ESTA FOI UMA LEITORA QUE ME MANDOU E EU AMEI

OBRIGADA BARBARA

Edward estava prestes a desistir da busca quando encontrou a garota ideal.

Ela estava sentada em um banco, na estação do metro, e tocava uma flauta. A seu lado, o estojo se encontrava aberto em um franco convite para que os transeuntes de mostrassem sua apreciação em forma de pagamento.

O talento da jovem, porém, e sua apresentação discreta não mudavam o fato de que ela era, certamente, mais um membro do imenso número de pessoas sem um emprego fixo e, talvez, sem um teto sob o qual se abrigar.

Fazia tempo que não vinha a Londres e a quantidade de desocupados que perambulava pelas ruas o chocou, apesar de ter visto coisas piores em Addis e Mogotu.

Mais tarde, viria a se questionar sobre as razões que o levaram a selecionar a flautista. No momento, limitara-se a seguir sua intuição.

Ela estava usando uma jaqueta militar e um jeans surrado, mas limpo. Era jovem, mas não mais uma menina. A habilidade de tocar flauta a colocava em uma categoria superior a uma mendiga, mas não afastava a impressão de penúria.

Ou, talvez, fosse a presença do cachorro.

A maioria dos mendigos, que costumava ver, se fazia acompanhar por um cachorro, provavelmente na esperança de despertar a simpatia dos mais favorecidos da sorte.

O cachorro da garota, no entanto, não era um vira-lata, mas um belo animal com uma pelagem que sugeria cuidados e até mesmo um pedigree.

A jovem não ergueu os olhos do chão nem sequer quando ele se aproximou e atirou uma moeda de uma libra no estojo.

Edward continuou caminhando pela estação e só olhou para trás quando foi obrigado a dobrar uma esquina. Nesse instante, resolveu parar e examiná-la melhor. Estava em dúvida. Não gostava de mulheres de cabelos curtos nem daquelas que usavam mais do que um brinco nas orelhas. Mas como seu interesse não era de cunho pessoal, decidiu voltar e seguir em frente com seu plano.

Bella tinha uma excelente memória. Principalmente para sapatos. Afinal, o que fazia durante o dia inteiro exceto tocar flauta e olhar para o chão? Seu amigo Terry que ganhava a vida tocando violão a ensinara a reconhecer a importância das pessoas pelos sapatos que usavam.

Aquelas botas de couro marrom de amarrar, por exemplo. Tinha certeza de tê-las visto cinco minutos antes quando seu dono lhe atirara uma moeda de uma libra. A curiosidade tocou-a. Por um instante, pensou em arriscar um rápido olhar para o rosto dele, mas logo se conteve. Não era por causa de sua música que o homem havia voltado. Isso já lhe acontecera antes. Alguns sujeitos não conseguiam entender que nem todas as mulheres que viviam pelas ruas estavam dispostas a venderem seus corpos.

Aquele homem, porém, não disse nada. Parou a sua frente e ficou imóvel, como se estivesse determinado a esperar o tempo que fosse preciso para que ela lhe desse um pouco de atenção.

Quando finalmente olhou para ele, Bella ficou surpresa. Não se tratava de um tipo mal-encarado, mas de um homem alto e bonito, de cabelos cobre e pele bronzeada de um sol que certamente não era o de Londres.

— Toca muito bem — ele elogiou-a.

— Eu sei.

Por um momento, ele pareceu desconcertado.

—E não é adepta da falsa modéstia.

Bella ergueu os ombros e fez menção de colocar a flauta novamente entre os lábios em uma clara demonstração de que a conversa estava encerrada, mas como o homem continuou imóvel, foi obrigada a tornar a fitá-lo.

— Se ainda não notou, estou aqui porque preciso ganhar minha vida. Portanto, a menos que esteja à caça de novos talentos para a Filarmônica de Londres...

— Infelizmente não — ele respondeu —, mas tenho uma proposta para lhe fazer.

— Eu tinha certeza.

— Não do tipo que está pensando — Edward apressou-se a esclarecer ao mesmo tempo que tirava a carteira do bolso e pegava uma nota de vinte libras. _Quero pagar por seu tempo. — Está me ofendendo — Bella murmurou entre os dentes.

— Não estou me referindo a sexo — Edward explicou, impaciente. — Quero apenas conversar com você.

O tom de voz pareceu sincero. E o modo como ele examinava seu corpo não demonstrava nenhum interesse sexual, realmente.

Deveria sentir-se aliviada, Bella pensou. Afinal, vestia-se com deselegância de propósito para não despertar a libido dos homens. Por quê, então, aquela frieza a incomodava?

— Vamos a um café? Pagarei um lanche a você e a seu cachorro.

— Ele se chama Henry.

— Como disse?

— O nome dele é Henry.

Como se entendesse que era a ele que estavam se referindo, o cachorro se levantou e abanou a cauda. Edward afagou-o.

—Quantos anos ele tem? Onze? Doze?

—Treze, mas seus dentes ainda estão afiados.

Edward sorriu. Conhecia animais e aquele era dócil e inteligente.

— Ele parece faminto.

A moça ficou irritada.

— Ele nunca passa fome! Eu o trato muito bem!

— Já notei isso. Você, entretanto, dá a impressão de ainda não ter se alimentado hoje.

A observação irritou-a ainda mais, talvez porque estava correta. Não era todos os dias que conseguia ganhar o suficiente para comer.

—Trinta libras — o homem aumentou a oferta — e um bom jantar para você e para Henry.

Era uma proposta difícil de recusar, mas ela não era tola.

— Está disposto a me pagar um jantar e ainda por cima me dar trinta libras em troca de uma simples conversa? Pensa que sou ingênua?

Edward não culpava a garota por sua incredulidade. Ele mesmo estava começando a ter dúvidas sobre a validade de sua ideia. Mas como o primeiro passo já fora dado, decidiu ir em frente.

— Como eu disse, tenho uma proposta para lhe fazer. Estranha, eu admito, mas não envolve sexo nem perigo.

A moça fitou-o em silêncio por um minuto. De repente, pegou as moedas e guardou a flauta.

—Está bem. Eu escolho o restaurante.

Edward se levantou e fez um sinal afirmativo com a cabeça. A jovem estendeu a mão.

—Quero o pagamento adiantado.

Edward hesitou. E se desse o dinheiro e ela saísse correndo?

— Sem o dinheiro, nada feito — ela disse e começou a se afastar.

Edward alcançou-a e a segurou pelo braço.

— Metade agora, metade depois.

— Certo — Bella concordou. Quinze libras era melhor do que nada, afinal. E tinha boas pernas. Na primeira oportunidade, fugiria. Por mais que aquele homem insistisse que não tinha nada de vergonhoso a propor, preferia confiar na prudência.

O que não lhe passou pela cabeça foi que ele se referia à metade ao pé da letra! Uma nota de vinte e uma de dez libras foram rasgadas ao meio e ele lhe entregou as duas metades, guardando as outras novamente na carteira.

Bella sorriu, contrafeita, mas aceitou-as. Em seguida, ajeitou a mochila no ombro e pegou a ponta da coleira de Henry.

— Deixe-me ajudá-la. — Edward recolheu o estojo com a flauta e estendeu a mão para a mochila.

— Eu a levo. Não se preocupe. A flauta é garantia suficiente de que eu não fugirei.

Edward franziu o cenho.

— E desconfiada demais para alguém de sua idade. A propósito, quantos anos tem?

