Evil Party
Madam Spooky
(Parte 1/2)
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Agradecimentosespeciais à Vane por revisar! Eu reescrevi alguns parágrafos depois das correções, logo, eventuais erros serão completamente minha culpa. E também a Leila Wood e Cíntia por lerem o primeiro rascunho e sobreviverem a ele.
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Avisos: OOC. As características individuais dos cavaleiros envolvidos foram drasticamente exageradas. Talvez alguma coisa adicionada. Além disso, eles estão bastante... comunicativos. Vamos fingir que é um efeito colateral de morrer e voltar à vida em um curto espaço de tempo. Ou, talvez, das várias vezes que os espectros os acertaram na cabeça.
Disclaimer: Saint Seiya pertence a Masami Kurumada – e todos hão de concordar que é melhor assim.
Notas: Essa história é um pós-Hades, considerando a mesma como a última de todas as batalha. Eu dei algumas pistas dos acontecimentos que teriam se seguido, mas caso não fique muito claro, Athena ressuscitou todos os cavaleiros mortos (inclusive Aioros), que estão vivendo felizes e entediados no nosso bom e velho Santuário.
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História escrita para o Coculto, um amigo oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.
Para Andréia Kennen
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Mente ociosa, moradia do diabo. A frase bem podia ter sido escrita em uma placa e pendurada sobre a porta da casa de Leão.
Era uma tarde estupidamente quente no Santuário, o que não queria dizer muita coisa; todas as tardes eram estupidamente quentes naquele lugar. Aioria passava por uma elevação de terra a meio caminho das Doze Casas, voltando de uma tarde de treinos que não ajudaram em nada no propósito de desviar sua mente do imenso tédio no qual se sentia mergulhado ultimamente, quando ouviu o barulho de passos se aproximando na direção contrária.
Normalmente teria ignorado o ruído e continuado em frente. Mas sua rotina tinha se tornado tão terrivelmente enfadonha desde que Athena anunciara que a paz fora definitivamente alcançada (pelo menos por uma ou duas centenas de anos), que resolveu agir de forma completamente atípica e esconder-se atrás da primeira rocha que conseguiu avistar. Inacreditável. Que tipo de pessoa normal ficava aborrecido em saber que os deuses interessados em dominar o mundo tinham resolvido tirar umas férias?
Esperou em silêncio por cerca de cinco minutos. Já estava começando a se sentir ridículo com a situação quando o dono dos passos apareceu repentinamente à esquerda, a poucos metros de distância, e teria percebido imediatamente que estava sendo observado se não fosse pelo embrulho em seus braços que aparentemente era foco de toda a sua atenção.
Ok, agora sim ele se sentia ridículo. Era apenas Afrodite fazendo... fosse lá o que costumasse fazer com todo o tempo livre que tinha nos últimos tempos. Pensou em levantar-se, resmungar qualquer coisa sobre ter cochilado atrás daquela rocha e procurar alguma coisa interessante para se ocupar longe dali, mas algo na atitude do outro o impediu. O Cavaleiro de Peixes olhava para os lados desconfiadamente, como se incerto a que distância exata estavam os donos dos cosmos que sentia, mas sem parar para uma melhor averiguação.
Aioria o observou o melhor que pode sem que sua presença tão próxima fosse revelada. Seguiu seus movimentos até um segundo monte de terra uns dez metros adiante , e foi com espanto que o viu enterrar o embrulho, com cuidado para que o solo no local continuasse a parecer tão desinteressante quanto sempre fora.
Tudo terminou em não mais do que alguns minutos e o Cavaleiro de Peixes, parecendo mais do que aliviado, quase feliz – talvez maquiavélico o descrevesse com ainda mais exatidão – seguiu seu caminho como se também voltasse da direção das arenas de treino. Pela primeira vez Aioria reparou que ele usava as mesmas roupas que usualmente destinava àquela atividade, mas tinha certeza de que não o avistara em nenhuma parte perto das arenas naquele dia.
Interessante.
Esperou mais alguns instantes, de maneira a se certificar de que Afrodite não voltaria, e saiu do esconderijo às pressas, quase tropeçando em meio à empolgação. Com um golpe só, desenterrou o embrulho e rasgou o tecido escuro que o envolvia sem sequer parar para pensar em sua habitual atitude de nunca se meter onde não era chamado.
Arregalou os olhos ao ver do que se tratava. Afrodite de Peixes, será possível que você...
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Marin estava praticando socos e chutes em um saco de pancadas improvisado quando ele a encontrou. Esperou que a Amazona fizesse uma pausa por si mesma, mas quando percebeu que isso não aconteceria, ele gritou o nome dela apenas alto o suficiente para ser escutado.
