Bem-Me-Quer, Mal-Me-Quer

Sumário: Isso não pode estar acontecendo... Porque você? Você só estragou minha vida Fujino! Eu não sou a Kuga! Eu não tenho motivo nenhum para olhar pra você... Eu não posso... Isso é um pesadelo... Ou será um sonho? O que você quer? O que eu quero...?

Gênero: Geral/Romance/Angst

Par:Nao/Shizuru

Ah, Mai-Hime e seus personagens não pertencem a mim. Se pertencessem, não teria a Mai como personagem principal e sim a Shizuru, e a historia seria mais séria, mais violenta e com o Shoujo-ai bem mais óbvio. Qualquer personagem que você não reconheça foi criado por mim, e por isso somente eles pertencem a mim.

Nota da Autora: Sim, eu gosto de Mai Hime e as minhas duas Himes favoritas são a Shizuru e claro, Nao. Elas combinam, eu acredito. Quando eu vi a série, eu percebi que tinham situações que podiam ser interpretadas de uma maneira de amor/ódio entre as duas e o que me deu insatisfação durante a série foi ver uma personagem que eu simpatizava razoavelmente (Natsuki) agir de uma maneira completamente fria com a Shizuru e do nada no final aceita-la como pessoa mais importante, quando durante a série tudo que ela faz é sugar informações dela e deixá-la por isso mesmo. A Natsuki demonstra mais afeto sincero até mesmo pelo reto do elenco de apoio do que pela Shizuru (Passa mais tempo com as outras personagens do que a sua suposta melhor amiga.) e isso me deixa indignada. Mesmo com "Natsuki's Prelude" que foi uma Novel oficial lançada que explica que a Shizuru e a Natsuki viram um casal depois disso tudo, ainda me indignou por não ter ocorrido no anime. Então eu decidi me vingar. MUAHAHAHAHAH! Para aqueles que são fãs convictos do casal Shiz/Nat, não me matem. Eu gosto desse casal, apenas queria criar uma história que não tivesse a Natsuki como uma heroína e sim como uma pessoa que não valorizou aquela que realmente amava e sofrerá as conseqüências por tal ato.

Ufa!

Ah, só pra não esquecer:

- Essas palavras são diálogos -

"Essas são aspas normais, não confundam"

'Essas são pensamentos'

-'Essas são flashbacks' -

Essas são termos ou palavras do anime ou palavras salientadas.

E vamos pra história!

Cap 01: Esmeralda de Sangue

- Agora eu vou me vingar de você Kuga... Está perdida como uma gatinha, né? Hahaha! –

Eu me lembro bem daquela noite, daquela maldita noite em que eu invadi o apartamento da Kuga. Eu também me lembro da sensação de vingança que instantaneamente me invadiu quando eu mandei Julia prende-la em suas teias e de como eu gargalhei achando que tudo havia saído como eu planejei.

- Então você estava aqui... Natsuki... –

Ou quase tudo.

Eu não sei com que poderes, habilidades ou o raio que o parta aquela doente da Fujino me achou, mas ela estragou meus planos e tudo que ela dizia era que amava a Kuga com aquele sorriso irritante estampado na cara.

Eu não podia agüentar aquela baboseira de sentimentalismo.

- Há! Idiota, eu não vou cair no mesmo truque duas vezes! -

Eu só podia estar mesmo desesperada pra acreditar no que eu mesma estava dizendo, como é que a "grande e carismática" Fujino Shizuru iria cometer um erro tão óbvio? Às vezes eu tenho é vergonha de admitir que eu a enfrentei; vê se pode...

- Você que é a idiota -

E exatamente como ela disse, meu Child se despedaçou pela metade. A Kuga se libertou das teias e em segundos a Fujino destruiu a Julia, e por tabela, a minha pessoa mais importante.

- M... Ma... Mãe... -

Meu mundo tinha acabado, meu sacrifício e as maldades que eu havia feito aos outros em prol a esse objetivo tinham sido por nada. Não serviu pra nada.

Mas isso não quer dizer que eu estava a salvo.

- Você acha que vai viver depois do que fez a Natsuki? -

Aqueles olhos vermelhos tão vazios me encaravam com aquele sorriso mórbido e plastificado em seu rosto. Falso, incerto e principalmente inexpressivo, mas dentre tudo que aquele sorriso e olhar continham, havia algo mais que me assustava. Algo que me fez tremer e sussurrar mais para mim do que a qualquer pessoa.

Abandono, Sofrimento, Angústia, Desespero. Uma necessidade quase infinita de ser salva de alguma coisa, e eu percebi que ela estava tentando dizer algo que pra mim é quase impossível...

- Nã... Não... Isso... Não pode... -

Uma infinita Solidão, igual a minha. Aquela mulher estava me pedindo ajuda.

A Kuga não deve ter notado, mas eu a ouvi. Ela sussurrou uma frase que eu nunca vou esquecer, nunca mesmo. E talvez por isso que eu me senti cativada, aqueles olhos que assumiam uma expressão de dor e agonia.

- Salve-me... -

Ela estava me implorando para perdoá-la e salva-la dela mesma.

E foi nesse momento que eu me fascinei por ela.

Eu me impressionei com aquilo e por isso eu nem me importei em fugir dela. Com toda certeza eu estaria tão esquartejada quanto os restos de Julia, mas por mais incrível que pareça, a Kuga me defendeu da mulher enlouquecida.

- Nao e eu somos semelhantes, a razão de eu não ter me tornado igual a ela foi por que eu tinha você para cuidar de mim e se manter próxima a mim. -

Eu juro que eu pensei que eu estava doida e que aquilo era um acesso de loucura meu pela morte eminente e que eu só podia estar ouvindo coisas, mas não era. A Kuga realmente ME defendeu E falou aquilo e só para piorar ela falou tanto sentimentalismo que eu quase vomitei.

- Finalmente eu entendi... A minha pessoa... Importante... -

Eu imaginava que ela fosse abraçar a Fujino ou se declarar pra desgraçada, mas a Kuga materializou aquelas pistolas ridículas dela e para me deixar mais pasma com a situação, apontou para a Fujino, supostamente a pessoa mais importante dela.

- Ah... Você recuperou seus poderes... Que bom... -

A Fujino olhou para nos duas e eu me arrisquei a olhá-la de novo nos olhos e percebi uma coisa:

Ela interpretou a situação do jeito errado. Deve ter achado que a Kuga gostava de mim, algo assim. Olha, nem que chovesse eternamente canivetes eu iria querer uma coisa terrível dessas, já tava vendo a forma que ela tratava a pessoa mais importante dela, nem quero imaginar a pior.

Ela falou algo sobre o Primeiro Distrito, alguma coisa sobre aqueles bandos de Cornos malditos e como ela tinha "limpado" o quartel deles em nome da Kuga, sei lá.

Como os sentimentos dela podiam ser tão fortes e tão assustadores a esse ponto? Estranhamente me despertou uma espécie de... Simpatia.

Não que eu fosse dizer, é claro.

- Você me pertence... Natsuki. -

Tal como apareceu, ela saiu em cima daquela Hidra, Cobra, sei lá o que ela tinha como Child. De qualquer forma eu estava me lixando para aquela conversa toda. Eu tinha perdido a minha Mãe e era tudo que me importava.