— Quantos anos preciso ter para o que você tem em mente?

De repente, Edward se perguntou se a. garota não seria nova demais. Falava como se tivesse a maturidade de uma mulher de trinta anos, mas seu aspecto era pouco mais do que o de uma menina.

Evitou dar uma resposta direta.

— Dezoito? — ele sugeriu.

— Por aí.

— Ótimo. — Edward suspirou, aliviado, e seguiu a moça em direção à plataforma de embarque. Ela era muito séria e fechada. Não sabia se isso era bom ou mau para seus propósitos. Bom, provavelmente. A seriedade combinava com a discrição.

Bella era alta. Aos dezesseis anos, sentia-se uma gigante. Por sorte parara de crescer nessa idade. Ao lado daquele estranho, porém, parecia uma criança.

Diante da catraca, Bella hesitou.

— Não tenho passagem.

— Eu sabia! — Edward exclamou.

Não esperava que a garota tivesse uma reação tão brusca.

— Você não sabe nada! — Ela lhe estendeu a guia do cachorro. — Leve-o. Encontro-os lá fora.

Assim dizendo, afastou-se e pulou rapidamente sobre a catraca. Mas não tão depressa que o gesto passasse despercebido. Dois guardas a detiveram.

Edward estava tão estupefato que não se moveu do lugar. Mas o cachorro, ao ver sua dona presa, pôs-se a latir com surpreendente ferocidade.

E ele que esperava discrição!

— Muito engraçado — Edward disse à garota, assim que teve uma ideia de como tirá-la da enrascada. — Não entendo esse tipo de diversão dos jovens de hoje. Queiram, por favor, desculpá-la, senhores.

— O senhor a conhece? — quis saber um dos guardas.

— Gostaria de dizer que não, mas ela é minha sobrinha, Hoop.

Os guardas se calaram enquanto decidiam se acreditavam ou não na informação. Bella fez o mesmo. Hoop? Que espécie de nome era aquele?

— Ela tinha uma passagem, mas perdeu-a. Antes que eu tivesse a chance de comprar outra, correu e pulou sobre a catraca. Acho que essa é a última das façanhas que os adolescentes andam aprontando.

— Uma brincadeira cara — declarou o outro guarda. — Se espera resolver o assunto com o simples pagamento da passagem, lamento dizer que não será possível. Seremos obrigados a levá-la para o distrito de onde sairá apenas com o pagamento de uma fiança.

— Estão em seu direito, infelizmente. Você se portou muito mal, Hoop. Sua mãe ficará aborrecida quando souber.

Um dos guardas pareceu penalizado. Edward resolveu aproveitar a situação.

— Por favor, permitam que eu cubra a despesa. Hoop é ainda uma menina. Não fez isso por mal.

Os guardas se entreolharam. Estavam cansados após um longo dia de trabalho.

—Preciso verificar o valor da tarifa no guichê.

Um se afastou e o outro permaneceu junto a Edward e Bella. Assim que notou que ele havia se distraído, Bella olhou para Edward e sugeriu que corressem.

—Não se atreva — Edward ordenou.

Ela teria escapado sem problemas, mas pareceu-lhe injusto abandonar o homem depois que a livrara de uma encrenca.

Quando alcançaram a rua, respirou fundo. Sabia que de veria dizer ao menos obrigada, mas a sensação de estar devendo um favor era odiosa.

— Não precisaria ter gasto seu dinheiro comigo. Eu teria escapado.

— Da cadeia?

— O delito não foi dos mais sérios. Tenho certeza de que eles não levariam a ameaça até o fim. De que adiantaria me ficharem? Não tenho endereço para fornecer nem dinheiro para pagar uma fiança.

— Estou comovido com sua gratidão.

A observação dessa vez atingiu-a.

— Ok. Muito obrigada.

— De nada. Para que lado fica o restaurante?

A primeira intenção de Bella era realmente dar um golpe no estranho, mas, após o sucedido, o mínimo que lhe devia era sentar-se a uma mesa e ouvi-lo.

— Por aqui.

Conduziu-o a um pequeno restaurante onde costumava la var pratos em troca de um sanduíche e de uma xícara de chá. Rick, o dono, olhou Edward de cima a baixo, e cumprimentou-a.

— Tudo bem, Bella?

— Tudo. Poderia nos trazer duas xícaras de chá?

— Bella? — Edward repetiu quando se sentaram a uma mesa de canto. — E esse seu nome?

Bella fez um sinal afirmativo com a cabeça. Bella era a abre viatura de Isabella Swan, um nome bonito demais para ser divulgado levando-se em consideração a vida que levava.

— Melhor do que Hoop, eu acho. Aonde foi buscá-lo?

— Já que fui obrigado a mentir que somos parentes, ao menos não menti sobre o nome de minha sobrinha nem sobre o golpe que minha irmã teria levado se a filha resolvesse pular sobre uma catraca. Mas você deve estar acostumada.

— Não, não estou. Costumo ir a pé aos lugares. Seria difícil usar outros meios de transporte com Henry.

Edward não respondeu de imediato. Bella não usava o linguajar próprio das ruas. Parecia educada.

— Fez um comentário sobre não ter um endereço para fornecer. Onde dorme, então, com seu cachorro? Em algum abrigo para indigentes?

Ela olhou para ele muito zangada.

— Não sou uma indigente!

— Desculpe-me. Não pretendia ofendê-la.

Os olhos chocolates estavam faiscando de raiva. Pela primeira vez, Edward notou o quanto Bella era bonita.

Naquele instante, o dono se aproximou com as xícaras de chá.

— Quer vir trabalhar no sábado à tarde? — ele perguntou.

— Quero sim.

Com um sorriso satisfeito, o homem se afastou.

— Trabalha aqui?

— De vez em quando.

— Então estamos em seu território?

— Mais ou menos. Tenho um lugar por perto.

— Mora sozinha?

— Isso importa?

A desconfiança voltou a se insinuar nos olhos de Bella.

— A mim, não, mas para o que tenho em mente seria mais conveniente que você não tivesse um relacionamento.

— Nesse caso, estou sozinha. E você? Tem alguém?

A pergunta pegou-o de surpresa. Sorriu.

— Acho que isso não lhe diz respeito.

— Entenderei sua resposta como afirmativa. — Bella murmurou e pôs-se a adoçar o chá. — Preciso garantir minhas calorias — ela explicou ao abrir o quinto envelope de açúcar diante do olhar estupefato de Edward.

— A maioria das mulheres pensa o contrário.

— Talvez eu devesse escrever um livro sobre as necessidades dos que vivem pelas ruas.

Edward sorriu embora o comentário não fosse engraçado. Talvez a compaixão fosse a responsável por ele ter escolhido Bella entre tantas mulheres. Estava chegando, afinal, do Terceiro Mundo, onde vivera quase uma década.

— Como é a comida neste lugar?

— Se você não se importa com sua taxa de colesterol, é boa. Tudo é servido com batatas fritas.

— Estou disposto a encarar um prato, se você me acompanhar.

O orgulho de Bella tentou convencê-la a recusar a caridade, mas seu estômago falou uma linguagem diferente.

— Está bem.

— Peça o que quiser.

Após uma última hesitação, mais uma vez movida pelo orgulho, Bella decidiu assumir que estava faminta.

—Salsicha, tomate, pão, ovos e batatas fritas.

Edward reprimiu um sorriso.

