CAPÍTULO UM

Sasuke Uchiha, o bilionário do setor de softwares, olhava o mar do convés de seu mega iate Lestara. Construído sob medida, com as exatas especificações do dono, o iate era um palácio flutuante, considerado o mais bonito e sofisticado já feito. Completo, tinha dois heliportos, uma sala de cinema, uma piscina e um barco na popa. No entanto, Sasuke estava irritado com alguns pequenos detalhes que não lhe agradavam. Seus convidados, porém, falavam do iate com entusiasmo e admiração.

— Incrível...

— A embarcação mais luxuosa que já vi...

— Você tem um hospital particular... Uau! É só o que tenho a dizer...

— A sala de ginástica e a quadra de basquete são surpreendentes...

— A vista da parede de vidro no casco do navio é maravilhosa...

— Sessenta empregados na tripulação a seu dispor... Deve se sentir como

um rei...

O perfil belo e moreno estava inclinado e distante, os olhos negros expressavam desânimo; Sasuke permanecia olhando para o horizonte. Um rei? Não era como se sentia. Perguntou a si mesmo se não havia trazido companhia a bordo para exprimir por ele o que já não conseguia dizer ou sentir. Cada vez mais, apenas esportes radicais e aquisições de impulso proporcionavam satisfação a Sasuke.

Nascido em berço de ouro, havia descoberto que poucas experiências ou mesmo posses superavam as expectativas.

— Está sabendo da última fofoca? — A socialite Tenten perguntou com seu esnobe sotaque inglês, quando ele saiu de seu devaneio. — Sobre a Sakura Haruno — continuou.

Sasuke ficou visivelmente tenso ao ouvir aquele nome e as risadas femininas em seguida.

— Londres inteira está sabendo do boato. Quero só ver como ela vai sobreviver na cadeia.

— De quem você está falando? — Neji, seu amigo, perguntou.

— Sakura Haruno... A modelo que começou a sair com Orochimaru. A carreira dela afundou depois que ele foi pego com drogas e ela sumiu do mapa — lembrou Tenten ao noivo, em tom irônico. — Há cerca de dois meses ela tentou dar a volta por cima promovendo um evento beneficente.

— Ah, sim. Lembro que ela organizou um desfile de moda para levantar fundos para uma instituição de caridade. Parece que foi um fracasso — comentou Naruto, dando a entender que o assunto podia ser encerrado ali mesmo.

Indiferente à deixa de que o assunto não era o mais apropriado, Tenten continuou a contar o resto da história.

— Sakura convenceu algumas colegas de profissão a desfilar de graça e doar o cachê para a instituição. E ela acabou enfiando o dinheiro da arrecadação no bolso e roubando as pobres criancinhas cegas!

Uma faísca brilhou nos olhos de Sasuke. Ele achou pateticamente divertida a tentativa de Naruto de calar Tenten. Era evidente que Tenten não fazia idéia de que Sakura Haruno e Sasuke haviam tido um efêmero caso amoroso. Foi um curto período, dezesseis meses antes, quando Sasuke pôs os olhos em Sakura pela primeira vez, num desfile em Paris. Elegante, esbelta, de curvas sinuosas, ela havia entrado na passarela triunfante, como uma verdadeira rainha. Os cabelos, de coloração incomum, penteados para trás deixavam o lindo rosto à mostra, que brilhava como raios de sol. Os olhos enormes, de um verde-esmeralda penetrante, o cegaram quando os dois foram apresentados. Ao conhecê-lo, ela deu um sorriso que era a representação fiel da indiferença.

Acostumado a reações imediatas de admiração e bajulações, Sasuke ficou intrigado e seu desejo por ela aumentou ainda mais pela sensação rara de desafio. Havia ficado ansioso para descobrir até que ponto ela conseguiria manter o ingênuo joguinho, que, na opinião dele, não tinha outro propósito senão aumentar seu interesse por ela. Porém, ele havia subestimado a obscena ambição de sua mais nova vítima.

Apesar de, na época, ainda não saber, ele não havia sido o único homem rico na mira de Sakura. Além disso, ela estava buscando algo mais que apenas um caso sem compromisso. Depois de algumas saídas, ele a convidou para passar um fim de semana na casa de campo. Lá, Sakura se fez de donzela e se recusou a dormir no mesmo quarto que ele. De madrugada, no entanto, ela foi embora com um dos convidados de Sasuke: um cantor de rock libertino que tinha o dobro da idade de Sakura, famoso pelo dispendioso hábito de se casar com menininhas com idade para ser sua filha.

