A clareira
Ele era incrivelmente mais alto que eu. Mais alto e mais forte. Contudo, eu nunca tive medo de ficar sozinha com ele. Na verdade, isso era o que eu mais fazia. Toda hora sem atividade alguma eu passava com ele. Era simplesmente irresistível vê-lo sozinho e não ir sentar ao seu lado, para conversar sobre qualquer coisa.
Contudo, naquele dia, ele estava estranho. Simplesmente diferente do rapaz que eu sempre conhecera. Hoje, passaríamos a tarde na escola e, logo que pus o pé na escola, ele veio falar comigo.
-Você poderia me procurar no almoço o mais rápido possível? -perguntou ele, segurando meu pulso.
Ele nunca tomou qualquer tipo de atitude desse nível. Comecei a estranhar por aí.
-Como você quiser.
-Isso, é claro, se você quiser ficar perto de mim.
-Eu sempre quero, e você sabe disso.
Ele assentiu e soltou meu pulso. Olhou para mim uma última vez e então caminhou calmamente até sua sala.
Senti um arrepio.
Engoli o almoço o mais rápido possível e logo fui para perto dele, que estava encostado na parede de um dos cantos mais afastados da escola.
-Você apareceu -disse ele, postrando-se defronte mim.
-Por que eu não apareceria?
Ele deu de ombros. Antes que eu percebesse, ele já havia segurado a minha mão e agora me levava para dentro da densa mata que circundava a escola.
-Aonde estamos indo?
Ele não me respondeu e continuou a me puxar. Eu nunca pude imaginar que aquela mata era tão extensa.
Andamos por aproximadamente dez minutos, até ele parar em um lugar onde parecia haver mais sol.
-Chegamos.
Passei delicadamente por ele e vi que estávamos em uma clareira bem iluminada. Provavelmente um dos lugares mais bonitos que já estive.
-Como você sabe que isso aqui existe? -perguntei, colocando-me no centro do círculo iluminado pelo Sol.
-Onde você acha que eu me escondia na hora do almoço?
-Você passava o almoço inteiro aqui?
Ele assentiu com a cabeça.
-Eu sempre fui o excêntrico da escola, esqueceu? Sempre me escondi aqui. Não gostava de ficar perto das outras pessoas...
-Mas agora você fica. Por quê? -aproximei-me dele.
-Por sua causa.
-Outra coisa que é culpa minha.
-Mas, por você...
Fomos nos aproximando e agora eu podia sentir seu hálito fresco em meu rosto.
-... eu nunca mais me esconderia de coisa alguma.
Não consegui falar nada. Só fiquei olhando para ele. Era a única coisa que eu tinha energia o suficiente para fazer.
Devagar, uma de suas mãos envolveu minha cintura e ele me aproximou ainda mais de seu corpo. Eu podia sentir sua pele gelada... Podia sentir sua mão congelante pelo meu cabelo... Podia sentir a ponta de seu nariz encostando no meu...
-Por você, eu desisto até de mim mesmo.
E eu senti seus lábios nos meus. Seus movimentos coordenados, precisos, carinhosos...
Não sei quanto tempo se passou. Minutos ou meses... Segundos ou anos...
Até que ele me soltou.
Fiquei com os olhos fechados por mais um momento. Ainda estava absorvendo aquilo que aconteceu. Quando os abri, ele sorria.
-Eu te amo -disse ele, abraçando-me forte.
Eu nada consegui dizer. Só fiquei ali, sendo abraçada por ele recebendo todo o carinho que eu pudesse recolher e guardar no fundo de meu coração.
Por Olívia Mattiazzo