— O mesmo para mim. — O dono anotou o pedido e se afastou. — Ele não é do tipo simpático. Não sei como consegue formar uma clientela.

Bella não gostava muito de Rick, mas sentiu necessidade de defendê-lo.

— A esposa o deixou recentemente e levou todo o dinheiro que ele tinha.

— É para isso que as mulheres existem.

Bella franziu o cenho.

—Você nos tem em baixo conceito. Não gosta do sexo oposto?

—O que está querendo dizer?

—Por acaso é gay?

—Gay? De onde tirou essa ideia?

— Bem, você não parece se interessar muito pelas mulheres, apesar de seu aspecto másculo.

— Devo entender essa observação como um elogio?

— Não.

— Foi o que pensei.

Bella não podia entender o que lhe dera para abordar um assunto tão perigoso. Em vez de falar de preferências sexuais, por que não fizera uma simples observação sobre o tempo?

Assim que os pratos foram servidos e eles ficaram nova mente a sós, Edward perguntou:

— Onde mora?

— Em um pequeno prédio que foi desapropriado pela prefeitura.

— Há quanto tempo?

— Seis semanas.

— Ninguém notou?

— Se notaram, não tomaram nenhuma providência para me expulsarem de lá. Não valeria a pena. O gás, a água e a eletricidade foram desligados. Em breve, o prédio será demolido.

— Para onde irá depois?

As perguntas poderiam significar interesse humano, mas também lucrativo.

— Quem você é? Um jornalista? Está escrevendo alguma matéria sobre os sem-teto?

— Não, apenas estava cogitando se você tem planos para o verão.

— Bem, talvez eu faça um cruzeiro pelas ilhas gregas, se o estaleiro entregar meu novo iate a tempo — Bella ironizou.

— Não leva nada a sério?

— Para quê?

Edward não retrucou. Era compreensível. Sem perspectivas para o futuro, Bella preferia viver um dia de cada vez. Rick passou subitamente pela mesa. Parecia disposto a ouvir a conversa. Bella e Edward pararam imediatamente de falar. Quando Rick se deu conta de que sua intenção havia sido descoberta, afastou-se resmungando.

Bella e Edward se entreolharam e riram.

O momento foi breve, mas suficiente para Edward rever sua opinião sobre Bella. A mudança o fascinara.

Enquanto comia, Bella dava a impressão de ter voltado à infância.

— Quantos anos você tem? — Edward tornou a perguntar.

— Dezoito. — O que era quase a verdade, pois faltava pouco para seu aniversário.

— Ainda bem.

— Ainda bem?

— Estava preocupado com a possibilidade de você ter fugido de casa, sendo menor de idade.

Edward poderia ser um mago de adivinhação. Ela havia fugido de casa no último verão após meses de economia. Na época, o dinheiro que guardara do Natal, do aniversário e das mesadas parecia uma fortuna, mas acabou em poucas semanas, obrigando-a a voltar para casa. Três meses depois, tornara a fugir, pois a vida nas ruas lhe parecera melhor do que a que levava.

— Se tem receio de que minha família bata a sua porta para me reclamar, fique tranquilo. Mesmo que me mate, eles não tomarão conhecimento.

Edward não gostou do humor negro.

— Se está desconfiada que eu seja um psicopata, o que faz aqui comigo?

Bella agitou as notas rasgadas diante do rosto de Edward do mesmo modo que ele fizera com ela.

— Você não parece um maníaco homicida.. O que é? Um ator, talvez?

— Ator? O que a levou a pensar isso?

— Você é bonito — ela disse com franqueza.

— Costuma ser sempre direta?

— Não com os homens — Bella confessou. — A maioria interpretaria minhas palavras como um convite à sedução.

— Devo sentir-me grato por não estar incluído nessa categoria?

Bella fez um movimento com os ombros.

— Disse que não é artista. O que é?

— Médico.

Edward esperou para ver a reação. Em geral as pessoas ficavam impressionadas quando ele se apresentava. Bella surpreendeu-o com uma risada.

— Acha minha profissão engraçada? — Edward indagou, ofendido.

— Não parece um médico, mas aposto que faz sucesso junto à clientela feminina.

— O que a faz pensar assim?

Um súbito rubor cobriu as faces de Bella.

— Bem, com sua aparência, deve partir muitos corações.

Foi a vez de Edward ser irônico.

— Quem diria que sob a fachada de cinismo existe uma jovem romântica?

— Eu não sou romântica! — Bella protestou.

— E meus pacientes estão muito ocupados no esforço de alcançar uma cura para se preocuparem com minha aparência. — Ele falou com tanta veemência que Bella não se atreveu a ironizar. — Trabalhei durante muitos anos em um hospital na África.

— Em um hospital público?

Edward respondeu que sim e não deu margem à continuidade da conversa.

Enquanto jantavam, Bella o observou. Não tinha certeza se ele falara a verdade. Conhecia muitos médicos. Seu próprio pai fora um. E seu padrasto, além de ser médico, dirigia um hospital. Nenhum deles se preocupava muito com a medicina e com o sofrimento alheio. O dinheiro era mais importante.

Mas aquele estranho era diferente. Não sabia como descrevê-lo.

Após alguns minutos de silêncio, encarou-o.

—Então, doutor, que tipo de trabalho quer que eu faça?

Ele não pareceu gostar da forma de tratamento. Sua ex pressão tornou-se ainda mais séria.

— Antes quero esclarecer um ponto. Caso não aprove minha proposta, aviso-a para não perder seu tempo indo à polícia ou aos jornais porque eu negarei tudo. Acho que não preciso acrescentar que terei a opinião pública a meu favor. Se tiverem de escolher entre minha palavra e a sua, não terá nenhuma chance.

Bella sentiu vontade de sumir. Fora uma tola em acompanhá-lo. Era óbvio que o que aquele homem tinha a propor era algo ilegal.

Fez menção de se levantar, mas ele segurou sua mão sobre a mesa.

—Aonde vai?

Ela tirou os dois pedaços de notas do bolso e atirou-os sobre a mesa.

— Estou fora. Não farei nada que possa me comprometer.

— Não espero que faça — Edward mentiu e quase suspirou de alívio quando Bella tornou a se sentar. — Por que ficou tão assustada? Tem problemas com a polícia?

— Não! — Bella exclamou, indignada.

— E quanto a seu estado civil?

— Sou solteira. Por quê?

Edward decidiu que já era tempo de explicar o motivo de seu interesse por Bella.

— Porque casamento é o item principal da proposta que tenho para lhe fazer.

A perplexidade de Bella deixou-a muda. Aquele homem devia estar maluco! Queria se casar com ela e nem sequer se apresentara!

— Eu nem sequer sei seu nome! — Bella respondeu, atônita.

— Edward.

— Olhe, sr. Edward.

— Não é sr. Edward — ele a corrigiu.

— Desculpe — ela continuou em tom irônico, sem lhe dar chance para continuar —, dr. Edward.

Ele não se deixou impressionar.

— Eu queria dizer que meu sobrenome é Cullen.

— Cullen?

— Sr. Cullen, se faz questão de formalidade.

— Então Edward é seu primeiro nome? — ela perguntou, perplexa. — De que época o tiraram?

— A origem é escocesa.

— Ah! Isso explica.

— Posso saber o que isso explica?

— A razão de você falar engraçado.

— Eu falo engraçado? — Edward sorriu com malícia. — O que me diz de você? Qual delas é real? A jovem que às vezes usa o linguajar das ruas ou aquela que às vezes esquece seu disfarce e conversa como qualquer pessoa instruída?

