Sumário: Jensen é um adolescente problemático, que após perder a mãe, tem de conviver com o pai que o ignora e com o sentimento de que nada em sua vida se encaixa. Até que ele conhece Jared, um rapaz novo na cidade e com energia que emanava pelo corpo. E então, as coisas prometem mudar. AU. PADACKLES.

N/A: Minha imaginação fluiu para escrever isto e aqui estou com uma nova fic! Espero que gostem sinceramente! Nessa historia eles estão na escola, então, acredito que por motivos óbvios, decidi que Jensen teria 16 para 17 anos, e Jared 15 para 16, mais ou menos. Portanto não estranhem se a diferença de idade entre os dois não combina com a diferença real.

Disclaimer: Não é necessário dizer que eles não me pertencem…


Capítulo 1: Primeiro dia

Aquela era uma manhã como todas as outras na casa dos Ackles. Jensen detestava acordar todos os dias e ver que ainda estava ali, ainda estava naquela casa, ainda estava cercado pelos mesmos ambientes e mesmos rostos. Ainda estava naquela cidade e não parecia que ia mudar nem tão cedo. Jensen nem sabia se iria pra faculdade.

Pegou alguns livros debaixo de sua cama e os colocou na mochila, indo logo em seguida dar uma boa olhada pela janela para checar o tempo que estava fazendo hoje. Era um dia de sol. Menos mal… era o primeiro dia de aula do seu último ano e ele não estava animado para ir à escola. Estaria menos ainda se estivesse chovendo.

Jogou a mochila nas costas de qualquer jeito e desceu as escadas sem parecer notar que estava sendo observado pelo seu irmão Josh, que estava terminando de preparar o café da manhã.

- Ei! – Josh chamou por ele com uma expressão de dúvida em seu rosto. – Não vai tomar café, Jen?

- Sem fome hoje.

- Certeza? – Seu irmão mais velho ergueu uma sobrancelha. – Eu estou fazendo panquecas…

- Certeza.

- Papai não vai gostar de saber que você saiu antes do café da manhã.

Jensen olhou para Josh com uma expressão de sarcasmo no rosto, e em seguida saiu da casa sem dizer mais nada, caminhando a passos pequenos para a escola que ficava há algumas quadras de sua residência.

Ele não odiava a escola e também não gostava o suficiente para ficar feliz por estar indo. O importante de ir, na verdade, era o fato de que podia sair um pouco de casa e escapar de seu pai falando o tempo todo em seu ouvido sobre algo que ele havia feito de errado. Porque, aos olhos de Roger, Jensen sempre fazia algo errado enquanto Josh estava sempre certo.

Então, sua rotina era essa: ir para a escola pela manhã, e assim que saía de lá, direto para a oficina onde trabalhava três vezes na semana. Era pouco dinheiro, mas o suficiente para comprar as coisas que precisava e outras que gostava, sem ter necessidade de pedir ao seu pai ou a ninguém.

Ao chegar à escola, ele viu que nada havia mudado: os mesmos rostos, com exceção de apenas alguns e os mesmos professores. Ao menos esse seria o ultimo ano, e ele estaria finalmente livre para fazer algo diferente, mesmo que ainda não soubesse o que. Se fosse longe de casa estava bom o suficiente.

Olhou seu horário e, sem demoras, fez seu caminho até a aula de matemática que começaria daqui a alguns minutos; procurou um lugar no fundo como sempre preferia e abriu um livro para ler enquanto esperava. Outros garotos iam preenchendo os outros lugares, a conversa tomando conta do lugar. Jensen não cultivava nenhuma amizade ali, e pretendia continuar assim.

- Muito bem, classe, muito bem! – O Sr. Henderson chamou a atenção dos alunos. – Tudo bem com vocês?

A classe respondeu de forma desanimada, e Jensen se conformou em apenas observar.

- Bom, vocês estão no último ano então! Foi um longo caminho até aqui, e eu espero sinceramente que vocês tenham muito sucesso. – o professor continuou, com um sorriso. – Neste ano espero que se dediquem mais, que se esforcem mais para estudar e tirar boas notas, sabem que é muito importante. Vamos ter um pouco mais de comprometimento, de companheirismo e também de…

- Com licença!

Todos se viraram para olhar o garoto alto que acabava de entrar na classe aparentemente apressado. O Sr. Henderson sacudiu a cabeça.

- E também um pouco de pontualidade…

- Me desculpe… é que eu sou novo aqui, não sabia bem onde era a sala então…

- Tudo bem… qual o seu nome?

- Jared Padalecki.

