Capítulo 1
Remus acordou meio atordoado. Depois de cochilar em cima do livro de poções. O rapaz estivera estudando a tarde inteira – ao menos tentando estudar – no canto mais isolado da biblioteca e acordou somente porque sentiu que seu estômago estava doendo. Era fome provavelmente, já que ele não almoçara e muito menos tomara café da manhã. Passou a mão pelos cabelos para tirá-los do rosto e ao olhar para os lados viu que estava praticamente sozinho naquela sala, passou os olhos no relógio no pulso e então decidira ir para o Grande Salão esperar pelo jantar, no qual com certeza iria comer tudo o que poderia ou não. Sentiu-se um pouco tonto ao levantar da cadeira – Opa! – o rapaz exclamou, segurando com uma das mãos na cadeira. Após ter colocado todo o material que lhe pertencia na mochila de qualquer jeito, saiu da biblioteca tentando ignorar os roncos que sua barriga fazia, ele realmente precisava comer. Quando estava chegando próximo ao Grande Salão lembrou da promessa que fizera ao seu amigo – Sirius Black – Ele prometera emprestar as suas anotações ao amigo, Sirius era um aluno brilhante, no entanto nunca se dava ao trabalho de anotar nada do que os professores diziam, agora com as provas chegando até mesmo ele admitira que precisava estudar um pouco mais. As anotações que Remus fazia, eram um pouco desorganizadas, mas continham tudo o que era necessário para uma boa revisão, com dicas e macetes bons. Remus prometera que levaria as anotações para Sirius antes do jantar, então o rapaz mudou o rumo que estava tomando, subiu alguns lances de escada até chegar ao quadro da Mulher Gorda e dissera a senha e adentrara o Salão Comunal de sua casa, Grifinória.
O local estava cheio e barulhento, mas ele não demorou a encontrar Sirius, o rapaz estava junto do grupo mais barulhento, podia notar que estavam jogandocartas, e possivelmente apostando algo, era o que mais faziam quando estavam no Salão Comunal, avistou James ao lado do rapaz, sorrindo satisfeito com o próprio jogo que tinha nas mãos, jogando com eles estavam Mary MacDonald e Marlene McKinnon. Remus sabia que confusão viria daquele jogo, Sirius e Mary juntos nunca dera certo, mas talvez nada saísse do controle com McKinnon por perto, ele sempre achou que ela era a mais sensata das garotas do seu ano.
– Ei Remus! Você finalmente apareceu, vem sentar e jogar com a gente! – James falou assim que o garoto aproximou-se. Remus apenas balançou a cabeça negativamente.
– Ah Remus, não negue isso, a McKinnon passou a tarde toda fazendo perguntas sobre você, sente ao lado dela ao menos. – Sirius falou naquele seu tom falsamente sério e ao final deu uma piscadela em direção de Marlene, que enrubescera completamente.
James e Sirius trocaram sorrisos.
- Enquanto você se faz de engraçadinho, Black. – Mary jogara suas cartas na mesa – Eu venço.
Isso fez com que o sorriso sumisse do rosto dos garotos. E logo começara uma série de protestos dos dois contra Mary, e então se instaurou uma discussão onde ninguém se entendia
Remus viu Marlene sair sorrateiramente dali e caminhar para fora do Salão Comunal.
O rapaz resolvera então ir atrás dela, pedir desculpas talvez, pela brincadeira dos amigos ou o que quer que fosse, nunca trocara muitas palavras com a garota apesar de já estudarem há seis anos juntos. Seus amigos sempre foram somente, James, Sirus e Peter.
- Hum. – Pigarreou o rapaz. – Marlene?
A morena virou-se para o rapaz e pareceu surpresa ao vê-lo, logo enrubesceu, Remus fingiu não notar isso e falou calmamente enquanto se aproximava.
- Não se deixe intimidar por eles. – Colocou as mãos nos bolsos e sorriu calmamente. – Eles gostam de fazer piadas, sempre sobra para alguém.
- Eu não me importo. – Sua voz quase sempre suave, agora parecia um tanto esganiçada e então ela pigarreou. – Saí de lá porque a confusão certamente iria começar, e estou um tanto cansada de apartá-las.
- Imagino. – Ele olhou para os lados. – Estava indo para algum lugar específico?