- O que é que você quer agora?
Aioria sorriu largamente, como se não fizesse a menor idéia da razão do tom ríspido da pergunta. Na verdade, achava que ela estava exagerando um pouquinho. Ter compartilhado com Seiya algumas das histórias embaraçosas que ela protagonizara na época de treinamento não era motivo para tratá-lo com descortesia; ela nunca lhe pedira para guardar segredo.
- Acabou de acontecer algo inacreditável.
- Você aparecer aqui depois que eu deixei bem claro que nos veríamos no seu velório?
Marin cruzou os braços e ele quase conseguia ver a expressão furiosa por trás da máscara.
- Eu não poderia esperar tanto tempo. Além disso, somos Cavaleiros. Grandes chances de sermos desintegrados ou enviados para outra dimensão. Velórios são eventos com os quais nunca devemos contar.
- Aioria...
- Não quer mesmo ouvir o que tenho a dizer? – ele fez sua melhor expressão de cão abandonado. – Só vai levar um minuto e eu fiz todo o desvio até aqui quando poderia ter ido direto para casa e compartilhado a informação com o Shaka.
O comentário teve o efeito desejado e ele ouviu Marin lutar contra uma risada.
- Eu aposto que Shaka ficaria radiante em interromper sua meditação para ouvir as últimas fofocas do Santuário. – Ela deu um soco leve no saco de pancadas e suspirou. – Eu não gosto dessa versão entediada de você, muita informação para compartilhar. Fale logo antes que eu mude de idéia.
O sorriso de Aioria alargou impossivelmente e Marin ergueu uma sobrancelha sob a máscara ao vê-lo fazer aparecer uma espécie de embrulho de alguma parte misteriosa de suas roupas.
- Veja o que encontrei Afrodite enterrando no caminho entre as doze casas e as arenas de combate. – Estendeu o embrulho que a Amazona recebeu relutantemente. – Dê uma boa olhada e diga se eu estou enganado.
- Isso...?
Marin estudou o conteúdo longamente, de vez em quando abrindo a boca para dizer alguma coisa, mas desistindo em seguida. Por fim, devolveu o embrulho a Aioria e afastou-se, fazendo menção de voltar ao treino.
- O quê? – o Cavaleiro de Leão parecia desapontado. – Você viu isso aqui?
- Vi.
- E não vai dizer nada?
- O que você quer que eu diga? – a Amazona de Águia cruzou os braços. – É estranho? Sim. Meio bizarro até? A resposta também é sim. É da minha conta? Definitivamente não. A propósito, nem da sua. Se o Máscara da Morte sonhar que você anda mostrando isso por ai, nós teremos a primeira batalha de mil dias no mundo pós-Hades.
- Máscara da Morte parece bem feliz... – Aioria retirou a meia dúzia de fotos do embrulho, envolta pelo que parecia o pedaço de um avental desbotado (provavelmente um dos que já vira o Cavaleiro de Peixes usar para praticar jardinagem). – Mas, afinal, não é ele quem está usando um vestido.
A primeira fotografia mostrava um Máscara da Morte sorridente, usando uma camisa cinzenta colada ao corpo, aberta no colarinho. Sua mão aparentava estar descansando nas costas de um não tão sorridente Afrodite, visivelmente desconfortável na antiquada peça de roupa feminina. Todas as outras fotos tinham sido tiradas na mesma ocasião e mostravam quase a mesma cena se não fosse pelo Cavaleiro de Peixes ter forçado um sorriso em algumas delas.
- Sabe o que mais, Leão? – Marin balançou a cabeça reprovadoramente. – Eu acho que alguns dos seus parafusos ficaram para trás quando Athena o trouxe de volta do Hades. Deveria falar com alguém sobre isso.
Aioria não estava mais escutando. Milhares de teorias passavam pela sua cabeça naquele momento. Desde as fotos serem falsas, o que parecia sensato levando em conta o absurdo que seria para qualquer homem lúcido imaginar um cavaleiro de ouro travestido, até a possibilidade de Afrodite e Máscara da Morte estarem vivendo alguma espécie de romance secreto onde o segundo tivesse um fetiche por donas de casa dos anos sessenta. Fosse o que fosse, era improvável que os dois quisessem que alguém ficasse sabendo.
- Um pouco tarde para isso – sorriu.
Os dias de tédio do Cavaleiro de Leão tinham finalmente chegado ao fim.
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- Boa tarde, amigo.
