Vou deixar o vento me levar

"Razão, de que me serve o teu socorro?

Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;

Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro."

(Bocage)

Willow estava parada perto da janela de seu quarto, seu olhar fixo no que se passava do lado de fora da casa, mas não estava realmente vendo. Seus pensamentos estavam distantes. Sua mente repassava o que diria assim que sua namorada chegasse em casa.

Elas estavam juntas há um ano e tudo parecia que ia bem, mas Willow não tinha tanta certeza quanto a isso e não poderia ficar enganando Kennedy e nem enganando a si mesma. Assim que a morena voltasse da patrulha terminaria tudo. Seria melhor desse jeito. Então Willow se afastou da janela, sentou na cama de costas para a porta e esperou.

Eram duas da manhã quando Kennedy finalmente chegou depois uma noite caçando vampiros junto com Faith. Não fora uma noite cheia de ação, apenas uns dois vampiros, então as duas morenas resolveram cancelar a patrulha e ir para casa. No caminho de volta, a caçadora mais nova parou em uma das poucas floriculturas que ainda estava aberta e comprou um lindo buquê de rosas brancas e vermelhas para sua bruxa, fazendo Faith perguntar se era alguma data especial e Kennedy negara, dizendo apenas que queria surpreender Willow sem que fosse uma data comemorativa.

Willow não escutou as duas morenas chegarem e só notou a presença de Kennedy quando esta a chamou pelo nome.

- Will...

A ruiva se virou e viu sua logo ex-namorada sorrindo para ela com o enorme buquê em sua mão. Ela sorriu, mas logo seu sorriso se apagou. Não poderia ter segundos pensamentos, mesmo que seu coração se parisse ao ver a morena atenta em agradá-la. Ela não poderia amar Kennedy.

A caça-vampiros percebendo a mudança em sua namorada ficou preocupada e deixou o presente em cima da cama, se ajoelhando na frente de Willow e segurando suas mãos.

- Will... o que foi?

A bruxa continuou em silêncio e olhou para o lado, evitando a visão de suas mãos entrelaçadas com as da morena.

- Ruiva, fale comigo... eu fiz algo de errado? – Kennedy levou sua mão ao queixo da wicca e virou seu rosto para ela, querendo olhar em seus olhos.

Willow levantou, se soltando de Kennedy e se afastando dela. Ela caminhou até a janela, ficando de costas para a morena.

- Kennedy... – sua voz estava fraca e lutava para conter as lágrimas.

- Willow, você está me assustando. O que foi?

- A gente tem que terminar – ela disse em quase um sussurro.

- Terminar o que? – a caçadora primeiramente não entendeu, só alguns segundos depois tudo se esclareceu. Willow estava terminando com ela.

- Mas Willow, eu pensei que a gente estava bem juntas. Que você gostasse de ficar comigo.

- Eu gosto, não me arrependo de nada.

- Então por que? Eu te amo.

- Mas eu não posso te amar, você não é...

- Tara. Eu não sou ela, não é isso? – Kennedy sussurrou, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas.

Willow abaixou os olhos e não respondeu, era evidente a culpa em seu rosto. E era a única resposta que Kennedy precisava para sentir como se alguém houvesse arrancado seu coração de seu peito.

- Você não pode me amar porque eu não sou a Tara! – ela falava baixo, mas sua voz continha raiva – Me responda Willow!

- Kennedy entenda por favor – Willow suplicou.

- Eu entendo perfeitamente! Você só me usou esse tempo todo, todas às vezes que estávamos juntos era nela que você pensava. E eu sou uma idiota mesmo em pensar que um dia você poderia me amar! – seu tom de voz aumentava a cada palavra, mas não chegou a gritar.

- Kenn... é que vocês são muito diferentes e...

- Não Willow, não... não tente explicar. Você já partiu meu coração, não o machuque mais – então Kennedy pegou o buquê e numa voz triste disse – Isso aqui é para você... – e começou a sair do quarto.

- Aonde você vai?

- Onde minha companhia seja apreciada – e então a morena desceu correndo as escadas e quase arrancou a porta da frente da casa de tanta força que ela a abriu, a batendo mais forte ainda.

Willow assistiu sua ex sair do quarto e quanto escutou deixar a casa nervosa, ela olhou para o buquê e caiu na cama chorando.

