N/A: Cato/Peeta não é lá um ship popular no fandom, mas eu gosto muito deles e a história se escreveu sozinha depois que assisti o filme "A vida secreta de Walter Mitt". Tudo, estranhamente, pareceu se encaixar na minha cabeça. E, bom, veremos como ficou isso °u°

A personalidade dos personagens estão diferentes e, como dito na sinopse, é Universo Alternativo.

Boa leitura.

Peeta fingia que dormia quando Lindsey chegou, escancarando a porta e abrindo as cortinas e as janelas. Ele não queria ter dado as chaves da casa pra ela, mas não teve escolha, se não fosse pela irmã, Peeta estaria vegetando, ou, pior, teria sido encontrado morto no chão da cozinha há não muito tempo.

Depois que sofreu um fatídico acidente de carro, Peeta Mellark precisou encarar uma mudança radical e pouco agradável em sua vida, a começar pela morte de Laura, sua noiva, que dormia no banco do passageiro no momento em que o carro em que estavam chocou-se com um outro, que vinha em alta velocidade na contramão. Ela não resistiu e Peeta ainda pode vislumbrar o corpo mutilado da mulher momentos antes de entrar na inconsciência. Depois, seus próprios ferimentos foram profundos e levaram tempo para tornarem-se suportáveis. Mas a pior consequência física causada por essa fatalidade foi uma fratura em sua perna direita, que mesmo as inúmeras cirurgias feitas não foram capazes de curar por completo. Peeta nunca voltou a ser o mesmo.

Desde criança, sua atenção foi voltada para os esportes. O garoto era talentoso, fazia de tudo muito bem e, ao adquirir uma bolsa de estudos para a universidade, optou pelo atletismo. Estava treinando para representar o seu país na prova de arremesso de disco nas próximas olimpíadas quando sofreu o acidente. Doravante, afastou-se das pistas e nem assistir aos jogos pela televisão Peeta fazia mais.

Na realidade, o homem deixou de fazer tudo ao que estava acostumado e ocupou seus dias com sonecas e levantando do sofá apenas para sacias sua necessidades biológicas, ainda assim, Lindsey precisava lembrá-lo de comer às vezes.

Peeta sentiu um tapinha de leve no rosto e fingiu acordar. Encontrou os olhos grandes e castanho-esverdeados de Lindsey encarando-o, naquela mistura que o incomodava tanto: tensão e apreensão. Ela, provavelmente, estava chateada, mas com pena demais para brigar.

— Por que ainda não está pronto?

— Pronto pra quê?

— Pra droga da entrevista que eu arrumei pra você há duas semanas atrás. – nessas horas, a mulher parecia a mãe deles, tanto na aparência quanto na postura. Lindsey era gordinha e baixinha, de cabelos loiros oxigenados e com sérios problemas de abuso no uso de cardigans. Gostava de cores alegres e berrantes e tinha a mania de colocar as mãos na cintura como se estivesse sempre lidando com uma criança birrenta. Era um cópia quase perfeita de Deanna Mellark.

Peeta suspirou.

— Ah, isso… eu não vou. – ele disse, arrumando a almofada atrás da cabeça e fechando os olhos, desejando que quando os abrisse novamente ela não estivesse mais lá. Peeta amava a irmã, mas ela não tinha o direito de obrigá-lo a fazer algo que ele não queria. Ele era um homem adulto e podia cuidar de si mesmo e correr atrás da aquilo que desejasse quando desejasse, além do mais, ela precisava entender que Peeta ainda estava há quilômetros de distância de estar pronto para voltar pro mundo real.

O truque de fechar os olhos pareceu ter dado certo no começo, porque ela ficou calada e sumiu por um tempo. Mas ele conhecia a peça bem demais para acreditar que ela tinha dado o braço a torcer tão facilmente.

E ele quase levou um susto quando sentiu um peso cair em cima dele de uma vez. Abriu os olhos e se viu coberto por uma pilha de roupas. Lindsey tinha uma expressão travessa no rosto.

— Não adianta desarrumar o meu guarda-roupa, Linds, eu já disse que não vou. – Peeta disse, tirando a cueca que ela lhe jogou no rosto como resposta. Ele se ajeitou melhor na poltrona e sentiu uma pontada de dor passar pelo corpo, partindo da perna doente, a parte boa é que ele estava aprendendo a disfarçar esses momentos quando estava na presença de outras pessoas. — E que diabos de combinação foi essa que você fez? Acha mesmo que eu usaria uma camiseta gola polo em uma entrevista de emprego?

— Faz melhor então, seu chato. Você já tomou café? – ela deu de ombros e foi para a cozinha, abrindo a geladeira e quase se enfiando inteira dentro do eletrodoméstico, procurando comida. Esse era outro conflito que havia entre os dois, além do senso de moda, porque ela era uma vegetariana obcecada por comida natural e saudável, enquanto Peeta ainda estava preso à sua dieta com base em carboidratos, mesmo que não estivesse mais se exercitando. Nem é preciso comentar os quilinhos a mais que ele adquiriu nos últimos meses. — Onde está o tofu que eu trouxe pra você ontem!? E não vai me dizer que você engoliu aquela soja em uma noite… Peeta!

