RESIDENT EVIL: Anos mais tarde...
Nota do autor: Esta será uma fic simples e descompromissada. Pretendo atualizá-la somente quando tiver folga em meus demais projetos. E sim, a série de vídeos "Street Fighter: The Later Years", do College Humor, foi minha inspiração para realizar um trabalho deste tipo agora com outra franquia de jogos da Capcom. Espero que gostem do resultado!
- Goldfield.
Ele subiu os degraus da escada interna do prédio de apartamentos, ansioso. Em sua mão direita, trazia pelo braço uma guitarra cuja cor oscilava entre laranja e marrom, o mesmo instrumento com o qual no passado arriscava alguns arranjos durante o tempo livre no trabalho. Depois de tantos anos sem poder praticar, esperava ao menos saber ainda um pouco do que aprendera. Sorrindo, chegou ao corredor do quinto andar, dirigindo-se até o apartamento do anúncio de jornal, o "165". Aproximando-se da porta, certificou-se que o número era mesmo aquele, já que seus sentidos não o serviam mais tão bem. Estranhou ao ouvir, proveniente do lado de dentro, um som semelhante a música caribenha. Era sem dúvida estranho, já que supostamente ali era o local de ensaios de uma banda de rock.
Diante do caminho fechado, seu subconsciente mandou que ele averiguasse seus bolsos em busca de alguma chave entalhada ou uma mísera "Small Key" que pudesse utilizar para liberar a fechadura, porém rapidamente lembrou-se que os tempos eram outros. Sem se intimidar, deu duas batidas sobre a madeira. Quando ia efetuar a terceira, a porta foi aberta por dentro, e um rapaz careca, de brinco numa das orelhas e cavanhaque, veio atender ao recém-chegado:
-- Pois não?
-- Olá, eu vi o anúncio no jornal a respeito do grupo de vocês, e que precisam de um guitarrista – explicou o visitante, estendendo uma mão para o músico. – Sou Chris Redfield.
-- Ah sim, o anúncio... – aparentando estar desconcertado, o careca coçou a nuca. – Pode entrar, vai...
Ainda mais desencorajado devido à desanimada recepção, porém desejando a todo custo conseguir a vaga na banda, Chris adentrou o apartamento. Trajava calça jeans surrada e uma camiseta branca suja, refletindo a situação difícil que vivia. Perto da porta de entrada, ele observou dois sofás sobre os quais torres de caixas de pizza empilhadas pareciam querer se tornar arranha-céus. Os demais móveis haviam sido encostados junto às paredes, gerando espaço para que a banda ensaiasse. Os instrumentos estavam todos dispostos ali, em meio a almofadas e latas de refrigerante vazias: baixo, bateria, teclado... Os demais integrantes também ali se encontravam, mas por algum motivo não tocavam. Ao invés disso, a única música oriunda do lugar era gerada por um rapaz mulato e musculoso, sem camisa e descalço, vestindo uma calça laranja. Com dread no cabelo – remetendo a uma possível origem jamaicana – o sujeito agitava dois chocalhos, um em cada mão, num ritmo de dança envolvente, enquanto um aparelho de som ligado a uma tomada próximo de si fornecia acompanhamento melódico.
Os roqueiros da banda acompanhavam a ginga do dançarino extasiados, sem sequer piscarem, Chris estando extremamente confuso em relação a tudo aquilo. Até que o careca que o recepcionara voltou-se para ele e, aparentando não saber bem o que falar, disse:
-- Cara, você vai me desculpar... Mas esse maluco apareceu aqui hoje cedo, apresentando pra gente esse estilo de música... Ele se chama Dee Jay, estava a ponto de ser despejado também... Eu sei que você deve ter vindo aqui por termos botado no anúncio que quem entrasse na banda poderia morar aqui no apartamento, mas...
-- Eu entendo, eu entendo... – murmurou Redfield, baixando a cabeça.
-- Foi mal mesmo, mas estamos abandonando o rock! Vamos aderir a esse estilo do Dee Jay também! Mas procura outras bandas...
-- Eu sei tocar todas as músicas do Queen! – Chris tentou argumentar antes de desistir. – "Made in Heaven", "Let me Live, "Mother Love"...
-- Desculpa, cara... Nem dá!
Reconhecendo a derrota, o ex-membro do S.T.A.R.S. dirigiu-se até a porta, que foi fechada repentinamente atrás de si. Cabisbaixo, desceu as escadas de volta à rua, por pouco não pisando em falso em alguns degraus, o contagiante ritmo caribenho ecoando pelos corredores atrás de si...
De pé na calçada diante do prédio, Chris acreditou que só faltaria um cachorro passar e urinar em suas calças para completar seu estado de decadência. Desempregado, prestes a ser colocado para fora da kitnet alugada, tentando viver da música... Súbito, foi retirado de seus pensamentos por um barulho estranho. Seu estômago roncava. Já era hora do almoço, e o pouco que restara do dinheiro que Claire lhe enviara mal daria para comer algo decente. Teria de se contentar de novo com algum petisco mal-assado ou guloseima de origem duvidosa. Desalentado, olhou ao redor, encontrando uma barraquinha de lanches do outro lado da rua. O sanduíche mais barato custava somente dois dólares: era o que tinha. Atravessou a via tomando cuidado com os carros – apesar de tudo ainda prezava por sua vida, mesmo andando em ziguezague pelo asfalto – e aproximou-se do vendedor com as moedas já em mãos.
