KAMEN RIDER ARILUS

Numa tarde chuvosa no aeroporto de Nova Iorque, um pequeno garoto de ascendência nipônica corria desesperado, até ser detido pela segurança do aeroporto, se debatendo. Lágrimas jorravam de seus olhos, e a mente focava em não acreditar no que acabara de ver. Seu nome era Jinchu Ukematsu e seu mundo acabou oficialmente quando, depois de ver seus pais entrando a bordo do avião, um tanque de gasolina pega fogo, explodindo em chamas que representariam a fúria que seguiria o rapaz por diversos anos. Não restou um sobrevivente sequer, naquele acidente que nunca foi explicado. Jinchu passaria os próximos anos abandonado num inferno pessoal, do qual poucos teriam força para sair.

7 anos depois

—O Sushi ainda não apareceu? Que moleque abusado!—Um rapaz de calças jeans, camisa preta e um colete azul, com um crânio estilizado na forma de um inseto, diz entediado e irritado.

—Ele já te falou pra não chamar ele assim!—Outro rapaz, vestido de forma parecida, porém aparentando ser mais velho diz, repreendendo o primeiro.

—Foi mal, Mclane, mas porque você defende o japa? Eu nem sei por que você deixou um japa do Harlem entrar na nossa gangue.

—O moleque é ponta firme, Doutor.—O mais velho responde, sentando-se num amontoado de caixas jogadas no beco em que esperavam.—Eu o conheci quando fui pego por um grupo de Doutrinadores. Ele veio me ajudar e apanhou que nem um corno! Mas não caiu, mesmo depois de ter uma perna quebrada, ele continuou brigando. Por isso que eu o chamo de Monstro.

—Aquilo foi assombroso mesmo, eu tô ligado! Mas desde que o moleque entrou, ele só pegou briga fácil, não dá pra saber se ele é bom que nem você diz, Mclane!

—Mas sou eu que estou dizendo. E isso já deveria bastar!

Os dois ficam em silêncio por um tempo, até que Doutor decide se pronunciar novamente:

—Monstro não vai aparecer não? Que moleque abusado!

—Me chamou?—Os dois se assustam com a voz vinda de cima deles. Era Jinchu, apoiado junto a uma escada de incêndio, vestido com um colete igual ao dos outros dois, e com uma mochila nas costas:

—Veio da aula, Monstro?

—Eu tive que passar em casa antes...

—Seus tios ainda estão te pentelhando? A gente pode dar um jeito nisso...

—Não precisa, Mclane! Minha tia não tem culpa de ter casado com um americano imbecil...nada contra americanos, Doutor...

—Mclane é americano também, idiota!

—Ah, é, perdão...nada contra americanos imbecis, Doutor.

—Ora, seu...

—Relaxa, Doutor! Você pode estraçalhar o moleque se ele não tiver pegado a parada.

—E eu alguma vez deixei vocês na mão?—Jinchu sorri, tirando um cartão da mochila.—Aqui está, o cartão de acesso do meu tio. —Eu peguei o cartão de crédito dele também...mas esse fica só pra mim...hehehe...velho esclerosado que só consegue pensar numa senha pra tudo...

—Hah! Eu falei que era uma boa ter esse moleque do Harlem com a gente!—Monstro pega o cartão em mãos.—Howard Morrison, huh? Que cara de bunda...

—Eu não sou do Harlem, infeliz!—O nipônico era o único que ofendia Mclane e saía impune na maioria das vezes. Nenhum outro sequer ousava erguer a voz pro líder da gangue, pois sabia que iria sofrer as conseqüências. —Eu nem moro mais lá, depois que meu tio conseguiu o emprego no laboratório, a gente se mudou para o Queens. Cientista de araque que levou 3 anos pra conseguir um trampo!

—Você garante que lá tem coisa que valha a pena ser roubada?

—Lógico! Pensa só, Mclane! É um laboratório moderno, no mínimo deve ter uns computadores de última linha, o que já dá uma grana boa. E a segurança é bem modesta, já que a pesquisa começou não tem nem uma semana.

—Então, mostre o caminho...soldado Monstro!