- Ma... Mama! -

O pior disso tudo foi à cara de piedade da Kuga, me olhando com aquele ar de altruísmo que ela sempre teve a cara-de-pau de fazer, quando ela era nada mais que uma nojentinha no mundo. Se eu deveria ser culpada por algo, a "garota-não-tão-perfeita" também deveria ser. Droga, eu estava cansada daquelas pessoas metidas a "certinhas". A Fujino mesmo não era uma e olha que ela tem todo aquele ar calmo e delicado ao seu redor e ironicamente, pacífico. Que povo mais retardado, eles só viram o que estava a sua frente. Ela nunca me enganou, essa tal Kaichou. Eu até admito que sentia inveja da Kuga por ter alguém tão famoso em Fuuka se importando com ela dessa maneira tão obsessiva.

Ei, Qual é o problema em querer uma pessoa assim? Não é como se ela olhasse pra mim ou qualquer coisa.

Eu não posso evitar em sonhar com um sentimento tão poderoso!

Ah, ta certo, como se isso fosse REALMENTE acontecer.

- Natsuki... Você ouviu tudo? -

Minha nossa... Eu perco as noites quando me lembro do meu desespero no Festival. Eu estava mais morta do que viva, eu até mesmo duvido que eu estivesse viva durante todos aqueles eventos. Eu faleci no momento que Natsuki me rejeitou.

- Natsuki eu... -

Eu estava me perdendo. Eu estava morrendo. Eu desejei com todas as minhas forças que ela não me abandonasse. Que ela ficasse ao meu lado. Eu não podia voltar àquela solidão.

Como uma pessoa em um naufrágio, eu tentei manter o meu coração na superfície da minha racionalidade e como se Natsuki fosse o meu único bote salva-vidas, eu estendi minha mão a ela, implorando que me salvasse.

- NÃO! -

E eu afundei. Afundei no oceano da rejeição.

Natsuki me deixou, Natsuki me abandonou. Tudo que eu fiz por ela, tudo que eu sacrifiquei. Em vão. As palavras injustas e ferinas de Suzushiro-San se fizeram repetir em minha mente.

Natsuki tinha Nojo de mim, eu sou uma anormal para ela.

A estrela Hime ampliou meus sentimentos de amargura, toda aquela repressão que eu fiz em minha vida, toda a tristeza acumulada em mim, explodiu em meu coração e o despedaçou. Junto com o meu medo, meu sofrimento deu lugar ao egoísmo.

A culpa é de Suzushiro-San e de Kikukawa-San.

- Kikukawa-San, o tempo está acabando, não é? Vamos resolver isso? -

Eu mandei Kyohime, meu Child, fruto do meu gigantesco amor por Natsuki, destruí-la. Suzushiro-San tentou interferir, mas eu já não estava mais me importando com o mundo dos vivos. Eu já estava morta para me importar com qualquer coisa. Vinguei-me e senti tanta satisfação em destruir o Child de Kikukawa-San que comecei a rir descontroladamente. Mata-la não me faria totalmente satisfeita, então, destruindo seu Child eu mataria sua pessoa mais importante, que seria...

Suzushiro-San.

Kikukawa-San é uma hipócrita, me insulta, fala calúnias ao meu respeito, mas é tão "imprópria" quanto eu poderia ser. Realmente eu só podia gargalhar daquilo. Nada me faria mais satisfeita naquele momento do que ver aquelas duas feridas e mortas. O destino que arranjei foi bem mais brilhante do que eu mesma havia planejado.

- Olha só para isso, ela não é miserável? Ha... Haha... Ha. -

Natsuki... Ela não sabia, mas naquele momento eu não estava falando de Kikukawa-San... Eu estava falando de mim mesma. Da minha dor, da minha solidão...

Do meu irônico abandono... Pela minha pessoa mais amada...

Eu não sei o que Natsuki pensou naquele momento, mas eu realmente não estava mais em condições de reprimir meus sentimentos ou formar qualquer pensamento lógico.

Não valia mais a pena guardar para mim. Eu já tinha perdido tudo que me importava.

- Não há mais motivos para esconder... Natsuki eu te amo... Sim, vou matar as outras Himes e tudo aquilo que você não gostar... Espere por mim... Natsuki... -

Eu saí de lá, não sabendo exatamente aonde iria, não estava pensando, meus fragmentos de minha mente diziam que deveria esperar Nagi e eu poderia tentar saber informações sobre a localização do quartel dos inimigos de Natsuki.

O Primeiro Distrito.

Eventualmente, Nagi surgiu e me informou. Acredito que Lorde Obsidiano, ou deveria dizer Reito-San, apreciou o conflito que eu causei a Kikukawa-San e por isso queria livrar-se de outros insetos como os que eu iria matar.

Assim que eu e Kyohime chegamos ao quartel começamos a destruir e matar toda criatura viva daquela área. Eu ainda acordo no meio da noite ouvindo os gritos de inúmeras pessoas que eu matei com minha Naginata, a sua lâmina escarlate cortando e a sua corrente retrátil esmagando a carne, os órgãos, os ossos e as próprias almas de suas vítimas.

Perfeito, gracioso, uma verdadeira dança da morte.

E tudo isso aconteceu em meros segundos. Segundos. Um momento o Primeiro Distrito existia, e no outro, estava reduzidos a punhados de cinzas.

Depois de matar a maior parte das pessoas, eu não sei ao certo o porquê, mas senti nos fragmentos de meu coração que Natsuki estava correndo perigo e eu, como um "cavaleiro em seu belo corcel branco", fui ao seu resgate. Ah... Sinto-me envergonhada por ter tido pensamentos tão irracionais, não sou uma pessoa dramática a esse ponto.

Quando cheguei a Natsuki, sua perseguidora não era ninguém alem de sua rival impertinente, Yuuki-San. Já havia enfrentado-a e protegido Natsuki de sua malícia há algum tempo. Pelo o pouco que eu sabia ao seu respeito, ela era uma garota que fingia ser uma "boa menina" na escola e as noites ia realizar "programas" com certos "clientes". Uma Kogal, por assim dizer. Eu também sabia que ela nunca realizava realmente o seu "trabalho", ela sempre ordenava o seu Child prender sua vítima em sua teia e roubava seu dinheiro. Eu não sabia exatamente o motivo de suas ações, mas era algo relacionado a uma vingança.

Ela é uma pessoa tão jovem e já estava tão obcecada com algo, gostaria de ter tido minha racionalidade para alertá-la do seu erro adequadamente, porém eu não estava em condições de formular qualquer pensamento lógico naquele momento. Uma pena.

Eu a derrotei, o seu Child jazia em pedaços no áspero chão daquele edifício. A sua pessoa mais importante deveria estar igualmente morta, mas eu não estava mais me importando.

Eu era apenas um fantasma. Uma sombra do que eu já fui um dia.

Eu podia sentir o meu próprio sorriso plastificado e colado em meu rosto. Imóvel, polido e gentil. Meu corpo movia-se sozinho e no interior da parte mais trancada do meu subconsciente eu gritava para parar. Eu implorava que parasse de machucar as pessoas ao meu redor, que elas não tinham que pagar por minhas frustrações. Meu coração gritava em uníssono:

Uma pessoa, por favor, apenas uma pessoa me escute... Salve-me desta dor!

Minha boca mal se mexia, as palavras mudas estavam praticamente estancadas em meus olhos e sorriso tão vazios.

Meus olhos lacrimejavam, mais de agonia e tristeza do que do vento forte que passava pelos meus cabelos, carregando o cheiro fétido das pessoas que eu matei. Eu queria que alguém me consolasse, não conseguia agüentar aquele tormento sozinha.

Yuuki-San parecia me compreender, mas é bastante provável que não tenha me entendido. Uma pessoa como ela não poderia me entender, poderia?

Ninguém conseguia perceber o quanto eu estava abandonada, triste, desesperada por salvação.