— Em minha defesa, posso afirmar que nenhuma das duas é louca o bastante para se casar com você.

— Eu não a pedi em casamento — Edward retrucou.

— Não disse as palavras exatas, mas foi o que deu a entender.

—Ou pretendia me pedir em casamento para outra pessoa?

— Essa questão é irrelevante. Seria um casamento de conveniência.

— Ou seja, sem sexo. Não precisa se dar ao trabalho de explicar. O casamento seria uma espécie de camuflagem para você.

— O que está pensando?

— Que você quer convencer o mundo de que é um homem normal e uma esposa é a melhor prova disso.

Bella estava analisando o assunto sob um prisma inesperado, mas Edward não se importou em desfazer o equívoco. Estava disposto a alcançar seu objetivo, a qualquer preço.

— Como eu já disse, seria apenas um casamento de conveniência.

— Olhe, eu o compreendo. Não deve ser fácil fingir ser o que não é. Também compreendo que queira manter seu problema em segredo, mas talvez devesse refletir sobre uma mudança de atitude. Hoje em dia, muitas pessoas estão optando por assumir suas condições.

— Não, você não compreende.

— Bem, a vida é sua. Talvez fosse mais feliz se não complicasse tanto sua situação.

— Você conhece alguém que leve uma vida feliz e sem nenhuma complicação?

— Não. E você?

A resposta imediata provava que Bella não acreditava em felicidade. O que teria acontecido para torná-la uma jovem amarga?

— Conheço. Minha irmã, Alice, e seu marido, parecem ser felizes.

Parecem. Você não tem certeza. — Bella falava com conhecimento de causa. Sua mãe e seu padrasto eram um bom exemplo de que casamentos perfeitos só existiam em fachada.

— Você terá a possibilidade de julgar por si mesma.

— Julgar o quê?

— Se a felicidade deles é genuína.

Edward sorriu naquele momento. Ela quis responder, mas não conseguiu. Aquele sorriso, por incrível que pudesse parecer, desarmou-a por completo.

— Ei, eu não disse que concordava.

— Diga agora.

Bella negou com um movimento de cabeça.

— Eu teria de me mudar para as montanhas da Escócia?

— Minha moradia fica perto de Edinburgh. A distância exata é de trinta quilômetros. O lugar é totalmente civilizado, eu garanto.

— Mas seria por quanto tempo? Sei que não adiantaria

me apresentar como sua esposa e me comprar uma passagem de volta para Londres no dia seguinte.

— Lógico que não. O contrato seria de um ano.

— Um ano?

— No máximo. Se tudo correr bem, eu a liberarei antes.

— Isso está parecendo uma condenação.

— Mas você não teria de viver a pão e água e confinada a uma cela. Ficaria instalada em um bonito quarto, comeria do bom e do melhor e receberia uma ajuda de custo para as despesas extras. Parece muito ruim?

— Parece excelente! — Bella se calou por um instante. — Por que eu?

— Não havia muita escolha.

— Obrigada.

Aquilo era uma loucura. Ele era louco por propor e ela era louca por estar ouvindo-o.

Sem dizer mais nenhuma palavra, Edward tirou uma caneta e um talão de cheques do bolso e preencheu uma folha.

— Você receberá esta importância no dia do casamento e outra igual no aniversário de um ano.

Os olhos de Bella quase saltaram das órbitas. Cinco mil libras. No total, seriam dez mil.

—Está brincando comigo, não?

—Os escoceses não brincam com dinheiro. Quer me pagar dez mil libras apenas para que me case com você de mentirinha?

—Acha que estou oferecendo demais? Bella pensava que sim, mas não respondeu.

—Quantos anos você tem?

— Trinta e quatro.

— Não acha que as pessoas farão comentários sobre nossa diferença de idade?

— Por dez mil libras, espero que mude sua imagem. — Ele não deu explicações, mas os olhos fixos nos três brincos que enfeitavam a orelha direita de Bella e em seus cabelos curtos e espetados não davam margem à dúvidas.

Bella não teria problemas nesse sentido. Não gostava de. se vestir e de se comportar como uma punk. Assumira essa aparência porque cabelos longos e roupas femininas atraíam por demais os homens.

— Eu até poderia mudar minha imagem, mas vamos ser realistas. Acha que sua família e seus amigos acreditarão que somos compatíveis?

Nunca, Edward pensou. Até mesmo sua irmã que vinha insistindo havia anos para que ele se casasse, não aprovaria sua escolha.

— Não dizem que os opostos se atraem? — Edward caçoou. — Não se preocupe. Isso não será problema. Cuide apenas de comprar umas roupas condizentes. Se necessário, posso lhe adiantar uma parte do pagamento.

— Saias de tweed e blazers de lã?

— Você escolhe.

Bella não respondeu por um longo tempo. A proposta parecia ser séria. Não havia como negar. E ela não tinha nada a perder.

— O que me diz? — Edward quebrou o silêncio.

— Não sei.

— Talvez esteja pensando no futuro e em um casamento de verdade com outro homem. Isso tampouco será problema. Eu assumirei todas as despesas com o divórcio.

— Essa questão não existe. Não pretendo me casar de verdade.

— Nunca?

— Jamais — ela disse com convicção.

— Não me diga que não gosta de homens — Edward provocou-a.

— Isso não vem ao caso. Sou contra o casamento.

— E a única mulher que já conheci que não sonha com sinos de igreja. Onde esteve durante toda minha vida?

Bella encarou-o.

—Pensei que não se interessasse por mulheres.

Era preciso encerrar esse assunto pela raiz, Edward pensou.

—Enganou-se.

— Então você não é gay?

— Pode apostar que não.

Algo na inflexão de voz e no brilho do olhar fez Bella acreditar na informação. E isso, ao contrário do que deveria, deu-lhe um imenso alívio.

— Por que sustentou o mal-entendido até agora?

— Foi você quem interpretou mal as minhas palavras. Eu apenas disse que não estava interessado em garotinhas. Prefiro mulheres mais maduras.

A explicação deixou Bella confusa.

— Por que me escolheu, então? E por que quer se casar?

— E difícil explicar.

Bella, impaciente por natureza, precipitou-se a outra conclusão.

— Para receber alguma herança? Alguém impôs essa condição para lhe doar seus bens?

A jovem era esperta. Edward cogitou em dizer a verdade. Mas poderia confiar em uma desconhecida?

— No momento, não posso lhe fornecer nenhum detalhe. Repito apenas que seria um casamento de conveniência.

O reforço da explicação não era necessário, Bella havia entendido o recado. Ele não sentia a menor atração por ela.

Edward estava fitando-a com expectativa. Não havia mais como adiar sua decisão.

— Eu teria de levar Henry.

— Claro que sim. Ele parece ser um animal obediente. Gosta de andar de trem?

— Nós iremos de trem... se eu concordar?

Edward fez um movimento afirmativo com a cabeça.

— Faz pouco que voltei de Kirundi e ainda estou sem carro.

— Você esteve em Kirundi? — Bella sempre lia os jornais expostos nas bancas e recolhia aqueles que alguns passageiros abandonavam na estação do metro. Estava a par da guerra civil que assolara o país africano.

— Nos últimos dois anos.

Ela engoliu em seco. Edward deveria ter vivido um inferno nesse período.

— Pretende voltar?

— Não.