O professor checou algo na folha de chamadas e deu um meio sorriso indicando que ele procurasse um lugar para se sentar. Havia alguns alunos novos na classe, mas Jared parecia o mais tranqüilo de todos eles.

Jensen não ergueu os olhos quando o tal Padalecki sentou-se ao seu lado, tomando um enorme espaço na cadeira. Aos olhos do loiro, aquele garoto novo parecia cheirar a encrenca. O jeito como ele andava e olhava para os outros dava a impressão de que ele era confiante demais, talvez um pouco metido. E Jensen odiava pessoas metidas tanto quanto odiava acordar antes de o sol nascer.

- Bom, como temos alguns alunos novos hoje, vamos tirar algum tempo para nos conhecer melhor! Quero que se juntem com o colega do lado ou da frente pra trocar uma idéia antes de qualquer coisa. Vamos, comecem!

Jensen sacudiu a cabeça em negativa e continuou em seu lugar enquanto os outros alunos se misturavam e conversavam animadamente, se apresentavam e faziam brincadeiras habituais. Ele sempre ficava fora disso, sempre se mantinha afastado e esperava acabar, pois sabia que ninguém iria falar com ele, e ele não estava afim de falar com ninguém então… era Jensen e seu livro outra vez.

- Sou Jared.

Ele havia ouvido direito?

- O que está lendo?

Jensen ergueu um pouco os olhos, e reparou que Jared estava curiosamente tentando observar o que estava escrito nas paginas que ele estava tão fervorosamente lendo. O mais alto aproximou a cadeira.

- Shakespeare! – Jared disse numa exclamação. – Eu sou Jared.

- Eu ouvi… - Jensen disse sem o olhar.

- Como se chama?

Jensen coçou a nuca devagar e respirou fundo. Não queria conversar. Muito menos com um garoto que nunca havia visto antes.

- Jensen… - respondeu só pra não ser mal educado.

- Legal… e aí? O que você faz de bom?

Jensen não estava crendo que aquilo estava acontecendo com ele e justo agora que ele estava quase no fim de seu livro. Jared notou que ele se demorou para responder e começou a falar sem parar, num tom animado:

- Eu me mudei pra cá essa semana. Meu pai comprou uma casa perto daqui, eu acho que vai ser legal… a escola parece ser bem bacana. Tenho um irmão mais velho e uma irmã mais nova, gosto de jogar vídeo game… gosto de futebol também. Você gosta de jogar?

O loiro deu de ombros. Jared não se importou.

- O que você gosta de fazer além de ler Shakespeare?

Jensen estava começando a se irritar com aquele Jared logo de cara. Não entendia porque ele não parava de falar, não compreendia porque ele usava aquele tom todo contente praticamente o tempo todo. Será que não percebia que Jensen não queria papo?

- Gosto de caminhar. – Jensen respondeu de uma maneira quieta.

- Legal. – Jared riu. – Eu gosto de correr. Talvez a gente possa fazer uma caminhada pela cidade qualquer hora, eu realmente preciso me situar nesse lugar. Mora aqui há muito tempo?

- Bastante.

- Que bom, encontrei meu guia! – Jared riu animadamente e deu dois tapinhas no ombro de Jensen, que o olhou incrédulo. – Ao menos eu não vou ficar perdido como pensei.

Talvez Jensen fosse ficar perdido com aquele jeito do moreno. O loiro bufou e assentiu, sentindo-se profundamente invadido e chateado: gostava de ficar sozinho, gostava do seu silencio, do seu jeito. Falar, na maioria das vezes, causava problemas demais e ele evitava profundamente se meter em problemas. Seu pai tinha tolerância zero quanto a problemas que envolviam o nome Jensen Ackles.

- Você é bem caladão. – Jared comentou um pouco depois e deu um sorriso. – Desculpa se eu te assustei com a minha falação, mas é que eu realmente estou animado. Estamos no ultimo ano afinal.

- Graças a Deus… - Jensen soltou a expressão envolvida num suspiro.

- Não me parece um entusiasta da escola. – O moreno riu divertido. – É, eu também não. Mas é que eu mal vejo a hora de passar por esse ano e começar logo a faculdade.

Jensen ergueu um pouco as sobrancelhas e assentiu. Faculdade. Lugar para onde Jensen nunca iria. Não se achava capaz o suficiente, e além do mais, seu próprio pai nem contava com esse fato. A verdade era que Jensen planejava abrir sua própria oficina mecânica e alugar um apartamento onde ele pudesse viver em paz com seus livros e com sua música.

- Eu quero estudar engenharia. – Jared respondeu a uma pergunta que Jensen nem havia feito. – E você, está pensando em cursar o que?