Kennedy estava do lado de fora, as lágrimas começaram a cair e ela tentava limpá-las, mas era em vão. Quanto mais enxugava, mais elas escorriam. A morena se sentia frustrada, traída, desprezada. A única vez que amou, a pessoa não retribuíra. Então qual o sentido do amor, ela pensou. Se você não é correspondido, então o amor que sentia não era para ser verdadeiro. Mas Kennedy sentia que seu grande amor, sua alma gêmea era Willow. Com um grito de frustração, a caçadora girou seu corpo e socou a parede, seu punho a perfurando e deixando um buraco nela.

Nesse momento a porta da frente se abriu e por uns instantes Kennedy teve a esperança que fosse Willow querendo voltar, mas para seu desapontamento, em vez da ruiva apareceu uma morena, Faith.

- Ah, é você...

- Ei Junior! Por que essa agitação toda? Aposto que a Ruiva dá um jeito nisso sem pensar duas vezes – Faith sorriu com malícia.

- Parece que ela não quer mais dar nenhum jeito comigo – Kennedy retraiu sua mão do buraco da parede.

A caça-vampiros mais velha pareceu confusa.

- Ela terminou comigo – Kennedy respondeu amargamente.

- Merda, Junior. Eu pensei que estava tudo bem entre vocês.

- Eu também, mas a Willow pensa o contrário.

Faith olhou para a amiga com preocupação. Não era muito de formar laços afetivos, mas com Kennedy era diferente, logo que destruíram o Primeiro a amizade das duas se fortaleceu. Talvez porque as duas tivessem a personalidades parecidas, nenhuma das duas levava desaforo para casa, eram xavequeiras, eram duronas, nem sempre mostrando o que sentiam e adoravam ser caça-vampiros. Uma entendia a outra e também foi com a ajuda de Kennedy que conseguiu limpar sua ficha criminal, dinheiro fazia maravilhas. Devia sua liberdade à amiga.

Faith sabia que se a amiga não ocupasse a cabeça com outra coisa, faria algo que se arrependeria.

- Vem, Kenn. Vamos sair daqui.

Kennedy relutou, sabia aonde iriam e mesmo adoram danceterias e lugares desse tipo, não estava muito a fim de ir. Mas acabou aceitando, tinha que tirar Willow da cabeça, mesmo que por algumas horas apenas.

Enquanto isso dentro da casa, o som da porta e mais o grito de Kennedy foram o suficiente para acordar Buffy. Ela levantou assustada e a primeira coisa que pensou foi em Willow. Buffy saiu de seu quarto e caminhou pelo corredor do segundo andar em direção ao quarto da amiga. Quando estava perto da escada, escutou vozes na parte de fora da casa. Pareciam Faith e Kennedy conversando, mas não conseguiu distinguir muita coisa, apenas que Kennedy estava muito chateada. Buffy então teve certeza que houvera uma briga entre ela e sua melhor amiga.

Chegando no quarto que a ruiva dividia com sua namorada, a caçadora original ouviu sons de alguém chorando e seu coração se apertou. Se Kennedy tivesse magoado sua melhor amiga, a morena pagaria por isso.

A loira bateu de leve na porta, mas quando não teve resposta ela entrou e viu Willow deitada na cama, seu rosto manchado pelas lágrimas que ainda escorriam e de seu lado um belo buquê.

- Willow... – Buffy sentou ao lado da amiga e acariciou seus cabelos – O que a Kennedy fez? Eu juro que eu a mato se ela te magoou.

- Ela não fez nada... – Willow se levantou e sentou de frente para a loira – Eu terminei com ela...

- Por que? Eu achei que você estavam bem ...

- Eu não poderia continuar com ela... como eu posso amá-la se ela não é a Tara. A Tara foi a única pessoa que eu amei incondicionalmente...

- Will, você tem certeza? – Buffy perguntou preocupada.

- Tenho, não ia ser justo com ela e nem comigo – ela disse ainda chorando.

A loira abraçou sua amiga e depois limpou suas lágrimas, falando com carinho.

- Will, você merece ser feliz e acho que você pode ser mesmo não sendo com a Tara. E apesar de nunca ter me entendido muito bem com a Kennedy, acho que ela é uma boa pessoa, gosta de você e a te faria feliz, se é que já não faz. Pensa direito Will, para não se arrepender e se magoar no futuro. Porque quando perceber o que sente, pode ser tarde demais – ela disse como se conhecesse muito bem a situação.

