Para Sempre
Acordou em um sobressalto, ofegante. Olhou para os lados. Estava em seu dormitório, em Hogwarts. As camas estavam vazias. Não conseguia afastar a sensação de que algo ruim acontecera e foi então que se lembrou. Fred. Sentiu uma pontada no peito e pareceu-lhe que não havia mais ar para respirar. Sentiu uma lágrima descer pela sua bochecha.
Era uma guerra, ela não tinha mais doze anos, sabia o que podia acontecer. Ela tinha noção do perigo a que se submeteram. Mas entre ter noção da possibilidade e aceitar as consequências há um grande espaço a ser percorrido.
Sentiu-se sufocada e já não mais queria ficar ali. Eram 3 da manhã. Tirou de cima de si o fino lençol que a cobria, pôs o seu robe noturno e desceu para o salão comunal. Péssima ideia. Podia ver os gêmeos testando suas vomitilhas e febricolates a um canto. Parecia ter sido ontem.
Sentou-se no sofá e abraçou os próprios joelhos. Outra lágrima percorreu seu rosto. Lembrou dos rostos sem vida de Remo e Tonks. Pareceu-lhe injusto que ela passara tanto tempo com eles e que Ted jamais chegaria a realmente conhecê-los, que não saberia a pessoa maravilhosa e divertida que fora sua mãe, ou o homem íntegro, solícito e justo que fora o seu pai.
E seu pensamento voltou para Fred. Lembrou-se dele dizendo-lhe, aos 7 anos, que se beijasse um gnomo de jardim ele viraria um príncipe, como nos contos de fada trouxa que seu pai insistira em ler para ela. Não conseguiu evitar que um sorriso cruzasse seu rosto. Lembrou de como se sentia irritada quando queria jogar quadribol com seus irmão e eles não a deixavam encostar em uma vassoura. Lembrou-se do seu aniversário de 13 anos, quando Fred disse que assim que chegassem em Hogwarts, lhe ensinaria algumas azarações para usar em engraçadinhos que convidassem ela pra sair.
Agora estava rindo e chorando abertamente. Sua sorte é que não havia ninguém na sala, com certeza pensariam que ela era louca. Doía pensar no irmão, na falta que ele ia fazer. Doía pensar que nos almoços de família não mais o veria. Doía pensar que nunca mais ouviria uma de suas piadas, um de seus conselhos.
Acalmou-se e apoiou a cabeça nos joelhos. Pensou em sua mãe. Sabia que teria que ser forte, por ela. Se perder um irmão era dolorido, ela não conseguia imaginar como seria perder um filho. Sabia que se desmoronasse em sua frente, a levaria junto. Sabia que ia ter que apoiá-la e ficar do lado dela, sabia que seus irmãos não seriam tão sensíveis e provavelmente se recolheriam a seus cantos, fechados. Lembrou-se de Percy. Ele parou de ser um idiota bem na hora certa. Se tinha alguém que podia ajudá-la com isso era ele.
Não conseguia parar de pensar em Fred. Merlin! Ela teria que ser forte por sua mãe, mas não hoje a noite, não agora. No momento, estava evitando pensar em como seria enterrá-lo, não ia conseguir dizer adeus, não queria ter que dizer adeus. E mais uma lágrima escapou-lhe, deslizando em sua bochecha.
Foi então que sentiu um par de braços envolvendo-a. Olhou para cima e viu Harry ali. Não tinha ouvido ele chegar, mas não hesitou ao abraçá-lo de volta, buscando conforto. Apoiou o rosto em seu peito. Outra lágrima. Ele afagou-lhe os cabelos com uma das mãos e deu-lhe um beijo leve na testa. Não precisou dizer nada, ele a entendia completamente. Foi então que compreendeu que ele estaria ali pra sempre.
