Garotos
Sinopse: Um amigo de infância de Sarada retorna repentinamente para Konoha, e ele não é exatamente como ela se lembrava.
Em meio às aflições do último ano do colégio e cafés na madrugada, ela se vê dividida entre amores mal resolvidos. [AU][colegial][BoruSara][KawaSara]
Capítulo 1 – O Estranho no Skate
"Sarada, nove e meio não é uma nota ruim. Muito pelo contrário-" disse Tenten, ajeitando o óculos redondo sobre o nariz "é uma ótima nota. A melhor da sala, para ser exata".
A professora de geografia olhou para a aluna com seus olhos cor de chocolate e um sorriso gentil. Conhecia seus pupilos e sabia da cobrança para consigo mesma da Uchiha. Era seu dever orientar e trazer conforto.
"Mas senhorita Tenten... eu..." a aluna procurava as palavras para expressar seu descontentamento.
"Sarada." Ela se inclinou sobre a mesa, encostando a mão sobre o braço da aluna. "Não seja tão dura consigo mesma."
Os olhos cor de chocolate brilharam com determinação e Sarada soltou um suspiro, derrotada. Não conseguiria verbalizar sua frustração de maneira coerente. No corredor, o sinal tocou com um som rápido e estridente.
Tenten se reclinou de volta na cadeira. "Bom, vai começar minha aula. Espero que estejamos entendidas. Certo?" Falou, devolvendo a prova preenchida para a aluna. "Voce foi a melhor da sala. Não há porque vir para a vista de prova por meio ponto. Todos cometemos algumas falhas, é humano."
"Tudo bem. Obrigada senhorita Tenten."
Sarada se levantou da cadeira e saiu para o corredor, desviando ligeira de Hyuuga Neji, o carrasco professor de álgebra que entrava na sala enquanto ela se retirava.
Ela andou a passos lentos até seu armário, fitando o chão, sem realmente se dar conta dos alunos que iam e vinham no ambiente. Abriu o armário com um som metálico, e começou a depositar seus livros, alheia ao seu redor.
Estava pensando na questão que lhe tirara meio ponto quando sentiu um braço com agasalho impermeável lhe rodear os ombros, puxando-a para um abraço barulhento com o farfalhar do tecido.
"Kawaki!" Ela exclamou. "Voce não pode aparecer me agarrando assim!" Disse, ruborizando e tentando se livrar do abraço, enquanto ele a segurava sem fazer grande esforço. Demonstrações públicas de afeto não eram seu forte.
"É claro que posso" ele lhe deu um beijo afetuoso na bochecha. "Como foi a vista de prova? Conseguiu tirar onze?" Ele zombou.
Ela não estava no humor para piadinhas, e Kawaki era um piadista por natureza, que sabia exatamente como irritá-la. Além de tomar certas liberdades como seu namorado.
"Não." Ela disse, azeda. "Aquele discurso de sempre: não se cobre tanto, é uma ótima nota, etcetera." Ela fez um beicinho enquanto enfiava a prova na mochila.
"Ah, você é tão nerdinha! Que orgulho. Sabe que vai ter que me ensinar toda essa matéria né?" Ele lhe deu um beijo demorado nos lábios comprimidos. "Os treinos estão me matando. Não vou ter tempo para a aula dessa semana."
"De novo?" Ela franziu as sobrancelhas, decepcionada. Por mais que amasse seu namorado, achava sua negligência para com as aulas extremamente incômoda. "Você não pode abrir mão da escola por conta do treino, Kawaki."
Ele tirou o braço do pescoço dela e passou a mão no rosto, irritado. "Eu sei, já falamos sobre isso. Mas o treino é meu passe para a universidade." Ele ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. "Então por enquanto é, sim, minha prioridade."
Kawaki era um gênio, mas ultimamente havia negligenciado tanto a escola que seu desempenho não passava da média. Sarada sentia falta das sessões de estudo na biblioteca com seu namorado, ele parecia ser consumido pelo esporte. Isso a incomodava.
Ela suspirou.
"Olha, não vamos brigar, de novo." Ele falou, dando um beijo leve na testa dela. Quando ela se preparava para a resposta, alguém gritou o nome do garoto do fundo do corredor. Ela se inclinou e viu os meninos do time já uniformizados.
