Olá! Dessa vez venho com uma história com tom melancólico, uma ideia que tive ouvindo a música Quinto andar, da Tiê, que é uma cantora brasileira. Coloquei os trechos dela espalhados (estão em itálico), como se fossem a trilha sonora dos pensamentos da Briseida, ajudando a descrever o que ela sente. Normalmente penso na relação dela com o Aquiles como uma relação de afeto, mas também achei bom escrever algo de uma perspectiva um pouco menos otimista.

Espero que gostem!


Já havia decorrido muito tempo desde o fim da trégua de doze dias. Aqueus e troianos voltaram a se bater, os aqueus tentando fazer os troianos retrocederem até as muralhas e os troianos tentando fazer os aqueus debandarem até os navios. Os dias tomados pelo furor cego pareciam agora o murmúrio distante do mar, embora apenas antecedessem uma fúria maior. Isso Briseida podia sentir. Quando as muralhas de Tróia fossem enfim tomadas, os homens seriam tomados pelo espírito de Ares em todo o seu ardor.

No entanto, nesses dias em que o calor da batalha era mais ameno, seus pensamentos voltavam a Aquiles. E em como ele estava distante dela.

Quando eu olhei pra cima e não te vi,

Não sabia o que fazer,

Fui contar praquele estranho

Que eu gostava de você.

Ela não poderia prever que iria gostar do invasor que assaltou a sua cidade e a trouxe como cativa. Sim, como cativa, como presa de guerra, mas que não foi tratada com desonra. Encantado com a sua beleza, ele a tratou com ternura.

E ela teve que confessar a si mesma que gostava dele.

Mas também foi a sua beleza que atraiu os olhos de Agamemnon, que a tirou de Aquiles. E então se seguiram anoiteceres e auroras longe dele... para além do tempo em que ficou junto a Agamemnon.

Ai, ai

Será que foi assim

Que foi o tempo que tirou você de mim

Haveria sido apenas o tempo que o deixou distante dela?

E ele num momento hesitou,

Mas depois não resistiu,

Me contou que mil balões voando

Foi o que ele viu.

Pensei, "Não é possível que eu não tenha reparado,

Eu devo estar completamente avoada."

Desde a morte de Pátroclo até a morte de Heitor, não havia lugar seguro para ela. Porque a ira de Aquiles impedia qualquer um de estar tranquilo perto dele. E ela, como o prêmio que havia sido tomado por Agamemnon, o que fez Aquiles deixar de lutar e Pátroclo ir no seu lugar e morrer nas mãos de Heitor, mesmo que a sua vontade nada pudesse fazer para causar ou evitar tudo isso, ela sabia que estava indefesa contra a ira de seu querido senhor. Embora também partilhasse a dor dele.

Dei quase cinco passos e parei,

Não podia andar pra trás.

Mas confesso, não cabia enxergar tantos sinais.

Pois quem poderia prever o quão grande seria a ira de Aquiles?

Mas ela não lhe causou mal. Tratou-lhe com frieza. Nos dias antes da luta com Heitor, era como se Briseida nunca houvesse existido. E depois de devolvido o corpo de Heitor, de aplacada a fúria homicida, desarrazoada, ficaram o pesar e a vontade de que tudo acabasse alimentados por Aquiles. Ele mantinha um olhar vago para todo o resto – inclusive para ela.

Alô, eu sei

Se chega até aqui,

Então no limite não dá mais pra desistir

Ela sabia que não iria abdicar do que sentia. Mas também não podia ignorar que era um trabalho árduo esse sentir.

Amor, por que eu te chamo assim,

Se com certeza você nem lembra de mim

Se com certeza ela não é mais do que uma memória borrada para ele, ou distante demais para querer dizer alguma coisa agora.

Amor, por que eu te chamo assim,

Se com certeza você nem lembra de mim, ai ai

Mas ainda assim ela o quer bem... só se pergunta se é preciso que seja desse jeito, um querer tão sozinho...

Amor, por que eu te chamo assim,

Se com certeza você nem lembra de mim...