- Eu tenho que fazer isso... – e então abraçou a amiga e as duas ficaram desse jeito até que adormeceram.

Kennedy e Faith estavam na danceteria já fazia uma hora e meia, mas o plano de faith de fazer sua amiga esquecer Willow foi por água abaixo, porque a única coisa que Kennedy falava era de sua ex-namorada enquanto bebia sua terceira garrafa de cerveja.

- Ela não pode me amar por causa da Tara. Merda, ela tá morta! Como a Willow pode ficar presa a alguém que não vai voltar mais. Ela não pode me amar... acho que não sou madura o suficiente, bruxa o suficiente, meiga o suficiente, loira o suficiente... eu deveria pintar meu cabelo de loiro. É isso, vou mudar, vou ser loira! – ela se levantou do balcão, mas logo se sentou e coloca a cabeça nas mãos, respirando fundo – Mas eu não posso mudar, eu sou assim e a Willow devia em amar por quem eu sou. E o pior de tudo, é que por mais que eu queira ficar brava com a Willow eu não consigo. Eu a amo demais – seus olhos se encheram mais de lágrimas.

- Kenn ... – Faith colocou a mão no ombro da morena – Se eu puder ajudar...

Kennedy levantou o rosto e sua expressão era mostrava que estava determinada a fazer alguma coisa – E pode... eu preciso que você me leve até a rodoviária.

- Como?

- Eu não posso ficar mais aqui, morando na mesma casa que ela, sabendo que ela não me ama, que não posso tocá-la. Se eu partir vai ser melhor para mim e para ela também.

- Você acha que indo embora vai resolver tudo? – Faith começou a fiar brava com Kennedy, não era só Willow que estaria deixando para trás, mas seus amigos também.

- Talvez se eu ficar longe a dor diminua um pouco... – a caça-vampiros mais jovem disse em um tom magoado.

A ex-caçadora rebelde olhou triste para amiga ao ouvir o que ela disse. Sabia o quanto ela amava a Willow e estava sofrendo muito. Era por isso que não se envolvia, para não se magoar, Faith pensou.

- Ok... eu te levo.

- Obrigada.

Elas chegaram em casa um pouco depois das 4h da manhã e Faith ficou esperando na sala enquanto Kennedy pegava suas coisas. A morena mais nova subiu as escadas e abriu devagar a porta de seu quarto. Agora seria apenas o quarto de Willow. Ela entrou e viu seu grande amor dormindo junto de Buffy e isso partiu mais seu coração, desejava muito ser ela com os braços em volta da ruiva.

A caçadora se movimentou em silêncio pelo quarto, pegando suas roupas e o porá-retrato que continha a foto dela e Willow sorrindo, os colocando dentro de uma mala. Já estava quase terminando, quando bateu o braço no armário e isso acordou Buffy, que olhou ao redor do quarto e viu sua "irmã" caça-vampiros.

- Kennedy.. o que você está fazendo? – ela sussurrou para não acordar a bruxa.

- Vou embora...

- Mas...

- Olha antes de falar qualquer coisa eu já fiz minha cabeça e nada vai me convencer ao contrário. É o único jeito para eu tentar esquecer a Willow, se eu ficar aqui, eu posso acabar fazendo uma besteira não sei.

- E você vai embora sem se despedir de ninguém? Nem de Willow?

- Eu sou apenas mais uma caçadora, ninguém sentirá minha falta. E quanto a Willow, eu não posso, se ficar cara a cara com ela eu vou me descontrolar e acabar chorando, não quero que ela me veja assim.

- Tem certeza disso? – Buffy se preocupou, sabia que Willow não levaria muito bem a partida de Kennedy e ela mesmo estava triste, apesar de não concordarem em muita coisa, até que gostava da presença da garota e ela era uma boa caçadora.

- Não vou mudar de idéia...

- Vamos sentir sua falta – Buffy a abraçou, surpreendendo a morena.

- Diga a todos que eu falei tchau.

A loira deu um pequeno sorriso e saiu do quarto, sabendo que era a última vez que veria Kennedy por um bom tempo.

