Sinopse:
Akame respirou fundo, soltando o ar devagar. Viu-se apoiada no galho de uma das copas das inúmeras árvores da floresta onde estava. A lua cheia dava ótima visibilidade para ela. Respirou fundo e soltou o ar devagar novamente.
Ainda não tinha entendido exatamente porque Boss havia lhe enviado aquela missão através de Wave, apesar de que… Balançou a cabeça de leve, Najenda era uma mulher inteligente, tinha enviado tropas para conter o inimigo, mas foram exterminadas assim como os vilarejos vizinhos. O único que ainda parecia se manter protegido era aquele, mas ela sabia que tinha algo errado.
Além disso, era bom ter uma missão para se focar e evitar pensamentos vazios que não a levariam a lugar nenhum, além de não resolverem sua eterna solidão. Se havia sobrevivido, era porque tinha algum motivo ainda. Precisava acreditar nisso para continuar a respirar.
~*~*~*~KK~*~*~*~KK~*~*~*~KK~*~*~*~
Notas da Autora: Este conto é um spin-off de uma fanfic que iniciou como uma continuação do anime Sakura Card Captor, mas acabou indo para uma história "original". Quem conhece o anime sabe que ele é um mahou shoujo e tal mas aí acabei transformando a história bem mais violenta e complexa! Tá mais para shounen… por conta das cenas de ação que gosto de escrever. Enfim, no final o "universo" criado na história de FEITICEIROS acabou tendo muito em comum com o anime Akame Ga Kill. Parece loucura? Eu sou louca mesmo. E o pior sou aquela louca que estuda de tudo (religiões, mitologias, lendas urbanas, bobeiras na internet, história geral, física, química e etc) para justificar e convencer o leitor que minhas loucuras fazem sentido. E ainda recebo ajuda nisto! Concluindo, foi impossível em certo momento não unir de forma bem conveniente para mim as duas histórias. Sendo assim, este pequeno conto é um spinoff da história mas focando apenas os personagens que eu trabalhei de Akame Ga Kill. Inclusive uma das cenas está incluída no capítulo 64 de Feiticeiros porém levemente modificada para o ponto de vista da história.
Não é necessário ler a história de FEITICEIROS para entender. Quem assistiu o anime de AgK vai entender sem problema. Eu espero, pelo menos. Tenham uma mente aberta, okay?! A história segue a risca o anime AgK e não o mangá, então é mesmo aquele final tristíssimo, que eu (assim como outros fãs) recusei a aceitar, apesar de saber que o anime não teria o mesmo impacto se fosse diferente. Em minha humilde opinião, o final do mangá foi um pouco decepcionante.
Ah! Também li Akame Ga Kill Zero, inclusive foi através dele que descobri mais sobre a personagem Akame e gostei mais ainda de escrever sobre ela. Então acabei usando algumas informações de AgK Zero.
Boa leitura!
Notas iniciais: Música Inspiração: Endless Sea - Storm version (Mar sem fim - Versão tempestuosa), do Álbum "The Gentle Storm" de Anneke van Giersbergen.
Atenção: existem duas versões de Endless Sea, as duas lindas, mas para este conto acho que a versão -Storm- ficou muito mais legal.
Disponível no link: watch?v=RYz59jekmGM
Tormenta
FEITICEIROS - Spin-off
Por Kath Klein
Mate os Fantasmas
'Pediram para lhe entregar.' Wave estendeu o pedaço de papel para Akame que o pegou, colocando-o no bolso sem o ler. 'Sabiam que nos encontrariam hoje aqui. Deveria tomar mais cuidado, se alguém descobre que mantém essa rotina, será perigoso para você.'
Ela não respondeu, ainda tinha os olhos baixos enquanto brincava com a rosa vermelha que tinha nas mãos. Os dois estavam a frente do túmulo de Kurome na Floresta Kadai. Sempre se encontravam nos últimos anos no mesmo dia, no mesmo lugar.
'Como você está?' Ele perguntou observando de soslaio a garota de cabelos longos negros.
Akame respirou fundo e soltou o ar devagar, enquanto fechava melhor o sobretudo que protegia seu corpo da chuva fina. Inferno! Sempre garoava naquele maldito dia. Sempre.
'Estou bem.' Respondeu de maneira evasiva como sempre respondia a mesma pergunta.
'Soube que colocaram sua cabeça a prêmio.' Ele comentou ainda olhando para ela. 'Deveria se entregar de uma vez e esclarecer tudo. Não há motivos para você assumir tudo.'
Ela ainda ficou alguns segundos calada e percebeu que o homem soltou um murmúrio irritado.
'Os Night Raids era um grupo de assassinos pagos.' Ela finalmente começou a explicar para ele devagar. Tinha os olhos fixos na lápide com o nome da irmã. 'Eles precisam pagar pelos erros que cometeram. Najenda está ajudando a erguer a República e os outros não sobreviveram... Não me importo de pagar pelos meus crimes e dos meus companheiros.'
Wave soltou um suspiro inconformado. 'Você é tão ou mais teimosa que Kurome.'
Ela sorriu de leve. 'Somos irmãs…' Virou-se para o homem ao seu lado que a olhava com carinho. Wave era um bom homem, lembrava-lhe muito Tatsumi, sua inocência em acreditar nos outros e a gigantesca vontade de sempre fazer o certo e o bem. Seria um bom companheiro para Kurome, se ela estivesse viva.
'Por que não me deixa ajudá-la?' Ele perguntou com o olhar quase suplicante. 'Não tem como continuar vivendo como uma foragida. Já se passou muito tempo, Akame.'
Ela se abaixou e colocou a rosa vermelha perto da lápide da irmã. Levantou-se e voltou a fitá-lo com o rosto sereno.
'Eu estou bem. Não se preocupe, por favor.' Respondeu de forma gentil antes de dar um passo para trás. 'Até!' Despediu-se e virou-se, afastando-se do local. Fechou os olhos por alguns segundos e engoliu em seco. Ainda era dolorido demais lembrar-se do que tinha feito, mesmo sabendo que era o certo, principalmente para Kurome.
