Ellipsis

Há relações que poderíamos referir como complexas o suficiente para não julgarmos certo. Londres, ano de 2017. Albus nunca achou que alguma pessoa fora da família lhe rendesse tanto significado. Universo Alternativo.

obs: Fanfic postada em partes, como a escritora tem um lacre em escrever linearmente. Embora tenha Al/Scorpie (fuck yeah, is yaoi), possui outros pares heteros e homos :B Por enquanto, as cenas de sexo e algumas mais fortes não irão aparecer, como a grande parte dos personagens são ainda pequenos -q

"Nunca cutuque um dragão adormecido, nunca cutuque-o, diz a princesinha... Mas o irmão feiticeiro de barba ruiva se deparou com um despertado e furioso...", uma voz de menino era ouvida exuberantemente pelo prolongamento dos corredores do segundo andar. Via-se as janelas abertas num dos lados, mostrando o céu nublado e borrado daquele dia de maio. O ar estava fresco e este passava entre os papéis grudados em azulejos multi-coloridos. A Escola Elementar Kingcross ainda não estava em seu horário de aulas, como eram só seis horas da manhã e vinte minutos.

Contudo, o grande portão de entrada, feito de cedro, estava aberto por mais de onze minutos. As grades da escada, a qual conectava o térreo com o primeiro andar, estavam destrancadas. Embora não se possa dizer o mesmo que conectava este segundo com o segundo andar, o elevador estava em perfeitas condições de uso e ativado.

Assim como uma certa porta branca com uma lente transparente e reforçada quadrada, por onde se podia ver o foco da melodia suave. Um dedo foi levantado e tocou a superfície poeirenta da prateleira de cima. Ao ver a ponta toda maculada e negra, o seu dono de olhos esmeraldinos esticou a língua para fora.

- Er... hum... Al? - Chamou uma outra voz, hesitante e temerosa.

Nesse momento, a canção foi interrompida.

O dono dos orbes verdes parou de xeretar o conteudo da estante, empurrando sua mão para afastar alguns objetos, endireitando outros e visumbrando alguns. Suspirou, relaxando seus ombros em cansaço, sabendo que a sua capacidade de ignorar não era útil.

- Scorpie? - Foi a sua resposta ao chamado, enquanto lentamente virava a sua cabecinha de cabelos morenos lisos que iam dois dedos abaixo da nuca, ainda equilibrando seu par de tênis na superfície áspera do terceiro degrau duma escada portátil de madeira. Sua expressão podia ser estoica, mas quem conhecesse-o saberia que havia um tóno de preocupação quando pronunciava aquele apelido. - Aconteceu alguma coisa? - averiguou.

- É... é... é... na verdade... eu... eu... - Seu amigo respondeu com bastante insegurança, um riso estranho escapando de sua garganta. Albus franziu a testa, reconhecendo aquilo. Medo.

Não estranharia ouvi-lo como um garotinho que acordou por causa de um sonho ruim. Até por ele próprio ter sido a pessoa quem telefonou para a Mansão Malfoy no meio da noite do dia anterior e acordado um sonolento Scorpius. Só para dizer que deveriam se encontrar às 6h10 e rebater à série de "Mas... mas..." que o loiro tentava impôr, com o argumento que fariam alguma investigação divertida. Recordava-se bem do melhor amigo chegando de bicicleta com a cara de quem acabara de ver um fantasma...

O que o Potter deduzia sendo a visão do olhar frio possuído por nada menos que o avô do outro, Lucius. Bem que o neto deste tentara fugir ligeiro, no entanto, Al não viu outra escolha senão pegar um de seus braços e o empurrar sem misericórdia para o objetivo.

Não que Albus tivesse algum arrependimento ao relembrar disto pela sétima vez. Achava que as coisas assustadoras pareciam menos, do que realmente eram, quando Scorpius localizava-se perto.

Mesmo se esse parecer que poderia correr absurdamente rápido a qualquer instante se alguma coisa fizesse "buu!"

Al verificou o objeto para onde seu amigo encarava e um clarão percorreu seu olhar, antes deste ficar estoíco e uma sobrancelha se levantar em incredulidade.

Scorpius Malfoy via-se perdendo a sua postura ao encarar aquilo, mas não podia-se ajudar. Não retirava os seus olhos acinzentados infantis do frasco que o garoto Potter lhe trouxera, o recipiente contendo um líquido quase-cor-de-ambar e um sapo repousado no fundo. Este fora cortado cuidadosamente no meio do tórax e um pouco embaixo do 'pescoço'. O loiro jurava ter visto o intestino do bicho entre os orgãos à mostra nessa abertura e tampava a boca com as mãos.

E Al não conseguia acreditar como aquela coisa conseguia fazer o rosto cândido e formoso do garoto de arrepiados cabelos louros claros numa careta de mocinha de filme de terror. Então, semi-cerrou as pálpebras e disse:

- Vamos lá, é só um sapo. - Suspirou, inclinando a cabeça levemente e mantendo um olhar quieto. - Não é como ele fosse abrir os olhos, virar uma múmia e pular em cima de você, seria?

