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Os dedos da pianista profissional Oruha deslizavam pelo piano produzindo uma doce melodia. O som da canção que adentrava no quarto era abafado, mas nós podíamos ouvir perfeitamente, tanto que éramos levados no ritmo daquela música.
- Diga que a ama – murmurando ela me implorava se aproximando cautelosamente.
- Não. Não vou conseguir – respondia seguro fitando seus olhos negros.
- Oras, como não? – ela envolvia seus braços agora em meu pescoço – é tão fácil dizer estas palavras... – provocante, ela sussurrava em meu ouvido.
- Para mim não é tão simples, não vou dizer, eu nunca senti amor por ela... – eu dizia convicto - Entretanto a você eu digo, eu te amo – falei um tanto alto as últimas palavras. Ela se afastou saindo do quarto apressadamente me olhando com desdém, temendo que alguém pudesse ter nos ouvido.
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A mansão
Dando passos largos, eu andava pelas ruas de Paris. Um estrangeiro de descendência chinesa não era bem visto entre os moradores, mas isso não me convinha, o que eu queria fazer naquela cidade fora traçado e planejado aos mínimos detalhes.
Moderei os passos quando cheguei à rua desejada, parei em frente a uma luxuosa casa de cor marfim de portões pequenos, um jardim com belas flores vermelhas. Toquei a campainha, Sr. Sorata, o proprietário, logo apareceu à porta acenando para que eu entrasse.
Sr. Sorata me conduziu até a sala. Por dentro a casa era ainda mais bela, os móveis em madeiras nobres e diversos estilos antigos faziam um contraste assombroso com a mesma.
- Bem pontual Sr. Li – Sr. Sorata me indicava sua mão direita.
Eu apenas o saudei, balançando minha cabeça afirmadamente com um sorriso de lado no rosto. Ele percebeu que eu estava nervoso.
- Por favor, sente-se! – ele acenava para o sofá que havia logo atrás de mim.
- Obrigada!
- Recebi seu telefonema Sr Li, e – disse-me sentando no sofá – aqui estão algumas fotos tiradas da casa em que o senhor está interessado. – ele pegará de cima da mesa que havia entre nós uma pasta acinzentada e me entregava.
Peguei-a meio tremulo e comecei a folhear. A primeira foto mostrava a fachada da mansão, um tanto antiga e com pintura desgastada, porém em um estilo oriental sem igual. O interior era harmonioso, possuía paredes brancas com o piso de madeira em tons claros. Havia móveis em linhas retas que possuíam influência tipicamente nipônica.
- Sr. Sorata a casa já vem mobiliada? – indaguei curiosamente.
- Sim. Os móveis estão em perfeitas condições. Fiz questão de deixar ela mobiliada a gosto do estilo oriental – ele dizia sorrindo. Nipo-descendente, Sorata apreciava muito os costumes de sua origem.
Uma mulher entrou na sala apressada quando Sorata iria novamente me dizer um comentário sobre a casa.
- Com licença senhores – ela disse quase não me olhando quando baixei a pasta e me levantei fitando-a – Sorata você está negociando a casa? – ela falava baixo com o vendedor, mas eu podia ouvir muito bem a conversa deles, a mulher parecia nervosa, mais que a mim.
- Hum. Com licença senhor Li.
Acenei afirmadamente para Sorata que me disse um tanto constrangido, puxando logo em seguida a mulher pelo cotovelo, ambos iam para fora da sala.
Fiquei ali esperando não muito tempo. Quando Sorata apareceu na porta outra vez o seu rosto que antes estava incomodado, agora esboçava um sorrio.
- Me desculpe pelo incomodo.
- Não fora, não se preocupe. – eu sorria.
- Então, a presença dela foi para me informar que a casa já está vendida. Sinto muito. Mas se o senhor quiser temos outra que podemos lhe oferecer.
Eu não pareci surpreso com essa notícia. O que incomodou um pouco o Sorata. Ele perceberá que eu não estava muito a fim de comprar a casa. E ele realmente tinha compreendido. Eu estava ali somente para saber uma única informação. E eu já a tinha!
- Não. Muito obrigada, quem sabe outro dia. Por enquanto eu somente queria aquela, mas já que foi vendida, é um pesar para mim – falava estendendo minha mão, sinalizando de que eu não queria mais negociar com ele.
- Como queira – ele apertou minha mão cumprimentando. Acompanhou-me até a saída da casa um tanto decepcionado, despedindo-se.
Caminhando em direção ao meu apartamento que não ficava muito distante da casa do Sr. Sorata pude sentir o quanto estava fria as ruas da bela Paris. Apertei-me contra meu casaco, quando senti o celular no bolso do mesmo vibrar. Ao ler a mensagem no visor do aparelho mudei o rumo. Atravessando a quadra da esquerda, subindo a avenida indo em direção a mansão que acabará de ser comprada.
"Exatamente como eu esperava..."
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No próximo capítulo
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A jovem que sairá do carro estava vestida com um conjunto que caia muito bem em seu corpo de silhueta regular. Seus cabelos balançavam em meio ao vento frio daquele fim de tarde. Ao fechar a porta do carro seus olhos se encontraram com os meus, pude ver então que ela esboçava um sorriso tímido. Não sorri de volta, mas fiquei parado fitando-a intrigado.
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