"Tenho que ir." Ele deu um sorriso galanteador e um beijo rápido.
"Te vejo mais tarde?" Ela perguntou, mas já sabia a resposta.
"Ah..." ele coçou atrás da cabeça, sem jeito. "O técnico pediu para ficarmos mais para analisar umas jogadas. Se eu sair antes das nove, passo na sua casa, ok?" E saiu.
Sarada suspirou, fechando o armário. Colocou a mochila nas costas e olhou o celular: 234 mensagens no grupo das meninas, ao que parecia combinando um café no final da aula.
Sem se sentir disposta, a morena decidiu ir para casa.
—
Vestindo sua parca verde militar, ela saiu para o estacionamento da escola, tomando cuidando para evitar encontrar suas amigas que com certeza a arrastariam para algum encontro. Andou até seu veículo: a bike vermelha e fina era seu xodó e seu meio de transporte favorito, sempre que podia saía para dar uma volta pelos bulevares da área residencial sob a sombra dos salgueiros.
A morena se agachou para remover a corrente das rodas, enfiou o cadeado gelado no bolso e montou na bicicleta. O tempo estava nublado, mas sem previsão de chuva. Ela saiu do estacionamento da escola por entre os sedans e peruas de alto padrão, e ganhou velocidade na rua da frente, sentindo o vento no seu pescoço.
Ela pedalou rápido, saindo do centro da cidade, passando na frente da prefeitura e da loja de sorvetes. Por ser o meio da tarde de uma quarta-feira, não havia muito movimento nas ruas. Tomou seu caminho de rotina, indo para o bairro residencial.
Sua posição privilegiada a permitia morar na parte mais abastada da cidade. Passou pela portaria de tijolos, onde cumprimentou singelamente o segurança, e entrou no condomínio. Ela fez uma curva suave e entrou na grande avenida arborizada onde estava a residência Uchiha.
Podia ver uma pessoa vindo na direção oposta, apesar de não conseguir ver seu rosto - também, era difícil enxergar sem seus óculos. Algum garoto da escola, provavelmente. Conforme ia se aproximando, viu que ele ondulava suavemente sobre um skate, com a jaqueta preta esvoaçando sob seus braços abertos.
Ele ziguezagueava com facilidade, curtindo o movimento como se flutuasse. Viu os cabelos loiros e ondulados balançando com a brisa, os braços mexendo suavemente, quase como uma coreografia, equilibrando-o sobre o longboard.
Quando estavam há alguns metros, seus olhos negros se encontraram com o azul elétrico dos dele. O tempo parou por um segundo. No que pareceu uma eternidade, um brilho de reconhecimento e surpresa pareceu passar pelos olhos dele.
E então haviam se cruzado. Ela sentiu o pé afundar no pedal automaticamente, e virou o pescoço numa tentativa de vê-lo atrás de si e viu que ele também olhava. Esqueceu que havia um caminho pela frente.
Sentiu a ponta da roda da frente se chocar contra a guia, e foi lançada com o impacto, passando por cima do guidão e rolando na grama verde de uma casa. A bicicleta caiu no chão, rangendo o corpo metálico contra o asfalto.
Seu joelho e as palmas das mãos ardiam com o ralado, e se sentou por um segundo, desorientada. O estranho havia sumido. Com sorte, não a teria visto se espatifar no chão sozinha.
Ela se levantou, limpando a poeira da roupa e soltou um resmungo de dor ao tentar estender a perna, ia precisar de um curativo. Pegou a bicicleta largada na calçada e decidiu continuar até sua casa a pé. Eram só alguns metros, e seu joelho estava dolorido demais para pedalar.
Ela passou pela grama bem aparada da sua casa, sentindo as gotículas dos sprinklers nas canelas. Deixou a bicicleta encostada na varanda e abriu a porta da frente.
"Cheguei! Mãe? Pai?" Ela gritou e não recebeu nenhuma resposta. Suspirou fechando a porta atrás de si. Estava acostumada a ficar sozinha, seu pai estava sempre resolvendo casos em outras províncias, ou acompanhando algum figurão da política, e sua mãe vivia em plantões e congressos.
Subiu para o seu quarto, limpou o machucado e tomou um banho, se preparando para a tarde de estudos que se seguiria. O rosto do menino loiro passou mais uma vez por sua mente e ela se convenceu de que realmente não o conhecia.
