Título: Disfuncional
Autora: Chris Ann
Fandom: Harry Potter
Ship: mencionado Draco/Ron
Resumo: Não que ser normal fosse muito importante, no final das contas, e, no fundo, eles sabiam disso.
Palavras: +- 550
Classificação: PG-13 - Family - Yaoi
Nota: mpreg mencionada

Disfuncional

Todo ano, Melisandre achava que era o fim. Seus pais se divorciariam e ela não teria outro dia dos pais com eles unidos fingindo ser uma família normal.

Como ser uma família normal? Não dava, simplesmente porque Ron Weasley e Draco Malfoy estavam longe de serem um casal normal.

Como a família começara já estava longe de ser normal.

Melisandre já ouvira inúmeras variações da estória. Os detalhes variavam de acordo com quem contava, com o nível de raiva de quem contava, com a idade dela e de quanto a pessoa que contava bebera, mas, com o tempo, ela entendera que, em resumo, os dois se agarraram secretamente na sede da Ordem da Fênix por alguns meses antes de Ron, totalmente chocado, descobrir que ia ter um filho por conta de um dom mágico recessivo há muitas gerações. Àquela altura, Harry Potter – seu padrinho – já derrotara Voldemort, então eles se casaram e foram viver em Malfoy Manor, a propriedade recém-recuperada de Draco, com a existência de Melisandre já bem aparente.

Anos mais tarde, Ron, bêbado, diria para a adolescente Melisandre que Draco só casara com ele porque fora ameaçado de morte pela família. Numa crise posterior, diria que fora só porque ele era o melhor amigo do Salvador do Mundo Mágico. Melisandre, tendo por base as fotos do casamento deles, pessoalmente achava que Draco parecia feliz demais para quem casava ameaçado/interessado.

Pouco depois, ela nascera. Às vezes, criticamente, no meio da noite, ela pensava que essa sim fora a maior pedra no meio do caminho, uma vez que seus pais claramente sempre quiseram um menino. Daí para frente, subira e descera. Haviam tempos de paz, seguidos por guerras tão tempestuosas que Melisandre tinha certeza de que da semana seguinte não passava. Uma semana antes do seu aniversário de onze anos, Draco e Ron gritaram um com o outro a noite inteira sobre o suposto caso de alguém – Melisandre não queria saber – com um tal de Finnigan. Quando chegou a data de ela ir para Hogwarts, o clima na casa ainda estava bem ruim a ponto de, se os pais dela não a levassem, ela iria a pé até a estação.

Nos anos seguintes, o ritmo irregular se manteve, então Melisandre nunca podia saber se alguém seria assassinado no decorrer das férias. Isso se manteve depois que ela saiu de Hogwarts, depois que se tornou auror, depois que se casou, depois que teve seu filho.

Por fim, ela aceitou que jamais teria um fim. Eles ficariam naquele ciclo para sempre. Talvez dependessem daquele ciclo.

Mas nunca entendeu.

Ela nunca prestara atenção na eventual expressão curiosamente sentimental de Ron quando olhava para ela na mesa do jantar em Malfoy Manor. Ela nunca vira o olhar distante de Draco quando ela embarcava no expresso para Hogwarts. E, principalmente, ela nunca entrevira a forma como eles se olhavam depois daqueles momentos. Se tivesse visto, ela compreenderia.

Porque eram naqueles momentos que os dois entendiam o quão importante era aquela família disfuncional.

E que jamais seriam idiotas o suficiente para abrir mão daquilo.

E era por esse motivo que, todos os anos, Melisandre almoçava com eles no Dia dos Pais fingindo que eram uma família normal.

Não que ser normal fosse muito importante, no final das contas, e, no fundo, eles sabiam disso.