- Eu… ainda não me decidi…

Jared assentiu e reparou como o tom de voz dele era sempre tão baixo e cauteloso; não era como deveria ser pra um garoto de sua idade.

- Você logo vai descobrir. – Jared sorriu para ele. – Vai ver só.

Quando o professor voltou a chamar a atenção dos alunos para finalmente iniciar as aulas, Jensen fechou o livro e respirou aliviado por Jared ter virado para frente. Se fosse assim todos os dias, seria mais difícil do que nunca se concentrar na escola.

***************

No almoço, a rotina de Jensen era sempre a mesma: sentava-se sempre sozinho a um canto, comia devagar, quase nunca olhava para os lados. Não gostava que reparassem nele, por isso evitava chamar a atenção olhando para as outras pessoas, por isso resignava-se a fazer alguma leitura silenciosamente até que terminasse sua refeição.

Era como estar sozinho em meio a um mundo de pessoas. Todos o ignoravam. Todos eram como seu pai. E há algum tempo, Jensen já se questionava se era alguém que tinha ao menos uma pequena importância.

Ele estava quase terminando de ler O Mercador de Veneza. Era um livro muito legal. Entre uma frase e outra ele mordia a maçã que estava em suas mãos, os olhos ávidos em cada palavra e…

- Oi, Jensen. Posso me sentar?

Ele ergueu os olhos somente para encontrar Jared ali parado, com uma bandeja na mão e um sorriso simpático e caloroso. O primeiro impulso foi de dizer não. Mas como era educado, deixaria que se sentasse, mas não iria falar com ele; assim, uma hora ou outra o garoto ia se mancar e parar de tentar desperdiçar seu tempo com ele.

Jensen deu de ombros e Jared sorriu como se fosse a melhor coisa do mundo.

- Cadê os seus amigos? – Jared indagou num tom curioso.

- Eu não tenho amigos. – Mais uma vez, a voz baixa e rouca.

- Todo mundo tem amigos, Jensen! Tem que ter… hum… - Ele suspirou. – Você é muito tímido?

Não, de modo algum Jensen era tímido. Só achava-se inútil como amigo ou colega de quem quer que fosse. Ele não gostava muito de sair de casa, então com certeza não seria boa companhia. Não gostava também de ficar em volta de muitas pessoas, o tumulto às vezes o deixava confuso. As coisas que Jensen mais gostava em sua vida eram tocar seu violão, ler e consertar carros. Era um trabalho ótimo, pois ele podia ficar sozinho, ninguém o incomodava.

Então, ele não era tímido, só não gostava tanto assim de ficar rodeados de pessoas. Podia ser classificado como anti-social?

- Eu posso ajudar você com isso. – Jared animou. – Sou bom com isso… e além do mais… como eu também não tenho nenhum amigo por aqui, podemos fazer coisas juntos, o que me diz?

Os olhos verdes de Jensen vagarosamente encararam os de Jared.

- Eu não tenho tempo. – ele respondeu. – Eu trabalho.

- Bom, mas você deve ter folgas, não é?

O loiro respirou fundo, Jared esperava ansiosamente por uma resposta que provavelmente não viria.

- Qual o problema com você afinal? – Jensen perguntou, sua voz soando mais cansada do que o habitual, pegando Jared de surpresa.

- O que quer dizer?

- Olha… eu só quero ficar em paz e conseguir ler o meu livro… - Jensen sacudiu a cabeça e olhou para baixo. Seu tom de voz não era mal educado, somente chateado e incerto. Jared teve seu sorriso diminuído um bocado.

- Eu sei que às vezes eu falo muito… isso incomoda você?

- Cara, tudo que eu quero é ter tempo pra terminar o meu livro antes de ter que ir pro trabalho. Não é pedir muito, é? Tem várias pessoas por ai te observando, querendo fazer amizade… porque simplesmente não procura por elas? Não vai ser tão difícil assim se enturmar, e com certeza andando comigo, você não vai mesmo conseguir se enturmar.

Jared ficou observando-o um pouco, uma expressão impossível de ler em seu rosto. Jensen esperava desesperadamente que o rapaz alto fosse embora, deixasse-o em paz de uma vez por todas e percebesse que Jensen não queria conversar nem agora e nem nunca. Ele parecia ser um rapaz legal, agitado e falante, totalmente ao contrario do loiro. E Jensen não queria ficar atrasando a vida social de ninguém por ali.

O moreno começou a comer, agora sem falar mais nada, e Jensen suspirou desanimadamente ao ver que ele realmente não tinha pretensões de sair daquele lugar antes que terminasse seu almoço. O loiro resolveu continuar sua leitura em silencio e rezou para que Jared fizesse o mesmo.