'Akame!' Ela ouviu a chamando e parou, virando a cabeça e observando Wave pelo ombro esquerdo. 'Mantenha-se viva.' Ele pediu e ela assentiu com a cabeça de leve antes de continuar seu caminho.
Não virou-se para trás novamente, mas sabia que Wave acompanhava-a até ela desaparecer da vista do homem.
Quando estava distante do local procurou o pedaço de papel úmido pela água da chuva que ele havia lhe entregado. Franziu a testa lendo o nome do vilarejo que ficava ao sul do antigo Império.
Estava havendo rumores que criaturas estavam atacando as pessoas e literalmente estraçalhando-as. Ela reconheceu a letra da "Boss". Era uma missão e ela nunca havia recusado uma. Se Najenda resolveu recorrer a ela era porque havia mais do que apenas algumas criaturas que o exército republicano, antes imperial, não pudesse combater. Ela havia lutado contra os soldados no dia da revolução, sabia o quanto eles eram fortes. Além disso, possuíam ainda várias armas imperiais disponíveis e defendendo a Nova República, apesar de saber que algumas estavam sendo indevidamente desviadas por alguns generais do alto escalão e antagonistas dos pensamentos de Najenda.
Franziu a testa de leve. O vilarejo de Tatsumi se localizava ao sul do país e pelo que se lembrava não muito distante do vilarejo indicado por Boss.
Sabia que não era uma armadilha para capturá-la. Se este fosse o objetivo de Najenda por algum motivo, não havia necessidade de mandá-la para tão longe. Talvez, Boss estivesse preocupada com sua segurança e sabendo que os outros generais do exército estavam loucos para ver sua cabeça pendurada em uma estaca no meio da praça principal, estava usando aquela missão para afastá-la do perigo. Isso era uma hipótese a ser considerada… Trincou os dentes, estava justamente no meio de uma investigação sobre o desvio de armas imperiais, não gostaria de se afastar agora da Capital. Droga!
Assim como no período Imperial, havia maçãs podres no exército que instaurou a ditadura militar. O plano de Najenda era que esta ditadura perdurasse pouco, apenas para reerguer um país completamente destroçado pelo ex-Primeiro Ministro louco. A ditadura seria apenas para reorganizar a situação e preparar para as eleições e finalmente instaurar a democracia.
No entanto, uma ala bem grande do exército agia como no Império. Najenda estava tentando de tudo descobrir os traidores dos ideais revolucionários e eliminá-los. Sorriu de lado, ela é quem era a encarregada de arrancar as maçãs podres da macieira. Agir pelas sombras continuava a ser vantajoso e principalmente, necessário para construir o país pelo qual tantos morreram lutando. Ela tinha essa responsabilidade. Não era apenas os crimes de seus companheiros que estava sobre seus ombros, mas o ideal de cada um deles. E ela honraria esta responsabilidade.
Soltou um suspiro, irritada pensando que por outro lado, Boss sabia que nenhum daqueles generais babacas conseguiriam pegá-la. A viagem seria longa. Vários dias, talvez fosse uma boa pegar um cavalo para usar como meio de transporte. Era mais sensato planejar um pouco melhor a viagem. Agora gostaria apenas de chegar em casa e se secar.
Após algumas horas, parou em frente a antiga sede do grupo de assassinos. Não estava conseguindo manter o lugar de forma adequada. Passava mais tempo andando pelo país tentando pelas sombras ajudar Boss e proteger as pessoas comuns contra os demônios que habitavam o país. Demônios e homens tão ou mais perversos que os seres das trevas.
Os Generais estavam a sua caça pois ela já tinha obtido provas e eliminado alguns elementos corruptos da cúpula da república que estavam atrapalhando a evolução do país em prol de seus próprios interesses. No final, não havia muita diferença entre Império ou República… sempre haveria pessoas gananciosas e maldosas que eram capazes de fazer atrocidades contra os mais fracos.
Ras! Aan boord!
(Todos a bordo!)
Essa havia sido a sua decisão quando em vez de seguir as ordens de seus superiores do Império e matar a Ex-general traidora Najenda, aliou-se a ela e aos Night Raid. Faziam o trabalho sujo. Continuou a sujar as mãos de sangue como sempre desde tenra idade. Mas seus alvos seriam escolhidos segundo o seu código de conduta. O seu coração.
The wind across the water
(O vento sobre a água)
Is carrying my words
(Carrega minhas palavras)
Hoping they will reach you
(Espero que elas cheguem até você)
Wishing I'll endure
(Espero suportar)
Soltou um suspiro cansado, entrando pela porta e olhando para o ambiente escuro e vazio. Era estranho como às vezes, em seus delírios devida a imensa solidão que vivia, conseguia ouvir a voz de Leona tagarelando ou de Mine reclamando de alguma coisa, normalmente reclamando de Tatsumi ou Chelsea. Sorriu balançando a cabeça de leve e tirando o sobretudo encharcado. Não acreditava muito em vida após a morte, mas depois de perder tantas pessoas queridas realmente desejava no fundo de sua alma acreditar que eles estariam todos juntos, rindo e se divertindo em algum lugar repleto de paz e felicidade como todos almejavam que seria o país após a revolução.
Caminhou com passos arrastados até o andar de cima, atravessando o corredor iluminado pela lua que começava a surgir atrás das nuvens negras dissipadas pela chuva. Entrou no quarto, passando as mãos pelos braços tentando se aquecer. Jogou a cabeça para trás e a inclinou de um lado para o outro, tentando relaxar os músculos do pescoço. Reencontrar-se com Kurome sempre a deixava tensa.
Era como se realmente revivesse cada segundo daquele dia. Desde o encontro com a irmã na igreja, a conversa, a luta contra o demônio juntas, a luta entre as duas, o momento que atravessou Murasame pelo corpo da irmã e a segurou nos braços antes de morrer. Ela estava com o rosto suave. Um leve sorriso nos lábios. Kurome tinha encontrado a paz. Era isso que precisava acreditar ou enlouqueceria.
Tirou Murasame da cintura e caminhou até o cômodo, colocando-a em cima do móvel. Seus olhos desviaram para o ídolo de barro a poucos centímetros da perigosa katana. Estreitou os olhos no objeto e sorriu de leve.
