Soneto 14

Ama-me, por amor do amor somente,
Não digas: Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua". Por que pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.

(Elizabeth Barrett Browning; Sonetos Traduzidos do Português
Tradução: Manuel Bandeira)

PREFÁCIO

Às vezes eu me perguntava se eu realmente não estaria marcada. Por mais que eu pudesse por a culpa repetidamente na minha incapacidade física de me manter em equilíbrio, ou apenas a minha falta de sorte; era engraçado ver como a morte sempre voltava para mim.

De todas as experiências mortais que eu tive essa era a mais assustadora. Eu conseguiria lidar se a morte se apresentasse para mim na forma de um inimigo, ou como conseqüência da minha inaptidão – como sempre havia sido. Entretanto, ela se apresentava para mim na forma do amor completo e absoluto – e isso me assustou. Como pedir para a dor parar quando quem lhe causa esta dor é quem você ama? Era estranho saber que a mesma boca que me deu calmarias meio a tempestades, agora me causava tal sofrimento. E mesmo assim, tudo que eu queria nesse momento era a sua boca na minha, me prometendo que já estava passando, já estava acabando e que seríamos só nós dois para sempre.

Começou como as ondas do mar, um espasmo de dor lancinante e outro de paz, mas agora era simplesmente agonia pura, era pesada, como se tivessem jogado toneladas em cima do meu corpo. Eu queria morrer, apenas... Morrer. E ainda assim eu queria simplesmente sobreviver a isso. Cada célula do meu corpo ardia de uma maneira excruciante e eu praticamente sentia a morte reclamando o meu corpo, mas, eu precisava viver – de qualquer forma. Eu precisava saber que veria o rosto do amor da minha vida mais uma vez.

Nem que fosse uma última vez.