Ela olhava pro bar sem realmente prestar atenção a nada. Era um local como outro qualquer. Havia bêbados gritando suas conquistas fantasiosas. Mulheres dançando e se oferecendo pra homens que as tratariam como deusas durante a noite e como lixo no primeiro raiar do dia. A música alta era sentida apenas pelas vibrações que a batida sincronizada liberava. Quinn não via ou ouvia qualquer coisa. Ela estava em completo estão de suspensão até que a porta do bar abriu mostrando quem ela tanto esperara.

A morena entrou e atraiu a atenção de todos. Os homens a despiam com os olhos. As mulheres a invejavam e esquadrinhavam seu corpo em busca de um único defeito que as fizesse sentir um pouco melhor. Mas era uma procura ingrata. Ali elas jamais encontrariam nada além da perfeição. Mesmo o nariz, que muitos chamariam de grande, parecia perfeito no rosto de boca carnuda e olhos expressivos.

A morena foi até o bar onde várias pessoas se amontoavam tentando fazer seus pedidos. Ela disse numa voz baixa o que queria e em pouco segundo seu Dry Martini já estava a sua frente. Ela virou-se com sua bebida na mão e sentou numa mesa no canto. Seus olhos percorreram o bar, provavelmente tentando encontrar uma nova vitima, até que seu olhar caiu sobre Quinn. Ela levantou o copo em sinal de reconhecimento e sorriu. Foi um sorriso sexy, como se ela soubesse exatamente o que sua presença fazia com a loira. Quinn estava errada, ela pensou que a morena não sabia que ela estava ali. Mas agora, vendo aquele sorriso, ela percebeu que a morena soube o tempo todo de sua presença. A morena provavelmente estava brincando com ela. Vendo as reações que provocava na loira enquanto entrava. Isso deixou Quinn furiosa. Como essa succubus ousava brincar com ela assim? Ela era um anjo. Um verdadeiro soldado dos céus. Levantando-se decidida, foi até a mesa onde a morena estava.

— Posso sentar? — perguntou puxando a cadeira.

— Esse é um país livre — a morena respondeu sem olhar-la. Seus olhos ainda digitalizavam o ambiente, mas as duas sabiam que ela já havia encontrado o que procurava.

Quinn puxou a cadeira em um ângulo que lhe permitia assistir o corpo da morena e sentou. O anjo esperou até a succubus olhar pra ela, mas Rachel continuou observando o movimento do bar até que decidiu que já tinha feito Quinn esperar o bastante. Ela deixou seus olhos caírem sobre a loira. A morena conseguiu parar um ofegar no último segundo. Ela havia esquecido o quanto a anjo é linda.

— Eu gosto do seu cabelo mais curto. Fica sexy — a succubus falou sorrindo. Quinn deixou seus olhos vagarem pelo corpo da morena. O vestido vermelho curto abraçava seu corpo em todos os lugares certos. O decote era como um convite para o verdadeiro paraíso. O céu onde Quinn nasceu parecia um deserto seco perto dos prazeres que aquele decote prometia. Se ela ao menos pudesse tocá-la sem que a morena deixasse de existir.

Quinn não respondeu ao comentário e a morena não esperava realmente por uma resposta. As duas ficaram num campeonato de encarar até que um cara robusto, claramente embriagado, veio tropeçando até elas. Seus amigos olhavam pra ele e sorriam, mas ele parecia muito satisfeito consigo mesmo por ter chegado até aqui.

— Oi, posso pagar uma bebida pra você? — ele perguntou tentando realmente difícil olhar pro rosto de Rachel, não pros seus seios. Quinn sentiu vontade de sorrir. Esse pobre coitado não tinha ideia no que estava se metendo.

— Qual o seu nome querido? — Rachel perguntou sorrindo. Ele demorou alguns segundos pra parar de olhar pra ela embasbacado e responder.

— Adam.

— Olá, Adam! — Rachel cumprimentou sinalizando pra que ele sentasse. Quando ele o fez, Rachel se aproximou e sussurrou em seu ouvido — Eu sei que você deve estar muito orgulhoso de si mesmo por ter aceitado o desafio dos seus amigos e vindo até aqui falar com essa mulher intimidantemente sexy — Quinn revirou os olhos pro comentário. Trezentos anos e a morena não havia mudado nada. Continuava arrogante como sempre. Tudo bem que o que ela dizia é verdade, mas ainda assim. — Contudo as apostas aqui são altas demais pra você, querido.