Ele parecia indiferente, mas, por uma fração de segundo, ela viu dor naqueles olhos e soube que não deveria fazer mais nenhuma pergunta a respeito.

— Aceitei um convite para trabalhar com pesquisas médicas na Universidade de Edinburgh.

Bella refletiu por um minuto.

— Está bem. Diga-me a que horas pretende pegar o trem e eu o encontrarei na estação.

Edward estava tão certo de que Bella não concordaria com sua proposta que a resposta o deixou sem fala por um instante.

—Você irá?

Bella chamou-se de maluca ao mesmo tempo que fazia um movimento afirmativo com a cabeça.

—Sim, por que não?

Ainda sem saber o que fazer, Edward sorriu. Bella, por sua vez, resolveu ir embora para não correr o risco de mudar de ideia.

— Se ainda não definiu a data nem o horário, ligue depois para Rick. Ele me dará o recado.

Edward endereçou um olhar para o dono do café e franziu o cenho. O sujeito não lhe parecia confiável.

—Não seria mais fácil eu apanhá-la de táxi?

A sugestão horrorizou-a.

— No prédio abandonado? De jeito nenhum. Ou nos encontramos na estação ou nada feito.

Edward percebeu que Bella não queria que ele conhecesse o lugar onde morava. Não pressionou-a. Em vez disso, tirou o passaporte do bolso e entregou-lhe. Conforme esperava, Bella folheou-o. Era um passaporte antigo. Edward estava bem mais novo na foto. O nome completo era Edward Anthony Massen Cullen. Profissão: médico. País de Origem: Bangkok.

Bangkokl — ela exclamou. — Na Tailândia?

— Meus pais eram missionários — Edward explicou. — Estavam tentando converter o povo do sudeste da Ásia quando nasci.

— Cresceu lá também?

— Em muitos lugares, mas principalmente na Escócia, onde viviam meus avós.

— Morou com eles?

Quando não estava no colégio interno.

Isso explicava muito a ausência de sotaque, Bella pensou. Ou melhor, o inglês perfeito que Edward falava e que lhe chamara a atenção ao conhecê-lo. Edward falava como um estrangeiro que aprendera o idioma nas melhores escolas.

— Seus pais estão morando agora em Edinburgh? — Bella continuou e sentiu-se aliviada quando Edward respondeu que não. Bancar a esposa dedicada e apaixonada para um casal de catequistas estava fora de cogitação.

— Eles morreram quando eu tinha doze anos.

— Sinto muito — Bella apressou-se a dizer, arrependida pelos pensamentos pouco cristãos.

— Aconteceu há muito tempo. Para ser franco, eu mal os conhecia. Minha única família agora é minha irmã, meu cunhado e minha sobrinha.

— Vocês são íntimos.

— Sim e não. Nossas casas são próximas, mas eu vivi fora do país por um longo tempo. E você? Tem irmãos?

— Não, sou filha única. Meus pais, como muitos casais ingleses, resolveram seguir a política chinesa de gerarem apenas um filho para terem condições de lhe dar tudo.

— E você ganhou tudo que queria? — Edward perguntou, mais uma vez perplexo com aquela garota cheia de mistérios.

— Lógico! — ela ironizou. — Como pode ver, janto todas as noites nos melhores restaurantes e só visto roupas de grife.

Ao olhar de impaciência de Edward, Bella calou-se e fez um movimento com os ombros. Ele deveria entender como quisesse.

Realmente fora mimada no sentido material. Ao menos até o dia que decidiu sumir de casa para depois voltar cabisbaixa e faminta após perambular durante semanas pelas ruas de Londres.

Edward esperou até que Bella lhe devolvesse o passaporte.

— Agora que sabe quem eu sou, concorda em me dar seu endereço?

— Só porque provou que é um doutor?

— Está bem. Não irei insistir. — Edward escreveu algo em um guardanapo.

—Hotel Continental — Bella leu. — Impressionante.

Edward continuou a escrever sem se importar com o tom de ironia. — Esteja na recepção amanhã às nove e faremos algumas compras, certo?

Bella assentiu de olhos baixos. Já estava em dúvida quanto à resolução tomada. Não seria a primeira vez que uma ga rota se meteria em confusão após se envolver com um estranho, por mais respeitável que parecesse.

Edward observou-a em silêncio enquanto se levantava, agradecia pela refeição e se afastava com o cachorro. Não era um tolo. O mais provável seria eles nunca mais se encontrarem.

— Não seja ingenua — Bella falou consigo mesma ao sair para a rua. — Não vá ao encontro. Por mais maravilhosa que soe a proposta, nada é de graça na vida.

Seguiu pelas ruas procurando não pensar mais nem em seu futuro nem em seu passado. Diante do prédio onde estava morando temporariamente, olhou para o alto. Estava escuro. O local parecia abandonado. Mas ela tinha certeza de que havia outras pessoas abrigadas ali.

Com cuidado para não ser vista, subiu dois andares. Olhou para a direita e para a esquerda antes de soltar a tábua que fechava a parte de baixo da janela. Em seguida espremeu-se pelo vão e puxou Henry. Colocou a tábua de volta e prendeu-a com um tijolo. Só então acendeu a lanterna e foi até o esconderijo, sob a pia, onde guardava as velas e fósforos.

Dormia no quarto dos fundos onde o último ocupante deixara um velho colchão. Estava sujo e manchado, mas era melhor do que um assoalho duro. Possuía um saco de dormir, mas deixara-o junto com algumas roupas em uma lavanderia e eles ficariam prontos apenas no dia seguinte.

Fazia três meses que vivia assim e já estava começando a se acostumar com as dificuldades. Depois de conhecer Edward Cullen, contudo, sua mente estava tentando lhe cobrar uma reavaliação de sua vida.

Olhou-se ao pedaço de espelho sobre a pia do banheiro e a imagem que viu foi a de um rosto pálido com olheiras. Aqueles que a conheceram no passado e a chamavam de bonita, mudariam de ideia, com certeza. Não havia perspectivas em seu futuro. Exceto a proposta de Edward Cullen. Se a aceitasse, estaria vivendo uma mentira. Por outro lado, o que tinha a perder? Sua própria mãe não estava cercada de mentiras havia anos?

Quando seu pai morreu, sua mãe sofreu muito. Foi uma surpresa, portanto, quando, após alguns meses, começou a sair com Phill. O relacionamento chocou-a no iní cio, por considerá-lo uma traição ao pai, mas com o decorrer do tempo, aceitou Phill e ele também a aceitou.

A cerimônia foi bonita, mas a vida em comum logo provou não ser tão boa quanto esperavam. Sua mãe era uma mulher linda, mas insegura e depressiva, e Phill não era um homem paciente.

Algumas vezes, Bella chegou a sentir pena de Phill por seu desencanto com o casamento e temeu um divórcio. Mas a situação foi contornada e o casal resolveu manter as aparências.

Bella aprendeu a gostar de Phill. Ele tornou-se, inclusive, mais seu amigo do que a própria mãe. Dava-lhe dinheiro para comprar roupas jovens, quando sua mãe insistia em ignorar seus catorze anos. Foi ele quem lhe deu permissão para ir à discoteca pela primeira vez e que a apoiou quando soube que ela havia experimentado seu primeiro cigarro.

Na opinião dele, Bella não precisaria ter estudado em um colégio interno, mas sua mãe fez questão de uma educação completa e em uma das escolas mais tradicionais do país, em Hampshire.

