CAPÍTULO - 01


THE PRIESTESS OF HA
(A sacerdotisa de Rá)

Uma forte rajada de vento levanta uma quantidade razoável de areia das dunas. Um pequeno redemoinho se forma, levantando ainda mais areia, ofuscando o sol ao fundo. A areia abaixa e revela uma pequena caravana de comerciantes. Era a única forma de vida que conseguia prosseguir seu caminho num sol de verão. Era cerca de seis camelos repletos de mercadorias: cestas enormes feitas de palha-seca penduradas do lado do animal. Suas pegadas podiam ser vistas, do alto, até quase o fim do horizonte. De repente um homem atrasa o passo para ficar ao lado de outro camelo.
- Ô...ô. – diz ao puxar as rédeas do animal.
O homem vestia uma túnica branca fechada do pescoço aos pés, com uma ligeira abertura na altura dos tornozelos. Uma manta verde escuro está jogada pelos seus ombros castigados pelo sol escaldante do deserto. Um turbante bege protege sua cabeça. Sua expressão é contraída pela claridade do ambiente. Ele eleva sua mão até sua barba rala e a coça. Ao ficar ao lado de seu companheiro de viagem, que o encara, ele pigarreia.
- O que você vai fazer aquelas cerâmicas que comprou daquela senhora, hein? – continua.
O outro homem o encara com um olhar frio. Ele veste uma roupa muito parecida, apenas diferente nas cores e que a túnica possui uns detalhes na gola.

- Por que, Mohammed? – pergunta voltando a olhar para frente.
- P-p-por-porque-e-e? – indaga.
- É. – um sorriso começa a se formar – por acaso está interessado em comprá-las?
- Comprá-las? Eu? – ri consigo – Não, Madger! – responde atônico.
- Não vejo nenhum problema, pode dizer. Crescemos juntos em Heliópolis!
- E eu não sei disso? – ele volta a coçar sua barba rala, como se procurando palavras. – Tudo bem. – respira fundo – Fiquei interessado.
- Ah! Eu disse. – apontando um dedo indicador divertido – Mas por quê?
- Quando chegarmos a Heliópolis, eu te conto.
- Segredo comigo? – pasmo- Se demorar muito eu venderei para outra pessoa no mercado, viu?
- Certo.
...

A caravana ainda vagou pelo deserto por dois dias. Na manhã do terceiro dia, já tinham atravessado o rio Nilo e estavam na direção da cidade de Heliópolis. Foi só uma questão de horas até que se deparassem com as muralhas gastas e os portões de seu destino Uma vegetação um pouco verde e alguns civis os recepcionaram ao chegar. No meio dela existia um grande prédio com diversos escritos hieroglíficos. Ao passarem por ela, Mohammed se atenta para uma mulher morena muito familiar. Ela estava chorando e seu avental cinza já havia vira carvão tamanho o desespero. Alguns guardas tentavam acalmá-la. Eles estavam no alto da escadaria.
- Olha lá Madger! Não é a sua irmã? – pergunta Mohammed puxando seu amigo pela manga da túnica que quase já ia entrando numa viela adjacente cheia de mercadores e barracas sem perceber o tumulto.
Madger gira seu rosto para o amigo que aponta com o dedo para a entrada do prédio. O olhar de Madger segue na direção apontada e gelam ao ver o que era.
- Não. – sura e começa a correr por entre a multidão que ia e vinha com suas compras. Ele foi esbarrando nas pessoas até chegar à escadaria do prédio que estava deserta. – O que houve Radija? – pergunta ao chegar perto da irmã e se ajoelhar ao seu lado.

