Segunda Aposta

Sexta-Feira.

Campeonato de Skate Amador em Magdeburgo – Alemanha.

Tom olhava firmemente para o seu skate. Ele era negro embaixo e amarelo encima. Tinha uma marca suja de seus tênis e a palavra britânica fuck detalhada de vermelho no verso.

Aquele palavrão não era sem intenção. Servia como uma proteção para os momentos em que ele caísse do skate. O objeto vira e a platéia, em vez de vaiar como costumeiramente faz com os que caem, fica demasiadamente entretida com o palavrão.

O resultado sempre é o ganho de algumas dúzias mais de fãs femininas e a aclamação de alguns outros garotos. Tom sabia bem que no meio adolescente, xingar ou fazer referências sexuais dava status.

O loiro olhou escassamente para o lado, vendo um Bill concentrado em seus patins. A cabeleira do mais novo descia suave e sedosa sobre o seu rosto claro e os lábios dele estavam rosados e espremidos.

Tom puxou seus jeans pra cima levemente, os afofando. Virou-se mais pra Bill, pronto para conversar com ele, mas a sombra de seu rival o cobriu.

"Preparado pra perder, Kaulitz?" Ele disse o sobrenome do maior pausadamente.

Tom virou-se pra ele e, por um momento, ficou extático. Não entendia o porquê daqueles garotos insistirem em diálogos com influências americanas e serem sempre tão ridículos ou veadinhos. Eles nunca faziam um insulto de verdade. Eram sempre ridículos e sacanas.

Uma expressão de nojo e desprezo se formou em seus lábios ao observar Trace, com uma nova estampa embaixo do skate que dizia "Hate" (ódio) escrita em azul. Tom havia sido o primeiro a estampar palavras no objeto de esporte. O moreno também o encarava sacana enquanto esperava sua resposta que já estava tardando um pouco mais além de três segundos. Tom revirou os olhos ao passá-los rapidamente pela manada de paga-paus de seu rival que assistia o espetáculo. Eles eram tão ou mais insignificantes do que ele.

Sem mais demoras, Tom soltou uma intensa gargalhada. Deitou sobre o banco, pondo as pernas sobre Bill e se retorcendo enquanto tinha as mãos sobre a barriga. Ele parou aos poucos e olhou Trace. "O perdedor aqui é você." Concluiu ficando sério e sentando na mesma posição que estava, o ignorando.

O seu rival olhou-o sério e dentro dos seus olhos. "Prepare-se pra comer minha poeira." Ameaçou ele, enquanto apertava o skate contra a lateral da coxa. Afastou-se, junto com a manada.

Alguns do bando liberaram risinhos sacanas para Tom antes de virarem totalmente seus pescoços. O loiro ergueu o dedo do meio pra eles e os garotos se endireitaram. "Pff." Tom bufou.

Incrível como também eram covardes. O loiro sentiu-se possuído pela raiva ao ver que havia caído no jogo de Trace. Havia respondido exatamente o que ele queria. Mas a outra saída seria ficar calado e isso não poderia ser de jeito algum.

"Agh!" Tom grunhiu. "Aquele bicha desgraçado." Tom comentou para Bill. Suas bochechas ficaram vermelhas de raiva e seus olhos brilharam decididamente. "Ele vai ver quem é que vai comer poeira aqui nessa droga."

Bill riu. "Impressionante. Ele consegue te tirar do sério com duas frases."

O mais novo direcionou os olhos a Trace. Ele estava treinando suas manobras na pista de skate enquanto uma roda de garotos e garotas de quatorze a vinte anos punha-se ao redor, gritando "Olê" a cada acerto que Trace executava.

Mordeu os lábios, olhando o irmão. Tom era bom no skate. Ótimo, na verdade. Mas Trace era melhor ainda, as chances do mais velho vencer eram quase zeradas. Bill sabia que o que mais dava raiva em Tom era o fato de Trace absorver os truques de seus adversários. Uma manobra que um outro executava, uma saudação de um skatista carismático, a roupa de algum outro e agora a marca registrada do irmão, a estampa no skate.

O skatista amador era inteligente, bom no que fazia, e ainda por cima bonito. Droga, o que Tom queria? Por outro lado, precisava vencer para honrar o orgulho dos Kaulitz. Bill olhou pra pista de patins, onde o seu rival também estava dando um show em manobras. Sentiu-se nervoso, queria vencer tanto quanto o seu irmão. Os dois seriam os reis do campeonato. "Fica frio. Concentra. Você o derrota." Tranqüilizou o mais novo.

"Claro que derroto!" Tom afirmou agressivo e bufou. Seus dentes ringiram e ele mostrou que na verdade, a sua natureza permanecia totalmente aos nervos. "Estou furioso! Totalmente fodido! Quem ele pensa que é? Rouba as características de todo mundo. É um merda, uma bicha fodida!"