O quanto eu estava sozinha.

Com muita força de vontade eu pude lançar aquela menina um pedido de socorro. Não sei se ela ao menos o ouviu, mas tudo que eu sussurrei foi um simples...

- Salve-me... -

Natsuki não me ouviu, mas não me admiro muito. Ela não poderia. Ninguém poderia. Ninguém neste mundo saberia que eu, Fujino Shizuru, implorei por ajuda.

Ninguém aceitaria que eu tivesse me arrependido durante o Festival. Afinal eu era um "monstro" e ninguém gosta de se sentir igualado a um "monstro", especialmente se o monstro for "uma pessoa igual a mim". Ninguém aceita que um "monstro" sinta emoções, não é?

Antes que eu pudesse matá-la, Natsuki protegeu Yuuki-San com o seu corpo, ela disse algo sobre elas serem semelhantes. Eu não estava entendendo, mas de uma forma repentina, suas armas surgiram em suas mãos e ela apontou em minha direção. Meus pensamentos chegaram somente a uma conclusão lógica:

Natsuki me quer morta. Ela prefere a proteger Yuuki-San a estar comigo.

Ela não me ama, ela me odeia.

Eu olhei uma a outra por um momento, como um pedido sincero de perdão a Yuuki-San, não faço idéia do que ela imaginou naquela hora, mas eu desejei com toda a razão que me restava para que ela me perdoasse. Eu tentaria recompensa-la assim que pudesse. Se pudesse.

Ela não era a inimiga de Natsuki. EU era.

- Antes de vir até aqui, eu estava no quartel general do Primeiro Distrito. Ainda tem algumas coisas inacabadas aqui e ali, então você poderia me esperar até eu terminar, Natsuki?... Eu preferia se fosse assim. -

Eu não sei ao certo se Natsuki me compreendeu, mas sei que ela assentiu levemente com a cabeça. Eu ia terminar o que comecei. Eu sempre pertenci a Natsuki, deixarei que ela seja pura desse sentimento pecaminoso até o final.

Se alguém merece o sofrimento eterno, essa alguém sou eu.

Então me retirei para eliminar o resto das pessoas do Primeiro Distrito. Os seus líderes, para ser exata.

Meu Kimono estava encharcado de sangue, rasgado e fedendo a morte. O mesmo podia ser dito dos meus cabelos. Logo depois de eliminar todos aqueles que feriram Natsuki, eu voltei a meu dormitório em Fuuka. Eu me limpei meticulosamente das pontas dos meus cabelos aos meus pés, eu limpei cada pedacinho do meu corpo. Eu queria estar linda e pronta para o que viria.

Eu me preparei para o meu próprio enterro.

Eu poderia vestir qualquer roupa que eu tivesse; qualquer uma que me deixasse maravilhosa, mas de todas elas eu escolhi meu uniforme escolar de Kaichou. Por que esse uniforme significava muito para mim, era o símbolo de meu sacrifício por Natsuki.

Meu amor por Natsuki.

Lembranças doces e amargas misturavam-se em minha mente. O dia em que nos encontramos no jardim, aquele dia em que eu a encontrei preste a despedaçar uma flor. Eu não sei ao certo porque a impedi, mas aquele olhar solitário preencheu meu coração. Eu desejei poder ver pelo menos um sorriso verdadeiro de Natsuki.

Desejei algo verdadeiro, neste mundo tão falso.

Eu estava pronta, pronta para acabar com tudo. Se Natsuki é minha pessoa mais importante, eu não poderia matá-la. Pior, se por acaso eu fosse morta, ela morreria somente por ser minha Key. A culpa se instalou com mais força em mim e havia decidido que se Natsuki iria morrer por meu egoísmo, então eu deveria ser um bom divertimento para fazê-la feliz ao menos uma vez.

Ela se alegraria com minha morte, já que claramente iríamos para um lugar diferente assim que morrêssemos.

Era à hora e eu me arrastei até a sala do Conselho Estudantil, levando comigo um pouco de chá. Mesmo fora de mim, eu ainda sentia a necessidade de tomá-lo. Se esta era a minha ultima refeição então deveria ser a minha favorita. Chá sempre me alegrou.

Mas esse tinha um gosto amargo. Um gosto de solidão.

- Você pode se levantar Nao? -

Kuga me perguntou com aquela voz horrorosa que somente a Fujino achava bonita. Eu não dei a mínima para o que ela dizia. Não sei quanto a ela, mas eu realmente queria estar com minha mãe. Eu saí andando sem dizer nada e a Kuga apenas saiu pelas escadas de incêndio. Nossa, pelo menos aprenda a fingir que está preocupada que essa não me enganava nem no maternal.

Não há mesmo nada verdadeiro no mundo. Tudo é apenas uma mentira conveniente.

O maior exemplo é a própria Kuga. Mesmo antes do Festival se iniciar havia um certo boato na Academia Fuuka, apesar de a maioria acreditar que era uma mentira:

Fujino Shizuru, a graciosa e bela Kaichou do Conselho Estudantil, a pessoa mais admirável da Academia inteira, tinha um amor não correspondido por sua melhor amiga Kuga Natsuki.

Apesar de achar aquilo uma das mentiras mais loucas que eu já tinha ouvido falar em toda minha vida, eu ri a tarde inteira disso. Imagine só: A pessoa mais famosa de Fuuka, apaixonada por aquela mocréia da Kuga? Eu já achava que era tema de algum livro, Mangá ou Anime. Era bem capaz de ser o CONTRÁRIO, da Kuga ter uma queda pela Kaichou afinal ela era infinitamente mais bonita e com toda certeza MUITO mais simpática que ela. Disso eu não duvidava nem um pouco, tanto que eu passei a tarde inteira criando uma "música tema" sobre o assunto. A Kuga quase me esganou, mas valeu o esforço.

Esse assunto todo de "pessoa importante", de Key e outras besteiras apenas provaram minha teoria.

Pelo que eu sabia a Kuga nunca passava muito tempo com a Fujino. Ela sempre vinha ao Conselho Estudantil pra procurá-la e logo depois pegava o Laptop da infeliz e assim que terminava o que tinha de fazer ia embora. Eu suspeitei que fosse para obter informações, alguma coisa assim, já que a descerebrada da Kuga se achava uma espécie de agente secreta. Tem cada pessoa retardada no mundo que até eu me sinto emburrecida.

Se elas eram melhores amigas, não importavam se as duas passavam pouco ou muito tempo afastadas, ainda deveriam gostar muito uma da outra. Se a Kuga ligava tanto pra a Fujino quanto ela mesma indicava, então não poderia ser verdadeira nenhuma calúnia a respeito das duas.

Mas essa não era a verdade. A situação que essas duas estavam já disse tudo que há para ser dito. Não tinha amizade nenhuma pelo lado da Kuga, ela apenas se aproveitou da situação e do status que a Fujino tinha como Kaichou e a idiota da Fujino entregou tudo que tinha numa bandeja para aquela rapariga. No final disso, até eu entendo o porquê ela pirou desse jeito.

A Kuga não se importava realmente com a Fujino, ela se importava com ela mesma e com seu "grande" objetivo.

Ela usou a Fujino até o osso, ai a doida da Kaichou se sentiu rejeitada e essa tal de estrela Hime ampliou essa piração dela. Nossa! AGORA eu viajei geral. Eu estou realmente DEFENDENDO a Fujino? Não beberei mais Sakê.