'Ele também deve estar num lugar maravilhoso.' Sussurrou, sorrindo de leve. Estendeu o braço e pegou o objeto. Sentia falta de todos. Mas sentia muita saudades dele. Fechou os olhos lembrando-se que ele lhe falou que era tempo deles pararem de perder as pessoas que lhes eram importantes. Sorriu de leve lembrando-se quando o abraçou, chorando no peito do rapaz e ele a envolveu com tanto carinho, esperando de forma paciente que ela se recuperasse. Nunca havia recebido tanto carinho de alguém antes. Nunca havia se sentido tão acolhida como havia sentido entre os braços dele.
What I'd give
(Eu daria tudo)
To hold you in my arms
(Para ter você nos braços)
And be together
(e ficarmos juntos)
Though the sea
(Embora o mar)
Has called your name
(tenha chamado por você)
In ever sweet surrender
(Em vez de nos entregarmos)
We will find our way
(Encontraremos nosso caminho)
Soltou um suspiro triste e dolorido. Apertou o ídolo de barro que tinha na mão. Lembrava-se de forma clara dele prometendo que não morreria, que voltaria para casa, custe o que custasse, para que não a deixasse triste. Abriu os olhos e colocou o objeto sagrado no lugar de antes e se afastou.
Ele não pode cumpriu. Desculpou-se antes de morrer nos braços dela. Todos que ela amava, morreram nos braços dela. Justamente por isso decidiu não se aproximar de ninguém mais. Sabia que Wave se preocupava com ela e gostaria de ajudá-la. Najenda também gostaria que estivesse ao seu lado, mas havia decidido afastar-se de todos. Não queria mais passar pelo desespero e pela dor de segurar entre seus braços o corpo sem vida daqueles que lhe eram importantes.
Sentiu um arrepio percorrer sua espinha e os pelos do seu corpo se arrepiarem. Era melhor tirar a roupa molhada, colocar algo seco e quente no corpo ou poderia ficar doente. Também era melhor começar a fazer o jantar e alguma coisa para levar durante a viagem. Agora ela cozinhava sozinha e depois iria jantar sozinha. Sempre sozinha, era o que ela pensava sem saber que estava sendo admirada por um par de olhos verdes.
Your ship has left the harbour
(seu navio zarpou)
On her way to distant shores
(a caminho de destinos distantes)
May her arms protect you
(que ele lhe proteja)
When the gale wind roars
(quando os vendavais rugirem)
'Não deveria estar aqui!' A voz era dura e não escondia o tom de repreensão.
O rapaz de olhos verdes e cabelos claros virou o rosto e soltou um suspiro desencostando-se da parede onde estava com os braços cruzados.
'Estou de saco cheio de você no meu pé.' Respondeu irritado. 'Não estou fazendo nada demais.' Esclareceu ao seu supervisor que volta e meia sempre lhe atrapalhava quando descia para pelo menos "vê-la".
Miguel franziu a testa, encarando-o. 'Deveria já ter superado este tipo de desejos carnais, Azrael!'
'Deveria já ter superado muitas outras coisas.' O rapaz rebateu. 'Já fiz o que me mandou. Fui rápido como sempre. Posso fazer o que eu quiser enquanto não tenho nenhuma outra missão.'
'Não está certo você ficar estreitando-a. Ela é seu alter-ego. Não deve sentir isso por ela.'
Tatsumi encarou-o com o rosto sério. 'E o que acha que eu sinto por ela? Você sabe do que está falando?'
'Você voltou a ser um arcanjo. Não é mais um homem que sente desejo por uma mulher e principalmente que fica estreitando-a enquanto ela troca de roupas.'
'Vá a merda.' Ele respondeu contrariado, afastando-se do seu supervisor.
Estava para atravessar a parede, mas antes olhou para trás e sorri de leve observando Akame prendendo os cabelos como sempre fazia antes de começar a cozinhar. Lembrava-se que era uma das poucas oportunidades que tinha para admirar o pescoço dela. Como se arrependia de não ter beijado-o quando estava ainda vivo. Soltou um suspiro, finalmente saindo do local e pousando no gramado caminhou com passos duros, sabendo que estava sendo seguido por Miguel. Inferno!
'Se continuar assim acabará caindo!' Ouviu seu supervisor. 'Novamente!'
'Quem sabe não é exatamente isso que eu quero.'
Miguel segurou o braço dele, obrigando-o a parar de caminhar e encará-lo. 'Você tem um potencial enorme…'
'Para matar…' Ele o interrompeu. 'Você já me falou isso.' Concluiu entre os dentes. 'Eliminei aqueles malditos demônios que estavam tentando sair do plano inferior. Já fiz o que me mandou. Me deixe em paz agora! Anjos também deveriam ter momentos de paz, não?'
O arcanjo sentiu o tom debochado e trincou os dentes.
'Sabe muito bem que Luxúria é pecado para humanos e principalmente para seres como nós. Se continuar com essa obsessão por essa guardiã ficará estagnado, entendeu?'
Tatsumi ergueu o queixo de forma desafiadora. 'Desde que eu cumpra com a minha obrigação, o que eu faço não é da conta de ninguém… muito menos da sua.' Falou e puxou o braço com força, afastando-se de Miguel.
O par de asas apareceu nas costas dele que flexionou os joelhos de leve antes de levantar vôo e voltar para o que agora era sua casa, apesar de não ser o que considerava. O que queria era apenas ficar ao lado dela, mesmo que ela não pudesse vê-lo nem ouvi-lo. Queria apenas estar com ela, já que não poderia tê-la mais em seus braços. Nunca mais.
What I'd give to hold you
(Eu daria tudo para segurá-lo)
In my arms and be together
(em meus braços e ficarmos juntos)
On the sea of hope we sail
(Navegamos no mar de esperança)
Calling saints and angels
(clamando por santos e anjos)
To guide you on your trail
(Para guiá-lo em sua viagem)
Akame ajeitou o capuz que cobria sua cabeça. Olhava de relance para a floresta que beirava a estrada de terra a qual galopava com o animal que havia comprado alguns dias atrás. Era um bom animal, forte e resistente para que a ajudasse a chegar mais rápido em seu destino.
