Um dia de domingo chuvoso, frio e calmo. Uma nova cidade a ser explorada, principalmente nesses típicos dias de inverno. Mal havia mudado de lugar e já foi recepcionada com um dia desses? Não poderia haver nada melhor que isso! Pelo menos era assim que pensava Nico Robin. Apaixonada por livros, tinha decidido que a biblioteca local seria o primeiro lugar a ser visitado. E assim foi ela até o destino desejado.

Vestida com um capuz bege, uma calça justa preta e botas da mesma cor, a morena saiu de seu apartamento aconchegante e foi até a biblioteca. O caminho até lá foi difícil, com a calçada escorregadia e o vento gelado que fazia doer o nariz um pouco. Mas por fim, chegou a tão famosa biblioteca da cidade. Uma biblioteca de fazer cair o queixo de qualquer amante de um bom lugar reservado para ler: tinha um cibercafé e uma reservada área para saraus. Estantes e mais estantes cheias de diversos tipos de livros. Um centro multicultural.

Tirando uma das luvas, Robin passou a mão desnuda pelos livros na instante, a procura de um romance. Decidiu tirar dali um livro de capa preta. Ao ler o resumo atrás, percebeu que tinha em mãos um romance de terror envolvendo partes de sadomasoquismo. Sem muitas exigências em relação ao tipo de livro que queria ler, resolveu pegar aquele mesmo para sua leitura. Sentou-se em um canto pouco distante de onde estava mais concentrado um bom número de pessoas, e começou a explorar aquele livro com os olhos.

Depois de alguns minutos, um homem aproximou-se da mesma mesa onde ela estava e sentou-se, também com um livro nas mãos. Robin observou quem aproximava de forma prudente, apenas para analisar se era bom ou ruim aquela aproximação. O rapaz, aparentemente jovem, não tinha aparentes intenções, a não ser se sentar ali e ler seu livro – quem nem ela estava fazendo. Ele tinha um semblante frio, apenas. Cabelos tão negros quanto os dela. A pele bem mais clara que a dela e alva. De repente, distraiu-se com a leitura e então parou de observar o homem que estava sentado à sua frente.

Esse mesmo homem acabou sem querer observando a mulher que também estava à mesa lendo o livro. Deu uma leve risada ao reconhecer o livro que ela tinha em mãos, mas não esperava que ela percebesse isso e parasse a leitura, para encará-lo firme. Os belos olhos azuis dela fitaram seus olhos negros. Ficaram assim por alguns segundos, até ele cortar aquele silêncio com sua voz calma e profunda.

- Em que posso ajudá-la?

- …

Robin ignorou-o, voltando a ler. Ela parecia ser bem séria... até mesmo perigosa, para o homem. Mas aquele desprezo o deixou curioso por ela em alguns aspectos.

- Nunca imaginei ver esse tipo de romance nas mãos de uma garota.

Robin parou novamente sua leitura, fitando-o de forma meio hostil. Achou meio grosseiro da parte dele em dizer aquilo. Mas não ignorou-o dessa vez.

- Por quê?

Aquela voz de tom grave e feminino ao mesmo tempo fez o outro dar um pequeno sorriso.

- Porque esse é um romance bruto, de linguajar arcaico e de violência exagerada para uma história que envolve um romance entre casal. E é pouco procurado por mulheres, por ter menos amor e mais sexo, coisa que atrai mais os homens. Só por isso que... estranhei em ver pela primeira vez uma mulher com este livro em mãos.

- ...obrigado por estragar minha leitura! - Robin disse, sarcasticamente.

- Perdão, senhorita. Perdão. - disse ele, parando sua conversa ali mesmo e concentrando-se em sua leitura.

Pelo jeito de falar, Robin viu que era um homem culto. Diferente da aparência de um jovem rapaz, a morena lhe dava mais idade pelo jeito de falar. Ele tinha um quê de mistério que, sem querer, atraiu-a um pouco.

- Com licença, eu... não quis ser tão grosseira, mas gostaria de ter descoberto a história por mim mesmo, sabe? … não me leve a mal. - Robin fê-lo parar de ler para se desculpar.

- Entendo... mas não precisa se desculpar. Talvez eu que fui um tanto... falador, não é?

- Por um lado, foi sim.

Ambos trocaram rápidos risos.

- Sempre venho por aqui quando tenho folga. E pelo que vejo, é nova por esse bairro.

- Sim, vim de um outro lugar onde estava com alguns companheiros, mas minha estada aqui será breve.

- Ah... que pena.

- Mas virei sempre que puder aqui, principalmente nessa biblioteca.

- Heh... pelo visto, parece que é uma devoradora de livros...

- E você deve ser também um, não é?

Ele afirmou com a cabeça que sim. Mas aquilo foi só o começo de um diálogo longo sobre livros. Leram juntos os livros que tinham escolhido. Realmente, aquele homem estava certo: o livro que ela tinha escolhido para ler era algo grotesco, mas valeu a pena ter lido. Ainda mais com a companhia daquele homem...

- Bem, acho q é hora de ir.

- Posso saber ao menos seu nome, senhorita?

- ...Robin. Nico Robin. E o seu?

- Kuroro. Pode me chamar apenas por ele.

- Hmm... tudo bem, Kuroro. Nos vemos por aqui, se vier frequentemente!

Ambos se despediram com um aperto amistoso de mão. Ela era uns dez centímetros mais alta que ele e ambos tinham perfil similar. Ele estava vestido com uma camisa polo e uma calça sarja meio justa, todas de cor preta. Tinha uma faixa branca na testa, coberta por fios lisos da franja que usava dividida. Um jeito muito adolescente, as bochechas levemente roliças... mas o suficiente para Robin apenas admirá-lo. Robin foi para sua casa almoçar, enquanto Kuroro ficou ali, sozinho em busca de outros livros. Mas cada um seguiu seu caminho com a nova possível amizade nos pensamentos. Pelo menos Robin pensava assim. Não Kuroro.