- Irmão!E-eles a levaram Madger! Eles a levar... – aos prantos.
Nisso um dos guardas que tentavam acalmá-la adentra na conversa.
- Tenha orgulho mulher para quem sua filha servirá! – diz.
Madger está atônico. Não entende o que está havendo. Há suor pelo seu rosto. Seus olhos castanhos vagam da irmã para os guardas.
- Deuses! O que está havendo aqui?
- Você não percebe? – indaga a irmã elevando suas mãos para cobrir o rosto o soluçar mais uma vez. – Minha filhinha mal nasceu e já vai servir ao Templo!
- Q-q-quê-ê? – diz Madger num sopro de voz, entendo o problema.
Nesse momento chega um Mohammed totalmente sem fôlego e desarrumado.
- Nossa finalmente consegui passar por aquela multidão lá embaixo.
Ele olha para o amigo que está literalmente sem cor no rosto. Há somente o som das pessoas embaixo e o choro de Radija.
- O que houve Madger?
-A filha da irmã de seu amigo foi escolhida para ser uma das sacerdotisas do glorioso Amon-Rá. – diz o mesmo guarda.

Mohammed também fica em choque e não sabe o que fazer. Somente se ajoelha do outro lado de Radija, põem uma mão em seu ombro e tenta balbuciar algumas palavras.
- Já que vocês conhecem essa senhora, não temos mais nada a fazer aqui. - fala o guarda e nisso os outros guardas se retiram e adentram no templo.
Alguns minutos se passam e nada mais é dito. O pátio logo abaixo começa a se esvaziar lentamente e o sol começa a se pôr. Vertentes vermelhas e laranjas colorem o céu egípcio. Um som de trovão ecoa nos ouvidos de Radija, Madger e Mohammed. Seus olhos procuram pela fonte. E se deparam com o portão do templo sendo aberto novamente. Mas desta vez, não são guardas que saía. Era um senhor idoso já com os cabelos grisalhos e a pele enrugada. trazia consigo um pergaminho na mão e na outra um cajado muito gasto nas pontas. Trajava uma túnica branda e sandálias de couro claro. Um cordão de ouro era o único ornamento. Lentamente, ele caminhou e foi até Radija que se ajoelhou prontamente. O mesmo fizeram Madger e Mohammed. Os olhos do idoso pousam na mulher de rosto agora inchado das lágrimas.
- Você é mãe da menina escolhida? – pergunta com uma voz rouca e cansada.
- S-sim senhor. – responde Radija ainda na posição de referência.
- E eles quem são? – pergunta distraidamente.
- São meu irmão, Madger e o amigo dele, Mohammed. – diz gesticulando.
- Certo. – ele pigarreia- Gostaria de trocar uma palavrinha com a senhora, Radija. E possivelmente com seu irmão, pode ser?

A mulher levanta a cabeça devagar e o olha.
- Não se incomodaria, não é Mohammed? – pergunta.
O homem em questão balança a cabeça negativamente. O senhor idoso ri satisfeito.
- Podem se levantar agora. – ordena. Alguns segundos são perdidos nessa operação, mas no final dela, ele continua. – Podemos conversar agora? – pergunta.
- Aonde? – pergunta uma Radija com o rosto vermelho pimentão.
- Num recinto ao lado do Templo. Pode ser?
- Claro.
Nisso os três descem a escadaria e se misturam na multidão ainda presente lá embaixo. Mohammed é deixado lá em cima sozinho.

O recinto ao lado do templo se resumia a uma média sala cheia de vários projetos de estantes repletas de pergaminhos e tábuas. No centro, ao lado de uma janelinha redonda no alto, uma mesa de madeira com uns castiçais. Eles ainda carregam alguns tocos de velas. Há muita poeira por cima da mesa.
- Este lugar não é limpo já faz algum tempo, sabe. – diz o idoso ao adentrarem na sala.