Uma carroça com uma família de camponeses passou por ela e a cumprimentaram de forma alegre. Ela foi comedida. Não poderia encará-los ou as manchas em seu rosto e corpo, apesar de claras, poderiam chamar a atenção e levantar suspeitas com relação a ela. Seria melhor manter-se discreta. Estava tentando entender ainda porque Boss havia lhe enviado para aquela missão.
Voltou a ficar sozinha na estrada de terra, diminuiu o galope do animal puxando as rédeas de leve. Tinha algo errado. Sentia quando o perigo estava próximo, seu sexto sentido nunca havia falhado.
Olhou de esguelha para a direita e conseguia perceber a presença de alguns demônios. Olhou para a esquerda e também conseguiu perceber as mesmas presenças. Eram muitos. Tocou a mão de leve em Murasame. Estranhou eles não a atacarem. Olhou para frente e viu a entrada do vilarejo.
Diminuiu mais ainda o galope do cavalo, ao perceber que inevitavelmente havia chamado a atenção das pessoas humildes que habitavam aquele lugar. Puxou as rédeas, fazendo o animal parar e desceu com desenvoltura. Caminhou devagar observando o lugar e logo encontrou o que parecia uma hospedaria. Estava se dirigindo até ela quando sentiu alguma coisa batendo em sua perna direita. Franziu a testa observando a bola.
Logo estreitou os olhos no grupo de garotos que não deveriam nem ter mais de 10 anos cautelosos em se aproximarem dela para pegar a bola e continuar a brincadeira.
Akame abaixou-se e pegou a bola com as duas mãos. Inclinou a cabeça de leve e sorriu de leve. 'É de vocês, não?'
Um dos meninos deu um passo a frente, dava para perceber que ele estava com medo. 'Desculpe, moça. Poderia devolver?'
Ela rodou a bola nas mãos e encarou o menino. Crianças… elas são sempre as mais honestas.
'Claro…' Respondeu. 'Mas se você me responder se o que eu andei escutando sobre alguns demônios nesta região é verdade ou não.'
Os olhos do garoto se arregalaram. Os outros meninos também se mostraram tão surpresos quanto o que se mantinha à frente do grupo.
'Não deveria se meter nisto, moça. Pode ser perigoso para você.' Finalmente ele lhe respondeu algo.
Ela deu um passo à frente e se inclinou de leve para que seu rosto ficasse na altura ao do menino. 'Por que eles só atacam a noite?'
'Não fala nada, Akin!' Um dos garotos alertou o amigo. 'Não sabemos quem é ela.'
Akame desviou os olhos do menino e encarou o intrometido que deu se afastou, tremendo mais ainda de medo dela. Encarou novamente o que parecia ser mais corajoso e sorriu de leve. 'Que acordo os adultos fizeram para não os atacar durante o dia?' Perguntou com a voz suave e estendeu a bola para ele que a pegou sem desviar os olhos da desconhecida. Os dedos infantis tocaram de leve os dela e ela percebeu que ele estava tremendo.
'Três crianças. Meninas. Todas as noites.' Ele sussurrou e pegou a bola finalmente se afastando dela e indo de encontro com os colegas que correram para voltarem com a brincadeira.
Akame ergueu o corpo observando-os, olhou ao redor e reparou que realmente havia bem mais meninos brincando no lado de fora que o normal naquele tipo de vilarejo. Teria que esperar a noite, mas ainda não conseguia entender exatamente o que estava acontecendo. Tinha percebido muitas presenças, porque eles haviam exigido três meninas. Apenas três. Que tipo de demônios ou criaturas estaria para enfrentar?
Pegou as rédeas do animal que a acompanhava e começou a puxá-lo em direção a hospedaria. Estava com fome. Muita fome. Não percebeu nenhuma presença militar, nada. Najenda não permitiria que estivesse ocorrendo assassinatos sequenciados de meninas sem tomar nenhuma atitude.
Entrou no local e tirou o capuz da cabeça. Foi até o balcão e jogou algumas moedas sobre ele pedindo o prato do dia.
'Qualquer um que tenha carne.' Ela alertou para o senhor atrás do balcão.
Tocou Murasame de leve e reparou quando pararam atrás dela. Droga. Ela pensou que poderia ter pelo menos tido tempo para comer. Estava com fome e isso a deixava de muito mau humor.
'Então mandaram você?' Ouviu a voz masculina. 'A Assassina da Revolução.'
Ela suspirou sem se virar. 'Estou querendo apenas comer algo em paz.'
Ouviu um barulho surdo ao seu lado e apenas virou os olhos observando o rosto de um senhor, olhando-a com fúria. 'Acha mesmo que só você conseguirá detê-los? Eles vão matar a todos nós assim como mataram o vilarejo vizinho.'
Ela franziu a testa. O vilarejo vizinho era o de Tatsumi, estava pensando em passar por lá depois que finalizasse a missão dada por Najenda. Finalmente virou-se para o homem encarando-o com os olhos frios. 'De que merda você está falando?'
'Os militares tentaram acabar com eles enquanto estavam apenas atacando o vilarejo vizinho. Mataram todos! Todos!'
'Não queremos isso! Já temos um acordo. Vá embora e não se meta nisto.' Outro falou.
Ela cerrou os punhos. 'O vilarejo… Ele foi…'
'Ele foi totalmente dizimado.' O velho a cortou. 'Não sobrou ninguém, nenhum civil, nenhum militar, nem mesmo um animal conseguiu escapar deles.'
'Não se meta nisto. Vá embora e não interfira. Não queremos acabar como eles.'
'Estão mandando crianças como sacrifício.' Akame falou entre os dentes.
Os homens a fitaram e silêncio, dava para perceber o desconforto e a raiva deles, mas também o medo. Muito medo.
'O vilarejo ao lado estava prosperando. Haviam ganhado um quantia enorme de dinheiro. Estavam se recuperando dos tempos de miséria e fome. Estavam inclusive nos ajudando… Mas aí eles chegaram e mataram todos!'