— Ah você é uma... — ele começou nervoso — Tudo bem, eu posso pagar — Quinn teve vontade de sorrir, mas Rachel nem mesmo piscou um olho diante do comentário. Não era a primeira vez que alguém cometia esse engano — quanto você cobra?

— O preço não é muito alto — ela respondeu se aproximando ainda mais dele — Eu só quero sua alma — Rachel falou com uma voz rouca, olhando em seus olhos — Dê-me sua alma e eu vou montar você a galopes tão fortes que você vai achar que seu pau faz parte de mim. Eu vou fazer você estourar como um champanhe, querido.

O pobre rapaz veio ali mesmo só de ouvir o que a morena dizia. Quinn achou que já era hora de intervir, ou o infeliz acabaria aceitando a oferta. Ela não podia deixar um humano, ainda que fosse um tão idiota, perder sua alma diante dela. Ela ainda era um anjo depois de tudo.

— Hey — ela chamou a atenção do rapaz. Quando ele a encarou ficou completamente perdido nos olhos hazel da loira — Você vai até os seus amigos se despedir. Depois vai sair e chamar um táxi pra te levar direto pra casa. Que é onde você vai ficar e dormir até amanhã quando acordar com uma dor de cabeça horrível. Entendeu? — ele assentiu totalmente hipnotizado e foi até os amigos andando como um zumbi. Rachel revirou os olhos e encarou o anjo.

— Você sabe que isso não é justo. Eu estava numa barganha honesta aqui e você simplesmente hipnotizou o cara. Vocês lá de cima não são todos pendurados nesse negócio de livre arbítrio? — a morena perguntou tomando um gole de sua bebida.

— Barganha honesta? Você hipnotizou o cara tanto quanto eu. Só usou métodos diferentes — o anjo respondeu encostando contra a cadeira.

— Ei, não é culpa minha que humanos se deixem guiar pela luxuria como marionetes — Rachel se defendeu — Mas vamos esquecer isso, tenho certeza que você não me caçou até aqui pra falar de meus métodos de trabalho — Quinn arqueou a sobrancelha pra palavra "caçou" e olhou como se não tivesse noção do que a morena estava falando — Por favor, você achou mesmo que eu não saberia de você "perguntando" de mim por aí? — Rachel fez aspas em perguntando com as mãos. Quinn sorriu. Ela sentia falta da dramaticidade da succubus a sua frente. — o submundo é o meu domínio e a escoria de lá me idolatra. Esse é um lugar onde o todo poderoso anjo não é nada.

— Sério?— Quinn perguntou com um sorriso de escárnio — Pois os seus adoradores não resistiram tanto a minha... conversa.

— Eu nunca disse que eles eram leais — Rachel disse se aproximando da loira sem tocá-la.

Quinn ficou incomodada com a proximidade. A necessidade de deixar as mãos correrem pela pele da morena provocava uma dor quase física no anjo — Eu sei que está com você. — a loira afirmou cortando o papo furado e indo direto aos negócios. Era melhor sair dali antes que ela fizesse algo que se arrependeria por toda a eternidade. Mas primeiro ela precisava cumprir com seus deveres.

— Eu não faço idéia do que você esta falando — a succubus respondeu desinteressada.

— Rachel, não me obrigue a fazer algo que eu não quero — o anjo falou projetando uma aura ameaçadora.

— Quinn, você esteve muito tempo fora do jogo. As regras mudaram, bebê. Eu agora sou um dos grandes jogadores.

— Você entrou pro Esquadrão Silvestre? — Quinn perguntou admirada. Rachel assentiu — mas como? O grupo está fechado a mais de dois mil anos.

— Eu só precisei abrir uma vaga — Rachel sorriu com a lembrança.

— Quem?

—Harmony.

— Foi você? — Quinn agora estava realmente impressionada. Mesmo no céu todos ouviram falar do que aconteceu com Harmony. Aquele foi um dia de comemoração.

— Pode apostar — Rachel assegurou presunçosa. Mas a sensação logo passou. Ela sentiu nefilins se aproximando e percebeu que estava na hora de partir — Desculpe, mas eu preciso ir — a morena falou se levantado — A propósito, estou torcendo por você — a succubus falou antes de partir.

Quinn ficou olhando tão distraidamente a morena sair que não se deu conta que estava sendo cercada. Só quando a porta bateu atrás da succubus que ela pegou o movimento pelo canto do olho e percebeu a situação em que estava. "Malditos nefilins", o anjo pensou antes de pegar e arremessar contra a parede o primeiro deles que se jogou sobre ela.