Radija e Madger giram suas cabeças para todos os ângulos, tentando gravar e ver todos os detalhes daquele lugar. A mulher espirrar por causa da poeira e é acudida pelo irmão. Enquanto isso, o idoso vai até uma das estantes e retira de lá um pergaminho cheio de hieróglifos. Vai até a mesa e o estica utilizando-a. Dois castiçais servem de peso para isso. Seus olhos vagueiam pelo objeto.
- Desculpe minha intromissão... -começa Madger. Nisso o idoso levanta seu olhar do pergaminho e os coloca no homem à sua frente. Essa ação deixa Madger um pouco nervoso. -... mas porque nos trouxe aqui?Qual é seu nome?
O idoso olha do pergaminho para Madger diversas vezes até enrolar o pergaminho e colocá-lo no seu antigo lugar: na estante. Radija olha aflita para o irmão. Ainda de costas ele começa a responder às perguntas.
- Meu nome não importa. O que vocês precisam saber que sou um Sacerdote de Rá a muitos solstícios. – então ele se vira e se senta na cadeira, deixando seu cajado de lado.
- Agora, vamos ao motivo que os convidei para conversar. – pausa – Meu deus é muito exigente quanto suas sacerdotisas. Elas devem ser perfeitas como manda a tradição. E...
- Isso é normal. - diz Radija.
-...elas devem ser escolhidas no dia de seu nascimento. – continua sem dar atenção à interrupção – Quando fiquei sabendo que nasceria uma criança por volta do mês de Rá, torci para que ela nascesse no dia dele. Orei aos deuses para isso. E como eles são piedosos me deram o que pedi. Na noite em que a criança nasceu, mandei como de costume um dos meus representantes para auxiliar a parteira. Você, Madger, estava no meio do deserto quando ela deu a luz. – diz apontando o dedo indicador para o homem à sua frente – Pelo o que ele me contou, o parto foi difícil, não é?
- Sim. – confirma a mulher.

- Sim. – confirma a mulher.
- Bom,... então, logo após o nascimento da criança,o representante do templo veio até a minha saleta e me disse que aquela noite nascera uma menina. Abri logo um grande sorriso e o instruir a ir à sua casa novamente e buscar a criança enquanto eu reunia o conselho para a avaliação da criança. Verificar se ela serviria para ser uma futura Sacerdotisa já que ela nascera no dia de Amon-Rá.
- Eu nem tinha posto o nome em minha filha! – protesta Radija, ao mesmo tempo em que avança na direção da mesa. Ela é impedida por Madger que pede calma.
- Não iria adiantar ter posto o nome. - rebate o senhor – No caso se ela passasse na avaliação, é claro.
- E se ela não passasse? – pergunta uma Radija anda segura pelo seu irmão.
- Ela voltaria aos seus braços na mesma hora. – conclui – Mas continuando, ele foi até a sua casa e pegou a criança.
-Ele a arrancou dos meus braços!
- Isso são detalhes para os olhos do glorioso Rá.
- Claro isso porque ele não teve uma filha arrancada dos braços.
O senhor idoso perde a paciência e se levanta, pondo as mãos na mesa.
-Não ouse falar essas palavras para o poderoso Amon! Sua ingrata! – esbraveja – Não vê que sua filha recebeu uma dádiva dele? Ela vai servir a ele! Receberá boa instrução, viverá no templo e aprenderá a protegê-lo!
Madger finalmente retorna à conversa.
- Como foi à avaliação? – pergunta tentando acalmar a atmosfera pesada.
O homem idoso à sua frente o encara e parece se acalmar. Ele respira fundo e se senta novamente.
- Bem, muito boa. – continua sem olhar para Radija – Quando eu vi a criança pela primeira vez, estava no conselho. Eu próprio fui um dos examinadores. Concluímos sem nenhum objeção e escolha da menina. Também concluímos colocar o nome de Maya na criança.

