Parte I

We were both young when I first saw you

A voz arrastada chegou aos seus ouvidos antes que ela pudesse ver seu dono. Parecia encenada, para que até uma pessoa especialmente burra conseguisse entender o que ele queria dizer; ao mesmo tempo que a inveja era mal escondida em um tom amargo.

"Aposto que você adorou isso, não é, Potter?"

Aquilo destoava de seus traços, tão suaves e finos que o faziam parecer frágil. O sorriso despeitado em seu rosto parecia uma defesa, quando deveria ser um ataque, e o queixo era pontudo demais, com tons claros demais, um garoto que passaria desapercebido, e tinha aprendido a usar a voz e as palavras para não desaparecer.

"Famoso Potter. Não pode nem ir a uma livraria sem ir para na primeira página."

Se fosse mais paciente e caridosa, como sua mãe dizia que deveria ser, ela teria tido pena dele. Mas, infelizmente, seu temperamento era forte demais e ela não conseguia se conter.

"Deixe ele em paz. Ele não queria isso."

Os dois se olharam, igualmente cheios de raiva e irritação, e ela soube que tinha cutucado um dragão adormecido, e ele nunca mais esqueceria dela, fazendo o possível para que ela pagasse pela ousadia de ter enfrentado-o.

"Potter... Você arranjou uma namorada..."

E foi assim que começou.

I close my eyes and the flashback starts

Demorou algum tempo, mas ele deixou bem claro que não tinha esquecido-a, e que tinha feito questão o suficiente de prestar atenção em sua existência para perceber o tamanho de seu interesse em Harry. Bom, não que não fosse absolutamente óbvio, mas seus irmãos não a tomariam pelo tipo de garota que escreve poesia (com bons motivos, claramente ela era terrível nisso), mas Draco Malfoy percebeu na mesma hora.

Talvez tivesse sido erroneamente levado a acreditar que estava paralisada e horrorizada pela forma como Harry tinha recebido seu cartão. Ele não teria como saber que no momento que seus olhos viram O Diário no chão, todo o resto perdeu completamente a importância. Não imaginaria que o profundo terror em seu rosto era que ele, Draco, tivesse a oportunidade de abri-lo, interrogar Tom Riddle, e descobrir todos os seus segredos. Todas as coisas que poderia usar contra Ginny, contra sua família, contra seus amigos. Todas as coisas que ela tolamente confidenciara a Tom, antes de perceber sua verdadeira natureza.

O loiro estava furioso quando ela passou por ele, entrando na sala.

"Acho que Potter não gostou do seu cartão", ele gritou, cheio de raiva.

E, desta vez, ela sentiu pena dele, e inveja, pois a vida de Draco era simples, girando em torno de rivalidades escolares e sentimentos de meninas, enquanto a dela estava cheia de vida, morte e segredos que jamais ousaria revelar.

I'm standing there, on a balcony in Summer air

Naqueles últimos dias, ela passara muito tempo sozinha. Era melhor assim, afinal. Não era como se as pessoas quisessem ficar perto dela, ainda que nada pudesse explicar como a história tinha se espalhado pela escola. Seus irmãos, é claro, tentavam consolá-la e vigiá-la, mas nada a fazia se sentir pior – ainda mais culpada por tudo.

Fugir de seus olhares penalizados era a melhor coisa, e Ginny tinha descoberto uma pequena varanda, voltada para o lago, onde raramente alguém passava e onde não era obrigada a ver os alunos se espalhando pela grama, e se sentir ainda mais deslocada. Ali, ela podia sentir o ar do verão, o calor que começava a se espalhar. Ali, ela podia tentar acreditar que, em algum momento, o calor voltaria a habitar dentro dela. Que ela iria superar.

Mas não ainda, e não tão cedo. Ela ouviu passos, mas não virou, nem mesmo quando percebeu que alguém estava parado logo atrás dela. Sua varinha estava em sua mão, e estava pronta para lançar uma azaração qualquer, no primeiro movimento hostil que percebesse. Era óbvio que não deixariam passar barato seus erros.

"Você deu sorte"

Ginny virou imediatamente, reconhecendo a voz, mas Malfoy já estava caminhando para longe. Ela teve certeza que ele esperava que ela tivesse sido expulsa e sua família desgraçada, mas não era a coisa mais ofensiva que tinha ouvido nos últimos dias.

Ela tinha, realmente, dado sorte.