'Eles quem?'
'Os três supostos heróis.'
'Os que enviaram dinheiro, agora vieram cobrar o que deram. Cobrar com sangue e morte.'
'De que merda estão falando?'
'Tatsumi, Sayo e Ieyasu!'
Agora foi a vez de Akame bater o punho no balcão fazendo inclusive um barulho muito mais alto e a madeira trincar. Ela se levantou, sem tirar os olhos do velho.
'Está falando merda, velho. Os três estão mortos.'
'Viraram demônios.'
'Não sejam idiotas! Existem muito mais do que apenas três criaturas rodeando vocês.' Ela falou entre os dentes, tentando manter a calma, mas sua vontade era cortar o pescoço do velho a sua frente por falar tamanha merda. Tatsumi tinha morrido para salvar centenas de pessoas. Salvou o país daquele Imperador louco e do porco do Primeiro Ministro. 'Deixe os mortos descansarem em paz. Não repasse para eles a covardia e medo de vocês. Eles morreram sofrendo demais para serem injuriados desta forma.' Ela voltou-se para o senhor atrás do balcão que acompanhava a discussão. 'Onde está a merda do meu almoço?'
O homem correu para cozinha e trouxe o prato com a refeição. Akame pegou um dos guardanapos e embrulhou sua comida. Não queria comer olhando para o rosto daqueles idiotas.
'Não estamos inventando nada!' Um dos homens falou fazendo-a reter-se na porta do estabelecimento. 'Eu mesmo vi os três e foram eles que vieram até nós exigir três sacrifícios por noite para evitar dizimarem todos.'
'Você disse que os viu?' Ela perguntou sobre o ombro direito. 'Diga-me... um deles tinha olhos verdes?'
Nenhum respondeu a pergunta dela. Ela soltou um suspiro cansada. 'Não manchem a imagem de quem morreu para salvá-los.'
'Então quem são os três?' Insistiram.
Akame sorriu de leve. 'Isso não importa. Todos eles... serão eliminados.' Ela respondeu saindo do local, deixando todos em silêncio apavorados.
Ras! Aan boord trossen los!
(Todos à bordo! Vamos zarpar!)
One look at you and you
(Apenas olhar para você e você)
Light up the sky and my emotions
(ilumina o céu e minhas emoções)
Akame respirou fundo, soltando o ar devagar. Estava apoiada no galho de uma das copas das inúmeras árvores da floresta que cercava o vilarejo. A lua cheia dava ótima visibilidade para ela. Respirou fundo e soltou o ar devagar novamente.
Estreitou os olhos no grupo que caminhava em direção a estrada. Três meninas com cerca de 10 anos estavam a frente, encolhidas e chorando. Atrás delas, seguiam um grupo de homens.
Trincou os dentes, lembrando-se de quando ela e a irmã foram levadas para a tal iniciação e soltas na floresta para enfrentarem o frio, a fome e a morte. Haviam sobrevivido àquele maldito teste para depois serem separadas e treinadas como assassinas.
'Fiquem aqui.' Um dos homens falou de forma dura para as meninas que se abraçavam apavoradas.
'Vamos embora… Logo eles chegarão…' Ouviu outro resmungar, literalmente apavorado.
Akame desceu da árvore com a agilidade de um gato sem chamar atenção, observando os homens correndo para dentro do vilarejo onde acreditavam estar seguros.
"Covardes idiotas" Pensou, erguendo o corpo e levando a mão até Murasame que estava presa à sua cintura. Olhou sobre o ombro esquerdo, sentindo a presença dos demônios que se aproximavam de suas "oferendas". Teria que ser rápida.
Caminhou até as três garotas, que a olharam mais apavoradas, pensando que se tratava do inimigo.
'Corram.' Ela ordenou com a voz firme e baixa.
Uma das garotas levantou o rosto molhado e a encarou. 'Q-quem é você?'
Akame virou de costas para elas e soltou a lâmina de Murasame da bainha com o polegar. Estreitou os olhos nos vultos que começavam a se aproximar.
'Corram agora ou vão morrer aqui.' Ela alertou mais uma vez e ouviu os passos infantis atrás de si. Não desviou os olhos dos seres que se aproximavam e logo a luz lunar fora capaz de mostrar a ela quem eram os inimigos.
Tinham a forma humana. Eram homens e mulheres. Arregalou os olhos de leve ao perceber nas marcas pelos corpos similares às que ela mesma tinha marcadas no seu próprio corpo. Segurou a empunhadura da katana, apertando-a entre os dedos. Eram muitos.
Eles pararam observando-a também com o mesmo interesse. Um deles foi a frente e abriu um sorriso para ela. 'Oras se não é a humana que conseguiu controlar Murasame.'
Akame franziu a testa e flexionou de leve os joelhos, já em posição de se defender de qualquer ataque.
'Será que realmente ainda é humana?' Ele perguntou sem desviar os olhos dela. 'Por que não se junta a nós já que as marcas em seu corpo mostram que é uma de nós.'
'Humph.' Ela murmurou incomodada. 'Não deveriam estar aqui.'
'Não voltaremos para aquele inferno.' Ele falou olhando em volta. 'Agora entendo porque Murasame era tão fascinado pelos humanos.' Fitou a jovem novamente e abriu um sorriso perigoso. 'O sangue humano é maravilhoso. Corromper a alma humana é por demais prazerosa. Quanto mais inocente… mais fascinante.'
Ele deu alguns passos na direção dela sem desviar os olhos negros com a íris vermelha da assassina. 'Venha… junte-se a nós.'
Akame abaixou de leve a cabeça, flexionando mais os joelhos para pegar impulso e avançar em direção ao seu alvo. Desembainhou Murasame e, com velocidade sobrehumana, retalhou o demônio em questão de segundos. Os pedaços dele caíram ao chão formando uma poça de sangue perto dela que apontou a espada para os outros.