- Quê?!- guincha a mulher.
- A tradição de escolha nos manda dar outro nome às crianças. E como ela ainda não tinha nome, pomos um nela.
Madger olha neste instante para a irmã e que não se conforma, balança negativamente a cabeça de um lado para o outro, segurando desta forma a vinda do choro. Eles sabem a conseqüência dessa escolha: a criança cresceria dentro do templo e não teria nenhum contato com a família.
- Agora, se não falhe a memória... - continua o senhor- onde está o seu marido?
- Ele foi morto numa batalha em El Iskandariya. – responde Madger pela irmã.
- Lamento profundamente. – diz seriamente – Contudo, vocês por acaso sabem quais são as conseqüências de Maya ter sido escolhida, certo? – balanços pra cima e pra baixo são a reposta. – Certo, então já sabem que Maya ficará sob seus cuidados até que ela não se alimente só de seu leite.
- Quer dizer que eu posso levá-la daqui? – pergunta a mãe.
- Não. Maya ficará aqui no templo. A senhora só virá aqui nas horas da amamentação.
- Nem por hoje?
- Sinto muito, mas faz parte da tradição. Temos um quarto reservado para a Sacerdotisa do Templo e ela ficará lá. Mandarei limpá-lo, já que há muitos anos não é usado.

Radija ameaça chorar e põe a cabeça no ombro do irmão.
- Não tema mulher. Sua filha terá a melhor instrução de toda Heliópolis. Nem todos os dracmas, denares ou sei lá quais são as moedas que se utiliza, pode pagar. E o melhor, terá educação para defender o templo e o Faraó! Sabe quantas meninas queriam ter essa chance?
- Eu sei...- diz com uma voz abafada pelo abraço -... Mas eu nem poderei vê-la depois que eu a amamentar.
O idoso fica sério por alguns instantes, franze a testa e parece pensar algo.
- Sabe, acho que a senhora poderia ir vê-la durante os treinamentos, mas de longe e sem proferir uma palavra se quer, está bem?
Radija esboça um sorriso mas se contêm temendo perder a oportunidade de ver a filha.
-Obrigado,senhor. – diz somente – Mesmo.
- De nada. Então já que estamos entendidos, acho que não há mais nenhum motivo para continuarmos aqui.
O senhor idoso começa a se levantar. Ele pega seu cajado e vai até a porta. Ao passar pelos irmãos, diz:
- Sua filha terá uma honra sem igual.
Radija concorda e segue o homem, indo para fora do recinto. Madger faz o mesmo.
...

Conter um Mohammed curioso foi uma batalha enorme até chegarem a casa. Isso porque as ruas já estavam normais para uma pessoa andar. Mas uma batalha pior foi evitar que o tempo passasse. Tão logo contaram o que aconteceu na conversa entre eles e o senhor idoso, tão logo Maya já tinha atingido a idade ideal para começar seu treinamento. Radija chorou muito no dia em que soube que não era necessária sua ida ao templo para este fim. Ela já estava protelando muito, evitando que a criança passasse muito tempo sem ela, e assim uma inspeção dos Sacerdotes do Templo. Mas quando chegou às cheias do Nilo, tão teve jeito. Madger foi chamado às presas para comparecer ao Templo e levar dali sua irmã, que chorava novamente como no dia em que chegaram daquela viagem. Tentou consolá-la dizendo que ainda a veria nos treinamentos e felizmente funcionou e levou consigo uma Radija ansiosa para que sua filha começasse logo os treinamentos de defesa.

Maya cresceu aprendendo toda a história de seu povo. E, quando o corpo já podia agüentar foi iniciada nas mais diversas lutas e no arco e flecha. Ela deveria se tornar uma exímia guerreira para proteger o templo de Rá e o deus vivo,o faraó. Para a surpresa dos instrutores, apesar de ser mulher, Maya tinha talento e mostrava-se interessada nas artes de guerra. Com isso tornou-se uma exímia espadachim e ar queira, mas também lutava bem com par-de-sais, um presente dado sem que soubesse de Madger, durante uma viagem comercial à Índia.