-- Senhor, eu queria um X-Magnum, esse lanche mais barato aí! – pediu Chris.
-- São três dólares – a voz grossa e séria do comerciante respondeu.
-- Mas na placa está escrito dois dólares! – protestou Redfield, indignado, apontando para o anúncio.
-- O preço subiu com o aumento da carne.
-- Então já devia ter mudado a placa! Eu só vou pagar dois dólares!
-- Ou desembolsa três dólares ou fica com fome!
-- Ora, seu...
Redfield, acreditando que não faria sucesso algum como músico em nenhum lugar, já erguia a guitarra pelo braço para quebrá-la na cabeça do vendedor mal-educado, quando vislumbrou sua aparência... Um tanto corpulento, barba e cabelos num tom ligeiramente ruivo... O avental branco contendo o desenho bordado de um homem com uma mulher e duas filhinhas, todos sorridentes, fez com que Chris tivesse certeza:
-- Barry?
O enfurecido comerciante ergueu os olhos, e suas pupilas brilharam ao mirarem o antigo amigo:
-- Chris, é você?
A desavença relativa a um dólar foi colocada de lado e os dois antigos colegas se abraçaram de modo fraternal. Deram tapinhas nas costas um do outro, riram, e Redfield indagou:
-- Por onde você andou? Não o vejo há anos!
-- Pois é... – Burton suspirou. – Houve o "Gaiden", depois aquela malfadada participação no "Mercenaries" do cinco...
-- "Barry's Sandwich" – Chris fez questão de lembrar.
-- Pois é, a maldição me perseguiu... – dizendo isso, Barry apontou para o nome de sua barraquinha. – E você, seu atirador de meia-tigela com somente 6 slots no inventário? O que fez da vida?
-- Os tempos de glória terminaram com o Code Veronica... Houve o Remake também depois, mas... Aquele Umbrella Chronicles, o cinco e o Marvel Vs. Capcom 3 acabaram comigo! Eles me fizeram tomar anabolizantes para cavalos, Barry! Meses e meses de tratamento intensivo para desenvolver aqueles músculos! E como pode ver, eles se foram! Deixaram apenas as doenças...
-- Como assim? – Burton arregalou os olhos, preparando o sanduíche de Chris.
-- Os anabolizantes prejudicaram meu senso espacial. Não consigo mais nem andar em linha reta por alguns segundos sem acabar desviando do caminho. Coordenação motora. Sem falar que minha habilidade como atirador se foi. Eu até vendi minha Samurai Edge, não sou mais apto a usá-la...
-- Se você não conseguia tocar piano ou fazer V-JOLT antes, imagino agora... Lamento muito, Chris.
-- Por conta disso estou desempregado. Vivo através do dinheiro que Claire me envia todo mês, porém ela também está em má situação e não pode me ajudar mais como antes...
-- Tenho saudades dos velhos tempos... Correr por corredores de mansões infestadas de monstros, resolver puzzles, encontrar chaves... Só mesmo os primeiros jogos para nos darem aquela maravilhosa sensação de explodirmos os miolos de um zumbi com um tiro bem-dado de Magnum, o cérebro podre daquelas coisas voando em cima de nossas roupas e impregnando as paredes...
Nisso, Barry terminou de fazer o sanduíche de Chris, estendendo-o a ele. Este olhou para a cobertura de maionese e milho com aparente desgosto, enquanto Burton perguntava:
-- Quer ketchup?
-- Sim, por favor...
Barry providenciou o tempero, continuando a falar:
-- Nós precisávamos entrar em ação novamente, um incidente viral como o de Raccoon... Nada de vilas espanholas com parasitas inteligentes ou lugarejos perdidos na África sob um sol escaldante. Sinto muitas saudades de nossa época de S.T.A.R.S., meu caro! Não sabe como!
-- Quanto é o lanche? – inquiriu Redfield, apanhando o sanduíche.
-- Não se preocupe, é por conta da casa!
-- Mas você está vivendo de vender sanduíches, e ainda tem uma família para sustentar!
-- Não ligue, Chris... A Kathy pediu divórcio e levou as meninas...
Redfield, que dava uma primeira mordida no pão, até engasgou. Achou que seria melhor não tocar mais no assunto, aquilo poderia fazer muito mal a Barry. E a quem não faria? Engoliu o recheio a seco, passou uma mão pelos cabelos e então indagou:
-- Você acha que haveria como nós realmente enfrentarmos uma nova epidemia viral, como nos velhos tempos? Com zumbis?
-- Sim, mas precisaríamos de vírus. E não temos mais acesso livre a essas coisas, você sabe. A Umbrella não existe mais, fizeram-na falir antes que a destruíssemos. E aquela TriCell foi uma piada de mau-gosto...
-- Mas não haveria alguém com acesso a vírus? Alguém com experiência prévia nisso tudo que pudesse preparar o terreno para nós, nos levar a uma armadilha como antes?
Houve um lampejo nas mentes dos dois ex-policiais, e ambos exclamaram ao mesmo tempo, Chris fazendo voar vários pedaços de lanche de sua boca devido a falar enquanto comia:
-- WESKER!
To be continued...