Apesar do ambiente tenso que existia em sua casa, Bella esperava com ansiedade pelas férias.

No ano que completou dezesseis anos e que foi passar o Natal e o Reveillon em casa, Phill lhe comprou um vestido branco curto que a fez sentir-se mulher. E o mesmo deve riam ter pensado os garçons e convidados, pois ninguém fez nenhum comentário ao vê-la se servir de vários copos de vinho. Mais alegre do que embriagada, Bella dançou a noite inteira com um jovem, chamado James e experimentou seu primeiro beijo, sob uma árvore, no jardim.

Não aconteceu nada de reprovável entre ela e James, mas Phill tirou outras conclusões ao vê-los abraçados no escuro. Expulsou o rapaz e ofendeu-a. Por mais que ela tentasse explicar que não fizera nada de errado, Phill não a ouviu. Também havia bebido muito aquela noite. Mas o que no início pareceu uma briga entre pai e filha, mudou de aspecto quando Phill afrouxou a pressão em seus braços e passou a acariciá-los.

Em pânico, Bella recuou. Phill deu um passo e quis beijá-la. Ela lutou até se desvencilhar e correu para a casa. Pretendia contar o sucedido à mãe, mas ele foi mais rápido. Disse que Bella havia bebido além da conta e flertado com vários jovens durante a festa, inclusive com ele. Levou o caso na brincadeira, afirmando que era algo normal na adolescência. Assim, quando Bella procurou a mãe, ela se recusou a ouvi-la.

O problema não se repetiu durante as férias. Bella tentou esquecer a noite de Reveillon e voltou para o colégio. Nas férias seguintes, porém, Phill tentou novamente beijá-la.

O que poderia fazer? Ameaçava contar para sua mãe e Phill prometia comportar-se. E se contasse a ela, tinha certeza de que ele torceria a verdade e a culparia.

O problema atingiu o auge no dia que Phill apareceu na escola de surpresa e pediu à diretora licença para levá-la para almoçar. O que ela poderia dizer diante de um homem que parecia um modelo de pai? Não poderia nem sequer recorrer a sua melhor amiga que vivia sonhando de olhos abertos com o amor e que considerava seu padrasto um homem muito sexy.

A única saída que lhe veio à mente foi provocar um acidente. Assim, quando subiu a seu quarto para pegar um casaco, caiu de propósito na escada e rompeu os ligamentos do joelho.

A visita do padrasto à escola foi a última gota para Bella. Ela esperou que o joelho sarasse e os exames terminassem e comprou uma passagem para Londres. Tinha planos de se hospedar em um hotel barato até encontrar um emprego. Passaram-se quase dois meses e o dinheiro acabou sem que ela conseguisse uma colocação. Sem poder continuar pagando pela hospedagem, dormiu três noites na porta de uma loja. Na quarta, a polícia levou-a e descobriu que estava desaparecida.

Quando sua mãe e Phill foram buscá-la, a impressão que Bella teve foi a de que tudo ficaria bem. O padrasto abraçou-a como fazia quando era criança, de um modo natural e preocupado.

Em seu aniversário de dezessete anos, deram-lhe uma grande festa e a cobriram de presentes.

A felicidade durou oito meses e poderia ter durado mais se ela prolongasse a tática. Em vez de passar as férias em casa, pediu para fazer uma viagem com as amigas.

Seu erro foi visitá-los na Páscoa. Nessa ocasião, Bella decidiu dar um basta ao problema. Agora era dona de sua própria vida. Não tinha mais um lar, nem uma família. Podia fazer o que quisesse e ir para onde desejasse. Podia se casar e receber um dote de dez mil libras. Edward Cullen parecia um homem decente.

Por que não?

Bella passou a noite virando-se de um lado para o outro sem conseguir dormir. O cansaço só conseguiu vencê-la aos primeiros raios do sol. Quando acordou, o calor era intenso. Não precisava nem sequer consultar o relógio para saber que era tarde demais para o encontro no hotel que estava marcado para as nove horas. Foi assim mesmo e levou Henry consigo.

Sua entrada não foi permitida no hotel. Mas depois dos protestos de que estava sendo esperada pelo dr. Cullen, o porteiro acabou concordando em ligar para o apartamento dele. A resposta, como não poderia deixar de ser, foi que o dr. Cullen já havia saído.

A culpa era inteiramente de Bella, mas isso não impediu que ela ficasse zangada por Edward não tê-la esperado. Havia gastado seus últimos centavos com a condução. Como estava sem a flauta, foi obrigada a fazer o que mais detestava: mendigar.

Ao conseguir o suficiente para voltar para casa, tomar um chá com um pãozinho e comprar uma lata de ração para Henry, Bella seguiu para o restaurante de Rick,

Se imaginara que o dia não poderia ficar pior do que estava, foi obrigada a mudar de ideia. O prédio onde estava abrigada fora isolado e muitos cartazes colocados anunciando que a demolição ocorreria em dois dias.

Bella correu para o local, ansiosa por recuperar seus poucos pertences. Quando conseguiu encontrá-los, respirou aliviada. Sabia que não poderia contar com aquele teto por muito tempo. Só não calculara que o tempo fosse tão curto. Sentou-se no colchão e escondeu o rosto nas mãos.

Como pudera deixar escapar uma chance como a que o mé dico lhe dera?

Horas deveriam ter passado quando um barulho chamou sua atenção. Vinha do outro extremo do andar onde estava e parecia que alguém estava arrancando tábuas. Provável mente era o pessoal da empresa de demolição certificando-se de que o prédio estava desocupado.

Para não ser vista, Bella saltou por uma abertura no piso para o terraço de baixo. Puxou Henry em seguida, mas ele não obedeceu. O barulho estava cada vez mais próximo. Em pânico, tornou a puxá-lo. Henry latiu em protesto.

Uma voz a chamou. Com o coração aos saltos, Bella tentou correr. A manga do casaco ficou presa a um prego. Sem condições de se soltar com calma, puxou-a. O tecido rasgou e a costura da manga foi desfeita. Não se importou com isso. Não podia ser apanhada.

Os passos estavam mais e mais próximos. Pôs-se a correr. Olhou rapidamente para trás e viu um homem alto perseguindo-a. Com o susto, desequilibrou-se e caiu de bruços.

O homem impediu que se levantasse. Quando a fez virar, ela lhe deu um tapa, movida pelo instinto de defesa.

Aconteceu muito rápido. O tapa já havia sido dado quando viu quem ele era.

— Edward!

— Calma! Não vou lhe fazer nenhum mal.

— Então solte-me!

— Desculpe se a machuquei. Caí em cima de você ao tentar segurá-la.

— De que adianta pedir desculpa?

— O que mais posso fazer?

— Levantar-se!

— Promete não me atacar novamente?

Ela? Atacá-lo?

— Está bem.

Bella não estava mais com medo. Havia algo em Edward que transmitia segurança. Por outro lado, havia machucado o joelho por causa dele e seu humor não era dos melhores.

—O que veio fazer aqui, afinal de contas?

— Procurar você e me certificar de que realmente não pretende cumprir sua parte em nosso acordo.

Bella poderia ter explicado a verdade naquele momento, mas a raiva que a dominava não permitiu.

— Como me encontrou?

— Seu amigo me forneceu o endereço.

— Rick não é amigo de ninguém. Quanto pagou a ele?

— Vinte libras.

— Você foi roubado. Rick seria capaz de vender a mãe por cinco.