- Na verdade estava pensando em ir sorrateiramente até a torre de Astronomia, eu gosto de lá. - Falou baixo, como se estivesse contando um segredo.
- Não me parece algo permitido não é? – Falou hesitante, o lado de Monitor Chefe às vezes aflorava em Remus.
Ela o olhou desconfiada.
- Você já impediu James e Sirius de fazer algo? – Indagou, cruzando os braços.
Com aquele argumento ela o vencera.
- Não. – Baixou a cabeça um tanto envergonhado. – Eu posso ir com você?
Ela sorriu satisfeita. – Eu sabia que não. – E começou a andar. – Vamos, eu prometo que não te colocarei em encrenca, já fiz isso várias vezes e nunca me pegaram... O monitor da minha casa não é muito bom nisso. – Falou enquanto segurava o riso.
- É que o monitor da sua casa tem que cuidar de pessoas que estão em um nível de muito alto de encrencas. – O rapaz não conteve uma risada. – É difícil acompanhar tudo, espero que você compreenda.
- Você tem senso de humor, Lupin. – Ela falou após rir. – É uma coisa que eu não esperava, você sempre me pareceu tão sério e meio perdido, ás vezes.
O sorriso do rapaz sumiu do rosto e ficou agradecido pelos corredores serem mal iluminados, assim a garota não veria a expressão que tomara conta de seu rosto, não respondera logo, e sentiu o olhar dela pesar sobre ele. A verdade é que a vida dele era uma bagunça completa, as confusões em que os amigos se metiam era o menor de seus problemas, na realidade aquelas coisas só faziam com que o rapaz tivesse algo para manter sua cabeça longe dos reais problemas e preocupações que o afligiam, se não fossem os amigos ele não conseguiriam suportar tudo aquilo, mas não poderia deixar que Marlene soubesse de toda sua história.
- Você ainda está aí, Lupin? – Chamou a garota, enquanto subiam as escadas que dariam até sala de Astronomia.
- Sim, me desculpe. – Falou, tentando sorrir. – Muitas coisas na cabeça, sabe?
- Entendo. - Ao chegar perto da porta a morena parou e segurou a maçaneta. – Mas quando entrarmos nessa sala, você esquecerá todos esses problemas, combinado?
Com um aceno de cabeça Lupin concordou.
A sala estava completamente escura, ao mesmo tempo os dois pegaram as varinhas e disseram "Lumos". Marlene caminhou até a grande janela e com um aceno da varinha a abriu, o brilho das estrelas era tão intenso que chegava a iluminar tanto quanto a luz que saía da varinha dos garotos. McKinnon realmente deveria ter feito aquilo várias vezes, ela conjurara almofadas e um grande cobertor que colocara onde antes estava mesas e cadeiras, ao terminar sorriu para Lupin parecendo satisfeita com o próprio trabalho.
- Você fez isso tudo muito rápido. – Falou sem esconder o quão impressionado estava.
- Aprende-se depois de várias e várias noites fazendo isso. – Falou calmamente enquanto sentava sobre o cobertor, puxando uma das almofadas pra si. – Vem sentar.
Foi até onde ela estava e sentou, estava cheio de perguntas, mas não sabia se poderia perguntar, já que ele mesmo não responderia algumas. Então ficou ali, apenas observando o céu, e agradecendo por hoje não ser uma daquelas noites.
- Você se perde muito em seus pensamentos, não é?
Ouviu a voz dela e a olhou, sorrindo desconcertado.
- Desculpe, acho que não sei ser uma boa companhia.
- Bobagem. – Ela falou com uma aceno de mão. – Se você não se importa, eu vou deitar, porque é melhor para ver as estrelas.
- Tudo bem. – Ele a observou e de repente sentiu-se á vontade para fazer perguntas. – Hm, Marlene... Por que você gosta tanto de ficar aqui?
- É calmo, é onde dá para ver melhor o céu... Mais de perto, entende? – Ela falou calmamente e soltou um longo suspiro ao final.
- Você prefere ficar sozinha?
- Não é que eu prefira, mas se eu falo isso para as pessoas, elas me acham estranha demais. Então, eu prefiro fazer essas coisas sozinha mesmo, e pensar.
- Eu acho que entendo.