Talvez Kawaki passasse mais à noite e animasse seu dia estranho. Talvez.
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Eram nove e meia quando ela viu o celular vibrar.
Desculpe, não vou conseguir passar aí. Treino. Te amo, joaninha. 3
Suspirou e colocou o celular na mesa de cabeça para baixo. Tirou os óculos e esfregou os olhos cansados, olhando a escuridão da noite pela janela. Já não estava absorvendo mais nada da matéria e sabia que o professor Hyuuga pegaria pesado na prova de sexta-feira.
Também precisava organizar os documentos para sua aplicação para a universidade, mas estava se sentindo desanimada e não queria cuidar disso no momento.
Era pedir demais um namorado que pudesse assistir um filme com ela numa quarta-feira à noite? Aparentemente sim, pois ele estava ocupado demais sendo o capitão do time de basquete.
Ela ouviu o barulho de chaves no andar de baixo e saiu para o corredor, vendo através do grande vão da escada a massa da cabeleira rosa de sua mãe entrando pela porta da frente. "Boa noite!" Ela disse, animada, sem um ouvinte específico.
"Oi, mãe." Sarada respondeu do do andar de cima. "Tem janta na geladeira para você." Disse sem ânimo, e voltou para dentro do quarto.
Ouviu o salto dela na escada de madeira, subindo em direção ao seu quarto. Ela parou no batente, ainda segurando o jaleco na mão e sua enorme bolsa. "Tudo bem, querida?" Sarada estava jogada na cama, observando o teto. "Parece desanimada."
"Ah, sim. Estava esperando Kawaki, mas ele não vai vir. Tem treino, para variar." Ela soltou um muxoxo "e caí da bicicleta hoje." Mostrou o machucado.
"Já falei para você tomar cuidado. O que houve? Estava fazendo alguma gracinha?"
"Na verdade, não. Vi um estranho e me distraí." Ela disse, pensativa. "Sabe se tem alguém novo morando por aqui?"
Konoha era quase como um clube de férias onde todos se conheciam e se intrometiam na vida alheia. Qualquer novo integrante da cúpula seria imediatamente notado.
"Hm. Agora que você tocou no assunto... sim. Algumas casa para baixo, aparentemente. Parece que fecharam com a imobiliária no sábado e no domingo de manhã já estavam fazendo a mudança." Sua mãe disse, fornecendo informações bem precisas. Às vezes Sarada se perguntava se as aulas de pilates dela eram na verdade sessões de fofoca disfarçadas. "Parecem ser importantes. Vi carros oficiais. Acho que tem um garoto da sua idade e uma filha um pouco mais nova, mas não os vi."
"Tá bom, mãe. Obrigada pela informação. Aliás, onde você fica sabendo disso? É coisa da Tia Ino né?"
Sua madrinha Ino era a dondoca mais famosa e cobiçada da cidade, casada com um artista plástico mundialmente conhecido e excêntrico. O dinheiro e tempo livre permitiam muitas extravagâncias e comentários sobre a vida alheia.
"Sarada, não fale assim da sua tia. E ah, não se esqueça de falar com Kakashi amanhã para sua carta de recomendação." Ela bateu as chaves na guarnição, pronta para se retirar do quarto. "Sei que você está atolada de coisas, mas não podemos esquecer da burocracia das universidades."
Claro. Além da prova de álgebra, aula extracurricular de fotografia, clube de debates, time de vôlei e vida social, ainda precisava pensar no seu futuro profissional.
Suspirou cansada.
Quando fechou os olhos, viu o azul eletrizante da íris do garoto, e se perguntou se não estava ficando obcecada.
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O curativo no seu joelho repuxava com cada passo dado em direção à entrada da escola. Deixou a bicicleta no lugar de sempre e subiu as escadas de acesso ao prédio, cumprimentando diversos colegas no caminho. Avistou suas amigas ao longe. Chocho e Sumire acenavam animadamente, paradas junto aos armários metálicos.
"Ei Sarada! Já te vimos, não pense que pode fugir da gente hoje de novo!" Chocho falou, debochada como sempre. Sarada soltou um riso baixo e se aproximou, dando um abraço nas amigas.
"Oi meninas. Desculpem, não estava a fim de sair ontem."
"Foi estudar, né nerd?"
