Nota: Sim, é uma fic com cunho histórico-mítico. De lendas greco-romanas. Pretendo trabalhar com empenho para que seja algo que valha a pena ler e se deliciar, mas confesso que não sou acostumada a esse tipo de escrita firme e com momentos de dor, ação e etc. Como podem adivinhar essa não é uma fic romântica como tantas outras minhas. Pelo menos não tanto.
Heather
Prólogo
Prometeu era um dos titãs, uma raça gigantesca, que habitou a terra antes do homem. Ele e seu irmão Epimeteu foram incumbidos de fazer o homem e assegurar-lhe, e aos outros animais, todas as faculdades necessárias à sua preservação. Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu de examiná-la, depois de pronta. Assim, Epimeteu tratou de atribuir a cada animal seus dons variados, de coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras a outro, uma carapaça protegendo um terceiro, etc. Quando, porém, chegou a vez do homem, que tinha de ser superior a todos os outros animais, Epimeteu gastara seus recursos com tanta prodigalidade, que nada mais restava. Perplexo, recorreu a seu irmão Prometeu, que, com a ajuda de Minerva, subiu ao céu e acendeu sua tocha no carro do sol, trazendo o fogo para o homem. Com esse Dom, o homem assegurou sua superioridade sobre todos os outros animais. O fogo lhe forneceu o meio de construir as armas com que subjugou os animais e as ferramentas com que cultivou a terra; aquecer sua morada, de maneira a tornar-se relativamente independente do clima, e, finalmente, criar a arte da cunhagem das moedas, que ampliou e facilitou o comércio.
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A chuva açoitava sem dó as janelas do casarão em estilo vitoriano localizado aos arredores de Hartfordshire, na Inglaterra. Fazia-se três dias que o clima encontrava-se daquele jeito, pesado, chuvoso e cinzento. Talvez fosse um aviso de que coisas ruins estavam por vir para aqueles que acreditavam que poderiam prever o futuro pelas ações dos céus. Uma mulher, não poderia passar dos 23 anos, estava sentada no centro de uma grande cama dossel, com as pernas esticadas e cruzadas e as costas apoiadas na cabeceira de madeira-de-lei, lia um grosso livro velho e comido pelas traças com interesse, alheia a qualquer coisa ao seu redor. Tinha compridos e ondulados cabelos vermelhos, os olhos verdes-esmeraldas, escondidos por detrás de grossas lentes dos óculos de armação metálica.
Uma batida à porta lhe trouxe de volta a realidade e ela deixou o livro de lado, retirando os óculos e levantando-se e indo abrir a porta de carvalho.
-James? -Sorriu ao ver um homem, talvez dois anos mais velhos, de despenteados cabelos negros e olhos igualmente verdes quanto os dela. Assemelhavam-se no formato oval do rosto e no nariz reto e arrebitado na ponta. -O que foi?
-Vim ver se está tudo bem. Avisar que é provável que falte energia aqui com essa tempestade toda. -Ele falou enfiando as mãos nos bolsos. E olhando para dentro do quarto. -Você ficou enfiada aqui o dia todo, Lily.
-Eu sei, me perdi lendo. -Ela disse num tom de desculpas e então escancarou a porta, saindo para o corredor ao lado dele. -Estou com fome.
-Posso imaginar, mamãe está fazendo algo. -James falou começando a caminhar e esperando que ela o seguisse.
A ruiva fechou a porta, e com alguns passos apressados, alcançou o irmão.
-Nem sinal do Albus? -Perguntou cautelosa, de fato, por mais concentrada que estivesse no livro, o desaparecimento do irmão havia dois dias ainda a angustiava por dentro. Tinha a sensação de que não era mais uma missão ultra-secreta de auror. Por que mesmo quando era isso, Albus sempre dava um jeito de avisar algum deles por mensagens codificadas.
-Não. Papai está no ministério tentando saber de algo. -James informou descendo as escadas calmamente. Mas quem o conhecia bem notaria seu maxilar travado e a pequena ruga que se formava entre suas sobrancelhas. Estava preocupado com algo.
Estavam rumando para a cozinha quando um crepitar de chamas seguindo de uma intensa luz verde os fez virarem-se em direção à lareira. Logo um rapaz provavelmente da mesma idade de James, com cabelos platinados, olhos cinzas de tez pálida, surgiu, trajando uma longa capa negra, com o semblante rígido.
-Potters. -Acenou com a cabeça, batendo alguns poucos restos de cinzas que ficaram nas mangas.
-O que você está fazendo aqui, Malfoy? -James preciptou-se, a raiva não escondida em suas palavras.
Lily seguiu-o, temendo que uma briga ocorresse ali. Sempre fora conhecido o ódio mútuo que o loiro e seu irmão sentiam um pelo outro. De fato, ela mesmo nutria animosidade por Scorpius Malfoy. Mas aquilo não era importante, não quando em comum eles tinham Albus. Seu irmão um ano mais velho, que incrivelmente, era o melhor amigo do rapaz.