"Calma." Bill sorriu. "Não vai vencer se ficar assim." Bill escondeu os lábios, permanecendo com o sorriso e franzindo a testa.

"Aposto que ele deve dar a bunda pra todos esses paga paus ou pagar pra eles ficarem seguindo ele. Pensa como é em casa: - Ai gente, hoje vocês vão me seguir e gritar pra mim, ok?" o mais velho imitou com uma voz mais fina e depois bateu a mão contra a testa.

Bill colocou os seus patins negros e tornou a encarar os garotos da pista ao lado. "Também quero vencer." Comentou, antes que Tom pudesse pensar que ele não estava prestando atenção no que ele dizia.

Sabia que para si a tarefa era mais fácil. O seu rival não tinha o costume de roubar o carisma de outro e nem era tão melhor que ele. Os dois estavam empatados. Mesmo não podendo se dar ao luxo de relaxar, sabia que teria mais chances de sair como campão do campeonato de patins, do que Tom como o campeão de skate.

"Eu preciso vencer." O loiro juntou as mãos no queixo e as apoiou.

"Tom... Você acha que pode?" Bill voltou a olhá-lo. "Se você for perder, é melhor que nem tente. Seria humilhante. Inventa uma dor de barriga e vai embora."

"Merda." Tom xingou. Odiava ter que reconhecer que corria esse risco. "Mais humilhante seria amarelar."

Bill suspirou pesadamente. "Preste bem atenção." Bill segurou nos ombros do irmão e sacudiu-os enquanto olhou-o nos olhos fixamente. Tom retribuiu o olhar surpreendido. "Seu estúpido." Insultou o mais novo. Insultos entre eles eram quase carinhos... "É pra ganhar então. Se você não ganhar, eu mesmo me encarrego de te castigar. Esse Trace pé no saco merece muito um corretivo e é você quem vai dá-lo." Terminou Bill.

A surpresa de Tom devia-se ao ponto cômico de Bill. Ele chegava a ser engraçado. Estava sofrendo algumas transformações radicais na sua aparência. Quando haviam apostado sobre o jogo de basquete Bill já tinha dois piercings; um na sobrancelha e um na língua e o cabelo pintado de negro, beirando o queixo.

Ele já era delicado nessa época e já recebia alguns olhares duvidosos das pessoas sobre o seu sexo. Homem ou mulher? Mas agora, estava impossível. O seu cabelo havia crescido mais, ele havia colocado um piercing no mamilo, usava maquiagem pesada com direito a delineador e algumas vezes gloss. Tinha feito uma nova tatuagem próxima à virilha e o seu guarda-roupa também mudou. As calças largas e camisetas justas deram lugar a camisetas justas, calças justas, jaquetas justas e tudo o que fosse justo. Claro, além das unhas agora grandes e pintadas e as incontáveis luvas novas.

A mudança não incomodava Tom de maneira alguma. Bill estava mais bonito, em sua opinião. Não desejava que ele fizesse as tais mexas loiras que andava comentando porque sabia das más línguas do pessoal do colégio. Não queria ter o infortúnio de chegar em casa um dia e saber que haviam batido em Bill. Tom não saberia qual seria sua reação. Provavelmente, mataria o autor daquilo.

Por outro lado, as mudanças femininas do irmão o estavam enlouquecendo. A verdade é que se não fosse isso, Bill poderia fazer o que quisesse; ficar o mais feminino possível. Haviam se chupado algumas vezes mais depois da aposta e não se arrependeram disso, pois sempre foram cuidadosos e ninguém pôde participar da festinha particular ou até mesmo, acabar com ela.

Tudo iria bem assim. Trocando favores de vez em quando. Como diria Marilyn Manson, boquetes não contam, são comprimentos. Mas os "comprimentos" começaram a resultar em pensamentos mais ambiciosos do mais velho. Ele pegava-se, quase sempre, imaginando-se em outras situações sexuais bem mais perversas e abrangentes com o irmão.

Diante da rudeza do mais novo, tão másculo em fala e tão feminino por fora, Tom não conseguiu não provocá-lo. "Credo, Billie." O menor sorriu, usando o apelido de infância.

Tom passou a língua entre os lábios e abriu um sorriso malicioso que Bill já conhecia. "Me castigar como?" O louro riu numa sonância mais grave.

"Greve de boca!" Bill respondeu com a primeira coisa que passou por sua cabeça e soltou os ombros do irmão.

Foi impossível não rir de novo, dessa vez juntos. Tinham um vocabulário tão chulo. Não eram irmãos normais, deveriam ter algum problema ou o que fosse. A verdade é que, para eles, não lhes importava muito explicar o porquê de agirem assim tão sem modos e sem moral. Eles gostavam do que faziam e não iam parar, não até que algo grave pudesse acontecer, ou se verem encurralados.