Assim que bateu o sinal, Jensen não esperou por mais nada e pegou suas coisas sem nem mesmo avisar que iria sair. Jared olhou para trás, acompanhando os passos do loiro com os olhos, meio que intrigado a respeito do comportamento estranho do rapaz. Nem pensar que iria deixá-lo de lado. Ele não era tão facilmente vencido assim.

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Jensen fechou os olhos e deixou que seus dedos tirassem de seu violão o som que dava a sua alma um pouco de alento. Gostava tanto de tocar quanto de ler, e eram as coisas que o distraiam de sua vida chata e sem sal, de sua mãe que lhe fazia tanta falta. Puxa, ele daria o mundo para que ela nunca tivesse partido.

Uma chuva fina caia na janela de seu quarto, e a melancolia dos acordes que tocava só traziam a si mais tristeza.

- Jensen!

Ele estacou, parou de tocar e respirou fundo antes de colocar o violão de lado. Seu pai estava batendo à porta com rispidez e esperava ser atendido rapidamente, como sempre.

- Sim senhor. – Jensen respondeu sem lhe dirigir o olhar, assim que abriu a porta.

- Amanha depois da escola quero que vá até o centro da cidade pra mim, levar umas contas para pagar. – Seu pai disse no mesmo tom, entregando a ele alguns papéis e notas separadas para cada um deles. – O dinheiro está contado, então faça o favor de não perder nada como daquela outra vez. Sua irresponsabilidade me deixou em maus lençóis pra variar.

- Ah… certo, pai, pode deixar. – Seus olhos ainda estavam baixos.

- E não se demore. Quero você em casa antes de escurecer.

Roger marchou pelo corredor afora, deixando o filho ali parado. Jensen voltou para dentro de seu quarto e fechou a porta, desanimado. Não entendia porque seu pai era tão frio com ele, tão sem amor. Estava ficando muito cansado de não ter valor nenhum neste lugar.

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- Pois muito bem, queremos saber afinal como foi esse primeiro dia de aula! – Sharon Padalecki sorriu animada para Megan e Jared, e a menina foi a primeira a responder

- Ah, pra mim não teve nada demais. – Ela disse com uma expressão de desanimo. – Acho que foi até bem chato, começamos logo com aula de matemática.

Gerald sorriu e sacudiu a cabeça, observando como Jared comia distraidamente, parecendo muito satisfeito com o jantar.

- E você? Como foi seu primeiro dia?

- Normal, eu acho. – Jared deu de ombros. – Nada demais.

Os outros três o encararam por alguns segundos, até que Jared se deu conta e meio que riu, fazendo uma cara estranha ao notar que era o centro das atenções.

- Que foi?!

- Meio impossível você já não ter feito uma dúzia de amigos, Jay! – Megan respondeu rindo.

- Sua irmã tem razão e você sabe. – Sharon sorriu. – Vai me dizer que até um namorado já arrumou?!

- Mãe! – Jared ralhou, mas estava sorrindo junto com os outros. – Não, não arrumei namorado nenhum, se é o que querem tanto saber, e também não fiz amigos. Eu… conheci uma pessoa só.

- Então, que pessoa é essa afinal? – Gerald parecia curioso. Queria muito que seus filhos fizessem amigos e se adaptassem ao seu novo local de moradia.

- Jensen. – Jared disse como se não fosse nada de importante, meio que pra não chamar muito a atenção de sua família.

- Então, quando é que esse tal Jensen vem visitar a gente? – Megan perguntou com uma animação incontida e seu irmão do meio sacudiu a cabeça levemente. – Ele é bonitinho?

- Quando ele vem visitar eu nem sei. Foi meio difícil conversar com ele… alias, acho que nem propriamente chegamos a conversar. Mas ele parece ser uma pessoa legal… - Ele comentou num tom pensativo. – E sim, ele até que é bem bonitinho.

- Você fez um amigo então, JT. – Seu pai deu um sorriso. – Sabe que seus amigos são sempre bem vindos.

O jantar seguiu normalmente, Jared até que bem contente com toda a coisa da mudança. Gostava de novos ares, gostava de estar ali… e talvez, ele também estivesse gostando de poder tentar entrar no mundo daquele belo garoto loiro que estava em sua classe de matemática. E por mais difícil que fosse, Jared não iria deixar de lado a idéia de tirar ao menos um sorriso do rosto de Jensen, mesmo que fosse só pra ver o quão mais bonito aquele rosto poderia ficar estando um pouquinho mais feliz.

Continua…