Scorpius engoliu em seco e sentiu um instintivo movimento de suas mãos. Por mais que pensasse sobre como era uma hora inapropriada para as notações de Albus Severus, não conseguia ficar bravo. Não que quisesse. Mas a atenção visual estava direccionada para aquele ponto apenas.

- Ahh... n-não seja idiota... - Resmungou, ao arfar e dar alguns passos para trás com seus sapatos italianos. Múmias? "Potter bobo", pensou para si mesmo, "eu não estou com medo do sapo em si, mas...". - Só não consigo ter a imagem de eu dissecando esse bichinho. - e, sem perceber, fez um bico.

Os olhos de Albus arregalaram um pouco em surpresa.

- Bi-chi-nho? - Indagou, surpreendido. Por um segundo, quis rir. Mas ao ver aquela expressão séria que nem era dirigida ao seu rosto, sabia que não conseguiria. - É... Scorpie... veja bem... - Interrompeu-se e piscou as pestanas. Por quê estava se desculpando?

Scorpius, sabendo o que se passava pela mente do amigo, desviou seu olhar do frasco e do lado de Albus, ao tentar esconder sua leve exasperação. Estivera pensativo quanto à decisão do dia-para-a-noite do Potter em praticamente fazer um tour num dos lugares proibidos da Escola Elementar de Kingcross: o laboratório de biologia. Não o leve a mal: o filho único de Draco e Astoria já teve várias experiências em correr dos inúmeros animais de estimação da Mansão Malfoy e estes não se importavam em persegui-lo por todos os quatro cantos possíveis. Entretanto, não significaria que detestasse-os.

Muito pelo contrário, o menino possui uma grande afeição por bichos, a ponto de visitar zoológicos e aquários para fotográfa-los. O seu pai, observando o quanto seu primogênito (isto porquê dois anos após o nascimento do pequeno nasceram os gêmeos Spica Artemis e Arcturus Perseus) prezava coisas semelhantes ao trabalho dum veterinário, acabou comprando um rancho sob a recomendação da mulher. E isto foi a razão para a face iluminada do garoto e para o desinteresse fingido do avô deste, Lucius.

Albus não esquecia esses meros detalhes sobre Scorpius, os quais eram conhecidos antes mesmo de tornar-se oficialmente seu amigo. Por isso, ao esticar-se um pouco para ver a face levemente corada do Malfoy, teve a impressão de que algo em seu peito queimava ao compasso da possessão duma familiar ternura, fazendo-o suspirar e começar a descer degrau por degrau.

Recordava-se sobre os comentários das pessoas sobre seu respeito: que o filho do meio de Harry e Ginny era considerado um lobo solitário pela personalidade quieta e introvertida, embora fosse desafiador e evitasse atenções para si. Ninguém poderia negar as suas habilidades em beisebol e hockey: dizem que deve ser "coisa de família", como seus parentes possuem dotes esportivos. Também tinha irmãos, embora fosse uma garota mais nova (Lily Luna) e um devasso garoto mais velho (James Sirius). Outras diferenças físicas poderiam ser os seis centímetros a mais que o loiro, além duma massa muscular mais beneficiada e dos olhos verdes que transmitiam uma intimidadora empatia.

Questionava-se como alguém da alta sociedade, complacente e frágil como Scorpius vira em si - não admitiria isto tão cedo, mas essa interrogação o deixava curioso. Quando o Malfoy lhe ofereceu a amizade sem nada em troca, achara que era uma piada. Afinal, seus familiares possuíam holofotes voltados o suficiente para o moreno não gostar de ser lembrado por coisas que não fizera. Para acrescentar, o filho de Draco era preocupado em não causar problemas e em devorar livro após livro. O que seria diferente do que contariam sobre seu pai ou avô, ambos igualmente impressionados.

O cenho de Al se franziu. Se ele não queria se encrencar, tudo bem... Mas... Porquê manteve a bendita teimosia em segui-lo em todos os lugares? Claro que, devido à adaptação, o Potter não se importava em ter um par de orbes acinzentados observando-o com zelo. A pergunta seria: Como acabamos de chegar onde estamos? Talvez, de maneira mais usual do que gostaria. Não fizera ideia do motivo que o fizera aceitar a mão do loiro (exceto os incentivos da sua prima e melhor amiga Rose Weasley, um tipo de menina que é amiga de todo mundo), mas apostava sobre o aspecto de companhia...

...embora fosse exatamente isto que o preocupasse.

- Calminha. Se não quiser, não precisaria fazer isso. - Sossegou-o num tóno calmo, encaminando seus tênis vermelhos para onde estava seu melhor amigo e com as mãos enfiadas no conteúdo dos bolsos de sua calça jeans. Achava engraçado como a altura de seu ombro era a altura da bancada. Scorpius piscou seus olhos como um filhote de leão assustado, virando-se para ver se era sério. Al suspirou antes de formar um sorriso maroto e cruzar seus braços. - Seu medroso. De que forma vai poder ser médico se nem sabe o que tem nos bichinhos? - provocou-o sem pensar, pondo as mãos em suas cinturas e inclinando-se para perto da face corada do loiro.