— Está enganada. Custei a convencê-lo de que minhas intenções eram as melhores.

— Já entendi. Você contou a ele sobre nosso compromisso.

— Não exatamente. — Edward deu um sorriso que sugeria o absurdo da situação. — Eu disse que você era minha sobrinha desaparecida.

— Que original! — Bella caçoou. — A mesma história que contou aos guardas. Por acaso mencionou o nome Hoop?

— Fui obrigado. Não sei seu nome.

— Isabella Swan.

— Invente outro -— Edward respondeu com uma risada.

— Esse é meu nome.

— Está bem, Isabella . Farei de conta que acredito.

— Não me chame assim.

— Não afirmou que é assim que se chama?

— Não gosto desse nome. E você ainda não respondeu minha pergunta. Por que veio me procurar?

Edward abriu a carteira e tirou as duas metades das notas que faltavam.

—Para lhe dar isto. Achei que iria precisar.

O inesperado do gesto deixou-a sem fala por um momento.

—Obrigada.

Bella se levantou em seguida e mancou ao tentar andar.

— Quer que eu examine? — Edward ofereceu.

— Para quê? O que poderá fazer?

— Sou médico, lembra-se?

Ela havia se esquecido, mas mesmo que se lembrasse, não o considerava seu médico. Não respondeu.

—Se prefere que a leve a um pronto-socorro, basta dizer. Sou forte. Posso carregá-la.

Bella continuou calada. Edward esperou alguns minutos. Por fim, suspirou e começou a se afastar.

— Ei! Não vai me deixar aqui, vai? — Bella chamou-o.

Ele virou-se, com as mãos nos bolsos do casaco.

— Eu ofereci ajuda. Pensei que não a quisesse.

Bella resmungou e tentou andar. No segundo passo, cambaleou. Edward resmungou também e voltou para junto dela. Sem dizer nada, ergueu-a nos braços.

O gesto foi tão inesperado que Bella prendeu o fôlego. Era espantosa a facilidade com que Edward caminhava com ela em seu colo. Por mais que se esforçasse para não sentir o calor que se desprendia daquele peito, não foi bem-sucedida. Sensações estranhas percorreram-lhe o corpo.

— Aonde está me levando? — Bella perguntou quando Edward se encaminhou para a rua e não para seu abrigo.

— Há um ponto de ônibus aqui perto. Poderá me esperar lá, sentada, enquanto busco o carro.

Carro? Que carro? Eles não iriam para a Escócia de trem? E se a história do casamento e das dez mil libras fosse uma mentira? Quanto mais Bella pensava a respeito, mais absurda lhe parecia a situação.

Por outro lado, mesmo que Edward fosse um mentiroso, ele não lhe despertava medo. Seu medo, aliás, depois que ele a deixou no ponto do ônibus, foi o de que não voltasse.

Foi um alívio ver um carro parar e Edward abrir a porta. Ele enlaçou-a pela cintura e ajudou-a a entrar no veículo. O selo da companhia de aluguel era um sinal de que não havia motivos para dúvidas.

— Vou levá-la a um pronto-socorro.

— Irei amanhã.

— Não seja tola. Não conseguirá ir sozinha.

— Antes preciso voltar ao local onde estou morando.

— Para quê? Deixou algum namorado a sua espera?

— Deixei meu cachorro! — Bella exclamou, zangada.

— Oh, sim. Henry.

— Não posso abandoná-lo — Bella declarou, surpresa que Edward lembrasse do nome.

— Fique aqui. Eu irei buscá-lo.

— Tenha cuidado. Henry pode estar um pouco nervoso.

— Ou seja, talvez morda.

— Talvez — Bella confirmou.

— Obrigado pelo aviso — Edward respondeu e se afastou.

Bella ficou olhando a figura alta e elegante que caminhava em direção ao prédio. Um arrepio de frio a sacudiu. Cruzou os braços sobre o peito na tentativa de se aquecer. Mas esqueceu-se do frio ao ouvir latidos. Henry parecia muito nervoso. Os latidos aumentaram. Depois, contudo, de ouvir um barulho de tábuas sendo arrancadas, fez-se silêncio. O que estaria acontecendo?

Alguns minutos depois, Edward e Henry saíram do prédio. Edward estava carregado. Abriu a porta de trás e ajudou Henry a subir. Depois, guardou o estojo com a flauta e a mochila no porta-malas.

Bella olhou para Edward com incredulidade.

— Você trouxe minhas coisas! Ainda quer me levar consigo para a Escócia?

— Não. Acho melhor esquecermos nossos planos.

— Por quê, então, está se dando ao trabalho de me ajudar?

—: Eu poderia responder que estou ajudando-a por um senso humanitário, mas acho que você não entenderia. Prefiro responder que estou fazendo isso para não ser o primeiro suspeito caso você acabe nas mãos de um criminoso qualquer.

— Muito engraçado — Bella resmungou. — Está tentando me assustar?

— Sim, e espero ser bem-sucedido.

Edward não sabia o que estava acontecendo com ele. Se tivesse juízo, levaria Bella para um hospital e se despediria para sempre. A garota só lhe dera problemas desde o instante que a encontrara. Mas como ignorar alguém que tre mia de frio a seu lado?

— Você não tem um casaco? — perguntou ao ouvi-la batendo os dentes.

— Eu o estraguei em um prego. Deve tê-lo visto.

— Seu cachorro estava brincando com um pedaço de pano. Pensei que fosse um velho tapete.

De repente, ao passarem por uma fábrica abandonada, Edward parou o carro. Bella colocou a mão automaticamente no trinco da porta. Edward desabotoou o próprio casaco e tirou-o.

—Vista-o.

Bella pensou em devolvê-lo, mas se conteve. Seria uma atitude infantil.

— Qual é o hospital mais próximo? — Edward indagou.

— O St. Thomas.

Ele usou o celular para se informar sobre o endereço. Avisaram que o pronto-socorro estava lotado e que o atendimento seria demorado.

Bella consultou o relógio do carro. Passava das onze horas.

— Olhe, meu joelho já não está doendo tanto. Por que não me deixa no prédio e amanhã eu cuido dele?

— Não seria uma boa opção. Precisei arrancar todas as tábuas para conseguir tirar seu cachorro. O lugar está sem nenhuma proteção.

— E agora? Para onde irei?

— No momento, um hotel seria o mais indicado.

— Acha que eu iria para um hotel com você?

— Eu me referi a um hotel, não a uma cama — Edward retrucou. — Não seja convencida.

Bella sentiu que corava. Era óbvio que Edward não sentia a menor atração por ela. Como pudera se esquecer disso?

— Não tenho dinheiro.

— Eu tenho. Alguma preferência?

Bella não conhecia nenhum hotel na cidade.

—O Continental.

Não foi uma sugestão. Jamais lhe passaria pela cabeça hospedar-se em um hotel luxuoso no centro de Londres.

— Por que não? — Edward respondeu com um sorriso. — Desde que tenham quartos separados? Pegue o cartão em minha carteira.

Bella olhou para o jeans surrado e para a camiseta suja.

— Não estou vestida para ir a um lugar como aquele.

— Eles não barrarão sua entrada, acredite. A carteira está no bolso interno do casaco. Ligue você mesma. Assim terá certeza de que eu não pedirei quartos com comunicação.

A expressão que Bella viu nos olhos verdes de Edward afastou seus últimos temores. Por outro lado, não era agradável saber que não despertava nenhuma atração em um homem como aquele.