A morena então olhou para Willow dormindo, agarrada ao travesseiro, como se fosse uma pessoa - Provavelmente a Tara – ela murmurou e sentou na poltrona em frente a cama, pegando um papel e uma caneta para escrever uma carta. Assim que terminou, dobrou o papel, escrevendo o nome de Willow em cima e o colocando na cama do lado da ruiva, com uma rosa vermelha cruzando a carta. Kennedy olhou mais uma vez sua ex-namorada e uma lágrima escapou de seu olho.

- Adeus Willow – e deu um leve beijo em seus lábios, depois fechando pela última vez a porta que um dia fora seu quarto também.

Kennedy desceu as escadas e Faith logo se levantou.

- Já vamos?

- Sim, quanto antes melhor, não quero ter que explicar isso para ninguém.

Na rodoviária, Faith e Kennedy se despediam.

- Já sabe para onde vai?

- Não, acho que vou pegar um ônibus até Boston e de lá eu vejo o que faço. Minha família mora lá apesar de não sermos muito unidos, mas também tenho amigos por lá. É melhor eu ir... tchau ...- as duas se abraçaram.

- Mantenha contato.

- Quem sabe... e Faith? Tome conta dela, ok?

- Eu vou, não se preocupe.

Faith entrou no carro e deu partida, deixando sua amiga para trás. Kennedy olhou a ex-caçadora rebelde se perder na escuridão e depois se virou, andando até a bilheteria. Comprou uma passagem para Boston e sentou no banco, esperando o ônibus que a levaria para sua nova vida, seu novo destino.

Willow acordou com o sol batendo em seu rosto. Relutante ela abriu um pouco os olhos e viu que já se passavam das nove da manhã, mas não se importou muito, era sábado e não trabalharia. Tentou dormir novamente, mas não conseguia. Seu corpo estava todo dolorido e sentia como se algo estivesse faltando. Ela virou seu corpo e quando viu o buquê de rosa que continuava na cama se lembrou de tudo o que acontecera na noite anterior, sentido as lágrimas voltarem aos seus olhos. Não tinha porque se sentir desse jeito, fez o que era melhor e sabia disso.

Com a mão trêmula ela acariciou levemente as pétalas das flores, como se tivesse medo que elas desmanchassem ao seu toque. E então viu uma rosa solitária em cima do travesseiro que costumava ser de Kennedy e embaixo dela uma carta com seu nome escrito. Imediatamente reconheceu a letra, era de sua ex-namorada.

A ruiva abriu a carta cuidadosamente e sua expressão foi ficando cada vez mais triste a cada palavra que lia.

"Minha Deusa,

Quando você ler esta carta eu não estarei mais aqui. Mas não quero que você pense que eu parti estando brava com você e sem me despedir, mas olhando para você dormindo, eu não conseguiria falar adeus sem que lágrimas escorressem pelo meu rosto. E eu sei que isso a machucaria, pois você é uma pessoa maravilhosa que não quer ver ninguém sofrendo, por isso que resolvi escrever essa carta.

Me desculpe por ter sido dura com você e te magoado, mas eu estava fora de mim, descontrolada. Você tinha me machucado e meu único pensamento era que queria que você sentisse o mesmo. Mas eu percebi que estava sendo idiota, como sempre.

Não te odeio por isso, eu entendo que você ainda ama a Tara e eu não sou ela. Eu gostaria de dizer que eu poderia mudar e me tornar que nem ela, a mulher que você deseja, que você ama. Mas não posso, eu sou o que sou. Espero um dia poder te encontrar de novo e quem sabe, o que eu sou, como eu sou e quem eu sou seja a mulher que você tanto deseja.

Até lá, não posso ficar aqui. Não agüentaria viver perto de você e não poder de tocar, não poder te beijar e pior de tudo, não poder dizer o quando eu te amo e o quanto eu quero te fazer feliz.

Eu ainda não sei para onde vou, que caminho seguir. Vou deixar o vento me levar e ver onde vou parar. Talvez longe, talvez perto, mas sempre a levarei comigo, mesmo que seja apenas uma lembrança.

Willow, espero que você seja feliz. Depois de tudo que você passou, você merece. E nunca se esqueça, eu te amarei para todo o sempre.

Com amor,

Kennedy."

Assim que leu a última palavra, Willow caiu de joelhos e a carta se soltou de suas mãos, caindo no chão. Nela se podia ver manchas de lágrimas já secas se misturando com lágrimas ainda molhadas. O único som que se ouvia no quarto eram soluços fortes de um choro desesperado.