E após um tempo, acabou deitando também. Sentia-se extremamente calmo e em paz. Sentimentos que eram cada vez mais difíceis de sentir, queria prender-se àquele momento e não mais ter que passar a vida preocupado a cada minuto, suspeitando de todos, achando que a qualquer momento seria descoberto e nunca mais poderia viver perto daqueles que importavam para ele.
- Eu falei pra você esquecer de tudo ao entrar nessa sala, Remus Lupin. – Marlene o observava com os olhos semicerrados.
- Me desculpe, eu... – Parou ao perceber que ela notara o que ninguém nunca nota. – Como você sabia?
- Eu sou ótima lendo as pessoas, sabe? Então nunca tente me enganar. – Falou fingindo seriedade.
- Tudo bem. – Ele assentiu com a cabeça, pousou as mãos sobre a barriga. – Me conte sobre as vezes em que você esteve aqui.
Noites como aquela não aconteceram novamente por longas semanas, pois as semanas que se seguiram após aquela noite foram as mais difíceis que o rapaz tivera que enfrentar.
Acordara mais uma vez naquele chão, já muito conhecido.
Estava envolto por um lençol – Claro, um deles o cobrira – sentia cada músculo do seu corpo doer e a cada movimento que fazia seu corpo reclamava. Mas ele precisava levantar dali e procurar roupas para vestir, em algum lugar ali deveria está uma muda de roupas preparada para ele. Levantou, e viu o quarto girar.
Começara a procurar as roupas, o quarto estava muito bagunçado, bem mais que a última vez. Perguntou-se onde estariam os amigos, com certeza não fizera nenhum mal á eles, mas mesmo assim preocupava-se, logo achou a muda de roupas limpas com um bilhete na caligrafia de Sirius "Cara, não te acordamos pois a noite foi difícil, nos encontre em Hogsmeade se estiver se sentindo bem. Até mais, S.B", era o fim de semana que tinham para ir até Hosgmeade, estava muito cansado mas não poderia deixar de ir. Enquanto andava a velha casa rangia e balançava drasticamente, mas confiava em sua segurança, pois confiava em Dumbledore.
Quando terminou de se arrumar, saiu ligeiramente da casa e caminhou até a estradinha que levaria ao pequeno vilarejo, tecnicamente ele não entregara a autorização para ir até lá, mas esperava que a diretora de sua casa entendesse e se o encontrasse e não o colocasse em uma detenção.
Ele estava precisando de uma distração. E precisando mais ainda de um bom almoço, ainda sentia-se tonto, mas o vento que batia em seu rosto de leve, estava fazendo com que se sentisse melhor.
- Remus Lupin.- Alguém chamara seu nome de uma forma suave e bem próximo dele.
Olhou para trás e Marlene McKinnon estava atrás dele, acompanhada de Emmeline Vance e mais uma vez de Mary MacDonald.
- Oi meninas. – Ele respondeu um pouco atônito.
- Aqueles palhaços te deixaram? – Perguntou Mary levantando uma das sobrancelhas.
- Hm, na verdade não. – Balançou a cabeça em negação e sorriu. – Eu me atrasei.
- Atrasou? – Marlene perguntou, parecendo preocupada.
- Sim, eu estava fazendo umas coisas e acabei perdendo a hora. – Falou como encerrasse o assunto. – Posso ir com você até Hogsmeade?
- Claro, é uma chance de conhecer um pouco mais sobre o misterioso Lupin. – Disse Emmeline e Mary concordou com a cabeça.
Sentiu o olhar de Marlene sobre si, sabia que ela estava avaliando-o, ela era esperta demais para não acreditar no que ele falara. Tentou desviar a atenção dela e passou para o lado de Emmeline, os quatro recomeçaram a andar.
Afastou um pouco o cabelo do rosto, estava com os cabelos grandes demais, já passara da hora de cortar, mas ele ajudava a esconder um pouco os machucados. Enquanto andavam Mary e Emmeline conversavam sobre os locais em que iriam em Hogsmeade, algumas vezes perguntavam ao rapaz e ele respondia com "Sims" e "Nãos", não queria ser rude, mas sua cabeça estava em outro lugar.
-Vamos ao Três Vassouras primeiro? – Perguntou Emmeline.
- Vamos, vamos. – Falou energeticamente Marlene antes que Lupin respondesse.