Depois de viajar tanto pensando nessas coisas, eu não tinha percebido que já tinha andado por muito tempo e pra lugar algum. Eu tinha ido parar em um bairro barra-pesada e todos aqueles pedófilos com quem eu tive "programas" (não que eu tenha tido qualquer coisa com esses malditos, mas que eu passei a maior impressão neles quando eu estava saindo, sim eu passei) vieram se vingar tudo de uma vez só.

Eu só podia ser muito azarada, perdi tudo e ainda tinha que lidar com esses filhos da mãe?

Para a minha sorte eu consegui fugir deles. Peguei o dinheiro que eu tinha na hora e tomei o Táxi para o canto mais distante daquele lugar. Eu não tinha como sair da ilha de Fuuka, mas eu podia despistá-los por algum tempo até pensar em um plano.

Passaram algumas horas e eu estava cansada pra caramba, mas eu não podia parar. Tinha que sobreviver de algum modo aquilo tudo. Às vezes eu me pergunto, "E se eu tivesse tido algum lugar para voltar? E se eu não fosse tão sozinha? E se alguém estivesse me esperando?"

E se alguém se importasse verdadeiramente comigo?

Eu queria ser tipo, protegida por alguém. Eu queria uma certeza, um conforto de ter alguém para me abraçar e me dizer que tudo ia ficar bem.

Alguém que me Amasse.

Eu sentia muita inveja das outras Himes. Elas eram tão mentirosas e falsas que eu ficava pasma. Aquela Mai, por exemplo, dando aquela pose de "olhem para mim! Eu sou uma pessoa tão boazinha!" Mas ela foi a primeira de nós a matar alguém com aquele Child monstruoso dela. A Yukariko também é outra maldita. Ela passou esse tempo todo falando de paz e compreensão para todo mundo e olha o que ela me fez? ELA que iniciou o Festival e bastou inventar que eu a tinha atacado. A vaca da Kuga não perdeu tempo e já foi atirando em mim, dizendo um monte de merda. É claro que eu tinha que me defender dela, se não ela iria me matar com certeza.

...E a anormal ainda acabou acertando meu olho! Graças a ela eu ainda sinto aquela dor terrível, mesmo depois de tudo estar terminado. Ela nunca me pediu desculpas, aquela Kuga imbecil. Um dia vai ter volta Kuga, espere só para ver. Não é porque eu te devo uma que eu vou esquecer o que você fez.

Mas elas todas tinham uma coisa em comum: Eram vistas como "boazinhas". Todas elas eram "certinhas" e "boazinhas", não importava o que fizessem.

Agora EU que não fiz porcaria nenhuma, sequer já matei alguém, sou o primeiro alvo que elas pensam em atacar. É por isso que eu sempre achei essa história de "time" ridícula. Bastava alguma delas se sentir prejudicada que já iam virando as costas e me usar como saco de pancadas. Eu fiz foi rir daquele absurdo de "Hime Rangers" que a bêbada da Midori inventou. Aquilo nunca ia durar.

Foi mal se eu não me encaixo no padrão "do bem", prefiro ficar sozinha a me prender a essas mentiras e promessas falsas de amizade.

Acho que é por isso que eu vou ficar só o resto da vida, ninguém deve sentir um vazio e necessidade tão absurda igual ao que eu sinto.

...Mas e se algum dia eu me apaixonar perdidamente por alguém e eu for correspondida?

Ah ta certo! Ainda estou pra ver isso acontecer no mundo. Se isso realmente me acontecer algum um dia, eu viro Freira por três semanas. Haha, que comédia.

Durante as horas que eu passei vagando pelas ruas de Fuuka, eu não parei um segundo de ter essa conversa mental. Uma vez, duas, milhões de vezes. Essa estrela desgraçada estava mesmo afetando o meu cérebro. Nesse tempo, os otários dos meus "Clientes" acabaram me achando e me acuando num beco. Eu não tinha para onde ir e muito menos qualquer estratégia para me defender deles. Eles estavam rindo, acho. Não em lembro bem porque um deles estava falando sobre umas coisas que pareciam vindas de algum Hentai bem trash. AQUILO me deu MUITO nojo, pode ter certeza.

Eu tinha certeza que eu iria ser estuprada e depois morta por todos aqueles homens horríveis, mas quando eles iam se aproximar de mim as minhas garras simplesmente surgiram do nada. Eu fiz questão de estragar as caras de todos aqueles Filhos da Puta de um modo que nem jogando ácido melhorava.

Assim que eu terminei, a Ex-Diretora, ou pivete, ou sei lá o que; apareceu em uma luz dizendo que tinha chegado a nossa hora de detonar a porcaria da estrela Hime e antes que eu pudesse ter xingado a nanica de qualquer coisa ela sumiu. Que clichê.

Eu já ia invocar Julia para irmos juntas até lá quando eu senti algo estranho. Eu olhei para uma parede do beco, onde tinha um pedaço de um espelho e entendi o que o tampão do meu olho tinha caído e que meu olho tinha restaurado.

Foi bem OBVIO que eu chorei, qualquer um ia chorar com isso.

Quando eu e Julia estávamos voando até a estrela (A Ex-Diretora só podia ser muito poderosa pra fazer uma aranha conseguir voar), eu vi as outras Himes e junto delas estava ninguém menos que a Fujino.

Eu fiz a melhor cara de rancor que eu tinha na hora e dei um grito.

- Fujino! -

Ela virou o rosto e me olhou nos olhos. Apesar de ela ter acabado com o meu Child, eu a achei incrível voando naquela Hidra que ela tinha. Ela parecia incrivelmente imponente, pronta para uma "batalha épica" ou algo assim. E também tinha outra coisa que eu não me lembro direito nos olhos dela, mas na hora eu não me importei com isso, afinal eu estava nervosa com aquele olhar fixo. Legal, mais uma pro Fã-Clube dela, parabéns Yuuki.

Eu esperava que ela fosse chorar, criticar, fazer alguma coisa que eu pudesse atacá-la com palavras, mas em vez disso tudo ela juntou as mãos, apoiou no lado do rosto, deu um sorriso e falou com aquele sotaque bizarro dela. E advinha o quê?

- Kannin Na! -

Eu fiquei na merda, mas não fui à única. A Nerd da Kikukawa também tinha ficado pasma sem contar com a própria Kuga. Eu fiquei bem impressionada com isso, essa calma toda. Ela só podia ser uma pessoa bastante diferente das outras Himes. Ótimo, mais uma excluída.

Quando todas nós destruímos a porcaria da estrela, nossos Childs pousaram numa parte da Academia e desapareceram naquela coisa esverdeada deles. Depois nos vimos a Mikoto nos braços da Mai, aparentemente morta. Ta, eu admito que naquela hora eu quase chorei de novo, afinal eu gosto dessa nanica. Ela foi a minha primeira pseudo-amiga.

Hoje em dia nos duas sempre conversamos muito, ela é uma pessoa tão sincera que eu acho bonitinha a maneira como ela é tão inocente, tipo como uma irmãzinha mais nova sabe? Hehe, quem diria que eu ficaria amiga de alguém tão ingênua.

Eu devo á ela muito mais que eu devo a retardada da Kuga, com certeza.

Depois que a doida da Mikoto "ressuscitou" e ficou resmungando por comida, a Fujino tirou um saco de biscoitos do bolso de seu casaco e entregou pra esfomeada. Eu sei lá por que ela fez isso, mas a Mikoto ficou super amiga da Fujino e já foi tacando a cara nos peitos dela. Até a desmiolada da Sugiura tinha tirado uma com elas, só pra ter uma idéia da situação. Quando eu tive a chance, eu segurei a Fujino pelo braço e a arrastei para um lugar mais afastado para resolvermos logo nossos assuntos inacabados.

