziam seu desjejum. Taiki, o mais velho, se achava junto a pia, preparando uma vitamina e Yaten, o caçula, estava sentado à mesa, foi então que Seiya chegou ali.
– Yaten - disse Seiya, tomando o assento à frente do irmão –, o Keiji vai deixar com você uns documentos que pedi pra ele.
– Que documentos? - retrucou, sem tirar os olhos da tigela de cereal.
– Umas páginas de jornal e um número de processo.
– Do que se trata? - quis saber o irmão mais velho.
– Um cara que morreu num acidente de carro - respondeu Seiya.
– Qual seu interesse nisso? - replicou Taiki.
– Quero saber se foi um advogado competente que cuidou do caso. Se a família recebeu indenização, essas coisas...
– Mas você conhecia o cara? - rebateu Taiki, com estranhamento.
– Não. Ele era namorado de uma... amiga.
– Amiga? - sobressaltou-se Yaten. – Ah, já entendi! Lá vai você bancar o caridoso. Será possível que não pode se conter, Seiya? Qualquer garota vira sua cabeça! - criticou feroz. – Não ouse gastar nosso dinheiro pagando advogado pra essa sua amiga! - ameaçou e deu um tom bem pejorativo à palavra amiga.
– Não começa, Yaten! Além do mais, é bom que eu vá me acostumando com esse tipo de coisa, logo vou trabalhar com isso.
– Você ainda está no primeiro ano! - Yaten contestou. – Não tem a menor necessidade de fazer estágio.
Seiya olhou para o mais velho e falou:
– Faz ele parar, Taiki.
– Deixa ele, Yaten.
– É, me deixa! E que moral você tem pra falar de mim, se a sua faculdade é a mais cara das três?
– Acontece que quando eu for médico, vou ganhar mais do que vocês dois juntos!
– É pra parar - Taiki advertiu, muito sério. – Os dois.
Seiya e Yaten se calaram. Então, Seiya pegou suas coisas e foi saindo.
– Seiya - chamou Taiki –, às 14h lá no estúdio, não se atrase.
– Tá certo! Preciso ir buscar a Kakyuu?
– Não, eu busco! - berrou Yaten. – Deixa o carro aí e vai de moto.
– Muito bem. Fui!
Seiya seguiu à garagem e logo trazia sua motocicleta para o quintal - uma Yamaha vermelha, série YZF-250. Ficara bastante aborrecido, o caçula parecia sentir um prazer ímpar em implicar com tudo que ele fazia. Mas sabia o verdadeiro motivo: Kakyuu, a empresária da banda deles e a quem Yaten carinhosamente chamava de Princesa. Há pouco tempo, Kakyuu demonstrara interesse em Seiya, menosprezando Yaten que nunca escondeu sua veneração por ela.
– Que culpa tenho eu se ela não quis nada com ele? Que saco!
Ele saiu cantando pneu, mas com poucos quilômetros percorridos seu mau humor se dissipou por completo. Fazia um dia bonito e pensar que logo mais a noite talvez encontrasse a bela Serena de novo o deixou cheio de expectativas.
CONTINUA...
Olá, pessoal! Pela primeira vez me aventuro em escrever uma fanfic de Sailor Moom, um dos meus animes favoritos! Será uma shortfic, se tudo correr conforme o planejado, pois os mais chegados sabem que busco me focar mais nas originais esse ano. Contudo, depois de assistir alguns episódios na casa da amiga Marcela (Ray Shimizu, no Nyah), me veio uma vontade irresistível de escrever desses dois e cá estamos!
Ah, Marcela, já que você foi a causadora disso, pode considerar o capítulo especialmente dedicado a você! E você também, Sereia-Lu, já que é tão fissurada pela série quanto eu!
Então é isso aí, pessoas! Grande abraço e até o próximo capítulo!
Aguardo comentários, hein!
Amanda
11-02-2012
(Editado em 06-02-2015)
