Asilo de Granite Falls

Granite Falls, Minnesota

20 de agosto, 1994, 11h14 p.m.

Suas mãos tremeleavam enquanto a mulher idosa tentava amarrar a fita vermelha em torno do próprio pescoço, gesticulando à guisa de desespero. Os movimentos espasmódicos de suas mãos espantosamente não se deviam a motivos de moléstia, como desconfiaria alguém que olhasse de fora; e sim devido ao mais puro e primitivo medo.

Em algum momento, com os braços e dedos rígidos após vários minutos de tentativas frustradas, a mulher finalmente conseguiu dar um nó na fita vermelha, prendendo alguns fios de cabelo no processo. Fios brancos mas que nunca ficaram ralos, indicando que na juventude eram grossos e escuros.

Seus ouvidos, mesmo não sendo mais tão aguçados como antes, ouviram passos lentos no corredor. Ousando tirar os olhos da janela, ela virou o rosto em direção à porta. Viu surgir um rosto no vidro da janelinha quadrada.

Era o enfermeiro, que todas as noites passava por sua porta, verificando se tudo estava como deveria. Danny Ashburn, homem gentil, mas que já começava a sentir o cansaço pelo trabalho que exercia há mais de vinte anos, abriu a porta, percebendo quase por intuição que algo estava fora do lugar.

"Sra. Brown, está tudo bem?" indagou, adentrando o quarto.

Ela estava com o corpo rígido, sem ousar se mover. Seus olhos se voltaram na direção da janela e se fixaram em algo lá fora, lagrimejados por não ousaram piscar.

Seguindo a direção dos olhos dela, Danny buscou encontrar o que ela parecia olhar tão atentamente à medida que dava passos lentos em direção à janela, como que para se certificar de que não havia nada lá fora. Movendo a cortina o suficiente para espiar, ele reprimiu um gemido ao ver uma sombra passar apressadamente a sua frente. Sentindo seus batimentos acelerarem, ele se virou na direção da senhora, temendo que ela também tivesse sido alarmada pela sombra. Ela estava ainda mais agitada, apontando um dedo trêmulo para algo lá fora. Ele engoliu em seco, inconscientemente, e olhou novamente através da janela. Desta vez notou um gato miando. O animal entrou então em uma moita e desapareceu na escuridão.

Danny balançou a cabeça repetidas vezes por inconformidade, sorrindo aliviado por ter se assustado com o maior cliché de filmes de terror. Ele assistira a muitos na juventude. Um prazer que ficara quinze anos no passado. Perguntava-se com frequência se as reprises de realities shows e novelas aos quais assistia quase todas as tardes fora influência de sua esposa ou se ele realmente mudara tanto.

"Não há nada lá fora, Sra. Brown" disse com calma e paciência. Como um pai que garante ao filho que não há um monstro debaixo da sua cama.

"As colinas" ela disse, a voz alquebrada.

Ele se voltou mais uma vez para a janela para se certificar de que estava apropriadamente fechada. Nos próximos instantes, tentou convencer a idosa a ir se deitar na cama, porém ela se recusava.

"A senhora não pode ficar sentada nesta cadeira a noite inteira. Não vai fazer bem para a sua coluna."

Após longos minutos de insistência e paciência, ela finalmente se deixou convencer.

"Eu vi um vulto" ela murmurou no ouvido dele quando ele se abaixou para apertar as cobertas em volta do corpo frágil dela.

"Vou pedir para os seguranças darem uma olhada" ele disse, apaziguadoramente. "Garantir que ninguém tenha entrado ou tentado sair."

Ela chacoalhou a cabeça em negativa. "Era pequena."

Ele parou por alguns instantes, com as sobrancelhas franzidas. Nunca a vira agir daquela forma. Por mais frágil que seu corpo estivesse, Jacy Brown continuava sendo tão lúcida quanto sempre fora. Perguntou-se se de fato havia alguém – ou algo – lá fora. Ele então percebeu a fita envolta apertadamente no pescoço dela.

"É melhor tirarmos essa fita, sra. Brown. Se não a senhora pode acabar se machucando."

Mas antes que ele pudesse achar o nó, ela segurou o pulso dele com forma acima da que parecia possuir.

"Não!"

Ele viu os olhos arregalados e limpos dela e sentiu um arrepio subir pela espinha. "Vou colocá-la de novo, só que mais frouxa."

Ela soltou seu punho. "Não" disse com a voz novamente baixa. "Assim está bom" ela fechou os olhos, parecendo se acalmar.

Danny lhe desejou boa noite, e após se voltar para ela uma última vez, deixou os aposentos.

Os olhos dela se voltaram pela última vez para através da janela.

*toca música tema*