Mais tarde, naquela noite

Jinchu corria desesperado. Odiava aquela sensação, pois se sentia como se estivesse revivendo aquele dia maldito. Ele não sabia se já tinha passado por aquele corredor ou não:

—Maldito laboratório! Merda de laboratório!—Ele continua correndo, sendo interrompido apenas quando uma das portas para a qual corria é arrebentada diante de seus olhos, voando em sua direção e quase o atingindo:

—Pare de resistir!—A voz rasgada vinha de um sujeito alto, com quase dois metros, trajando uma roupa metálica azul escura, protegendo seu corpo.—Eu já cansei de correr atrás de você!

Jinchu hesita, pensa em correr na direção contrária, mas logo lembra que não havia nada que pudesse lhe ajudar. Ele então cerra os punhos e parte para o ataque, tentando um soco direto contra o seu adversário. Seu ataque não tem o menor sucesso, servindo apenas para abrir sua guarda excessivamente, dando vazão a um soco poderoso que lhe atinge em seu estômago. O rapaz cai de joelhos, vomitando devido à intensidade do golpe, e então perde a consciência, tendo sua queda amparada por seu oponente:

—O objeto já foi capturado.—O misterioso sujeito se comunica com seu companheiro por intermédio de um botão em seu cinto.—Seu sobrinho já está em meu poder, Doutor Morrison.

—Ótimo!—Howard Morrison prendia os pulsos e tornozelos de seu sobrinho numa espécie de mesa de cirurgia. Ao lado do rapaz, se encontravam Doutor e Mclane.—Não esperava que Jinchu e seus amigos aparecessem para nos fazer companhia, mas agora poderemos continuar com o projeto Arilus!

—Você acha que vai dar certo, Morrison?—O homem com o estranho traje metálico revela seu rosto, o de um jovem americano, maltratado por um passado de duras batalhas.—Sou prova viva de que seus métodos são eficazes, mas será mesmo que conseguirá um soldado mais eficiente do que eu? Eu duvido muito!

—Não seja invejoso, Chris!—O doutor ri, fazendo os preparativos finais.—Estou certo de que pelo menos um destes três sobreviverá ao processo e se tornará nosso soldado definitivo! Mas nada tema, meu jovem amigo. Isso não quer dizer que você será descartado ou qualquer coisa do gênero! Você sempre foi tão fiel à nossa organização! —Morrison sorri, ao alcançar o bisturi, que brilhava ao refletir a luz da lâmpada daquela sala branca.

Jinchu tem sonhos horríveis. Ele sonha com gritos de seus companheiros, sonha com uma faca cortando sua pele, e seu sangue jorrando sem parar. Uma outra figura atormentava seus sonhos: um inseto gigante, com o corpo cheio de espinhos, como se cada divisão de seu exoesqueleto fossem serras metálicas, prontas para lhe partir em pedaço. O que finalmente acontece, pouco antes dele acordar, gritando e suando como nunca fizera em sua vida.

O rapaz percebe que seus braços e pernas não estavam mais presos à mesa, como se alguém tivesse arrebentado as correias que lhe prendiam. Ele se levanta, trôpego, e se apóia na maca vazia à sua esquerda. Ao ver a quantidade de sangue espalhada pela maca, Jinchu quase desmaia, sentindo sua pressão diminuir, tendo que se ajoelhar e baixar a cabeça para não perder a consciência novamente. A porta então abre, revelando novamente o homem que tinha lhe nocauteado:

—Bom saber que você sobreviveu!—Jinchu podia perceber o sorriso sarcástico de Chris ao se pronunciar. —Agora, volte para a maca e evite problemas!

—Vocês...—A voz do nipônico falha, estando bastante rouca e denotando grande cansaço. —...o que fizeram comigo?

—Último aviso! Volte para a maca, AGORA!

Jinchu não espera, e salta para o ataque, Chris se surpreende com a velocidade que o rapaz, que aparentava extremo cansaço, podia atingir. Ainda assim, ele se esquiva e desfere um chute na face desprotegida do jovem. Jinchu cambaleia, e cai sentado no chão, ouvindo a risada do homem:

—O que você achou que ia acontecer? Que apenas pelo simples fato de ter seu corpo remodelado você seria mais forte do que eu? Acorda, moleque idiota!—Jinchu recebe um novo chute em seu rosto. —Eu estou nessa há mais de 20 anos!—Chris tenta um novo chute, tendo sua perna agarrada pelas mãos de Jinchu, aparando o golpe por completo:

—20 anos? Hah! Você não parece tão velho...—O rapaz começa a se levantar, empurrando para trás seu adversário, que logo se desvencilha de seu apresamento.—O que foi? Você não parece mais tão confiante!