Ao completar quatorze anos, soube que assumiria seu lugar como sacerdotisa do deus sol. Neste dia, o pátio ao lado do templo foi todo decorado com estátuas de Rá e bustos dos deuses. A festa coincidiria com a do Ano-novo, a grande festa de Opet,onde as efígies das divindades da família de Amon vão navegar pelo Rio Nilo. Mas como não há o tal rio por perto, os sacerdotes irão carregar nos próprios ombros onde estarão as estátuas dos deuses. Uma atmosfera muito alegre reina, pois os cidadãos iriam ver a nomeação da nova sacerdotisa do Templo. Todos estarão presentes,inclusive Radija, Madger e Mohammed.
Naquela manhã, Maya não tinha dormido bem. Estava sentada por cima dos lençóis de sua cama. Trajava uma túnica branca que cobria o pescoço e ia até os pé colar feito de ouro ornava seu pescoço. Estava descalça e seu cabelo preto-liso ia até a metade das costas. Sua pele morena estava ainda com algumas marcas da noite passada.. Do lado da cama há uma mesa com uma cadeira e por cima pergaminhos enrolados e empilhados. Defronte à cama,uma janela redonda e no alto dá o sinal que o Sol nasceu. Os olhos castanhos escuros dela parecem estar achando interessante a mão da dona.
De repente,um pequeno pássaro pousa na janela e pia. Maya leva um susto e levanta a cabeça para identificar o causador e depara com um lindo passarinho amarelo,e ao fundo vertente alaranjadas.
- Vejo que até tu estas felizes hoje. – diz e indo à direção da janela.O passarinho pia novamente para ela. Maya sorri e eleva sua mão para tocá-lo. Nesse momento ecoa no aposento dois baques na porta e uma voz masculina.O pássaro foge de susto.
- Maya, o desjejum está ir agora? –pergunta a voz.
A futura sacerdotisa dá uma boa olhada em seu quarto e rapidamente diz em voz alta:
- Sim, só me deixe ajeitar algumas coisas antes.

Há um leve sem de um grunhido em concordância do outro lado. Nisso,rapidamente a mulher começa a arrumar sua cama. Ao final do ato, um leve bocejo invade seu rosto. Uma mão o esconde.
- Hoje vai ser um dia longo. – diz e sai do quarto.
Do lado de fora, um homem que já passou da meia idade a espera sentado numa mureta que dava para um lindo jardim. Ele veste uma túnica por cima de uma pele de animal. Seus cabelos já grisalhos são penteados por um leve vento. Ao ver Maya sair do seu quarto, se levanta e atravessa um estreito corredor e vai à sua direção.
- Dormiu bem? – pergunta à futura Sacerdotisa.
- Mais o menos. – responde ao mesmo tempo em que começa a caminhar ao lado do homem pelo corredor.
- Vejo que hoje é o seu grande dia.
- Sim... – e olha para a paisagem em volta: para além do corredor há um enorme pátio.
O homem ri levemente.
- O que foi?- pergunta Maya percebendo o riso – Por que está rindo Cahlied?
Cahlied a encara com uma feição serena e séria. Ambos param de andar. Ele a fita e diz:
- Acho que ninguém te contou, né?
Maya não entende.
- Contar o quê? – ao mesmo tempo em que voltam a caminhar.
Cahlied fica em silêncio e acha mais interessante o chão. Maya, com curiosidade, fica sem paciência e apressa o passo, acabando por ficar defronte a Cahlied.
- Por favor, contar o quê Mestre?
O homem pára abruptamente de andar e quase tropeça nela. Parece estudá-la por alguns segundos. Logo depois ele respira fundo e balança a cabeça negativamente e da à volta, saindo do caminho obstruído. Maya o segue logo atrás.