Ela não ia se livrar disso tão facilmente.

- Você está animada como sempre, Natsuki... -

Ara, ela chegou de uma forma tão chamativa que eu não pude evitar meu sarcasmo. Eu já não vivia, mas minhas ações freqüentes se tornaram automáticas naquele momento. Eu não consigo me lembrar muito bem do que estava dizendo ou fazendo. Minhas memórias ainda estão totalmente vagas, não que eu sinta necessidade de lembrar qualquer coisa.

Prefiro morrer a ter que voltar aquele momento onde a razão humana se anulou.

Ela e eu lutamos. Atirando em minha direção, mirando em meus pontos vitais, ela atirava com fúria. Eu apenas simulava golpes. Natsuki estava se divertindo com meu sofrimento, minha dor lhe trazia satisfação. Se eu estava lhe fazendo feliz com isso, a perspectiva de morrer não me era de tamanho desagrado.

Somente Natsuki poderia me matar. Minha vida lhe pertencia.

Eu invoquei Kyohime, meu Child. É hilário seu nome, combinava com a Hime idiota que ela tinha como mestra. Afinal, a lenda da princesa Kyo é apenas um retrocesso de meu próprio e fatídico destino. A princesa Kyo, tão apaixonada que era, entrega-se à loucura pelo abandono do seu grande amor, vira um dragão terrível e mata-o de maneira implacável. Realmente, uma piada cruel. Mas diferente da princesa Kyo, eu não poderia ferir quem eu amava.

Eu não podia matá-la de verdade. Eu não conseguiria.

- Lamento Natsuki, mas eu não posso te ferir de verdade, mas eu ainda te amo e vou tê-la para mim nem que você me odeie eternamente. -

Uma mentira, uma verdade. Eu não estava em minha sã consciência, mas eu ainda não a machucaria. Eu imaginava que isso deveria provocá-la, acredito. A provocação funcionou perfeitamente, ela deve ter acreditado mesmo que eu a mataria por algo tão egoísta. Ah, quão ingênua Natsuki pode ser, isso se ela admitisse, obviamente.

- O poder de um Child vem da força de seus sentimentos, quanto mais intenso é esse sentimento, mais poderoso o Child se tornará! -

O Child de Natsuki, que ela teve o péssimo gosto de nomear em homenagem ao seu falecido cachorro Duran (e por mais que ela negue o fato, uma certa banda estrangeira de pop rock também partilha este nome.) estava gigantesco. Era de uma altura semelhante se não idêntica a de minha Kyohime. Eu não pude refletir muito sobre o assunto naquele momento, pois Natsuki me olhava com tanta determinação que minha lógica distorcida dizia que o sentimento dela não era igual o meu, mas sim um ódio absurdo e por isso a altura de Duran.

Não que eu tenha acreditado que ela me aceitaria, é claro.

Os nossos Childs se enfrentavam incessantemente. Kyohime lançava-se com suas inúmeras cabeças contra Duran, enquanto este desferia mordidas e patadas a todo instante. No decorrer desta intensa batalha, eu pude lembrar-me de usar a área ao meu favor, os escombros da antiga igreja deveriam me auxiliar de alguma forma.

Se Natsuki não me oferecia uma oportunidade de aproximação, eu formularia uma.

Refugiei-me no interior daquela igreja e esperei Natsuki surgir pela única entrada possível. Era obvio que ela sabia que era uma armadilha, mas nossos Childs estavam ocupados lutando um com o outro, então ela não tinha nenhuma alternativa. Por mais irônico que tenha sido esta situação, utilizei-me da própria lenda de Kyo para aproximar-me o suficiente de Natsuki. Eu derrubei o sino da igreja em cima dela e utilizei a corrente de minha Naginata para quebrá-lo e trazer Natsuki ao alcance de meus braços.

Ninguém sabia o quanto eu necessitava abraça-la aquele momento.

Eu não conseguia exprimir minhas emoções, mas não a deixaria mais se afastar de mim. Eu implorava por uma redenção, por uma palavra de consolo, de carinho. Eu não me importava se era uma mentira, eu só queria morrer naquele calor já que eu estava sentindo tanto frio.

Os espinhos do meu coração, a nevasca que destruía qualquer flor.

Eu não chorava há anos, eu não me permitia sentir nada há anos. Fujino Shizuru não tinha o direito de se expressar, ela era infalível, ela era grandiosa, o mundo deveria sucumbir a sua vontade. Ninguém deveria abalar a estrutura de sua plenitude. Mesmo quando minha mãe fugiu com um amante de minha antiga casa e meu pai manteve-me distante de qualquer contato afetivo, eu não chorei. E foi simplesmente impressionante como uma simples rejeição me deixou em um estado de tamanha inquietação.

Ah... Os humanos são criaturas tão pecaminosas e complexas, você não acha?

Natsuki me afastou e achei que ela me mataria naquele momento, até tentei me preparar para a dor, mas o que eu senti a seguir foi algo completamente inesperado.

Um beijo, um leve e gentil beijo em meus lábios.

Eu tinha me abismado com essa mera amostra de sentimentos. Ela me afastou para que pudesse me olhar novamente nos olhos e proferiu que não poderia me amar, mas que estava agradecida pelos meus sentimentos. Ela até mesmo disse que me amava de uma maneira diferente, mas era uma ação um quanto obvia, pois era provável que temesse que eu perdesse a cabeça novamente. Natsuki, Natsuki... Tem que melhorar a suas mentiras se pretende me enganar algum dia.

Mas naquele momento, eu realmente acreditei no que ela havia dito.

Acho que eu me enrubesci com o comentário dela, mas sequer tive tempo de falar qualquer coisa, pois ela gritou para que Duran matasse Kyohime enquanto eu estava distraída. Ela nem precisaria fazer isso, mas acho que Natsuki sente-se feliz em me machucar de qualquer forma.

Ela me abraçou, para eu morrer ao seu lado ou para me impedir de tomar qualquer ação. Naquele momento nada era importante, tudo que me importava era o calor de nossos corpos que se desfaziam em luz. Eu a abracei possesivamente mantendo o calor por algum tempo, enquanto eu proferia as ultimas palavras que eu tenho lembrança:

- Eu estou satisfeita, Natsuki... -

E tudo sumiu, eu a escutei falando algo que parecia ser um inicio de uma frase, mas meus ouvidos não funcionavam mais e nós caímos no vazio.

Quando tudo parecia estar justo, algum poder me devolveu aquela dor e quando eu menos havia percebido, eu estava viva novamente. O destino sempre foi bastante cruel comigo, toda vez que eu alcanço uma espécie de felicidade ela desliza entre meus dedos feito água. Cômico, não é mesmo? Essas lembranças solenes me fazem recordar de tantas coisas interessantes, no entanto eu sempre divago alem do necessário.

Eu tinha que lidar com a minha razão e com ela a vinda do conceito de certo e errado, o que me trouxe lembranças frescas das mortes de cada pessoa que eu causei em nome da "minha Natsuki". A minha máscara de perfeição, a máscara rigorosa da mais perfeita Fujino que já veio a existir, sucumbiu ao peso da culpa e das memórias.

Meus pecados não podiam ser perdoados. Não havia forma de repará-los.

Eu chorei descontroladamente, as lágrimas fluíram de forma que eu não conseguia mais restringi-las. Eu não pude ter autocontrole para segurar aquela sensação horrível que sentia naquele instante. Eu dei voz ao meu coração, um pedido sincero a Natsuki.

Meu tormento.