Ao anunciar, com estardalhaço, o noivado com Sakura, Orochimaru valorizou, e muito, seu cachê. Infelizmente, para Sakura, o destino cruel interveio, provando que o esforço para se dar bem não a havia levado a lugar algum, no final das contas.

Com um sinal quase imperceptível, Sasuke chamou o assistente, que foi, em seguida, até ele. Enquanto os convidados eram servidos com um almoço no deque principal, Sasuke estava em seu escritório, recebendo todas as informações que desejava. Um telefonema ao editor de um jornal de âmbito nacional foi suficiente para que pudesse tirar todas as suas dúvidas. O editor revelou que Sakura estava ajudando a polícia a solucionar o caso, mas que a situação não estava boa para o lado dela. Afinal, quem teria compaixão por uma pessoa acusada de roubar dinheiro de crianças carentes?

Um sorriso confidente e exultante se formou lentamente na face de Sasuke. Ele estava ciente da energia malévola que se agitava dentro dele. Todo o tédio havia se esvaído. O ditado dizia que a vingança era um prato que se comia frio, mas ele preferia bem quente e apimentado.

Sakura Haruno havia bancado a santinha, fingindo-se de casta e pura para não dormir com Sasuke. E então, sem qualquer pudor ou vergonha, o enganou debaixo do próprio teto dele. Ela havia sido a única mulher a dizer não a ele, a dispensá-lo sem dó nem piedade. Ele sabia que a atração persistente que sentia por ela era apenas fogo de palha e estava associada ao ego ferido, por ter sido rejeitado. Ela havia se transformado num desafio a ser ultrapassado.

Quando o assunto era sexo, Sasuke mostrava-se um especialista. Ao contrário de seu pai, que não sabia separar luxúria de amor e acabou arruinado por amar uma única mulher, que tinha um coração de gelo e era desprovida de sangue nas veias. É verdade que, inicialmente, Sasuke criou algumas expectativas com relação à Sakura. Ela havia se mostrado, no final das contas, uma pessoa sem caráter ou moral. Porém, continuava a ser uma mulher irresistível e, pelo preço da liberdade, com certeza ela seria dele, pensou.

Qualquer instituição de caridade iria preferir uma boa recompensa e uma quantia considerável de dinheiro a ter de se envolver num longo e escandaloso processo judicial. Ele poderia comprar a liberdade de Sakura Haruno. No entanto, nunca havia pagado para ter sexo. Será que realmente queria tê-la sob essas condições? Descobriu que só de pensar em ter aquele mulherão, enroscada com ele sob os lençóis, disposta a satisfazer suas fantasias sexuais, ficava louco de desejo. Algo raro nos últimos tempos. Ela teria de estar à disposição sempre que ele a quisesse e, assim, Sasuke poderia ter sexo fácil e descomplicado. Ele não se sentia constrangido em reconhecer que não possuía muita paciência para as mulheres e que sérios compromissos o entediavam logo. Na verdade, era conhecido por suas relações efêmeras. Mas o que planejava para Sakura era algo diferente — novo e fresco. Um acordo contratual seria o mais indicado para garantir que seu plano seria concretizado. Seus advogados adorariam ter de trabalhar num documento tão incomum e noveleiro. E Sasuke adoraria ter Sakura satisfazendo cada uma de suas fantasias obscenas e inusitadas...

O jovem e talentoso advogado olhava com preocupação para Sakura.

— Não posso ajudá-la se você não se ajudar.

Sakura baixou a cabeça, num gesto angustiado.

— Eu sei...

— Você precisa se defender — ele a advertiu, com pesar.

— Não posso incriminar minha mãe para salvar minha pele — respondeu, com a voz embargada.

— Mas, como responsável pelos cheques das doações, ela está envolvida — o advogado lembrou. — Naturalmente, a polícia vai querer interrogá-la também.

Sakura não disse nada. Durante o interrogatório, longo e enervante, com dois policiais, ela havia sido perguntada repetidas vezes onde estava sua mãe, Mebuki. Ninguém acreditou quando ela disse que não sabia; embora essa fosse a verdade. No entanto, mesmo se soubesse, nunca contaria aos policiais. Sua intenção era protegê-la. Estava determinada a fazer tudo o que pudesse para que a mãe não pagasse pelos erros cometidos por ela mesma.