Jogou a katana para cima, pegando a empunhadura da espada ao contrário. Ao mesmo tempo em que os inimigos corriam na direção dela, tentando agarrá-la e abocanhá-la, a jovem os atacou, girando o corpo e golpeando-os com a afiada lâmina de sua arma imperial. Virou o corpo, jogando a cabeça para trás de leve para evitar de ser atingida por um dos demônios e segurou mais firme a espada, levantando-a para cortá-lo, literalmente, ao meio de baixo para cima.
Girou novamente o corpo, tentando escapar das investidas de vários adversários ao mesmo tempo e saltou por cima deles, golpeando-os com poderosos chutes enquanto as estocadas de sua katana contra eles tornavam-se cada vez mais precisas e violentas. O local da floresta onde a batalha de uma assassina contra o enorme grupo de demônios acontecia já estava repleto de poças de sangue pelo chão.
Akame sabia que não adiantava apenas acertá-los com Murasame. Eram demônios, com almas corrompidas. O veneno de sua arma imperial era inútil contra eles, seus golpes deveriam ser mais potentes e certeiros se quisesse sair viva daquele confronto.
Saltou por cima de um deles, pisando em sua cabeça para conseguir escapar da investida de outros que tentavam agarrá-la. De sua posição superior, estreitou os olhos nele, girou o corpo de forma ultra-rápida com a espada a sua frente, descendo em direção aos demônios para cortá-los em pedaços. Tocou o chão e rolou para a direita, novamente escapando de múltiplos ataques.
Sentiu a respiração ofegante pelo cansaço físico. Eram muitos e os golpes tinham que ser fortes para retalhá-los ou não deixariam de existir. Trincou os dentes, constatando que por mais que tivesse eliminado vários, ainda restavam muitos. Viu-se cercada por todos os lados.
Não conseguiria enfrentá-los de forma eficaz se também ficasse se preocupando em evitar que a atingissem, contaminando-a pelo veneno que carregavam em seus corpos.
Ergueu o corpo, seria melhor finalizar de uma vez com aquilo. Sabia que tinha que ser comedida ao usar aquele recurso, a única vez que o usou antes foi quando lutou contra Esdeath. Sabia que, quanto mais o utilizasse, mais se aproximaria da natureza daqueles contra quem lutava, afastando-se de sua humanidade.
Ponderou de forma rápida que o risco de controlar a corrupção de Murasame era menor do que lidar com o veneno daqueles que a cercavam.
Levantou a mão esquerda, aproximando a katana de sua palma para fazer o corte em sua pele e transformar-se temporariamente. Eliminaria todos aqueles demônios e salvaria a vida dos habitantes do vilarejo, além de vingar aqueles que foram dilacerados por eles. Essa era sua missão. Sorriu de leve, pronta para se cortar quando sentiu segurarem seu pulso esquerdo, afastando sua mão da lâmina de Murasame.
Virou o rosto assustada por não ter percebido a aproximação de qualquer inimigo, porém sua surpresa foi maior do que se tivesse sido alcançada por um dos demônios.
Arregalou os olhos e entreabriu os lábios sem conseguir acreditar que o rapaz de cabelos claros e olhos verdes estava ao seu lado. Ele estava morto! Ele havia morrido nos seus braços! Como podia estar ali?
'Não faça isso.' Ouviu a voz dele ainda sem conseguir acreditar. Sentia a mão dele segurando seu pulso com força, forçando-a a se afastar da lâmina.
Hijs Het zeil anker op!
(Içar a vela, levantar âncora)
Return to me from the mist
(Volte para mim da névoa)
Of the endless sea
(Do mar sem fim)
'Ta-Tatsumi…' Balbuciou finalmente.
Ouviu a aproximação dos adversários e sentiu quando ele a puxou para desviarem do ataque dos demônios, evitando que fossem atingidos.
Balançou a cabeça de leve, tentando entender o que estava acontecendo. Quem sabe fosse uma alucinação de algum dos inimigos que a atingiu sem que ela percebesse.
'Eu estou com você, Akame.' Ele falou, finalmente soltando o pulso dela e segurando a espada que tinha em mãos a frente do corpo. 'Vamos mandá-los de volta para o inferno.'
Ela sorriu de leve. Talvez estivesse realmente sonhando ou tendo alguma alucinação de que ele estivesse ao seu lado. Não importava agora. Franziu a testa de leve, estreitando novamente os olhos no grupo e ficando na posição para reiniciar a batalha.
Sua mente voltou a se concentrar na sua missão de eliminar todas aquelas criaturas que estavam matando em seu país. Abaixou-se de leve, tocando a mão no chão e, novamente, pegou impulso para de forma rápida e mortal avançar sobre eles, golpeando-os com fúria de forma precisa. De forma sutil e com maestria, desviava de qualquer tentativa de acertá-la.
I vow to be courageous
(Prometo ser corajosa)
Not allow myself undone
(Não permitir que se forme)
A gentle storm within me
(Uma tormenta dentro de mim)
My vigil has begun
(minha vigília começou)
Apesar de tudo, não teve como seus olhos não cruzarem com os olhos verdes de Tatsumi que também lutava de forma violenta contra a outra parte do grupo. Ele estava mais rápido, ela constatou de forma satisfeita e orgulhosa.
Inclinou o corpo para trás, novamente evitando de ser atingida, flexionou a perna esquerda, pegando impulso e girando o corpo para acertar o demônio que tentara acertá-la. Ele não teve tempo de entender o que aconteceu nem de se levantar e ela já estava passando a mortal lâmina acima de seus ombros, decapitando-o.
Sentiu novamente a respiração ofegante pela luta intensa que travava com o que parecia ser um exército inteiro. Sentia a mão que segurava a empunhadura de Murasame melada de sangue. Nunca havia retalhado tantos inimigos de uma só vez.
Olhou para trás, sobre o ombro direito e arregalou os olhos de leve ao constatar que um dos demônios estava para golpeá-la pelas costas. Antes mesmo que pudesse desviar da emboscada, viu-o ser cortado ao meio de cima a baixo e os dois lados do antigo corpo humano caíram ao chão.
Observou Tatsumi erguer o corpo devagar depois de golpear o último deles. A espada que ele tinha na mão direita também estava com a lâmina coberta de sangue assim como a lâmina de Murasame.