- Me desculpe Natsuki! Desculpe-me, por favor... E-eu não -

- Está tudo bem Shizuru, eu te perdôo... Estamos bem, não é? Então vamos lutar juntas, vamos destruir o nosso inimigo, ta? -

Eu tinha me sentindo verdadeiramente feliz naquela hora. Natsuki tinha supostamente me perdoado e era tudo que eu podia desejar naquela situação. O comentário sobre unirmos forças para destruirmos a estrela Hime me fez sentir um objetivo e dessa vez eu não estaria sozinha, pois quem eu amava estava ao meu lado. Prevaleceríamos com toda certeza.

Ah... Como eu sou tão sonhadora... Meus desejos diziam algo tão tolo como isso? O que o amor não correspondido faz as nossas mentes, não é?

Nos duas voamos juntas até o nosso inimigo (Porém é um mistério como as habilidades de Kazahana-Sama conseguiram fazer um Lobo e uma Hidra alcançarem vôo. O poder vindo dela era realmente espantoso, de fato). Enquanto íamos, nos encontramos com as outras Himes e eu havia percebido a presença de Kikukawa-san. Ela me olhava, mas não havia dito nada, provavelmente com medo que eu a atacasse. Não que eu tirasse a razão dela, eu também teria tido receio se estivesse em seu lugar.

Mas eu sou Fujino Shizuru, eu não sinto receio e incerteza de nada.

Eu havia decidido ignora-la por aquele instante, mas eu tinha escutado a voz de Yuuki-San chamando-me pelo meu nome. Ela me olhou com aqueles olhos levemente esverdeados de forma ameaçadora, porém eu não me assustei com suas ações, na verdade eu havia achado maravilhosamente instigante.

Igual a Natsuki.

Eu havia resolvido que aliviar aquele clima pesado para poder me concentrar na destruição da estrela Hime, pois isso era mais importante que continuar com intrigas divergentes. Por esse motivo eu tinha de "alegrar" o humor com uma provocação.

Um "desculpem-me, por favor!" seria mais adequado para uma situação polida, mas no contexto estressante que todas nós encontrávamos naquele período, foi no mínimo agradável.

Quando destruímos a odiosa estrela Hime, fomos ao encontro de Mai-San e de Mikoto-San. Eu tinha certeza de que a menininha estava morta depois de ter a barriga rasgada daquela maneira, mas logo depois ela emitiu um ronco faminto e implorou por comida. Eu fiquei claramente espantada, se não me falha a memória.

Mai-San havia começado a chorar e aquilo foi uma bela demonstração de afeto, não era romântico como o que eu sentia por Natsuki, mas era intensamente amoroso. Como um relacionamento de uma criança e sua mãe. Eu notei que Mai-San não tinha comida alguma para entregá-la e naquela hora eu retirei de um dos meus bolsos do meu casaco um saquinho de biscoitinhos. Eu havia pretendido tomar junto ao meu chá enquanto esperava a vinda de Natsuki, mas eu não sentia fome e apenas guardei em um dos meus bolsos de Zíper. Eu até me impressionei pelos biscoitos não terem sido completamente destruídos, apenas partidos no meio. Eu fui até as duas cautelosamente e o coloquei nas mãos de Mai-San.

- Mai-San, parece-me que Minagi-San está faminta, porque não lhe dá esses biscoitos por enquanto? -

Minha ação gerou certo alvoroço em algumas das outras Ex-Himes. Provavelmente não tinham gostado do que eu fiz, talvez acreditassem que eu não merecia a confiança de ninguém.

Eu teria acreditado neste pensamento se eu ainda fosse à mesma pessoa de antes, provavelmente.

Antes que Mai-San pudesse colocar um dos pedaços do biscoito na boca de Mikoto-San, ela tinha tomado o pacote inteiro e já tinha ingerido tudo que tinha dentro dele. Espantoso.

- Obrigada! Nham! Você é legal! -

Eu tinha ficado um pouco acanhada com a situação, mas eu achei aquela menininha muito adorável. Como ela não sabia meu nome, me apresentei devidamente.

- Que bom que gostou. Meu nome é Fujino Shizuru, um prazer em conhecê-la. -

- O meu é Mikoto! Minagi Mikoto! Obrigada pela comida Ru-Chan! -

Eu nunca tinha sido chamado por esse sufixo em minha vida. Nem meus pais o usavam, sempre pelo nome da maneira mais polida e eficiente. Não precisava de infância e sim de resultados. Por esse motivo que quando eu o ouvi pela primeira vez desta pessoa, eu me senti estranha.

Mas foi bom. Eu aprecio muito esse afeto tão sincero. Por isso que eu sou próxima dela e de certa forma de Mai-San. As coisas se alteram com muita facilidade.

- Obrigada, eu gostei muito! Posso te chamar de Mikoto-Chan? -

- Humhum! Mikoto gosta de fazer amigos! Sim senhor! -

O mais impressionante foi o fato dela ter pressionado o rosto em meus seios. Eu me impressionei apenas por um estante e pude ouvir um coro surpreso com a ação. Eu não pude evitar provocar aquele momento com alguma piada.

- Ara, ela é uma garota meiga e afetuosa, não acham? -

Sugiura-Sensei mencionou alguma coisa sobre a situação. Ela gesticulou, gargalhou, riu e respirou ao mesmo tempo, a ponto de que eu não me lembro como ela conseguiu expressar qualquer coisa. Ela é uma figura muito obscura para mim, de qualquer forma.

- Acho que Mai-Chan arranjou uma substituta... -

Muitas das garotas riram. Reito-San e Yuuichi-San que também estavam ali riram igualmente. Tudo parecia estar mais agradável, mas Yuuki-San me puxou pelo braço e me levou a força para uma área mais afastada. Ela queria mesmo tocar naquela história desagradável, não é verdade?

O que eu fiz em minha vida passada para merecer tamanha angústia?

Ela estava de novo com aquele sorriso polido que as pessoas dão quando te escutam apenas por obrigação. Eu me irritei muito com ela, me irritei tanto com aquilo que acabei cometendo um erro grave:

Eu fui sincera. Do nada!

- Fujino, você não se cansa de fingir ser algo que você não é? Essa máscara de perfeição é tão importante assim pra você? Dá pra ser sincera uma vez na vida com alguém? -

Ela ficou tanto na merda que ela passou um bom tempo com uma cara de choque. Depois de alguns minutos, ela baixou o olhar e protegeu os olhos de mim, acho que ela não queria tipo, se entregar que tava mentindo.

- Do que você está falando... Yuuki-San? -

Aquilo não tava mesmo funcionando. Eu tinha que apelar.

- Porque é que você se sente tão sozinha com tanta gente ao seu redor, Fujino? -

Ela me olhou imediatamente e eu vi o porquê ela estava escondendo os olhos. Estavam cheios de culpa e arrependimento, cheios de medo e estavam principalmente infestados daquela gigantesca solidão.

EU fiquei sem palavras com aquilo, imagina o que ela deve ter pensado?

- Eu... Não sei Yuuki... San -

A voz dela saiu como um suspiro, não foi nem sussurro. Ela tava meio acabadona, mas nem a pau que eu ia deixá-la se safar simplesmente disso.

Não podia mesmo, tinha meu orgulho!

- Era de se esperar, você não consegue enfrentar nada sem que a Kuga esteja envolvida, né babaca? -

Ela tremeu um pouco, mas eu não tava me importando. A desgraçada merecia. Minha mãe morreu por causa dessa porcaria de amor ou sei lá o que essa infeliz tinha pela Kuga. Tanto fazia pra mim, principalmente naquela hora.