Não era fácil enganar Máscara da Morte; tampouco era sábio tentar, mas àquela altura Aioria estava empolgado demais para se preocupar com detalhes. Nem mesmo a incompreensível falta de interesse de Marin tinha enfraquecido sua resolução de investigar aquela história. Não era como se tivesse qualquer coisa melhor para fazer de qualquer maneira.
O Cavaleiro de Câncer levantou uma sobrancelha à guisa de saudação, mas não respondeu. Continuou voltado para a parede, encarando o interruptor que acendia as luzes do hall em grande concentração.
- Eu estava apenas de passagem – disse o Leão – e, como um bom vizinho, resolvi parar para cumprimentá-lo.
Dessa vez ele conseguiu a atenção do outro Cavaleiro. Em todos os anos em que foram vizinhos, Aioria nunca demonstrara o menor interesse em socializar com ele, então do que aquilo poderia se tratar? Era certo que a Casa de Câncer parecia bem mais convidativa sem cabeças decepadas encarando os convidados das paredes, mas sua natureza desconfiada não o deixou se convencer de que aquele era o caso. O maldito Leão só podia estar querendo uma coisa.
- Eu sei por que você está aqui.
Talvez fosse sua expressão natural, talvez a fama que o cercava, mas Aioria achou que Máscara da Morte parecia absolutamente psicótico ao pronunciar as palavras. Engoliu em seco, quase esperando que o outro o desafiasse a uma luta, mas então se lembrou de que a não ser que Marin tivesse quebrado todos os recordes de velocidade para passar ali antes dele e denunciá-lo, não havia como o outro cavaleiro saber que ele estava de posse das fotografias.
- Sabe mesmo?
- É aquele desgr... – parou de falar subitamente e respirou fundo. Estendeu a mão para a parede e apertou o botão do interruptor. Imediatamente, as luzes do teto se acenderam, oferecendo uma visão ainda melhor da expressão carrancuda de Câncer. – É o seu honorável irmão. – As palavras foram ditas com um esforço visível. – Desde que Athena o incumbiu de ficar de olho nas minhas atividades, eu não tenho um segundo de paz. Se tiver uma ordem para revistar a casa, mostre logo o maldito papel, mas vou avisando que não vai encontrar nenhuma cabeça. Pelo menos nenhuma separada do corpo.
O Leão nem mesmo se deu ao trabalho de imaginar o que aquilo significava. Adotou sua melhor postura ofendida para responder:
- Isso é o que a gente ganha tentando ser um bom vizinho. Não estamos mais em guerra, eu achei que era o momento ideal para nos aproximarmos, trocarmos idéias sobre os velhos tempos.
- Velhos tempos? Mas a última batalha aconteceu na semana passada...
- Eu não faço a menor idéia de quais são as atividades atuais do meu honorável irmão, então não precisa se preocupar com isso. – Fez o movimento de quem ia embora, mas parou antes mesmo de dar um segundo passo. – Claro, a não ser que você tenha algo a esconder.
As luzes da quinta casa zodiacal piscaram rapidamente três vezes seguidas. Aioria observou, confuso, que Máscara da Morte continuava com a mão apoiada no interruptor.
- Eu não tenho nada a esconder. Do que diabos você está falando?
- Hm. Nada específico?
- Já disse que me livrei das cabeças, será possível? – As luzes voltaram a piscar. – E sequer reclamei enquanto elas eram levadas embora. Minhas preciosas cabeças – disse a última frase em voz baixa e voltou a acender e apagar as luzes, meia dúzia de vezes em sequência.
- Eu não disse nada sobre cabeças. – Aioria deu um passo para trás. – O que é que você está fazendo com esse interruptor? Por todos os deuses do Olimpo, não me diga que precisa acender e apagar as luzes cento e cinquenta vezes ou todos os Cavaleiros morrerão enquanto dormem?
- Você acha que eu me daria ao trabalho se fosse o caso?
- Isso é algo que o meu irmão definitivamente não vai gostar de saber.
Aioria já tinha desistido de arrancar alguma coisa de Máscara da Morte. O Cavaleiro de Câncer parecia absolutamente transtornado e o senso de auto-preservação que lhe restava dizia que não se mostrava a um psicopata evidências comprometedoras (ainda que não soubesse exatamente em que o implicavam) enquanto estavam sozinhos, à noite, em um lugar que costumava estar decorado com as cabeças de centenas de pessoas que foram mortas por motivos muito menos importantes.
Não que achasse que o outro tinha alguma chance de matá-lo, mas seria um inferno explicar ao Grande Mestre a razão dele ter tentado.
