Capítulo 1

Jared passou a mão pela testa pela milésima vez, se amaldiçoando internamente por ter escolhido uma camisa tão quente para sair num dia tão ensolarado como aquele.

"Merda!" Jared esbravejou, arregaçando as mangas de sua camisa.

Avistou um banco no pátio da faculdade, onde cursava arquitetura, que estava embaixo de uma imensa árvore. Resolveu sentar um pouco e organizar sua cabeça. Tinha que ligar para sua namorada e avisar que não poderia sair à noite e sabia que isso causaria um estress que ele não estava com saco de agüentar.

Notou que havia um rapaz, que ele nunca tinha visto, sentado no banco e se aproximou sorrindo.

"Se importa se eu me sentar aqui?" Jared perguntou olhando para o rapaz loiro, de óculos escuros e jaqueta de couro.

"Fica à vontade." O rapaz com cara de roqueiro respondeu, mas não olhou para Jared, que imediatamente se sentou, jogando a mochila em seus pés.

"Nossa, tá um calor hoje! Não acha?" Jared olhou novamente para o rapaz ao seu lado, mas ele somente assentiu, sem olhá-lo.

Jared estranhou o fato do rapaz estar usando jaqueta naquele calor, mas depois sorriu, pensando que mesmo no Alasca ele seria capaz de suar. Ele detestava suar tanto.

Sentiu seu celular vibrar e o pegou, vendo que era sua namorada, Genevieve,

"Oi Gen..." Jared falou sem paciência para agüentar o que viria pela frente.

"Não vou poder ir com você nesse jantar." "Eu sei que é importante, mas não vai dar, ok?"

Depois de muita discussão, Jared desligou o telefone com raiva. Se tivesse coragem tinha mandado ela para aquele lugar, mas o problema não era Genevieve e sim ele! Ele não agüentava mais aquela situação de se esconder, ter que ter uma namorada. A situação estava crítica, mas não podia simplesmente dizer que não gostava de mulheres. Era muito complicado.

"Conversa difícil?" O loiro perguntou se virando um pouco e sorrindo.

"Nem me fale!" Jared sorriu e olhou novamente para o loiro, que agora sorria abertamente, deixando que ele reparasse em seus dentes extremamente brancos e perfeitos, emoldurados por uma boca carnuda e extremamente sexy. Também não pode deixar de notar que o loiro tinha lindas sardas pelo rosto, o que o tornava muito mais bonito do que já era.

Jared desviou o olhar, antes que pegasse mal. Afinal, ele era homem e não devia ficar olhando descaradamente para outro homem daquela maneira. Não queria arranjar confusão em seu último semestre na faculdade.

"Já desisti de tentar entender as mulheres." O loiro disse sem olhar para Jared. "Desculpe, mas a sua namorada estava gritando tanto que praticamente deu para ouvir o que ela dizia."

"Ela é insuportável mesmo. Tudo bem." Jared sorriu e estendeu a mão para o loiro. "Prazer, meu nome é Jared."

O loiro assentiu e se levantou, deixando Jared no vácuo.

"Prazer Jared. Bem, eu tenho que ir." O loiro foi andando devagar e abriu a mochila, como se procurasse alguma coisa.

Jared estava estupefato e muito puto. Imediatamente se levantou e tocou no ombro do loiro, que se virou pela primeira vez para ele.

"Você é mal educado mesmo ou é impressão minha?" Jared falou indignado.

"Desculpe... eu..." O loiro falou, meio sem graça.

Jared demorou menos de um segundo para notar que o loiro tirava uma bengala branca de dentro da mochila. Tudo se encaixou dentro da cabeça do moreno e ele fechou os olhos, passando a mão nos cabelos.

O cara era cego e ele não tinha percebido.

"Olha, me desculpe, eu não tinha percebido..." Jared não sabia onde enfiar a cara e a essa altura já estava suando feito um porco.

"Tudo bem, já estou acostumado com isso." O loiro disse sorrindo e balançou a cabeça.

"Não cara, eu sou um babaca mesmo! Me desculpe mais uma vez."

"Sem problemas. Mas agora eu tenho mesmo que ir." O loiro falou e sorriu, colocando sua mochila nos ombros.

"Quer alguma ajuda?" – Jared perguntou tocando no braço do loiro.

"Não, obrigado Jared." O loiro disse isso e se virou, andando lentamente para o prédio da faculdade.

"Você não me disse seu nome!" Jared gritou e o loiro se virou sorrindo.

"Meu nome é Jensen."

Conforme se afastava, Jensen sentia que seu coração ia sair pela boca. Ele não entendia o motivo de ter ficado tão nervoso, já que estava mais do que acostumado com esse tipo de situação. Sempre tinha alguém que não percebia ele era cego e acontecia uma cena parecida com essa.

Lembrou que tinha que chegar na sua próxima aula e quando sua bengala encostou no banco, suspirou aliviado, pois faltavam apena dois bancos para chegar na porta da sala. Mas nem precisou, pois uma pessoa pulou nas suas costas quase o fazendo cair.

"Me conta quem era aquele cara alto e extremamente gato que estava falando com você!". Misha falou de uma forma muito gay e Jensen caiu na gargalhada.

"Vai se foder, Misha!" Jensen disse quando recuperou o fôlego.

Misha era o melhor amigo de Jensen. Se conheciam desde pequenos e quando Jensen perdeu a visão num acidente aos 19 anos, Misha foi o único que ficou ao seu lado, lhe dando apoio. Misha era a única pessoa em quem Jensen confiava.

"Não conheço aquele cara. Ele só estava se desculpando pelo fato de não ter percebido que eu era cego. Só isso!"

"Eu vi o jeito que ele tava te olhando..." Misha falou e começaram a caminhar na direção da sala.

"Porra, Misha! Você não tem outra pessoa para assombrar não?" Jensen falou meio sem paciência.

"Tá bom! Olha só Jen, eu vou precisar ir ao shopping comprar uma roupa pra sair com a Katie e você podia me fazer companhia... que tal?" – Misha perguntou com esperanças que o amigo fosse. Ele precisava sair um pouco.

Jensen suspirou alto e lembrou que precisava a comprar umas coisas também e se não fosse hoje com Misha, teria que ir sozinho.

"Tudo bem, Misha. Eu vou. Mas você tem que prometer que não vai demorar." Jensen falou e Misha se pendurou no pescoço dele.

"Você é o melhor amigo do mundo!" Misha falou e Jensen o afastou quando sentiu a boca do amigo em seu pescoço.

"E você o mais gay! Sai de cima de mim, porra!" Jensen falou sorrindo e afastou o amigo, voltando a segurar em seu ombro.

"Eu também te amo, Jen." Misha brincou com o amigo e eles entraram na sala.

Jared acompanhava tudo de longe, sorrindo.

"Como eu nunca tinha visto esse cara antes?"