- Você não tem idéia de quanto eu sou miserável, Yuuki-San. Eu não preciso aumentar a minha desgraça com seus comentários ardilosos, por isso eu irei me retirar. Adeus. -

Certo, AGORA eu tinha ficado na merda. Essa Fujino tem o "dom" de me deixar nervosa do nada. Maldição, eu tô parecendo a Kuga. Maldita chaleira doentia!

- EI SUA...! -

Eu não fazia idéia do que eu tava falando, mas aquela cara de solidão dela tava me revoltando ao limite, eu tava falando tanta doideira que eu nem sei por que eu ainda me lembro disso. A gente deve ter a mania de aprender só o que não presta, acho.

- Yuuki-San! Eu não quero falar sobre nada com você, eu não quero ver ninguém ou falar com ninguém e muito menos me lembrar do que eu fiz! O que você quer de mim? Você quer dinheiro, Yuuki? É isso? Eu lhe dou tudo que você pedir, apenas me deixe em paz! -

E ela saiu. Eu sei lá se chorou, mas eu duvido. A Fujino é quase uma máquina, pode acontecer o fim do mundo e ela só vai estar preocupada com a Kuga. Frankenstein de quinta! Eu detesto isso!

Mas eu me senti um pouco culpada. Eu fui um pouco sacana sabe?

Maldição.

Ela sumiu depois disso. Eu até perguntei por ela, mas ninguém a viu e adivinha só:

Ninguém se importou.

Ah... Até parece que foi ontem, o ocorrido. Que foi ontem que eu encontrei Natsuki pela primeira vez, que eu me apaixonei; que eu entrei nas eleições do Conselho Estudantil, que eu descobri meus poderes de Hime, que Natsuki me visitava pelas informações da Academia, que eu a protegia as escondidas, que eu a amava as escondidas, que eu lutei no Festival, que eu fui rejeitada, que nos enfrentamos, que morremos, que ressuscitamos, que destruímos a estrela Hime, que Yuuki-San me agrediu...

Que eu fugi e você não se importou.

Natsuki... Faz quanto tempo que não nos falamos? Ou que eu não falo com ninguém ou saio de minha casa? Uma semana acredito...

Tão só.

Nenhuma ligação sua, eu apenas estava sentada em meu jardim, observando as flores. Interessante, de fato. Eu adquiri os mesmos exemplares das flores de Fuuka, sabe? Aquelas do jardim que nos vimos e conhecemos pela primeira vez. Tão lindas, não é?

Flores...

Eu me lembro que no ano passado eu lhe dei um buquê de rosas brancas no seu aniversário. É obvio que você não quis, mas eu lhe induzi ameaçando destruir seu pote de maionese, então você teve de aceita-las. Eu também me recordo que me doeu muito te ver arremessando essas mesmas flores, essas cerejeiras que eu demorei tanto para colhê-las e enfeita-las, no lixo.

Isso foi tão cruel.

Minha nossa, por que me torturo dessa maneira? Você não tem culpa de estar fazendo isso. É o normal, não é? Entregar rosas a uma amiga, a uma MULHER, não é normal... Eu, gostar dessa forma tão intensa de você, para os outros não pode ser normal.

Eu não sou normal? Estou doente?

Talvez até mesmo Suzushiro-San tenha razão sobre mim. Eu devo ser uma egoísta por não ouvir as convenções da maioria.

Não sou normal, não é?

Eu não sei, mas... Devem ter remédios para isso? Eu não sei... Eu não sei.

Não sou normal.

Não devem existir remédios. Eu não vou resistir a uma vida dessa maneira injusta.

Eu vou aliviar a dor. Sim, a dor do meu coração me incomoda muito.

Qualquer coisa que eu tenho... Oh, claro... Os meus soníferos, se eu ingeri-los em grandes quantidades, quem sabe a dor pare? Eu poderia dormir para sempre? Meus sonhos... Eu seria feliz neles.

E normal.

Além disso, ninguém se importaria com isso. Quem sabe tivessem pessoas no meu enterro, mas em um mês, meu túmulo já estaria vazio.

Por que não existe amor. É tudo uma ilusão, uma doce armadilha sentimental.

Era tudo isso que eu pensava. Esse pensamento infeliz e injusto sobre a minha própria pessoa. Se não fosse um fato inusitado, eu não estaria nesse momento contando uma história como essa.

Realmente... Uma surpresa.

Eu sei lá o porquê, mas eu vou viajar geral aqui e vou falar umas coisas que aconteceram, isso já ta é me sufocando!

'Onde está a casa...? Droga de país cheio de gente! Vão comprar umas TV's para passar o tempo em vez de aumentar a população seus pervertidos! Ham?'

Eu tinha visto um muro baixo. Eu já estava procurando isso fazia muitas horas, queria encontrar logo a Fujino antes que eu me arrependesse. Eu fiquei com muito ódio, afinal eu estraguei essa idiota pra vadia da Kuga, crente que a vaca fosse ficar revoltada comigo e fosse puxar alguma briga, mas a desgraçada fez foi rir e CONCORDAR com tudo que eu disse sobre a Fujino!

Ela disse algo como "A Shizuru realmente enche o saco! Às vezes ela é tão obcecada que me sufoca. Queria que ela saísse do meu pé". E olha que a Fujino é a "pessoa mais importante da Kuga". A Kuga nem imaginava algo inverso a isso iria acontecer na situação que ela está no momento. Realmente essa idiota me mata de rir.

Mas o que eu estava procurando naquele Bairro não tinha nada a ver com a hipocrisia da Kuga, pois era bem mais importante naquela época.

Eu tinha visto tipo, um muro de madeira, e um barulho esquisito.

'Que barulho é esse atrás desse muro ridículo? Choro?'

Eu pulei o muro mínimo. A Fujino tem sorte de o bairro ser seguro, se não a ladroagem fazia a festa. Essas pessoas cheias da grana são outras estórias, né?

'Pronto, pulei o muro e agora... Puta que...!'

ADVINHA o que eu vi? A Fujino estava com um vidro enorme de vários tipos de remédios de dormir, caída na grama do jardim e com as caixas abertas.

- 'Fujino?' –

'O QUE É QUE ESSA LOUCA FEZ?'

'Esse vidro... Sonífero? Porcaria, quantos ela tomou?'

Imagine só. Eu nem sei o que essa maluca faria no meu lugar, afinal ela já matou uma porrada de gente, mas eu tinha ficado nervosa com aquilo. Por mais que eu não gostasse dela, eu não ia deixar que ela morresse sem ter realizado a minha vingança.

- 'Fujino! Anda! Acorda!' -

Eu tinha sacudido, mexido e até chutado a desgraçada pra ver se ela acordava. Nada!

Mas isso não foi nem a metade do problema. Eu tinha visto na TV que se uma pessoa desmaiasse dessa maneira, tinha que estimular os batimentos do coração pra que ela voltasse a acordar. Só que eu não sabia como fazer isso direito, pois eu fui tão burra que eu só me lembrava das aulas de CPR do colégio.

Entendeu o que houve?

- 'É BOM VOCÊ ME ENCHER DE DINHEIRO, FUJINO! É BOM MESMO!' -

Eu tinha segurado o rosto dela com minhas mãos, levantei o queixo dela e aproximei a minha cara.

Foi meu primeiro CPR.

Foi meu primeiro beijo.

Sim, meu primeiro beijo, e ai? Os babacas que eu saia não queriam me beijar não... Eles queriam era fazer putaria. E eu COM CERTERZA não gostaria de nada disso. Ainda bem que eles se ferraram. Os homens são mesmo horríveis, não é?

