Capítulo I

Homens acorrentados caminham entre deuses. Risadas, humilhações, palavras de ódio, compaixão.

Tragédia. De que adianta o pranto das mulheres? Do que serve todas essas lágrimas? "Cala-te Atena. De nada adiantarão suspiros e clamores dolorosos; o coração de Zeus é inatingível."

Doze homens acorrentados caminham entre uma multidão de deuses. O peso fulminante de olhares de fúria sobre seus ombros. Erguendo os ombros, tentam manter a dignidade que lhes resta. Dentre os deuses e deusas que riem, se divertem, xingam e odeiam, uma menina chora. E os deuses dizem : " Cala-te Atena. De nada adiantarão suspiros e clamores dolorosos; o coração de Zeus é inatingível."

Ela se cala, conformada, cerrando os punhos. Vê cada um dos homens passarem a sua frente em fila indiana. Shaka, um deles, um santo de Atena, é atirado aos pés de Zeus.

– Debaixo de meus pés. Eis o lugar onde deveriam estar todos os homens. – Shaka, o cavaleiro, ergue os olhos para a imponente figura – Que lamentável criatura é o homem. Vieste da lama. Tens consciência disso mortal?

– Do pó viste, ao pó retornaras. – concluiu Shaka.

Os cavaleiros que ainda estavam na fila ergueram os olhos para os céus. Viram um azul límpido, sem nuvens, e o carro de Apolo estacionado no centro do céu acentuava a beleza ilusória daquela dia. Eles viram o céu, não viram uma lamina erguer-se. Eles viram o céu, não viram a mesma descer, impassível. Eles viram o céu, não viram o rubro do sangue de Shaka, não viram a luz deixar seus olhos.

Atena viu.

Talvez esse começo ainda esteja meio nebuloso na mente de vocês. Mas não se preocupem, tudo será explicado com o tempo. Vejo vocês no próximo capítulo.