Um dos policiais voltou a aparecer e disse que ela estaria livre sob fiança enquanto as investigações prosseguissem. No entanto, ela teria que voltar em quatro dias para responder a mais perguntas. Seu coração apertou-se ainda mais com a notificação. Disseram-lhe que ela teria de sair da sala de interrogatório e esperar em uma cela até que os papéis para a liberação fossem assinados. Seu estômago revirou-se de nervosismo. O advogado de defesa protestou, mas não foi atendido.

A cela foi fechada, com ela dentro. O ruído do cadeado se fechando arrepiou cada fio de cabelo de Sakura. Ela afundou-se na dura cama que havia no lugar e envolveu os braços trêmulos, tentando manter o controle. Não tinha por que se entregar ao medo e ao pânico que estavam à espreita, prontos para atacá-la. Se assim o permitisse, tudo só iria piorar. Seria processada e, caso fosse condenada, seria presa. Pensou que no futuro poderia ter de viver numa cela igual à que estava. O dinheiro arrecadado com o evento beneficente havia desaparecido e ela não tinha como ressarcir a entidade, nem tinha alguém para quem pudesse pedir dinheiro emprestado. A convicção de que aquilo tudo era culpa sua a atingiu em cheio.

Os ombros franzinos caíram pelo peso da culpa. Esse era um sentimento comum para ela. Tudo sempre parecia dar errado e era como se a culpa fosse dela todas as vezes.

Aos dez anos, Sakura sobreviveu a um acidente de barco, em alto-mar, que matou seu pai e o irmão mais novo. A mãe, Mebuki, ficou destruída. Foi sua culpa! — ela dissera, aos berros, furiosamente, para Sakura. Quem foi que implorou várias vezes para passear naquele maldito barco? Você os matou! Matou os dois!

Embora algumas pessoas tivessem tentado controlar a mulher, que estava histérica, Sakura nunca mais esqueceu que a mãe havia falado a mais pura e cruel verdade. Então, quando o negócio do pai foi à falência e o padrão de vida confortável que levavam caiu de um dia para o outro, Sakura também se considerou culpada por mais esse infortúnio. Sentiu um grande alívio quando conseguiu ganhar dinheiro suficiente para proporcionar à mãe o estilo de vida que costumavam ter antes da tragédia. Entre os catorze e vinte e um anos, Sakura havia conseguido acumular uma respeitável fortuna como modelo.

No entanto, Sakura agora se dava conta de sua condição. Tinha se tornado absurdamente egoísta e medíocre. Odiava a carreira de modelo e uma decepção amorosa acabou fazendo com que ela desistisse do mundo da moda e se dedicasse à carreira de paisagista. Até que Sakura resolveu tomar a decisão mais estúpida e equivocada de todas...

Ainda com medo das câmeras e dos repórteres, Sakura chegou tensa à recepção da delegacia. Por sorte, a única pessoa no local que demonstrou interesse pela presença dela foi uma pequena e elegante morena que se levantou ao vê-la. Era sua prima Hinata, que franziu a testa ao ver o estado lastimável de Sakura, embora ela continuasse linda. Os olhos azuis penetrantes, quase um branco de tão claros, a pele alva, os cabelos naturalmente negros e o corpo esguio costumavam tirar o fôlego da maioria das pessoas.

— Hinata? — Sakura estava surpresa e emocionada ao ver que a prima havia se prestado àquele constrangimento de ir até a polícia por ela. — Você não precisava...

— Não seja boba — Hinata disse antes de escoltar a prima para fora da delegacia, até o carro. Os flashes das câmeras não davam trégua, mas as duas saíram com a cabeça erguida, fingindo segurança e tranquilidade. — Família é família, e era minha obrigação estar aqui, agora. Vou levar você para casa.

Sakura ficou tão emocionada com o que ouviu que não conseguiu expressar em palavras sua gratidão pela prima. Apenas a abraçou com carinho. Na infância, havia passado muito tempo na casa dos tios, que só falavam galês, língua do país de origem da família.

Dezoito meses antes, quando a vida de Sakura havia se tornado um pesadelo horripilante, Hinata telefonou e ofereceu a fazenda da família à prima, como refúgio. A oferta generosa havia significado muito para ela, num momento em que todas as suas amigas a haviam abandonado.

— Muito obrigada, Hinata, mas acho melhor você se afastar de mim por um tempo.