O grupo entrou no pub, que estavapequeno demais para abrigar todas as pessoas que nele estavam. Remus passou os olhos por onde conseguia, na procura dos amigos, mas não os via. Foram passando por entre as pessoas, sentiu a mão de alguém em seu ombro, deu uma olhada rápida e viu Marlene logo atrás dele. Andaram até o balcão para fazer os pedidos – Quatro cervejas amanteigadas – Procurou nos rostos, aqueles três conhecidos e finalmente os viu no canto mais afastado, chamou as garotas e rumaram até eles.
- Remus! – Saudaram os amigos ao mesmo tempo.
- Muito bem acompanhado por três belas garotas. – Falou Sirius dando um sorriso torto e piscando para Mary.
- Olá. – Falaram Emmeline e Mary.
- Peter, rápido, pegue mais cadeiras. – Ordenou James.
Antes que Lupin dissesse que ele mesmo iria pegá-las, Peter já tinha levantado sem jeito e ido pegar as cadeiras.
Os quatro sentaram, apertando-se um pouco. Enquanto Mary e Emmeline conversavam (discutiam, na verdade) com Sirius, Remus cochichou um "Muito Obrigado" próximo do ouvido de James, o mesmo sorriu e bateu de leve nas costas do amigo. James pegou um pacote que estava ao seu lado e deu para ele.
- Você deve estar faminto. – Falou baixou.
- Eu estou, mas comerei depois que sairmos daqui. – Respondeu no mesmo tom.
- E então, Potter e Lupin vão nos deixar entrar na conversa? – Perguntou Mary.
- Mas você não consegue ficar um minuto sem minha atenção, MacDonald? – James indagou naquele seu tom irônico.
Todos riram, até mesmo Remus.
Quando passava do meio-dia, as garotas se despediram, prometendo que marcariam mais um jogo com os amigos. Foi quando finalmente, ele resolvera comer, sentia-se cada vez mais tonto, a fome estava deixando-o com uma aparência mais doentia.
- Vamos cara, coma. A gente tem umas aventuras planejadas. – Falou Sirius.
- Mais aventuras, sério? – Perguntou Lupin num tom sombrio.
- Relaxa, nada como noite passada. – Sorriu James, tranquilizando-o.
- Como está se sentido? – Sirius o analisava.
- Melhorando. – Falou enquanto comia o seu sanduíche de peru. – Esse sanduíche está incrível.
- Obra dos nossos amigos Elfos. – Disse Sirius.
- Você estava muito feroz ontem, Remus. – Falou Peter, na sua voz esganiçada.
- Cara, se você falar mais baixo seria bom. – Disse James. – Sério, você tem que se ligar.
- Desculpe. – Ele respondeu constrangido.
- Esqueça. – Sirius balançou uma das mãos. – Remus, você não sabe o grupinho que vimos reunido ontem, enquanto andávamos atrás de você.
- Qual grupo?
- Ranhoso, Mulciber e companhia. – Falou Sirius com desgosto.
- E por acaso, ouvimos o local em que eles se encontrarão hoje. – Continuou James. – Queremos saber se você se sente bem o bastante pra ir conosco, o Peter aqui já disse que não vai. – James rolou os olhos.
Remus terminou de tomar sua bebida e colocou os cotovelos na mesa, pensativo.
- Vou com vocês. – Falou calmamente. – Mas não iremos intervir em nada, a não ser que seja algo muito sério.
- Isso mesmo, senhor Aluado! – Comemorou Sirius, dando um tapinha nas costas do amigo.
- Estou falando sério, nada de provocações baratas. – Disse Remus, encarando-o.
- Seguiremos suas ordens! – Falou James com um sorriso no canto dos lábios.
Desconfiado Remus ouviu tudo o que os amigos lhe contaram sobre a noite passada, felizmente o rapaz não atacara ninguém, mas algumas árvores sofreram com a fúria dele. Podia entender porque seu corpo estava mais dolorido que o normal, mas a dor já se fazia presente constantemente, não sentir dor chegava a ser estranho.
As constantes reuniões daquele grupo de alunos da Sonserina, já o estava preocupando, acreditava ser algo mais sério do que Sirius e James achavam. Os amigos só estavam curiosos, mas não chegavam a pensar que era algo tão sério, descartaram essa ideia uma vez enquanto conversavam. Mas Remus não, e isso não saía de sua cabeça.