Fitaram-se em silêncio, apenas ouvindo o vento que circulava pela floresta e não mais os ruídos das espadas golpeando sem trégua e os últimos gemidos dos adversários abatidos pelos dois assassinos. Também conseguiam ouvir as respirações ofegantes de ambos, que aos poucos se normalizavam, depois da batalha intensa sem conseguirem desviar os olhos um do outro.
'Akame…' Ele sussurrou e sorriu de leve.
Ela mordeu de leve o lábio inferior e, ao mesmo tempo que sentia a adrenalina diminuir, sentia-o tremendo sem motivo aparente.
'Tatsumi.' Ela conseguiu que o nome dele saísse de seus lábios enquanto seus olhos ardiam, mesmo ela lutando para não chorar na frente dele.
Ele deu um passo a frente e parou mais próximo a ela, levantando o braço para tocar de leve o rosto dela e secar com o polegar as lágrimas que saíam do canto dos olhos. Era bom demais sentir novamente a pele aveludada do rosto dela.
Os dois soltaram as espadas ao mesmo tempo, deixando-as cair no chão e se abraçaram com força. Akame abraçou-o pela cintura, sentindo-o envolvê-la de forma carinhosa.
What I'd give to hold you
(Eu daria tudo para segurá-lo)
In my arms and be together
(em meus braços e ficarmos juntos)
Though the waves have drown you in
(Mesmo que as ondas afogarem)
My everlasting love for you
(meu eterno amor por você)
Will keep you safe within
(Mantê-lo-á seguro)
Akame pensou que nunca mais poderia estar no único lugar onde se sentiu tão amada. Não conseguia controlar as lágrimas que saíam de seus olhos como da outra vez que ele a abraçou daquela forma, mas diferente de quando ele a confortava pela morte da irmã, agora ela chorava de alegria e emoção por voltar a senti-lo. O cheiro dele era tão bom, afundou o rosto no peito dele sentindo-se aquecida e acolhida. Como havia sonhado e desejado voltar a se sentir daquela forma. Viva e não apenas um corpo vazio e que tentava apenas continuar a matar como obrigação. Senti-se aconchegada daquela forma voltava a fazer seu coração palpitar e lhe mostrar que ainda era capaz de amar.
Sorriu apertando-o entre seus braços quando percebeu que ele beijava demoradamente sua cabeça.
Ras! Aan boord trossen los!
(Todos à bordo! Vamos zarpar!)
One look at you and you
(Apenas olhar para você e você)
Light up the sky and my emotions
(ilumina o céu e minhas emoções)
Ele respirou mais fundo voltando a sentir o perfume dos cabelos negros. Fechou os olhos aproveitando melhor o imenso prazer de sentir o pequeno e frágil corpo dela contra o seu. Como ele desejava mantê-la para sempre entre seus braços. Como deseja voltar a sentir o corpo quente de Akame e não apenas observá-la sem nunca poder tocá-la.
'Estava com saudades…' Ele murmurou ao ouvido dela.
'Eu também.' Ela respondeu de volta sem conseguir acreditar que estava novamente sentindo-o entre seus braços.
Se era um sonho, não queria acordar. Se era uma alucinação queria continuar intoxicada…
Subitamente, deixou de senti-lo entre seus braços e perdeu o apoio do corpo do rapaz, caindo no chão. Espalmou as mãos a frente e sentiu os joelhos baterem no chão de terra melada de sangue.
Abriu os olhos e voltou-se para trás, olhando para Tatsumi que se virou devagar para voltarem a se fitar. Ele trincou os dentes e cerrou os punhos.
Akame se levantou devagar sem desviar os olhos dele, ainda tentando entender o que tinha acontecido... o que estava acontecendo. Alguns segundos atrás estava nos braços dele, sentindo o calor do corpo dele contra o seu e agora sentia apenas o frio cortante daquela noite.
Hijs Het zeil anker op!
(Içar a vela, levantar âncora)
Return to me from the mist
(Volte para mim da névoa)
Of the endless sea
(Do mar sem fim)
You'll be back from the endless sea
(Você voltará do mar sem fim)
'Eu sinto muito, Akame…' Ele novamente se desculpou, sem esconder a decepção de não mais tê-la entre os seus braços.
Ela estendeu a mão na direção dele que fez o mesmo. Foi então que ela finalmente se deu conta do que estava acontecendo. Apesar de parecer que poderia tocá-lo se estendesse a mão, não o sentia mais. Era como um espectro a sua frente, uma ilusão.
Ras! Aan boord trossen los!
(Todos à bordo! Vamos zarpar!)
One look at you and you
(Apenas olhar para você e você)
Light up the sky and my emotions
(ilumina o céu e minhas emoções)
'Que merda está acontecendo?' Akame perguntou sem conseguir conter as lágrimas de decepção e desespero agora.
'Eu vou estar sempre ao seu lado.' Ele respondeu sentindo o bolo se formar em sua garganta ao vê-la chorando na sua frente. Abaixou os rosto também sentindo os olhos arderem.
Akame tentou mais uma vez tocá-lo, mas sua mão passou por ele. Estava realmente diante de um fantasma. Ela deu um passo para trás, tropeçando num dos pedaços dos inimigos que os dois dizimaram e quase caindo. 'Por que isso? Por que, Tatsumi?!'
Ele levantou o rosto para ela e trincou os dentes. 'Estamos em planos diferentes… Eu estou morto!' Gritou. 'Sou um maldito fantasma!'
Akame balançou a cabeça de leve, voltou a dar um passo à frente para tocá-lo. Pouco tempo atrás estavam abraçados, o que tinha acontecido? Que brincadeira era aquela? Que merda estava acontecendo? Mostrava-se desorientada e confusa.
Ela fechou os olhos e abaixou o rosto sentindo as lágrimas rolarem pelo belo rosto de forma livre.
Ele tentou novamente tocá-la e tentar secar as lágrimas dela mas assim como tinha acontecido com Akame sentiu sua mão passa pelo corpo dela. Trincou os dentes novamente e levou uma das mãos até o rosto.