"Chocho, para de ser chata com ela." Sumire deu um pito na colega que devorava um pacote de bolachas recheadas. "Aliás, você não tomou café?"
"Tomei." Chocho olhou para ela de esguelha "Mas bateu uma fominha. Alguém quer?" Passou o pacote na frente das duas, que negaram com a cabeça. De repente, seus olhos se arregalaram num clarão de lembrança. "Ei gente! Vocês dicaram sabendo do aluno novo que entrou? Parece que ele mal chegou e já está dando o que falar."
"Hm... tipo o que?" Perguntou Sumire, interessada. "Conta para a gente, Chocho." Chocho era a rainha das fofocas, sempre estava por dentro dos acontecimentos. Seu jeito debochado e extrovertido fazia com que tivesse muitos contatos, entre os diferentes anos do colégio. Além disso, ela adorava se meter na vida alheia de um modo geral.
"Ouvi dizer que ele foi expulso do outro colégio em que estudava - mas ainda não descobri o motivo." Fez uma careta como se decepcionada com a própria incompetência. "E que ele foi aceito no meio do trimestre porque os pais dele são importantes. Aparentemente ele é um bad boy, riquinho e rebelde." Ela enfiou outra bolacha na boca.
"Expulso? Deve ser encrenqueiro. E achei estranho mesmo um aluno novo na época de provas, Kakashi não costuma autorizar essas coisas..." Sarada ficou pensativa.
"Olha só, parece interessante, eu curto bad boys. É bonito?" Sumire soltou, com uma risadinha. Claramente Sarada e suas amigas tinham prioridades diferentes no que dizia respeito a angariar informações sobre o aluno novo.
"Deve ser. Os boatos sobre ele estão correndo soltos por aí. Ouvi dizer que é bonito e meio mal encarado, então ninguém conversou com ele ainda. Ah, e tem uma irmãzinha também."
Sarada ficou quieta sobre a possibilidade do aluno novo ser também seu novo vizinho skatista, dado que provavelmente o menino que ela viu deveria ter a mesma idade dela. Não queria Chocho a atormentando para conseguir informações. O sinal tocou e a salvou de ter que fazer qualquer comentário, e as três foram para a sala.
—
Jiraiya falava animadamente sobre o período feudal do Japão, desenhando mapas com giz no quadro negro.
Sarada já havia deixado de prestar atenção há um tempo, não tinha muita paciência para as aulas barulhentas e cheias de piada do professor, apesar de achá-lo extremamente inteligente. E também história não era exatamente sua matéria preferida. Portanto, naquele momento ela estava perdida nos seus devaneios.
Viu Chocho na mesa da frente desenhando um sorvete na folha de fichário cheia de florzinhas. Denki limpando os óculos distraído. Kawaki mexendo no celular sem nem se dar o trabalho de abrir seus livros. Sumire era a única que prestava atenção, pois deveria dar um bom exemplo como representante de sala.
Sarada sabia que deveria se dedicar as aulas, mas ela estava tão entediada.
Quando decidiu tirar o celular da bolsa para se entreter, uma batida na porta fez com que Jiraya interrompesse a aula e todos os alunos voltassem seus olhos para a entrada. Ela podia ver o topete grisalho do diretor através da janelinha da porta.
"Pode entrar!" Jiraya disse, animado. Kakashi entrou, e com ele o garoto do skate. Ela e o menino loiro se olharam por um segundo, então ele desviou o olhar para o joelho machucado, e depois de volta para o rosto dela. Ele a tinha reconhecido - além de ter visto seu tombo triunfal.
"Pessoal, desculpem interromper a aula. Preciso apresentar um aluno novo transferido." Um burburinho iniciou-se na sala, enquanto o menino permanecia quieto e e de cara fechada. "Por força maior, ele foi transferido no meio do trimestre e vai fazer parte da turma de vocês."
Todos olhavam, quietos.
"Por favor, deem boas vindas ao Uzumaki Boruto."
Já faz alguns dias que comecei essa história no SpiritFanfiction e fiquei com preguiça de passar pra cá, mas agora arrumei um tempinho e resolvi colocar aqui também. Para quem quiser ler o segundo cap., já está disponível no Spirit, no mesmo username (OblivionLibra).
Se gostarem, deixem reviews! s2 sempre me animo lendo o que vocês acharam.
beijocas
