Quando a LuthorCorp divulgou que estava trabalhando em um projeto para estender a expectativa de vida, a euforia foi geral ainda mais quando havia a possibilidade de que se encontrasse a imortalidade. Esse trabalho pretendia eliminar o medo que assola desde sempre a humanidade, a morte. Para alguns o fim da vida não era um problema, mas o que poderia a existir ou não após ela, isso era um problema. Aquele experimento é a essência do que significa a empresa de Lex Luthor, encontrar um problema, fomentar o desespero das pessoas e lucrar em cima disso.
O andar em que Maggie trabalhava, era um acima de onde estavam criando o projeto Renaissance, enquanto eles tentavam reverter a morte, Maggie trabalhava com sintetização de medicamentos mais aprimorados para diabetes. Tecnicamente a área de infectologia não teria haver com a função dela mas quando seus medicamentos começaram a apresentar variação nos dados, ela seguiu o protocolo e realizou o teste para contaminação biológica. O qual constatou um alto índice de presença virótica, de um tipo não muito agradável. Um RNA-vírus da família Rhabidoviridae (RABV), gênero Lyssavirus, também conhecido como vírus da raiva. Tal informação era bem alarmante, já que em seu estado natural, o virús não deveria sobreviver muito tempo fora do corpo de seu hospedeiro, muito menos contaminar outras salas.
Assim que Maggie reportou sua descoberta, foi instruída a não compartilhar a informação mesmo que os níveis estivessem aumentando e isso fosse preocupante já que o vírus normalmente não sobrevive muito tempo fora do corpo do hospedeiro. Quando insistiu que deveriam notificar ao CDC (Centro de Controle de doenças dos Estados Unidos), recebeu em seu apartamento dois envelopes. Um continha sua carta de demissão e outra um cheque de 50 mil, junto a uma notificação extra judicial que se ela reportasse qualquer coisa vista dentro da LuthorCorp, estava passível de multa, por quebra de sigilo de contrato, no valor de 7 milhões de dólares. O recado era simples, conte algo que viu ou você não viverá o suficiente para recorrer a esse processo.
E assim se encontrava Margareth Sawyer, sem emprego e ameaçada de morte. Seu horóscopo está errado quando disse que esse seria um dia de grande mudanças, que ela deveria confiar em si mesma e as portas iriam se abrir. Não dava para acreditar no quanto sua vida havia mudado, agora era apenas ela, seus orgânicos e um cheque que não serviria para nada caso ela tivesse uma emergência médica. Nos meses que se seguiram, tudo que a latina conseguiu fazer era cultivar suas plantinhas e vender para a idosa do 205 que adorava hortaliças.
Foi na véspera de natal, quando os comprimidos de longevidade começaram a ser distribuído. Lotes e mais lotes a preço de bananas. Maggie fez questão de estar o mais longe daquilo possível. Se focando no projeto do carro verde, que era fazer sua van funcionar com produtos em decomposição. E assim mudar verdadeiramente o mundo. Não demoraria muito antes do escândalo do contágio fazer com que a venda dos remédios acabasse e então ela poderia voltar a encontrar um trabalho na área de laboratórios. Pelo menos era isso que Maggie imaginou mas ela era ingênua em pensar que Lex Luthor não pagaria as organizações sanitárias e de saúde e que em um mês seus comprimidos estariam em todas as revistas científicas como a solução para os problemas humanos.
Os primeiros sinais de que algo não estava bem, vieram a aparecer apenas um anos após o início da comercialização dos Renaissance, a medicação que prolongar sua vida. Algumas pessoas começaram a apresentar sintomas como de gripe, nada muito alarmante, não até que boa parte da população americana apresentava os mesmos sintomas: mal-estar, febre baixa, dor de cabeça e de garganta, falta de apetite, vômitos e desconforto gastrointestinal. As coisas foram piorando quando as pessoas começaram a morrer em decorrência desses sintomas. Maggie começou a observar um padrão naqueles acontecimentos e quando sua vizinha começou a demonstrar os sintomas, ela sabia que era hora de se preparar.
O caos se instaurou, aqueles que não morria com os sintomas, tendiam a piorar demonstrando agressividade, acessos de fúria, alucinações, crises convulsivas desencadeadas por estímulos táteis, auditivos e visuais, espasmos musculares involuntários e dolorosos, produção excessiva de saliva. E quando eles começaram a atacar as pessoas saudáveis e as infectar, foi o último suspiro da humanidade como se conhece. Sendo uma fã de filmes apocalípticos, a botânica fez o que sabia que iria garantir a sua sobrevivência.