—Cala essa boca!—Chris, numa explosão de fúria, tenta acertar Jinchu novamente com um soco, que, para sua surpresa, é aparado por uma mão enluvada. Jinchu tinha dado lugar a um homem trajando uma espécie de jaqueta negra, com uma placa peitoral e ombreiras na cor verde clara e luvas e botas combinando. Além da mudança principal que era um elmo em forma de inseto, como um gafanhoto, com grandes olhos vermelhos, e marcas negras destacando-os. Tendo a mão de Chris presa, Jinchu começa a esmagá-la sem piedade. Nem mesmo os gritos de seu adversário poderiam comovê-lo nesse momento.

—Eu vou te matar.—Diz o mascarado em trajes similares ao de um motoqueiro, sem nenhuma emoção na voz.—Da mesma forma que vocês mataram Doutor e Mclane.—Chris consegue libertar a mão e se afasta de seu adversário:

—Eu não serei derrotado por um merdinha como você!—Chris salta, dando uma cambalhota e estendendo a perna numa voadora, atingindo apenas o vento:

—Morra, modelo ultrapassado.—A voz fria surpreende o americano, que vira na direção da qual ela vinha, vendo Jinchu repetir sua cambalhota e a voadora.—Aprenda o que é um verdadeiro golpe.—Chris é arremessado contra a parede, atravessando-a violentamente, caindo inerte no chão. Jinchu se aproxima dele, imaginando se ele estava morto ou não, sem ter muito tempo para conferir pois ouvia sirenes da polícia se aproximando. Ele estava no subsolo do laboratório pelo visto, e o buraco na parede tinha revelado uma estrada sutil, pela qual ele poderia fugir, se ao menos tivesse um meio de locomoção.

No mesmo instante, Jinchu repara numa moto leve, que estava sendo estacionada no exato momento por um aparente funcionário do laboratório:

—Eu fico com as chaves...—Ele diz, ainda com uma estranha frieza em voz.

IH!—O funcionário mal tem tempo para se assustar, tendo o rosto afundado pelo punho do motoqueiro mascarado, que toma as chaves e parte agilmente com a moto.

A transformação logo se desfaz, surpreendendo o jovem oriental, que desaba da moto, ao perceber sua força e suas energias diminuindo drasticamente:

—Que...que diabos?! —Ele não tinha tempo nem para indagar o que estava acontecendo: embora não estivesse mais transformado, podia perceber que seu corpo estava modificado, a ponto de conseguir escutar perfeitamente um diálogo entre alguns policiais, que ocorria no laboratório, há mais de 500 metros:

"—Que massacre"!

"—Tem sangue por tudo quanto é lado!"

"—Ei! Olhem ali! Parece que tem um cara tentando fugir!"

Sua visão também estava de certo modo privilegiada, pois conseguia perceber que os gestos indicavam que ele era o novo suspeito, e à medida em que entravam nas viaturas, o tempo para Jinchu se recompor diminuía.

Howard Morrison observava o rapaz enquanto ele fugia, com uma tensão insuportável, oriunda de um intenso medo, o esmagando. Seu celular toca, e ele atende com voz embargada:

—Olá, Dr. Morrison.

—Eu...eu...eu não esperava que ele fosse ficar tão forte, senhor...me perdoe!

—Não precisa se desculpar...tudo estava previsto. Além do mais, eu já tomei providências para que nosso experimento tome o percurso planejado.

Jinchu fugia das viaturas pela estrada, sua cabeça latejava em dor, ele queria passar em casa, avisar sua tia. A única gota de bondade na vida amarga que levava, ela estaria em perigo também? Maldito Morrison! O rapaz perde a noção do tempo enquanto fugia, ao perceber que estava passando em frente ao mesmo fatídico aeroporto em que sua vida acabou pela primeira vez. Depois daquele dia, seria sua segunda morte. E nada mais justo que começar uma nova vida da maneira que seus pais gostariam, em sua terra natal. As viaturas ainda estavam longe, essa era a chance para despistá-los. Ele acelera, a motocicleta rosna com violência, antes de cantar pneu e partir como um foguete, o rapaz se joga contra um carro, empinando a bicicleta a tempo de usar o carro como rampa, saltando uma ampla cerca e adentrando na pista do aeroporto. O rapaz consegue adentrar no aeroporto, e imediatamente procura por um telefone. Em um minuto, ouve a voz de sua tia do outro lado da linha:

—Tia! Tia!!!