"Ainda te restaria um buraco." Tom sugeriu, mordendo o lábio inferior.

Bill olhou-lhe com um sorrisinho meia-boca. Sabia bem do que Tom estava falando. "Sim, mas..."

Tom o esperava terminar de dizer. Estava com os lábios extremamente úmidos e o olhar brilhando de desejo. Para Bill, foi impossível não sentir algo gelado correndo em sua barriga ao vê-lo tão sacana em público. O perigo o estava excitando. Decidiu completar sua frase mesmo assim, já que cumpri-la não seria uma má idéia. Estavam prestes a apostar de novo.

"Se você perder... Te restam dois buracos." Bill soltou uma risada tão perversa quanto séria.

Tom arregalou os olhos enquanto seu irmão voltou pro seu devido lugar. "Você quer dizer que..."

"Vai ter que dar pra mim." O moreno bateu a mão contra o banco.

"Há,há,há!" Tom sibilou. "Nem morto, Bill."

"Nem morto? Então ganhe." Bill sorriu. "Você já sabe que agora eu vou torcer pra você perder. É melhor você se concentrar em dobro!" Bill fez um bico pequeno. "Vou fazer uma macumba pro seu skate virar."

"Cala a boca!" Tom retrucou. Sabia que Bill era azarado e macumbeiro por natureza! "Você quer ser comido e está usando isso de pretexto. Sabe que eu posso vencer esse merdinha do Trace. Que quem vai sentar gostoso no meu pau é você."

Bill revirou os olhos. "Vamos Tom... Você acha que sou tão burro assim? Sei que o Trace é bem melhor. É por isso que estou me arriscando. Eu não ia por o meu rabo assim em jogo tão facilmente!"

"Ah, é? Então é isso que está em jogo?" Tom franziu as sobrancelhas. "Daqui a pouco eu vou voltar como o campeão e vou te comer vestido de mulherzinha pra você aprender quem é que manda."

"Falou o macho da relação." Bill riu sacana. "Estamos violentas hoje..." o moreno analisou, suspirando. "Mas eu aposto que você não ganha, maninho."

Bill virou-se pro lado, ainda sorrindo.

"Você gosta de apostar, né?" Tom se levantou. "Prepare-se pra perder de novo." O loiro sorriu largamente e se virou, pegando rumo a pista de skate.

O locutor havia acabado de chamar os participantes para se posicionarem.

"Tom!" Bill chamou-o. A voz do irmão fez Tom estranhar um pouco, mas ele se virou. Bill estava extremamente sacana e malicioso. Seus olhos brilhavam intensamente. "Prepare-se você. Vai perder e será comido." O moreno disse as últimas palavras sem emitir som, obrigando Tom a lê-las.

"Isso é o que vamos ver." O loiro gritou, sem se preocupar e tornou a se virar, completamente decidido a vencer.

Bill olhou pra baixo, sentindo o seu pênis tão penosamente apertado e guardado em sua roupa apertada. Seria legal executar aquilo. Bem legal. Precisava assistir a apresentação do irmão e azará-la. Simplesmente isso! Teria Tom todo pra ele, cobrindo seu membro prazerosamente e levando-o a um grau de prazer tão alto...

"Hey, Bill!" Uma voz despertou-o de seus devaneios eróticos. Bill arregalou os olhos e encontrou Andreas, já equipado com tornozeleira, cotoveleira, capacete, joelheira e patins. "Vem logo. Os caras já vão começar as manobras com os patins!" exclamou os patins.

Bill começou a se equipar desesperadamente enquanto And foi até o banco e se sentou ao seu lado. "Se não fosse eu pra te avisar, ein."

"É..é..." o moreno gaguejou atrapalhado.

Terminou de colocar a última joelheira e se levantou. Andreas fez o mesmo e os dois se encaminharam patinando até a outra pista.

"No que você tava pensando?" Andreas questionou malicioso. Quando chegou, Bill tinha um sorriso besta na cara e os olhos fechados em extremo prazer.

Bill arregalou os olhos e sentiu suas bochechas queimarem. "Boa sorte, Tom!" gritou Andreas, ao outro amigo, ao passarem por ele.

"Valeu, And." O loiro respondeu, lançando um malicioso olhar para Bill, ao ver que o moreno não poderia assisti-lo enquanto estivesse competindo.

"Merda." Bill xingou baixo e cerrou os punhos.

"Hn?" perguntou Andreas.

"Nada. Boa sorte." Bill sorriu forçosamente.

"Valeu." Disse And. "Boa sorte também." O loiro sorriu com graça e se encaminhou até o seu lugar, após cumprimentar Bill com as mãos.

O moreno fez o mesmo, pondo-se emburrado no seu lugar da fila. De onde estava, não tinha como nem sequer olhar para a outra pista.