'...É bem melhor do que eu pensava. Tem um gosto bom, é tão... Opa! Que é isso? Respira Fujino! Respira ou você quer mesmo que eu te engula?'

E ela acordou depois de um monte de massagens cardíacas e "beijos", ela ficou fora de perigo. Ela ainda tava meio tonta, meio fora de si, lambendo os lábios. Eu já ia exigir dela uns 500 mil Yen só pra começar, mas ai ela disse aquilo.

- 'E...u quero ver o sor...riso... Eu não quero sentir esse... Fr...frio... Mate... me, mas não me deixe... Eu não quero viver... Assim, não... De novo... Me... Sal... ve...' -

E "puf". Eu me esqueci completamente do dinheiro.

'O que foi isso? Ela quer... Ser salva do quê? De quem? Essa masoquista quer morrer de novo? MAS QUE PORRA É ESSA?'

Eu já tava confusa antes, agora com isso... Eu não fazia idéia!

Eu a arrastei até o sofá da sala. Que se ferre o chão dela, entrei de tênis mesmo e daí? Ela que limpe, não sou obrigada a fazer isso mesmo. Só sei que eu fiquei insistindo para que ela não desmaiasse. Eu fui até a cozinha dela e fiz o café instantâneo mais rápido da minha vida, coloquei tanto café que o gosto deveria ta terrível, mas era melhor que nada. Mas nessa brincadeira toda de ir a cozinha ela desmaiou DE NOVO e não tinha como ela tomar nada sem derramar tudo. Eu só consegui pensar numa coisa e adivinhe o que? Eu tomei um gole longo daquela porcaria amarga e sem engolir nada, eu lasquei outro CPR. Ela engoliu tudo e eu ainda joguei água na cara dela pra acordá-la.

- 'Que droga Fujino! PELO MENOS MORRE LOGO E DEIXA DE ENROLAR!' -

Eu não sei se ela ainda estava grogue ou delirando, mas era bem melhor que nada.

- 'Natsuki?...É você? Você ainda se importa... Comigo?' -

- 'Não é a Kuga! Sou eu Fujino! Yuuki Nao!' -

- 'Yuuki... San? Oh... Ela não veio...' –

- 'É, não veio e aí? Vai se matar por causa dessa vadia?' –

- 'Não insulte Natsu-Cof!' -

- 'Olha aqui! Você teve muita sorte de eu esta pelas redondezas, você quase morreu com essas porcarias de remédios. Você me deve Fujino, MUITO!' -

- 'Não me recordo-Cof!- De ter solicitado qualquer ajuda sua... Yuuki...' -

- 'Nao, eu odeio que me chamem pelo sobrenome. Além disso, você já me conhece o suficiente pra isso, droga! Eu só te ajudei por que você me deve e você não vai morrer até lá, Fujino!' -

- '... Shizuru... ' -

- 'QUÊ?' -

- 'Não é correto para eu chamá-la de Nao se você não me chamar de Shizuru... Não é?' -

- '... Ta certo, Fujin... Shizuru. ' -

Ela tava me olhando com uma cara estranha, mas no caso dela era normal. Ela colocou a mão no canto da boca e passou a língua nos lábios. Droga, naquela hora eu me toquei que eu tinha feito respiração boca-a-boca na infeliz. Merda, eu acabei de imaginar besteiras! Agora, onde está o meu lenço? Porque é que eu sempre me coloco em situações constrangedoras com a Fujino? Meu nariz não pode ficar sangrando desse jeito todo dia não!

- 'Que gosto é esse? Café...?' -

Eu JURO que eu fiquei morrendo de medo naquela hora. Imagina só!

- 'Ah... Er... Pois é, né! Que coisa estranha, não é mesmo?' -

- 'Han, Nao?' -

- 'Quê?' -

- 'Me explique, porque a sua boca está suja de café, por favor?' -

Pois é. Ela tinha descoberto num minuto. Mulher amaldiçoada!

- 'Sujo? Não tem nada aqui, é impressão sua! Sua psicopata paranóica!' -

- 'Não sabia que você se aproveitava de pobres mulheres indefesas. O que será que você deve ter feito comigo enquanto eu esta desacordada?' -

Ah não, eu não ia deixar essa doente tirar uma com a minha cara desse jeito. Duas podiam jogar esse jogo e foi isso que eu fiz.

- 'Eu? Oh só o que é de praxe, sabe? Eu te joguei no sofá, e te dei uns trinta chupões no pescoço e tirei o gasto de quinze anos. Alem disso, o que é que você tem de indefesa? Que coisa não?' -

Eu nem vou mentir, eu gostei muito dessa zoeira toda. Essa Kaichou não era tão podre e doente quanto eu pensava. Ela também deu um sorriso meio leve, mas não tinha nada de polido, então devia ser de verdade.

- 'Você é uma pessoa peculiar, Nao. Eu te imaginava um tanto... Diferente disso. ' -

- 'Ei, você já deveria ter esperado isso de mim. Afinal você também usa uma máscara igual a minha, só que a minha não é tão eficiente. ' -

Ela ficou me analisando com aqueles olhos vermelhos que só ela teve a proeza de ter. Eu fiquei nervosa com aquilo, mas ela falou antes que eu pensasse em dizer qualquer coisa.

- 'Interessante. Posso te perguntar o porquê você, de todas as pessoas de Fuuka, iria vir até a mim e salvaria a minha vida? O que você deseja tanto que somente eu possa lhe dar para você fazer isso tudo?' -

Eu não fazia a mínima idéia. Na verdade, eu ainda não sei o que eu quero dela. Confuso, não?

Mas nem morta eu admitiria isso pra ela.

- 'Eu quero uma compensação! Você matou minha mãe, eu quero me vingar do que você fez!' -

- 'Quanto você quer, Nao?' -

- 'Mil Dólares!' -

- 'Oh... Você é exigente... Pois bem, e se eu te der o dinheiro, você se daria por satisfeita?' -

'Nem um pouco... Eu quero... Saber... '

- 'Sim! Me dê logo!' -

Eu não esperava que ela fosse ter tanto dinheiro, eu DUVIDAVA que ela tivesse.

Mas não é que ela REALMENTE tinha?

- 'Tome, pode ficar com isso. ' -

- 'Um cartão de Crédito? Espere ai! Isso é seu?' -

- 'Sim, é meu e você pode usá-lo à vontade. Eu não me importo com isso. ' -

Eu me senti mal com aquilo, mas mesmo assim eu fiquei com o cartão, mas eu sabia que aquilo tudo não tinha terminado. Só tava começando.

- 'Certo, então falou aí, eu vou sair fora. ' -

Ela me olhou com aquele rosto apático dela. Ela tinha colocado uma máscara bem complicada de ler, por isso não fazia idéia do que ela tava pensando sobre aquilo tudo. Ela se levantou e apontou a entrada da casa. Ela foi andando em silêncio comigo, abriu a porta e eu saí e quando eu estava na esquina, me arrisquei olhar para trás.

Ela ainda estava me olhando e quando me viu olhando de volta, ela acenou levemente com a mão.

'Não é justo... '

Eu voltei correndo e gritei na cara dela:

- 'POSSO DORMIR AQUI?' -

Eu não sei por que, mas eu tinha que falar logo uma merda dessas? LOGO PRA ELA? Bom, ainda tinha a esperança de ela recusar e era bem lógico que ela ia.

- '... Claro, Nao. Fique a vontade. ' -

Ou não.

'MAS O QUE EU ACABEI DE FAZER?'