- Não devia dizer isso pra você,sabia?
A mulher não diz nada, só escuta.
- Já que não te contaram até agora, acho melhor te contar logo mesmo. Senão pode vir a ser uma grande surpresa para você. – respira fundo – Durante o ritual de oficialização de seu cargo no tempo como sacerdotisa, você será posta à prova.
- Isso eu já tinha lido nos pergaminhos antigos. – diz Maya gesticulando.
- Certo,mas você por acaso sabia que o sacrifício é... – pausa – huma-n-no?
- Quê?!
- Isso mesmo. Durante o ritual será posta em prova se é perfeita para ser uma Sacerdotisa.
Maya está pálida.
- Eu não posso sujar minhas mãos de sangue,Mestre. – fala num sopro de voz.
- Mas terá. – diz antes de girarem e adentrarem num outro corredor, só que desta vez fechado.
- O que eu faço então?
- Ora, eu não sei. É a tradição que manda ter um sacrifício nessa festa. – responde olhando de esguelha para Maya que por sua vez fica extremamente quieta. – Você ainda tem algum tempo antes dela. Pense a respeito, está bem? – continua.
- Eu nem tenho escolha! – suspira.
- Somente veja que é a única forma de ser verdadeiramente uma sacerdotisa de Rá.
A mulher não diz nada e somente olha para frente com os pensamentos longe dali. Cahlied somente a observa. Ao chegarem numa determinada altura do corredor,onde ele se segmentava em dois menores, Cahlied pára de andar. Maya faz o mesmo e se volta para o seu Mestre.
- Que foi?
- Terei que deixá-la agora.- diz – Tenho que preparar a festa..E você pensar muito bem a respeito,por o faraó estará presente além de todos os habitantes de Heliópolis e alguns estrangeiros que chegarão aqui lá pela tarde. Se você fraquejar, será vista por todos e poderá ser punida. – pausa – Não por nós, mas pelo próprio Faraó que se deslocou até aqui.

- Quer dizer que ele já está aqui?
- Não chegará um pouco antes do almoço.
- Ele virá aqui?
- Claro. – responde Cahlied – Bom, agora tenho realmente que ir. Faça um bom desjejum. – diz ao mesmo tempo em que começa a ir pelo corredor adjacente. Maya é deixada sozinha. Ela continua a observá-lo até que ele desaparecesse de vista.
- Chegou o seu grande dia Maya. – diz para si mesma – Não vou fraquejar. –e continua o seu caminho pelo corredor à sua frente.

Pode-se dizer que o corredor é bem ordenado. Vários hieróglifos iam de cima a baixo e quando as paredes não os tinham, estavam cobertas com uma espécie de tapeçaria comprida. Algumas tochas estavam acesas. Perto de cada uma, há uma janela oval não muito alta. Ao andar pelo corredor, Maya tem seus cabelos lisos pretos iluminados por essas aberturas. Os raios solares indicavam que o Sol estava ficando cada vez mais forte e vigoroso.
Sons de pássaros cantando lá fora no jardim do pátio são os únicos barulhos ouvidos por ali já que Maya está absorta em seus pensamentos. Ela enfrentava uma batalha que ocorria nela mesma. Não sabia o que fazer. Sua intuição lhe dizia que não deveria sujar suas mãos com sangue. Porém os fatos a obrigavam a isso. Todas as pessoas importantes por aquela região estariam naquela cerimônia. Inclusive os habitantes da cidade e forasteiros fascinados pela festa de ano-novo dali. Esses pensamentos consumaram todo o trajeto dela até a cozinha do templo. Ao chegar perto da entrada do recinto, um cheiro de carne javali assado.
Aquela amanhã passou tão rapidamente que Maya logo estava de volta ao seu quarto, cercada por várias servas do templo que se ocupavam em arrumá-la para a festa. Seu único pensamento era fugir daquele lugar, onde aquelas tagarelas não paravam de dar palpites sobre sua roupa e sobre que ornamentos deveria usar. Quando finalmente terminaram, Maya trajava um belo vestido verde esmeralda que contrastava com sua pele morena, seus olhos haviam sido pintados de preto. Braceletes e tornozeleiras ornavam seu corpo enquanto um pingente de águia descansava em seu colo, completando o conjunto.

