Rin aos oito anos já sabia cozinhar muito bem para sua idade.
Com apoio de seu pai e de Yukio, aos poucos ele conseguiu até mesmo preparar um peru de natal (com um pouco de ajuda), mas havia algo que ele não conseguia preparar de nenhuma forma: O obento especial de Shiro.
Shiro recebia um obento rosa todo o mês de alguém que Rin não conhecia. E sempre seguia o mesmo ritual antes de come-lo: O obento chegava sempre antes das cinco da tarde, exatamente quando terminava a missa diária, sentava no confessionário e degustava do almoço em paz.
Após coletar todos os dados para formular uma abordagem ao velho, o menino de olhar azul tentou trazer seu irmão para o seu lado.
_Vamos pegar o almoço e descobrir o seu segredo!
Rin estava bem motivado ao contar seu plano para Yukio que não parecia muito interessado, também estivesse intrigado, mas ele não se atreveria a perguntar isso para o papai.
_Se ele não nos fala nada, então é algo de adulto. _ O gêmeo disse e voltou ao seus estudos.
Rin ficou irritado e roubou o caderno do irmão. Eles ficaram num pega-pea constante até o fim do dia, quando um dos empregados apartou a situação.
Dia seguinte, primeiro dia do mês, fim de tarde.
No final da ultima missa, o padre estalou o ombro (ele estava dormente) e sentou no degrau do altar.
_Ah, que dia! Estou mesmo ficando velho...
_Shiro-san.
Um dos empregados entrou na igreja, trazia um embrulho que Shiro reconheceu facilmente.
_Achei que não fosse vir. Obrigado. Como estão os meninos?
_Yukio esta estudando e Rin esta cozinhando o jantar.
O jovem se despediu. Shiro ficou admirando o lenço que embrulhava o obento. Era rosa chiclete com estampa de doces e coelhinhos de lacinho.
_Tão feminino. _ Ele não conseguiu conter o tom de chacota.
Shiro ficou sério, havia uma presença atrás dele, num impulso ele se virou e agarrou o intruso pelo pescoço.
_Guaaaaaaa!
_Rin!
Rapidamente ele soltou o pequeno e tentou faze-lo se acalmar.
_Pensou que fosse quem, pai! Eu quase morri!
_Me perdoe, eu me assustei. Nunca mais faça isso! Mas Rin, por quê esta aqui? Você não deixou nada no forno, não é?!
_Não.
Shiro suspirou aliviado, não tinha verba o bastante para um novo forno.
_Pai, por quê eu tenho que comer com os outros e você pode comer sozinho?
"Que esperto!" _ Ora, é porque hoje é dia primeiro.
Shiro rezou para que ele aceitasse essa velha desculpa, mas Rin não se deixaria levar hoje.
_Pai, por quê o senhor sempre chora quando come o seu obento?
_É que ele é tão bom que me faz chorar, Rin.
_O senhor nunca chora quando come a minha comida.
O menino pareceu triste, Shiro tentou acalma-lo dizendo que isso era porque era a comida de alguém diferente, por isso causava uma reação diferente.
_É da sua namorada? _ Rin sorriu travesso ao perguntar _ Quando a namorada cozinha para quem ama, a comida é sempre deliciosa. Yukio leu num manga! _ Ele acrescentou ao notar o olhar do pai.
Shiro riu uma boa gargalhada e então colocou Rin em seu colo.
_Então fala! _ Rin exclamou animado. _ Por quê ele é tão bom!?
_Bem, creio que antes de dizer porque é bom, eu precise te explicar sobre algo um pouco diferente antes.
_O quê?
_Aqui, de uma olhadinha.
O menino pegou e abriu a marmita rosa e ficou apavorado com seu conteúdo que parecia a versão culinária do inferno de Dante, num tom de sangue e com pedaços de carne, legumes e algo que talvez fosse arroz frito.
_Medonho, né?
_Não se deve julgar antes de provar _ Rin dizia isso antes de levar um pedacinho da comida até a boca, ele comeu.
Rin ficou vermelho e depois verde, ele pensou em cenas de guerra e corpos despedaçados pelo chão, pessoas tristes, morte e desespero.
_Rin? Rin!
Shiro pegou o menino e correu até a janela, colocou a cabeça dele para for a e mandou que botasse pra fora a comida. Ele foi de pronto obedecido.
_Por favor, não morra! Rin!
_Isso é um pecado contra a boa comida! Quem fez isso!?
_Agora eu posso explicar sobre o motivo para eu comer algo assim.
Pai e filho voltaram a sentar nos degraus do altar, mas diferente de antes, Shiro parecia um pouco constrangido agora.
_O quê?
_Nada não! Bem, como posso explicar de forma bem clara pra você... Ah, sim! Você falou sobre namorada antes, bem como você sabe, eu não tenho namorada nenhuma, infelizmente...
_Ei, para de lamentar! Continua logo.
_Tá, tá! Podemos dizer que quem vez esta comida...
_Isso não é comida, velho!
_É, de um jeito horrivel é comida. _ Shiro deu um cascudinho na cabeça de Rin _ Quem fez esse obento não costuma, e como você pode experimentar, não sabe cozinhar, mas ainda assim essa pessoa se deu ao trabalho de fazer um obento. Entende o que isso significa?
_Não.
_Não? Quando você fez o obento do Yukio pela primeira vez, o que aconteceu?
Rin lembrou da cena com clareza, pois era obvio que Yukio não tinha gostado muito do seu omelete com carne.
_Yukio disse que tinha ficado melhor e continuou comendo, mesmo que não estivesse tão bom.
_E como você se sentiu?
_Eu fique muito feliz na hora e mais ainda depois porque ele fez um obento pra mim.
_E estava bom?
_Nem um pouco! Esta muito salgado e parte do peixe estava cru!
_Mas você gostou.
_É, eu gostei muito. Porque ele fez, mesmo não sabendo cozinhar.
Foi como um estalo repentino. Rin entendeu o que Shiro queria lhe dizer.
_Quando se cozinha para quem ama, mesmo ruim, a comida é sempre boa, né?
_Isso mesmo! Cada dia você cresce mais um pouco, Rin, me deixa muito orgulho.
Rin deu um grande sorriso para o velho, ele estava realmente contente, mas não pode continuar com a conversa, ele já tinha passado da hora do jantar e comida ainda estava por fazer.
_Tenho que ir! Obrigado, velho!
Shiro ficou na igreja por mais um tempo antes de ir para casa, aonde passou a noite toda indo no banheiro por causa de uma terrível dor de barriga.
Na manhã seguinte, Rin encontrou o obento rosa sob a mesa da cozinha, estava vazio.
Um ideia repentina tomou sua mente então. Naquele mesmo dia, o diretor da escola Vera Cruz, recebeu uma entrega especial: um obento azul aonde havia um delicioso tamagoyaki com atum e salada, e um bilhete.
Cara pessoa especial, obrigado por deixar meu velho feliz. Isso é um agradecimento, espero que goste!
Ass.: Okumura Rin.