— Vou fingir que não ouvi o que você disse. — Hinata a interrompeu, num tom como se estivesse falando com um de seus alunos da escola. Aos vinte e dois anos, Hinata tinha os cabelos pretos e tão brilhantes que pareciam lustrados.

Sakura abriu a porta de casa e Hinata foi direto para a cozinha.

— Vou fazer um chá para nós duas, enquanto você sobe e prepara a mala.

Sakura ficou confusa.

— Não, não vou para sua casa. Essa é uma comunidade muito pequena e você precisa seguir com a sua vida, trabalhar, não pode se prejudicar envolvendo-se com os meus problemas.

— Sakura...

— Não — Sakura disse com firmeza. — Estou falando sério. Pense no seu pai. Ainda está abalado com a perda da sua mãe. Não há motivo para deixá-lo ainda mais angustiado.

A expressão desconcertada no rosto de Hinata dizia que Sakura havia tocado num assunto delicado, mas convincente, pois Hinata era superprotetora com o velho pai.

— Mesmo assim, obrigada por se preocupar comigo — disse Sakura gentilmente.

De repente, Hinata demonstrou irritação.

— Não tem nada a ver com se preocupar. Você não roubou esse dinheiro e nós sabemos quem foi.

Sakura soltou um suspiro melancólico.

— Talvez você ache que sabe.

— Corta essa! Você é tão correta que não consegue mentir — disse a prima, impacientemente. — Quer que eu fique quieta, enquanto você leva a culpa por algo que não fez para proteger uma mulher que não dá a mínima para você?

Sakura ficou pálida com a dura declaração e acendeu o fogão. Nunca havia sido capaz de entender a singular relação que tinha com a mãe. A parte morena da família havia tido uma vida tranquila e estável, enquanto Mebuki havia experimentado uma tragédia e uma sucessão de fracassos amorosos com homens sem caráter.

— Minha mãe teve uma vida muito dura.

— Lembra de quando você tinha cinco anos? Ela vivia fazendo você de escrava, fazendo você pegar as coisas para ela, enquanto reclamava dos horrores da maternidade. E mesmo depois que você cresceu, ela continuou abusando da sua boa vontade. Ela e aquele marido dela gastaram cada centavo de toda a fortuna que você juntou com seu trabalho.

Sakura esboçou uma expressão de reprovação.

— Não pode culpá-los pelo fracasso da discoteca que abrimos e que me fez perder tudo no ano passado. Eu era muito ingênua e não tinha noção da quantidade de dinheiro que ganhava como modelo. Achei que fosse durar para sempre.

— Teria durado se você não tivesse gastado tudo com os carros importados e a mansão que comprou para a Mebuki e o Gai. Também não acredito que a idéia de abrir uma discoteca tenha sido sua.

Sakura não respondeu. Quando ela largou a carreira de modelo, o padrasto também perdeu a carreira de empresário e administrador financeiro. Concordou com a idéia de financiar a abertura da discoteca para ele, pois achava que era o mínimo que podia fazer para amenizar a situação.

Infelizmente, o negócio não deu certo. No entanto, Sakura se resignou. Apesar de na época contar apenas vinte e um anos de idade, estava acostumada a dar a volta por cima depois de uma grande decepção. Tentando se manter ocupada preparando o chá, Hinata apenas desejava que pudesse colocar as mãos em cima da gananciosa Mebuki e do marido ladrão. Quando tivesse a chance, diria na cara deles tudo o que achava e descontaria toda a raiva que sentia pelo que haviam feito à sua prima. Os dois tinham transformado Sakura num caixa eletrônico para levarem uma vida de luxo e desperdício, enquanto a filha trabalhava como modelo, horas a fio.

Mebuki nunca havia trabalhado, mas gastava como se o mundo fosse acabar no dia seguinte.

— Você tem que admitir — Hinata disse à prima, com impaciência. — Mebuki roubou o dinheiro do show beneficente e torrou tudo.

Sakura balançou a cabeça, negando, num movimento que demonstrava fadiga.

— Gai deixou minha mãe cheia de dívidas. Ela sabia que não podia ajudar e entrou em pânico.

— Pare de arranjar desculpas. Ela falsificou sua assinatura nos cheques e esvaziou a conta bancária onde estava guardado o dinheiro da arrecadação do evento. Ela fez com que você assumisse toda a culpa e fugiu como uma criminosa. Você não pode deixar, Saky — Hinata pediu em tom de súplica.— Se você for condenada, vai arruinar sua vida. Quantas pessoas vão querer contratar uma ex-presidiária?