Foram sete dias trancada dentro de casa, em silêncio esperando as coisas se acalmarem, a morena nunca esqueceria os grunhidos do lado de fora, os tiros, os gritos de terror e pedidos de ajuda. Aquela era uma péssima sensação,, a impotência mediante o desastre, ouvir alguém clamar por socorro e não poder ajudar. Mas o que veio depois foi pior, o silêncio é sempre pior pois ele grita o inegável, acabou. Nada de propagandas irritantes na televisão, músicas com conteúdo adulto que tocam nas rádios porque as pessoas não entendem a letra e apenas acompanham o ritmo, nada de crianças gritando nas ruas, nem a música do carrinho de sorvete, nada de carros em alta velocidade passando pela rua, não haveria fogos no ano novo e nem no quatro de julho, agora só haveria o silêncio e ele era ensurdecedor.
O mundo não parecia mais o mesmo, Maggie sentia sua garganta estranha por ficar tanto tempo sem falar. Por mais que as coisas tivessem se acalmado, permanecer na cidade era uma escolha suicida. Logo ela ficaria sem suprimentos e aqueles bichos, a latina os considerava humanos mais, teriam fome e a fúria aumentaria muito antes que a ausência de alimento os enfraquecesse. Pensando nisso, a cientista pegou tudo que achava que seria util: facas, fósforos, medicamentos, garrafas, enlatados, roupas, uma maleta de primeiros socorros, material de acampamento e também seu kit básico de análise. Pegou também os vasos de todas as plantas que tinha e que eram comestíveis priorizando aquelas com uso medicinal como anti inflamatórias, analgésicas e aquelas que servissem para a cura de vermes. Juntando todas as coisas na Van, ela fechou os olhos, agradecendo aos céus por ter terminado as modificações em seu veículo pois sabia que agora gasolina seria motivo de guerra. Seu destino já estava selado. Conhecendo o início de tudo, ela se deu uma motivação e uma missão: ir ao instituto central da LuthorCorp na fronteira canadense e encontrar uma cura para essa praga.
Antes de ir, Maggie escreveu uma carta a qual deixou colada em sua porta com os seguintes dizeres:
"Caro sobrevivente,
Se você está lendo isso, significa que ainda há esperança pois alguns de nós restaram. Se o que procura são suprimentos, sinto-lhe informar que não os encontrará aqui.
Mas se você deseja respostas, isso eu posso te dar. Sou uma ex-funcionária da LuthorCorp, fui demitida um ano antes do desastre começar mas eu estava lá quando os indicadores de que algo estava errado apareceram.
A ganância humana, a sede pela imortalidade e o total desprezo pelas leis da natureza foi o que nos levou a esse estado. Se você alguma vez tomou um Renascissance, sinto em lhe informar mas você está infectado e a menos que seja naturalmente imuni, é uma questão de tempo até que você se torne um dos raivosos.
Se você for mordido ou arranhado por eles, arrancar a parte ferida não irá impedir que você se torne um também. Encontre um local confortável para ficar e torça para ser imune pois caso não seja o seu caso, as dores serão horríveis enquanto você perde a sanidade.
Aqui está as coisas que você precisa saber sobre os raivosos, eles tem fobias e saber disso pode ser a diferença entre sobreviver ou virar jantar.
A manifestação de fobias – hidrofobia, aerofobia, fotofobia – é real. Eles sofrem espasmos violentos, quando vêem ou sentem a água, quando recebem uma corrente de ar ou é exposto a um excesso de claridade.
O que significa que armas d'água são uma boa opção se você não souber atirar e não quiser atraí-los com o barulho das armas de fogo. Embora barulhentos, sopradores de folhas são outra ótima opção pois suas fortes rajadas de vento tendem a espantá-los. E se você estiver encurralado por um deles, ligue uma lanterna diretamente nos olhos da fera, irá atordoar-la tempo o suficiente para você conseguir escapar.
No demais: fique seguro, mantenha-se longe das cidades, evite fazer barulhos altos e mantenha quem você ama por perto. Seus maiores inimigos não serão os raivosos mas sim os humanos. Pessoas podem fazer qualquer coisa no desespero de tentarem sobreviver. Não desista de lutar, uma vez que perder a esperança, eles irão vencer.
Eu, Margareth Sawyer estou partindo em busca de uma cura para toda essa confusão, mas isso só terá utilidade se ainda houver humanos para salvar. Então se mantenha vivo, hidratado e com algo pelo que lutar. A arma mais poderosa que temos contra eles, é a nossa fé.
Margareth Sawyer."