Bella abriu a carteira e notou várias notas e recibos.

—Quanto tempo ficou hospedado no Continental?

—Três dias.

—Deve ser rico para arcar com tantas despesas.

—Não sou rico, mas depois de viver dois anos em Kirundi, achei que merecia um pouco de comodidade.

Sob esse aspecto, Bella achou que Edward tinha razão. Mas não gostava da ideia de ele gastar com ela.

— Por que não vamos a outro hotel? Eu estava apenas brincando quando sugeri o Continental. Basta uma cama e um café da manhã. E um lugar para Henry.

— Quer economizar para mim? — Edward perguntou, divertido.

— Não creio que ganhe muito trabalhando por caridade.

— Acertou, mas tenho o suficiente para mais uma noite no Continental. E como já estamos perto, é melhor você ligar.

Bella concordou, mas quando a ligação foi completada, passou-lhe o celular.

Edward explicou rapidamente que havia deixado o hotel pela manhã, mas que precisaria de duas acomodações por mais aquela noite. Bella ouviu-o pedir dois quartos de solteiro, depois dois de casal. Pelo jeito dele, adivinhou que não havia vagas.

— Sim, está bem — ele concordou com alguma outra sugestão depois que confirmaram que Henry também seria acomodado.

Bella esperou que Edward fizesse algum comentário sobre a reserva. Como ele não disse nada, dúvidas voltaram a assaltá-la. Sabia que a proposta de casamento não era mais válida. Por quê, então, ele a estava levando para um hotel?

Examinou-o furtivamente enquanto seguiam pelas ruas da capital. Era bonito demais. As mulheres deveriam se apaixonar por ele a um simples estalar de dedos.

— Só há uma suíte disponível — Edward falou apenas quando parou o carro diante do hotel. — Não precisa entrar em pânico. Não pretendo pedir que a divida comigo. Eu a deixarei lá, pagarei a diária e irei para outro hotel. Está bem para você?

— Ótimo.

Edward fez exatamente o que disse. Tirou as coisas dela do carro, ajudou-a a entrar no hotel e pagou a diária adiantado.

Se o recepcionista estava curioso com o aspecto da nova hóspede, não deu demonstração. Sua atitude foi gentil quando pediu que um carregador levasse sua pouca bagagem para o quarto. E continuou gentil quando Edward pediu que ele ligasse para outros hotéis a fim de verificar sua disponibilidade.

Edward sentou-se enquanto esperava. Parecia calmo. O mesmo não estava acontecendo com Bella. E se o recepcionista não encontrasse nenhuma acomodação?

— Eu a acompanho até o elevador — Edward ofereceu. — Depois levarei Henry para o canil atrás da cozinha. Você ficará bem? — Ele indicou a perna.

Bella fez um movimento afirmativo com a cabeça. O joelho estava doendo, mas não queria se queixar. Já estava de vendo favores em demasia.

A porta do elevador, fez menção de tirar o casaco que Edward lhe emprestara.

— Você tem outro?

— Não.

— Então fique com ele.

Bella não recusou. Quando voltasse para a rua, precisaria de um casaco. Em seguida, Edward ofereceu-lhe dinheiro. Dessa vez, ela não aceitou.

—Obrigada. Já fez o bastante por mim. Darei um jeito.

Ela tentou imprimir segurança à voz. Deveria ter conseguido, pois Edward fez um movimento com a cabeça e virou-se de costas para ir embora. Mas algo a fez chamá-lo.

— Edward?

— Sim?

—E tarde. E se você não conseguir um quarto?

Ele ergueu os ombros.

—Provavelmente seguirei esta mesma noite para a Escócia.

— Precisa descansar. Se alugou uma suíte, significa que há um quarto e uma sala. Um de nós poderia dormir no sofá.

Edward demorou a responder.

— Por que isso agora? Pensei que não confiava em mim.

— Não confio em ninguém. Mas se quisesse me fazer mal, não lhe faltaram oportunidades.

— Com certeza.

— Então?

— Você ficará com o sofá — ele disse subitamente e sorriu.

Ela retribuiu o gesto, pela primeira vez.

— Nada disso. A cama é minha. Acho que a mereço após dormir no chão por três meses.

— Está bem. — Edward esperou que Bella entrasse no elevador. — Subirei em dez minutos.

Antes que a porta fechasse, Edward notou uma expressão de dor no rosto de Bella.

— Não. Subirei agora mesmo e darei uma olhada em sua perna.

Bella teria protestado se Edward lhe desse uma chance. Mas ele a segurou pelo braço e assim que chegaram ao último andar, acompanhou-a pelo corredor.

Um perfume de rosas inundava o ambiente. Bella olhou ao redor e viu uma garrafa de champanhe em um balde de prata e duas taças.

— É a suíte nupcial — murmurou.

— Sim. Foi cancelada. Um dos noivos deve ter desistido antes de subir ao altar — Edward explicou.

— Um deles recuperou a razão em tempo — Bella observou.

— Alguém já lhe disse que é cínica demais para sua idade? — Edward caçoou.

— Obrigada — Bella respondeu como se tivesse recebido um elogio.

Edward sorriu. A jovem era inteligente e determinada. Estava com dores, obviamente, mas não se queixava. Ao lembrar-se disso, ele assumiu sua postura de médico.

— Vá para o quarto e tire o jeans.

— O quê? — Ela arregalou os olhos.

— A cama é mais alta do que o sofá. Poderei examiná-la com mais facilidade. Se estivesse de vestido, eu não pediria para tirá-lo. De que modo espera que eu examine sua perna?

A resposta a fez sentir-se uma tola.

—Certo.

Bella foi para o quarto, sentou-se na cama e tirou o casaco, depois os sapatos e as meias. Estava começando a tirar o jeans quando Edward entrou.

Ele não pareceu se importar. Afinal, deveria estar acostumado a ver mulheres nuas. Ajoelhou-se e ajudou-a a despir-se. Depois examinou cuidadosamente o joelho. Estava inchado e deveria doer muito, mas não constatou nenhuma fratura.

— Ao menos não está quebrado — ele disse: — Eu o enfaixarei por esta noite e amanhã a levarei para tirar uma radiografia.

— Obrigada.

— Também lhe darei um antiinflamatório e um analgésico. E alérgica a algum tipo de medicação?

Bella negou com um movimento de cabeça. Edward estava se portando como um médico, mas ela estava ansiosa por vestir novamente a calça.

— Enquanto isso, repouse. — Ele cobriu-a, mas o frio do lençol a fez tremer. No mesmo instante, Edward tocou-lhe a testa. — Voltarei em seguida.

Sozinha, Bella virou-se na cama e viu seu reflexo no espelho. Estava exausta. Fazia meses que não se deitava em uma cama e dormia sem medo.

No dia seguinte teria de tomar uma decisão: voltar para as ruas ou para casa. Nenhuma das alternativas a seduzia.

Fechou os olhos. Estava cansada demais para raciocinar. Estava tão cansada que nem sequer a dor no joelho a impediria de dormir.

Edward encontrou-a adormecida. Colocou os comprimidos e a faixa sobre a mesa-de-cabeceira e apagou a luz. Tocou-a novamente na testa e suspirou de alívio ao constatar a ausência de febre.

Observou-a por um momento. Com os olhos fechados, Bella parecia ainda mais bonita.

ESPERO QUE GOSTEM

É LIGHT, MAS É LINDA

BEIJOS E ATÉ