Depois que Hinata foi embora, Sakura apanhou uma carta que havia sido deixada na bandeja onde ficava a correspondência e sentiu um frio na espinha ao ler o conteúdo. Era um curto bilhete de um casal que estava interessado nos serviços de paisagismo de Sakura. Eles teriam sido seus primeiros clientes desde a conclusão do curso. No entanto, naquela manhã, eles já haviam deixado outro bilhete na caixa postal dizendo que haviam mudado de idéia.

Sakura suspeitava que a notícia da visita dela à delegacia os havia feito mudar de ideia. Não tinha dúvida de que estaria na capa de todos os jornais no dia seguinte.

Mais tarde, já deitada na cama, não conseguia dormir e ficou revirando-se de um lado para o outro, atormentada. Na tarde daquele dia, tinha saído para comprar comida. Um silêncio esquisito parecia cercá-la, enquanto colocava os produtos no carrinho do mercado. Avistou duas mulheres cochichando e olhando feio para ela. Obviamente os rumores sobre o dinheiro roubado já tinham se espalhado por toda a cidadezinha onde morava. Havia sido uma experiência perturbadora.

Enquanto se lembrava disso na cama, foi acometida por um barulho repentino de vidro se quebrando. Ela saltou da cama e foi descendo as escadas, cautelosamente, até a sala de onde havia escutado o baralho, sem conseguir imaginar o que poderia ter causado aquele estrondo. Acendeu a luz e viu uma pedra no chão, com um pedaço de papel preso a ela. Retirou o papel e o abriu.

"SUA LADRA SAFADA, VOLTE PARA O LOCAL DE ONDE VOCÊ VEIO!"

As letras garrafais estavam escritas em vermelho. O coração disparou e

Sakura sentiu-se lívida e enjoada. Apanhou uma vassoura e uma pá de lixo e começou a varrer os cacos de vidros espalhados ao redor da janela. Depois, arranjou uma tábua que ficava junto com outros entulhos na garagem e colocou na janela para tapar o buraco. Finalmente, foi subindo lentamente as escadas de volta para o quarto. No entanto, se já estava sendo difícil dormir, após o ocorrido, seria impossível.

Ficou deitada, sem se mover, com a respiração ofegante, morta de medo de que a pessoa que havia jogado aquela pedra resolvesse invadir a casa. Finalmente, conseguiu cair no sono, às sete da manhã do dia seguinte.

Poucas horas depois, foi despertada pelo som da campainha. Acordou assustada, mas logo pensou que poderia ser o carteiro. Levantou-se, vestiu um robe e foi atender a porta.

Ficou petrificada ao abrir a porta e dar de cara com aquele homem alto, de cabelos escuros. Estava boquiaberta e sem reação. Não podia acreditar.

Sasuke Uchiha.

Por alguns instantes, duvidou da razão e achou estar imaginando coisas. O coração começou a bater forte e apenas conseguiu exprimir um oh. Charmoso e sensual, como sempre, ele apenas sorriu sedutoramente, ressaltando o seu maxilar másculo. Ela ainda não conseguia acreditar no que seus olhos viam. O Uchiha não poderia estar naquele fim de mundo, numa cidadezinha do País de Gales, em pé, na soleira da porta de uma humilde casa. O mundo dele era bem mais sofisticado e suntuoso.

Sasuke a estudava com um olhar intenso. Nunca a tinha visto sem maquiagem. Percebeu as mudanças que sofria uma mulher sem os artifícios da pintura e buscou cada defeito com a avidez de um homem que desejava mais que qualquer outra coisa se decepcionar com a mulher que o atraía. Ela havia perdido peso, estava pálida e com o cansaço estampado em seu rosto. Os cabelos rosados e medianos caíam naturalmente pelos ombros, sem os apliques e escovas que ele estava acostumado a ver. Foi então que encontrou aqueles olhos verdes de esmeraldas. E subitamente, deu-se conta de que ela continuava fatalmente bela, senão ainda mais estonteante. Ela era naturalmente bonita, concluiu. Olhos cativantes, pele sedosa, lábios carnudos. O desejo o tomou com a força de uma tempestade violenta.

— Posso entrar? — Perguntou preguiçosamente. Aquela voz macia e máscula e o tom sedutor carregado em cada sílaba não deixaram nem que passasse pela cabeça de Sakura a idéia de não deixá-lo entrar.