—Jinchu?! O que houve, meu filho?—A mulher percebe o desespero na voz de seu sobrinho, aliviada por ele estar vivo. Tinha pena e apreensão da raiva incorporada ao rapaz desde a morte de seu irmão.

—Tia! Você tem que sair daí! O tio é maluco! Mais que isso, ele é perigoso!

—Do que está falando, Jinchu?

—Eu e meus amigos invadimos o laboratório dele...foi uma burrice, eu sei, tia, não precisa falar! Ele fez...ele fez alguma coisa comigo! E acho que ele matou o John e Floyd! Tia, ele é um demônio! Você precisa sair de casa! Chame a polícia, ou coisa assim!

—Pode deixar, meu filho...mas...e você? Aonde está? O que vai fazer?

—Eu estou no aeroporto, tia! Eu...eu não quero colocar a senhora em perigo...se ele fugir, se ele vier atrás de mim...é melhor que eu esteja o mais longe possível da senhora!

—Jinchu...

—Obrigado por tudo, tia! Prometa para mim que ficará em segurança...

—Eu...

—Por favor...eu preciso ter essa certeza antes de partir...

—Eu prometo...vá em paz, meu filho!—As lágrimas se acumulavam nos olhos de ambos, o bipe constante que Saki Morrison ouvia denunciava que Jinchu já tinha desligado e agora partia, para um lugar que nem ela saberia, embora imaginasse seu destino. Ela põe o telefone de volta em seu terminal, quando Morrison irrompe na sala, com olhos vidrados, encharcado pela chuva que caía sem piedade:

—Onde ele está, Saki?

—Howard...ele...ele já se foi...

—Para onde? Responda!

—Eu...eu não sei, Howard...eu juro!

—Maldição!—Ele a empurra para sentar no sofá, em seguida serrando os punhos de forma ameaçadora.—Por que o deixou partir?

—E por que eu não deveria? Você é mesmo o monstro que ele disse?

—Idiota! Ele é só um garoto imbecil! Ele não tem noção do poder que ele agora carrega em seu corpo! Sendo um Kaizo Ningen ele nunca mais poderá viver como um humano normal!

—Por que você fez isso com ele então? Por que destruiu a vida de seu sobrinho, Howard?

—Porque...porque ele pode ser nossa única esperança...eu tenho que encontrá-lo! Onde ele está?

—Eu não sei! Howard, eu juro que não sei!

—...maldição...—o telefone toca novamente, Howard sabia quem deveria ser, então atende imediatamente.—A-alô?!

—Doutor, doutor...ainda não encontrou seu sobrinho?

—N-Não senhor...Mestre Dec...

—NÃO use o meu nome, seu infeliz!

—P-perdão...eu estou nervoso com essa situação, senhor...

—Não fique...apenas descubra aonde ele foi.

—Ele falou com minha mulher não faz muito tempo...

—E ela não sabe aonde ele está?

—Não...ou pelo menos diz que não.

—Consiga a informação...eu estudarei o dossiê que você me preparou sobre ele, e certamente descorbrirei seu paradeiro...mas uma resposta conclusiva seria um adianto para nossos planos!

—Certamente, senhor.

—Já sabe o que fazer com sua mulher depois de conseguir a informação, certo?

—É mesmo necessário, senhor?

—O que você acha?

—Certo, me dói muito fazer isso, mas eu jurei lealdade, e não o desapontarei.

—Ótimo...espero notícias animadoras.

IH! Howard Morrison desligando...

A sombra ameaçadora daquele aparentemente inofensivo homem, cobre a indefesa mulher, que deixa uma última lágrima escapar, prevendo seu destino.

Jinchu sente um aperto em seu coração, ao entrar naquele avião. Tinha levantado suspeitas por não levar nenhuma mala, mas algumas sacolas com roupas que tinha adquirido antes de partir tinham lhe ajudado a se safar das situações constrangedoras que poderia passar no aeroporto. Tudo na conta do cartão de seu tio. O rapaz desmaia de sono durante o vôo e só acordaria quando chegasse na terra do sol nascente. Uma nova vida lhe aguardava, mas sabia que não seria nada fácil. Além do mais, o que seria esse poder que tinha acessado em sua última luta? Jinchu Ukemura sonhava com insetos gigantes novamente, mas dessa vez, nenhum lhe era hostil, e ele os comandava como a um exército pronto para esmagar seus inimigos.