As servas saíram do quarto para o alívio da jovem sacerdotisa, mas ela não pode sequer se sentar, pois ouviu batidas na porta. Ao abri-la se deparou com Cahlied, ele carregava uma expressão séria.
- Está quase na hora, você pensou bem sobre o que lhe disse?
- Sim – disse Maya com a mesma seriedade de seu mestre
-Pois então devo avisá-la novamente que hoje receberemos diversos estrangeiros em busca de um bom solstício e...
– Não vou decepcioná-lo, mestre. – disse Maya na altura em que atravessavam um grande salão. Ele era mal iluminado pelas tochas que iam de lado-lado do aposento. No final dele estava um enorme portão ornado á ouro e escritos. De cada lado dele havia duas estátuas de Amom. Ruídos altos do outro lado do portão indicava que estavam chegando ao destino final: a oferenda logo iria ser iniciada. Perto a uns cinco passos das estátuas havia um corredor muito escuro. No alto diversas clarabóias dá a impressão que a festa no pátio da cidade já acontecia a diversas luas tamanha era a fumaça que subia ao céu.
- Tomara que não....Mas não que pensa em fazer?
- Já tenho tudo em mente. Daqui a pouco o Senhor irá descobrir. – responde a garota parando defronte a uma das estátuas de seu deus.
- Bom... É melhor que leve isto – disse o homem entregando lhe o par de sais que Maya havia usado por todo seu treinamento. Eles eram feitos de ouro puro e sua empunhadura levava a imagem de Amon-Rá. – uma sacerdotisa não pode defender seu deus sem suas armas... Boa sorte, criança.
Maya os pegou e prendeu em suas vestes. Cahlied mantinha se firme, sabia que se sua pupila hesitasse poderia ser morta por ordem faraó. Cahlied bate duas vezes na porta, indicando que a Maya já estava pronta para entrar.
- Então é aqui que a nossa jornada termina pupila. Quando entrar por esta porta já será uma sacerdotisa. – e então se despediu com uma breve aceno, que foi correspondido, e saiu pelo corredor ao lado do portão.
Maya fitou o seu mestre saindo do aposento. Passados alguns instantes, o portão começou a ruir.

- Então é agora Maya. Não é hora de fraquejar.
Aquela amanhã passou tão rapidamente que Maya logo estava de volta a seu quarto cercada por várias servas do templo que se ocupavam em arrumá-la para a festa. Seu único pensamento era fugir daquele lugar, onde aquelas tagarelas não paravam de dar palpites sobre sua roupa e sobre que ornamentos deveria usar. Quando finalmente terminaram, Maya trajava um belo vestido verde esmeralda que contrastava com sua pele morena, seus olhos haviam sido pintados de preto. Braceletes e tornozeleiras ornavam seu corpo enquanto um pingente de águia descansava em seu colo, completando o conjunto.
As servas saíram do quarto para o alívio da jovem sacerdotisa, mas ela não pode sequer se sentar, pois ouviu batidas na porta. Ao abri-la se deparou com Cahlied, ele carregava uma expressão séria.
- Está quase na hora, você pensou bem sobre o que lhe disse?
- Sim – disse Maya com a mesma seriedade de seu mestre
-Pois então devo avisá-la novamente que hoje receberemos diversos estrangeiros em busca de um bom solstício e...
– Não vou decepcioná-lo, mestre. – disse Maya na altura em que atravessavam um grande salão. Ele era mal iluminado pelas tochas que iam de lado-lado do aposento. No final dele estava um enorme portão ornado á ouro e escritos. De cada lado dele havia duas estátuas de Amom. Ruídos altos do outro lado do portão indicava que estavam chegando ao destino final: a oferenda logo iria ser iniciada. Perto a uns cinco passos das estátuas havia um corredor muito escuro. No alto diversas clarabóias dá a impressão que a festa no pátio da cidade já acontecia a diversas luas tamanha era a fumaça que subia ao céu.

