Electro Bolt, penso eu, calculando meus próximos passos. Electro Bolt vai funcionar melhor. Não tem splicers por aqui, e as RPG-Turrents vão cuidar dele. Só preciso atraí-lo.

Atlas não fala há um tempo. Geralmente seria desesperador estar numa cidade insana com todos esses malucos querendo me matar, mas agora qualquer barulho me distrairia… outra Little Sister. Mais ADAM. Mais poder. Isso…

Não. Eu vou salvar ela. Não vou matar uma garotinha para conseguir poder… por mais tentador que isso seja…

Melhor esquecer isso.

Atiro com o Electro Bolt no Big Daddy no fim do corredor, que fica paralisado enquanto sua protegida grita de terror. Fico pensando se ele está paralisado com o raio ou com o choque de alguém ousando atacá-lo. Um pouco dos dois, talvez.

Ele está se lançando para cá… isso… passou pelos primeiros 5 trap bolts… recebeu dois foguetes…

Oh, não. Ainda está vivo.

Me jogo pro lado com a shotgun da mão, munição perfurante já pronta. Como ele ainda está vivo? Não deveria ser possível.

Foi aí que eu vi. A luz no seu capacete está quase se apagando. E o seus brilhos coincidiam com os gritos da Little Sister… "Vai, Mr. Bubbles! Vai! Você consegue! Acaba com ele!". Que monstro que eu sou. Fiz um Big Daddy ficar na beira da morte, apenas vivo pelo seu dever, apenas vivo pela memória de amor que ele tem da Little Sister.

Vi o colosso de Rapture se ajoelhar, sem forças para ficar de pé, sem forças para ligar sua broca gigante. A cabeça dele aponta para mim. Olho para minha arma, atingido pela súbita descoberta de que ele estava agoniando, implorando pra que eu acabasse com seu sofrimento.

Aponto o enorme calibre para sua testa. Ou o local onde deveria estar sua testa. Ele tenta olhar para a Little Sister, e ela choramingava com a futura derrota de seu protetor.

Meu coração quebrou-se em dois ao dar o tiro barulhento. A garotinha correu, desesperada, indo chorar perto do homem – Não. Algo menos do que um homem – que a protegeu até seus últimos momentos. Ela nem queria me bater. Ela não se importava comigo. Ela simplesmente queria chorar até trazê-lo de volta.

Minhas veias ficaram brilhantes enquanto o plasmid que me permitia salvá-la se ativava. Ela finalmente olhou para mim, a pele envenenada pela lesma no seu estômago, os olhos amarelos com lágrimas ainda nas bochechas. Pego-a pela cintura, como pegaria uma criança normal. Ela tenta resistir. Eu tento falar com ela, tento dizer que ela não precisa ter medo, que vai tudo ficar bem… mas ela não me escuta.

O processo é rápido. Ela relaxa ao contato com a palma da minha mão, a energia fluindo para seu corpo, indo até sua barriga, eliminando a aberração produtora de ADAM, e absorvendo o pouco que havia sobrado para si. Abriu os olhos. A garota estava normal. Era uma bela e saudável garotinha de cinco anos, aproximadamente.

— Obrigada, senhor! — Ela disse, parecendo confiante que simplesmente isso era o bastante, e que eu era um algum tipo de herói. A vi atravessando o local para uma entrada nos dutos de ventilação, para ir para a casa de Tennabeum. Mas eu precisava saber…

— Espere. E ele? — Perguntei, apontando a arma para o seu antigo Big Daddy.

Pareci tocar em algum nervo exposto. A cara dela ficou triste, e eu percebi que havia acabado de dizer "Lembra do seu melhor amigo que eu matei?".

— Mr. Bubbles vai se recuperar, senhor. — Falou ela, sorrindo. — E nós vamos poder brincar de novo!

Fiquei mudo enquanto ela entrava e desaparecia no cano. Olhei para o capacete rachado com os buracos de bala que eu havia feito. Ele iria mesmo se recuperar?

Me achei rezando para que sim.