Disclaimer: Cavaleiros do Zodíaco e todos os personagens relacionados pertencem a Masami Kurumada.

O personagem Filippo me pertence.

Não tenho nenhum lucro com as minhas fics.


AS MARCAS DE UM ANJO

por Nina Neviani

Capítulo I – Anjos não existem

Onze horas da noite. "Se eu me apressar consigo pegar o metrô que sai daqui a quinze minutos"

– Ah, querida que bom que você ainda está aqui! Será que você pode me fazer um favor?

Mal terminou de ouvir a voz da mulher e já sabia o que a colega de profissão iria pedir. Pediria para que cobrisse o seu turno por meia hora. Essa não era a primeira e certamente não seria a última vez. Mas a entendia, imaginava que não era fácil ter um filho pequeno e um trabalho fora de casa. Mesmo estando cansada, não iria recusar o pedido da colega, porque sabia que não conseguiria ficar em paz com o peso na consciência de que privara uma criança de passar um tempo a mais com sua mãe.

Virou-se para a outra enfermeira, com um sorriso amigável no rosto e disse:

– Não se preocupe, eu fico no seu turno. Vá para casa cuidar do seu bebê.

– Às vezes, eu acho que você é um anjo! – disse a enfermeira mais velha enquanto dava um beijo na bochecha da colega.

– Claro que não sou. – quando a companheira saiu da sala, murmurou para si mesma – Anjos não existem!

Quando ainda era pequena descobrira que para alguns a vida não era um mar de rosas. Ela se incluía nesse grupo. Quem a visse hoje, jamais desconfiara do passado sofrido que ela teve. Que a fez trocar de país para tentar encontrar paz.

Paz. Era essa a sensação que as brancas e frias paredes do hospital lhe davam. Muitos não gostavam da cor, mas ela gostava. Ali se sentia útil, sentia-se de certa forma... segura.

Não entrou no corredor da ala infantil, como seria o normal. No momento, teria que seguir para a emergência. Na realidade não se sentia menos satisfeita cuidando das emergências, porém as crianças simplesmente a fascinavam! Gostava das risadas sonoras, da simplicidade, da sinceridade... Crianças não mentiam e não machucavam. Era isso: cuidar de crianças era menos arriscado... para ela.

Olhou a ficha do paciente que necessitava de cuidados. Não parecia grave, um corte no braço, já lidara com casos bem mais graves. Adentrou no quarto indicado. Contudo, não estava preparada para o que veria. Não pelo ferimento, que como ela imaginava não era grave, mas pela beleza do paciente sentado naquela cama. Era moreno, alto e com um corpo muito bonito. O paciente olhou para ela. E o que eram aqueles olhos? Tinham um azul único. Com certeza, ele era um dos homens mais bonitos que ela já vira, se não era o mais. De súbito, lembrou-se de um outro homem que se parecia fisicamente com esse e que também era muito bonito. Lembrou-se de mais um fato. O fato de que naquele outro caso, por trás da beleza havia muita maldade e crueldade.


"Droga, isso arde!" Era policial, estava acostumado a freqüentemente estar com algum machucado, mas não gostava de cortes. "Pelo menos, foi a mim e não a um inocente", pensou. Esse era o serviço dele, e em saber que o havia feito corretamente já o deixava satisfeito. Porém, não estava gostando nem um pouco da demora da enfermeira. Ela dissera que já voltaria, mas alguns minutos já haviam passado.

Ao perceber que a porta estava abrindo-se pensou "Até que enfim!". Mas não fora uma enfermeira que entrara no quarto, e sim um verdadeiro anjo! A mulher era extremamente bonita. Por um momento pareceu-lhe que ela olhava da mesma forma para ele. Bobagem!, ele não tinha nada de especial.

– Boa noite, senhor... – ela olhou a ficha, primeiramente para descobrir o nome do paciente e depois para esconder o embaraço de ter olhado daquela forma para o paciente – ... Shiryu?

– Exatamente, porém a senhorita não precisa me chamar de senhor.

Ela ignorou o que o homem havia dito.

– O senhor não precisa ficar preocupado, seu corte não foi muito profundo. – disse em um tom extremamente profissional.

– Eu imagino, e digamos que estou acostumado a estar pelo menos com um ferimento por causa da minha profissão.

– Na sua ficha não dizia a sua profissão. – ela disse enquanto lavava as mãos.

– Eu sou policial. Qual o seu nome?

– Desculpe-me não entendi a sua pergunta – Ela distraíra-se pensando no seu passado e não escutara direito o que lhe fora perguntado.

– Eu perguntei o seu nome.

– Eu me chamo Shunrei. A enfermeira que começou a atendê-lo teve que sair mais cedo e pediu-me para cobrir esse final de turno na emergência. – Ela disse enquanto começava a limpar o sangue no braço dele.

– Belo nome. – ela não agradeceu, estava concentrada no seu trabalho – Então você não trabalha na emergência?

– Não. A minha área é a pediatria. – ele percebeu que a mulher adequava-se perfeitamente a pediatria. A serenidade que dela emanava com certeza acalmava até a mais amedrontada das crianças. Então ela voltou a falar. – Você teve sorte, a faca que lhe cortou estava bem afiada.

– Isso é sorte mesmo? – ou será que ela estaria sendo irônica? Ela não parecia ser irônica...