Hijs Het zeil anker op!
(Içar a vela, levantar âncora)
Return to me from the mist
(Volte para mim da névoa)
Of the endless sea
(Do mar sem fim)
'Inferno.' Ela o ouviu sussurrar, chamando sua atenção. Voltou a fitá-lo e o viu com a mão no rosto tentando se controlar também pela situação em que estavam. Ele abaixou a mão, encarando-a nos olhos sem esconder também as próprias lágrimas. 'Este é o nosso inferno, Akame.'
Ela arregalou os olhos, vendo-o desaparecer aos poucos da sua frente. Foi até ele tentando segurá-lo, mas seus braços apenas cruzaram o ar.
'Você prometeu!' Ela gritou. 'Tatsumi!' Chamou-o mais uma vez antes que ele desaparecesse completamente da sua frente. Caiu de joelhos no chão e gritou de frustração, raiva e tristeza. 'Você… prometeu…' Sussurrou baixinho.
Akame não podia ver e nem sentir sua presença, mas observando-a com o mesmo misto de sentimentos que ela, o arcanjo permanecia atrás dela.
You return from the endless sea
(Retorne do mar sem fim)
Najenda observava com o rosto sério a vista da enorme janela da sede da republica construída onde anteriormente era o palácio Imperial, destruído durante a revolução justamente pela teigu gigantesca controlada pelo último Imperador.
Atrás dela havia vários militares discutindo de forma incessante. Alguns gritavam e ameaçavam fisicamente uns aos outros. Ela era autoridade máxima da República e deveria intervir naquela confusão, mas estava preocupada demais com seu principal soldado. Faziam dias que não recebia notícias de Akame. Sabia o quanto a assassina era rápida em suas missões e aquela demora em receber notícias estava lhe deixando tensa.
Já havia perdido muitos homens para o que quer que estivesse acontecendo no sul do país. Recorreu a Akame porque os rumores eram os mais terríveis possíveis. A República estava num momento complicado, e a questão do sul poderia acabar aumentando a crise devido a grande perda de homens.
'General Najenda.' Ouviu a voz de Wave e virou o rosto desviando da vista da janela e observando-o pelo ombro esquerdo. Estava sentada numa cadeira de rodas. Seus movimentos estavam limitados. Sabia que seu fim estava próximo. Havia dado parte da sua energia vital para Sussano quando este lutou contra Esdeath.
Não falaram nada um para o outro, mas pelo rosto tenso do homem sabia que ele também estava preocupado com Akame. Ela tinha contado a ele que havia solicitado ajuda dela para a questão por isso não enviou mais homens para conter a situação.
Najenda deu um suspiro, estava totalmente alheia a gritaria dos militares atrás de si. Run tentava manter a ordem, mas seu tom já começava a mostrar irritação com relação a conduta deles.
'Nenhuma notícia?' Wave não conseguiu segurar.
Najenda apenas voltou-se novamente para a vista da Capital e fez um gesto leve negando com a cabeça. Levantou o braço mecânico e colocou um cigarro na boca, acendendo-o em seguida. Deu uma longa tragada e soltou a fumaça devagar. Os médicos mandaram ela parar de fumar, mas simplesmente ignorou aquela orientação.
A experiente ex-revolucionária olhou de soslaio para o relógio de pulso e novamente levantou os olhos para um ponto específico da paisagem. Forçou a vista e viu o primeiro sinal luminoso e fraco. "Missão Recebida". Segundo sinal. "Missão Aceita." Terceiro sinal. "Missão concluída". Aguardou mais alguns segundos esperando pelo quarto sinal que significava que ela estaria ferida ou precisaria de ajuda. Nada. Ficou até mais tempo do que o combinado pelo código delas.
Sorriu de leve, ao mesmo tempo que dava uma última e prazerosa tragada e em seguida apagar o cigarro no cinzeiro mesmo ainda estando pela metade.
Virou-se para Wave com um brilho intenso nos olhos. 'Vamos rapaz! Vamos controlar estes velhos enlouquecidos. A missão no sul foi concluída com sucesso…'
Wave olhou para o rosto satisfeito de Najenda sem entender. Franziu a testa e estava para perguntar do que ela estava falando quando se deu conta. Balançou a cabeça de leve. 'Como pode ter certeza?'
Najenda mexeu nos controles da cadeira que usava para se movimentar. 'Simplesmente porque nunca a missão enviada a ela não é finalizada. Lembre-se sempre disse, Wave. Isso poderá salvar sua vida.' Respondeu para o rapaz que a observou afastando e já falando com voz assertiva para os militares se calarem.
Wave desviou os olhos de Najenda e voltou a fitar a paisagem da Capital. Respirou fundo soltando o ar devagar. Sabia de quem exatamente ela estava falando, e sabia principalmente que ela estava certa. Akame sempre seria o principal soldado daquele país.
Notas finais: Este é uma oneshot isolada que temporalmente se passa depois do final do Anime Akame ga Kill e antes da entrada dos personagens na história de Feiticeiros. Considerei conforme os exemplos de nossa história que após a queda do Império pelos revolucionários, uma República Militar foi instaurada e infelizmente ainda não democrática.
Considerei que depois da morte de Tatsumi e considerando o autosacrificio que ele fez para salvar os civis arriscando sua vida para parar a Teigu Imperial, ele está numa situação espiritual singular. Cada um acredita no que quer em relação vida após a morte.
A premissa que eu trabalho é de multi universos paralelos assim como a teoria das cordas, onde acima deles há o plano espiritual superior (paraíso, céu…) e abaixo deles o plano base inferior (o inferno, mundo das trevas…). O universo de Akame ga Kill seria considerado um universo primitivo onde humanos e demônios lutam por espaço.
Espero que tenham gostado. Tem outros ones planejado que são inspirados em algumas cenas específicas da história de Feiticeiros e que apenas trabalho melhor no contexto de Akame Ga Kill. Vou publicando conforme os capítulos da história principal serão publicados.
Dúvidas, discussões, reclamações… enfim… comentários, por favor. Lembrando que comentários ofensivos e intolerantes serão deletados e ignorados.
Obrigada
