Refúgio das Águias
Prólogo
Ginny W. Riddle
"Te pedi o mundo certa vez. Disseste que me darias.
Te pedi amor. Me disseste para esperar.
Te pedi uma criança. E eis ela aqui. Sua filha. Tão sua, tão Riddle que não ouso chamá-la minha. Tem teus cabelos negros e lisos, tua pele branca feito marfim. É tão delicada quanto uma rosa e segura a tua mão. Temo por ela. É como se pudesse quebrar ao teu toque, pois eu não ouso tocá-la. Mas, me dizes tu, ela ficará bem, afinal, é tua filha e jamais faria nada de mal para ela. E jamais deixaria que nada de mal ocorresse com ela.
Acredito em tuas palavras, apesar de julgá-las vazias. Acredito que cuidará de Vittoria, nossa filha. Tua filha. Teu pequeno tesouro. Fruto do meu ventre.
Escolheste o seu nome, julgando que eu não saberia nomear-lhe. Vittoria, dizias tu, era ela, por completo. Uma vitória tua, uma vitória nossa, ao todo uma vitória. Uma Riddle. Riddle pura, de traços precisos, de sorriso malicioso, de olhos brilhantes.
Mas de uma coisa estou certa. Posso olhá-la nos olhos e verei sua alma. Vittoria tem meus olhos, não os teus. Posso olhar em teus olhos e não verei nada, apenas a mais pura superficialidade. Me mantém longe de tua alma, mantém a todos longe dela. Mantém a si mesmo longe da própria alma. Não sabes o mal que comete. Vittoria vê tua alma? Apenas ela tem direito a certas coisas. Mas Vittoria tem meus olhos, olhos de chocolate e não negros. São olhos vivos, olhos brilhantes, cheios de inocência. Inocência essa que sei que irá tirar em breve, pois perto de ti, tudo que Vittoria verá será a verdade nua e crua. Teus olhos frios, tuas mãos frias, teus sentimentos vazios.
Hoje, não posso reclamar de nada. Me deste tudo que eu pedi, cada desejo, cada vontade, cada sentimento que exerci sobre ti. Me deste o mundo. Me deste amor. Me deste uma criança. Uma criança maravilhosa, que hoje sorri perante a mim. O sorriso idêntico ao do pai, um sorriso Riddle, cheio de segundas intenções. Ela terá de mim tudo que quiser como você também o teve.
Mas há apenas um desejo que quero fazer, apesar de saber que será em vão, você jamais irá atendê-lo. Assim como há apenas um desejo que atendeste de forma errada. Equivocadamente. Pedi-te o mundo. Deu-me ele. O meu mundo, o nosso mundo. Apenas nosso e de Vittoria e de mais ninguém. A casa no alto da montanha, na beira do mar, pintada a cores claras, exatamente como eu sempre quis. Da janela de nosso quarto vejo o mar, as ondas batendo contra os rochedos abaixo de nossa casa. Vejo as águias, tão belas são. Sobrevoam a água, pescando para a própria sobrevivência. Voando até seu refúgio feliz, sua casa. Não é como se eu não pudesse chamar esse lugar de lar. Mas é como se faltasse uma parte dele, uma parte que sempre me foi negada.
Peço-te agora liberdade, mesmo sabendo que esta me será negada. E não posso reclamar, pois te deixei me tirar a liberdade que antes tanto lutei para conseguir. Liberdade para casar-me contigo. Liberdade para viver ao teu lado. Lutei por isso e consegui. Lutei contra aqueles que verdadeiramente me amam, lutei contra meus pais, meus irmãos, contra a minha família. Por causa de você, Tom Riddle. Agora, quero a liberdade de poder alçar vôo em direção a decisões certas."