– Sim. Os cortes com facas mais afiadas podem até ter um ardimento irritante, mas cicatrizam mais fácil e doem menos. – explicou.

– Você parece falar com conhecimento de causa. – por um momento ele julgou ter sentido a mulher estremecer.

– Eu sou enfermeira. E trabalhando na pediatria sempre há algum caso relacionado a corte. – a voz dela soou diferente, porém ele não percebeu.

Quando ela foi pegar a gaze notou uma tatuagem nas costas dele. Um belo dragão. Lembrou da marca que ela tinha nas costas, e que ela não se orgulhava nem um pouco em tê-la. Notou que havia parado por um momento de fazer o curativo e que ele percebera que ela fitava a tatuagem.

– Todo mundo se impressiona com a minha tatuagem. – ele informou.

Ela novamente não disse nada. Porém, pensou que o seu paciente devia andar freqüentemente sem camisa, para que muitas pessoas se impressionassem com o dragão. A palavra "narcisista" lhe veio a cabeça, e novamente se lembrou de quem ela não queria. Era incrível como esse homem, em menos de quinze minutos a fizera lembrar seu infeliz passado mais do que ela lembrara durante todo o mês. Minutos depois, acabou o curativo.

– Pronto. Eu imagino que não deva ocorrer nada de anormal. Mas caso ocorra o senhor pode voltar aqui. Em três dias pode vir trocar o curativo se achar necessário.

– Será você que me atenderá?

– Provavelmente não. Mas as outras enfermeiras são tão competentes, ou até mesmo mais do que eu. Tenho certeza de que estará em boas mãos.

Mas com toda a certeza elas não são tão belas como você, ele pensou em dizer. Apenas concordou com as palavras dela acenando com a cabeça.

– Muito obrigado, Shunrei. – Disse ele levantando-se e vestindo com cuidado a camisa.

– De nada, é o meu trabalho. – disse com um pouco de dificuldade. O homem em pé conseguia ser mais impressionante ainda. Shunrei odiou-se. "Será que já não havia aprendido o bastante?", perguntava-se mentalmente.

Terminou de arrumar os materiais que acabara de usar, e percebeu que estava sozinha no quarto. Respirou aliviada. Lavou as mãos. Saiu do quarto e foi para a sala destinada às enfermeiras. Olhou para o relógio. Onze e meia. Seu turno, ou melhor, o turno da sua colega acabara. Vestiu um casaco, pegou sua bolsa, e deixou o hospital.

Quando deu o primeiro passo fora do prédio sentiu o ar frio bater no seu rosto. Andou alguns passos em direção à estação de metrô. Quando se assustou ao ouvir alguém dizer:

– Precisa de companhia?

– Que susto! – disse ela um pouco pálida – Ah é você! – exclamou quando reconheceu o homem ao seu lado. Era o paciente narcisista!

– Desculpe-me. Minha intenção não era lhe assustar! Eu apenas gostaria de lhe fazer companhia, afinal se eu não tivesse chegado machucado você já poderia estar em casa uma hora dessas. Essas ruas são perigosas e... – foi interrompido.

– Escute. – quando o homem parou de falar, continuou – Eu não preciso da sua companhia. Até porque eu teria ficado até esse horário com ou sem paciente. – respirou fundo novamente, por que será que esse homem mexia com sua respiração! – Eu apenas fiz um curativo em você, nada de mais... certo? – ela parecia começar a perder a paciência.

– Certo. Você vai até a estação? – ele perguntou olhando para a estação de metro que ficava a quatro quadras dali, mas já era possível observá-la.

– Sim. – ela respondeu com ar cansado.

– Eu vou para lá também. Mas se a minha companhia a afeta tanto eu posso esperar que você chegue lá e então começarei a ir. – ele disse parecendo estar um pouco ofendido.

A enfermeira ponderou se não estava sendo rude demais com o policial. Afinal ele parecia estar querendo apenas ajudar...

– Não precisa tanto... – ela falou e começou a caminhar em direção à estação. ­– Vamos.

Ele andou ao lado dela. Ambos sem dizer uma palavra durante todo o percurso. Na entrada da estação, Shiryu disse:

– Boa noite, até algum dia, Shunrei.

– Boa noite.

Seguiram direções opostas. Mais tarde, quando Shunrei chegou em sua casa deixou suas lágrimas ganharem vida. Sentia raiva daquele Shiryu, por mais que ele não tivesse nada a ver com seu passado, ele trouxera a tona seus velhos medos, suas incertezas... Deitou na sua cama relembrou fatos não muito alegres do seu passado, porém logo adormeceu.

Continua...


N/A: Olá, aqui estou novamente... Faz tempo que eu queria fazer uma fic Shiryu x Shunrei. Infelizmente teve que ser em UA... Lembrando que essa fic é uma história paralela de uma outra fic minha "A deusa do crime". Uma grande amiga minha me deu essa idéia e eu aceitei. Se bem que eu estou gostando mais dessa história do que da outra...

Quanto ao paciente narcisista, eu sei que fui cruel mas, o fato do Shiryu "viver" sem camisa já é do conhecimento de todos!

Então é isso. Um abração, e eu agradeceria muito se essa fic tivesse um review seu!

Nina Neviani