-Preciso falar com seus pais. -Ele falou mantendo-se impassível, ignorando o rapaz que avançava em sua direção.
-Espere, James. -Lily deteve o irmão pelo antebraço e tomou a frente, aproximando-se de Scorpius. -Notícias de Albus?
Seu tom era esperançoso, e o rapaz fitou-a quieto, e então levantou os olhos fixando-se para algo atrás deles.
A mulher estava parada na soleira da porta, segurava um guardanapo nas mãos, parecia-se muito com Lily, mas tinha os olhos grandes e castanhos, preocupados. Seu rosto já se via algumas rugas, mas isso não atrapalhava aparência jovial e alegre que teria se seu semblante não tivesse carregado com uma preocupação comedida.
-Scorpius. -A mulher saudou-o, unindo-se aos filhos.
-Tia Ginny. -O loiro tomou as mãos dela e beijou-as polidamente, então ajeitou a postura, tomando ar por breves momentos. -Sr. Potter ainda voltou?
-Não. Diga logo o que você quer Malfoy. -James disse grosseiramente, ainda exalando a raiva que lhe possuía ante a presença do outro rapaz.
Lily esfregou a testa, sentindo uma vontade de bater no irmão mais velho, porém manteve-se calada, sofrendo antecipadamente pela notícia ruim que seguiria. Podia notar nos olhos do loiro que nada do que lhes dissesse seria bom. Só esperava que não fosse ruim demais...
Um barulho de estalo foi escutado e próximo à eles, apareceu um homem já bem vivido, idêntico a James, com uma feição estressada e cansada. Porém, a pose sumira no exato momento que notou a família reunida em volta do loiro. Seus olhos se estreitaram de forma preocupada e ele aproximou-se.
-Do que você sabe Scorpius?
Lily olhou de um para o outro, parecia que o loiro conversava com o pai através dos olhos. E ante a careta de surpresa e horror que Harry Potter fizera, talvez tivesse sido isso mesmo. O homem cambaleara alguns metros e deixara-se desabar no sofá, levando o rosto as mãos, contendo um gemido. Ginny aproximou-se, abraçando o marido, seus olhos brilhavam cheios de água, estava preste a cair em prantos.
James virou-se para Scorpius e foi mais rápido do que Lily, agarrou o rapaz pelo colarinho.
-Conte. Agora.
Scorpius lançou-lhe um olhar de desdenho e fúria, porém não moveu um centímetro sequer.
-Solte-o, James. -Lily pediu olhando para os pais conversando aos cochichos. -Eu disse solte-o.
Falou com mais firmeza ao ver o irmão não inclinar-se a cumprir seu pedido. Porém, lentamente, James largou o rapaz e com um praguejo foi para o lado dos pais, tentando saber de algo. Scorpius acompanhou-o com o olhar e então fitou a ruiva inexpressivamente.
-Do que você sabe Malfoy? -Lily perguntou mantendo a voz firme.
-Não creio que seja informação comum. -Disse enfiando as mãos nos bolsos, sem desviar o olhar dela.
-Dane-se. Estamos falando do meu irmão, eu tenho direito de saber. -Lily retorquiu azedamente, tentando manter o controle sobre seu temperamento em frangalhos.
Ele analisou-a por alguns segundos, que para ela pareceram séculos e por fim cedeu.
-Seu irmão falhou na missão. Foi seqüestrado.
Lily deixou uma lágrima escorrer, não sabia se de felicidade por ele aparentemente estar vivo, ou de desespero pelo seu seqüestro.
-Seqüestrado por quem? -Perguntou.
-Informação sigilosa. -Scorpius declarou desviando o olhar dela para Harry que se levantava e começava a caminhar em direção à eles.
Ela teve vontade de gritar, espancar, espernear. Mas controlou-se, apenas olhando ressentida para ele. Pouco lhe importava protocolos ministeriais naquele momento, era a vida de seu irmão que estava em jogo, o resto não lhe interessava.
-Venha, Scorpius. -Harry chamou-o caminhando em direção ao escritório. O rapaz virou-se e seguiu-o em silêncio.
Na sala, Lily, James e Ginny ficaram emudecidos, em seus lugares, tentando digerir a notícia.
-Mamãe você tem que saber de alguma coisa. Quem sequestrou Albus? -James pronunciou-se, ajoelhando-se ao lado da mãe que estava sentada no sofá, olhando fixo para o chão. Lily também se aproximou, em silêncio, curiosa.
-Não sei, filho. -Ginny disse por fim, após alguns minutos de silêncio, e então se levantou. -Vamos para a cozinha, quando seu pai tiver que falar algo, ele virá.
James resmungou algo, porém seguiu a mãe junto com Lily. Poderia enganar a quem quisesse, mas a ruiva sabia que a mãe estava mentindo. Até por que, se Ginny não soubesse de nada, ela estaria brigando com seu pai e Scorpius por informações. Ginevra Potter não era mulher de ficar calada e acomodada com tudo. Não quando sabia de algo que poderia ser perigoso para os filhos. Principalmente para James que sempre fora o mais impulsivo dos três.