- Você vai contar isso para o seu irmão? – Câncer perguntou. As luzes acenderam-se e apagaram-se pelo menos dez vezes dessa vez. – Eu não quis dizer nada disso. Eu sou um homem mudado, completamente devotado à segurança de Athena e a todo o resto. Você sabe, aquela conversa de lealdade e companheirismo e...
- Mas que diabos, Máscara da Morte!
Os dois foram interrompidos pela voz furiosa de Saga.
- O que você está fazendo aqui, uma maldita rave? Ou desistiu de cortar cabeças e resolveu explodi-las? É melhor parar com a palhaçada das luzes ou eu...
Ok, um Máscara da Morte transtornado e um Saga mal humorado na mesma sala era sua deixa para uma retirada estratégica.
Aioria franziu o cenho, decepcionado que o Cavaleiro de Câncer estivesse tão obcecado com as cabeças perdidas que sequer imaginara que a sua súbita aparição podia ter a ver com as fotos. Afinal, era lógico que ele soubesse que elas tinham sido enterradas naquele mesmo dia, certo? Ou Afrodite tinha agido sozinho?
Mais um mistério a desvendar, e ele sabia exatamente onde começar a fazer perguntas.
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- Eu sei que sou a pessoa em que você mais confia no mundo, irmãozinho, mas eu teria tido uma vida longa e satisfatória sem precisar ferir meus olhos com a visão de Afrodite dentro de um vestido. Ele pode ter o rosto de uma garota, mas está a anos-luz de ter curvas.
Aioria conteve o riso. Observou as sobrancelhas arqueadas do irmão, em dúvida se ele falava sério ou se no fundo também estava se divertindo. Esse era o problema com o senso de humor de Aioros: era difícil saber quando ele estava sendo sarcástico.
- Sinto muito?
- Onde você as pegou?
Dessa vez o tom acusatório não deixou nenhuma dúvida.
- Não peguei – Aioria se fez de ofendido. – Eu tropecei nelas quando voltava de um treino. Não tenho culpa se Afrodite e Máscara da Morte não sabem enterrar as coisas deles direito.
- Tropeçou, claro. – O Cavaleiro de Sagitário suspirou. – Você sabe o que tem que fazer com elas, não é?
- Cópias por segurança?
- Devolver para o Máscara da Morte. Ou Afrodite. Você deve saber melhor do que eu.
O Leão afundou na cadeira, nada feliz. A sala particular de Aioros tinha uma vista privilegiada das casas mais abaixo e ele encarou o teto de Câncer, imaginando se àquela altura Máscara da Morte tinha desistido do jogo de luzes ou estava resolvendo o problema com Saga no braço.
Os momentos de fúria de Saga costumavam ser raros e breves esses dias, então achava que não devia ter havido maiores problemas. Problema haveria para ele se tivesse que devolver as fotos sem descobrir onde, como e por que foram tiradas. Não seria capaz de mentir descaradamente para o irmão, mas aquilo lhe custaria longas noites de sono atormentando-se pela oportunidade perdida de obter alguma diversão à custa de Câncer e Peixes. Não que fizesse muita questão de estar por perto quando eles descobrissem.
- Há algo escrito atrás de uma das fotos – disse Aioros. Aproximou a fotografia do rosto e começou a ler com dificuldade. – Evil Party?
- Você acha que é uma dessas festas sadomasoquistas... – Aioria sufocou a animação com uma tosse ao ver o olhar chocado do irmão – que eu apenas ouvi serem mencionadas através de terceiros?
- Aioria!
- O quê? Eu já disse que só ouvi falar. Olhe novamente para a foto e diga se consegue me imaginar em um vestido de festa.
- Por Athena – Aioros levantou-se, pronto a encerrar aquela conversa. – Vá devolver as fotos ao Máscara da Morte antes que eu nunca mais consiga ter uma noite tranquila de sono.
O Leão deu um sorriso falsamente envergonhado. Pegou as fotos de volta, e já estava na saída quando ouviu a voz do irmão atrás de si.
- Eu quis dizer isso, Aioria. Se essa história não tiver sido resolvida até minha próxima visita à Casa de Câncer amanhã à noite, eu mesmo vou informar os donos das fotos por onde elas andam. Eu duvido que eles acreditem que você tropeçou nelas e resolveu mantê-las seguras por motivos nada menos que puros.
Raios. Tinha que tirar um tempo para introduzir Aioros à fina arte do contorno de regras. Permanecer morto por tanto tempo definitivamente o deixara enferrujado. Não que o irmão tivesse sido qualquer coisa menos que perfeito antes disso.
Pelo menos teria até a noite do dia seguinte até o prazo expirar. Alguma pressão não era nada com que o detetive Aioria não pudesse lidar.
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Continua