— Você sabe muito bem que eu não gosto daquela porcaria. – o homem jogou a roupa no chão e estava levantando devagar. Ele tinha uma bengala para dar apoio em momentos como estes e para caminhar quando ele estivesse tendo dificuldades, mas ele sempre a esquecia nos lugares de propósito, e ela tinha sido deixada no quarto dessa vez. No quarto que ficava na droga do primeiro andar. Ele suspirou. — Se não tem gosto, eu não como.

— Eu não tenho culpa se o seu paladar é tão afetado quanto o seu cérebro! – Lindsey respondeu enquanto se virava para preparar um desjejum rápido e com a menor quantidade de calorias possível, totalmente alheia ao sacrifício que estava sendo pra ele subir as malditas escadas.

— Ok! Antes que eu possa escolher algo adequado pra vestir, com o que exatamente eu estou lidando? – ele estava quase gritando, uma vez que finalmente tinha conseguido alcançar o andar de cima e entrar no closet. Peeta colocou uma mão no queixo e começou a avaliar as suas opções, talvez aquela camisa azul, com a calça jeans com um tom levemente esverdeado na barra virada (infelizmente, não apenas Lindsay e Deanna eram baixinhas, os Mellark poderiam facilmente passar por uma família de anões.) e o seu sapato de couro marrom. Será que seria demais usar um terno? Uma jaqueta poderia dar conta do recado. Talvez… ele ponderou, esperando a resposta da irmã.

— Mhhhm… mm… fotografia… – Peeta revirou os olhos. Ele não entendeu quase nada, mas já não gostava.

— Mas que diabos, Lins! – ele gritou, indo para a escada e parando no primeiro degrau. — Fotografia? Sério que você foi me meter em uma merda dessas?

— O cargo é gestor de ativos negativos de fotografias na revista Life. Agora, será que dá pra parar de gritar comigo e se arrumar logo?

— O que um "gestor de ativos negativos de fotografias" faz? – Peeta perguntou, voltando para a tarefa de arranjar uma roupa, mil vezes mais desmotivado e chateado. Especialmente porque sua irmã também trabalhava nessa revista, mas em outro departamento, e isso significava que ela havia mexido seus pauzinhos para agendar aquela entrevista. Como se sua própria vida não bastasse para fazê-lo sentir-se miserável, tinha também que ficar aceitando a caridade dos outros.

— Você recebe os rolos de negativos mandados pelos fotógrafos que nós temos espalhados pelo mundo, os organiza, separar os que vão ser utilizados nas edições ou não, faz arquivamento e revelação. É bem simples e divertido e você não precisa se movimentar muito pra fazer isso. – ela respondeu e, no final, percebeu que tinha falado mais do que devia e se calou abruptamente, de certo estava mordendo a língua por tocar na ferida.

Peeta fingiu que não notou.

— Okay. – se limitou a dizer.

— Sério? Só "okay"? Não vai espernear?

— Não. – sim, ele queria reclamar, mas estava cansado. — Têm sido entediante ficar em casa o dia todo.

Lindsay ficou calada, demonstrando que não tinha comprado aquela desculpa, mas que preferia não discutir. Peeta terminou se enfiando em uma camiseta xadrez, jeans claro e um all star converse, cano médio marrom que era seu tênis de estimação, já bastante gasto pelo excesso de uso. Já estava fechando a porta do quarto quando viu a bengala encostada em um canto, como se estivesse observando-o, julgando-o. O homem suspirou, deu meia volta e pegou o objeto. Que se danasse a opinião dos outros, qualquer coisa era melhor do que tropeçar na frente de todo mundo ou ficar por aí, mancando como um aleijado, implorando pela piedade das pessoas. Pelo menos com esse pedaço ridículo de madeira ele poderia se sustentar por si mesmo.

— Aqui, preparei isso. Coma e eu te dou uma carona até o prédio da revista. – ela disse, alegre, assim que o viu. Peeta, entretanto, não ficou tão feliz vendo o que havia em seu prato, algo verde misturado com algo amarelo. Nope.

— O que é isso? – perguntou, cutucando a gororoba com a ponta do garfo.

— Omelete de aspargo. Pelo menos isso você tinha na sua geladeira.

O homem fez uma cara. Por sorte, seu olhar passou de relance pelo relógio de parede.

— Que horas é a entrevista?

— Às 10:00. Tudo lá começa às 10:00, porque ninguém funciona direito antes disso, é engraçado. – ela riu consigo mesma e Peeta achou que isso tinha a ver com algum piada interna que ele não estava interessado em saber.

— Ah… bom, tecnicamente, estamos meia hora atrasados.

— O quê?

— Meia-hora. Atraso.

— Puta merda, é hoje que o Flickerman me mata…

Lindsay esqueceu tudo que estava fazendo e arrastou o irmão para o carro, resmungando e batendo a porta, esquecendo detalhes simples, como pegar as chaves da casa.

— Você vai a-d-o-r-a-r esse trabalho! – ela disse, rindo de um jeito meio maníaco, enquanto dirigia loucamente pela cidade.

Peeta fez uma careta e olhou para fora, muita luz solar, muito movimento, muita gente resolvendo seus próprios problemas e cuidando de sua própria vida. Ele não estava nem um pouco entusiasmado.