- Tomara que não....Mas não que pensa em fazer?
- Já tenho tudo em mente. Daqui a pouco o Senhor irá descobrir. – responde a garota parando defronte a uma das estátuas de seu deus.
- Bom... É melhor que leve isto – disse o homem entregando lhe o par de sais que Maya havia usado por todo seu treinamento. Eles eram feitos de ouro puro e sua empunhadura levava a imagem de Amon-Rá. – uma sacerdotisa não pode defender seu deus sem suas armas... Boa sorte, criança.
Maya os pegou e prendeu em suas vestes. Cahlied mantinha se firme, sabia que se sua pupila hesitasse poderia ser morta por ordem faraó. Cahlied bate duas vezes na porta, indicando que a Maya já estava pronta para entrar.
- Então é aqui que a nossa jornada termina pupila. Quando entrar por esta porta já será uma sacerdotisa. – e então se despediu com uma breve aceno, que foi correspondido, e saiu pelo corredor ao lado do portão.
A garota ficou absorta em seus pensamentos antes que um senhor de meia idade aparecesse.
- A cerimônia irá começar. – disse o senhor trajando uma túnica fechada amarelo-ovo que ia até os pés. A futura sacerdotisa acenou com cabeça.
- É agora ou nunca. - e vai à direção do portão que já ameaça a abrir.

A enorme porta de entrada do templo foi aberta como um leão rugindo. Uma luz forte contrastava com a quase escuridão do lado de dentro. Diversas tochas estavam acesas e lá embaixo, depois da grande escadaria, uma multidão acompanhava o evento ao seu modo: uns bebiam, dançavam e gritavam. Várias tendas estavam montadas em volta e vendiam como nunca. Os olhos azuis de Maya então vagaram para um pequeno elevado construído perto do altar do sacrifício. Havia um trono ornado a ouro e opalas e sentado, o Faraó!

- Uau, ele veio! – sibilou para si quando atravessava a entrada do templo e ia se dirigindo para o altar. Ela ouviu os murmúrios de lá embaixo diminuírem à medida que se aproximava do Faraó.
Um velho sacerdote tomou a palavra:
- Estamos aqui hoje, na presença dos deuses e do povo para consagrar a mais alta sacerdotisa... A serva de Amon-Rá... Há quatorze anos, aqui neste mesmo templo, um conselho escolheu esta que hoje se torna a mais nobre das mulheres... – diz o velho apontando para uma Maya nervosa. – e agora ela provará sua lealdade aos deuses e ao faraó oferecendo um sacrifício humano...
Neste momento dois guardas do templo entraram arrastando um menino que não deveria ter mais do que onze anos. Ele tinha olhos cinza e na cabeça a ausência de cabelo evidenciava a raspagem deste. Maya pode ver o quanto o menino tremia e chorava, embora seus gritos fossem abafados pela negra máscara que fora obrigado a usar.

Ele está chamando pelos pais... – esse foi o pensamento que Maya teve ao se aproximar do menino. Seus olhos se encontraram por um breve momento.
Os guardas prenderam o menino no altar, de modo que ele ficasse ajoelhado e não pudesse fugir. As pesadas cordas não permitiriam nem mesmo que ele levantasse. Então, o sacerdote virou se novamente para o "público" que esperava impacientemente pelas honras a Amon.
- Felicitem se, pois o sacrifício deste menino trará paz e fartura ao nosso povo... Sacerdotisa prossiga o ritual.
Maya já tinha lido sobre vários rituais, embora nunca tivesse assistido a um, já que deveria permanecer isolada até aquele dia. Sabia que deveria cortar o pescoço do menino, sabia como fazê-lo com o mínimo de sofrimento, mas não queria matar a pobre criatura. Puxou o par de sais que havia ocultado em suas vestes como sempre o fazia. Ainda não sabia o que fazer, sabia apenas que não poderia matar uma criança. Mas se não oferecesse um sacrifício adequado poderia provocar a ira dos deuses e condenar seu povo. Como encontrar algo que substituísse a vida do menino, naquele momento? Teve uma idéia, uma idéia louca, verdadeiramente absurda, mas que poderia dar certo. Empunhou com mais firmeza o par de sais e se dirigiu ao menino que tremia de medo.
- Me diga seu nome.- pediu num sussurro.
-É Viktor. – diz.

Maya o olha profundamente e com um movimento dos sais, cortou as cordas que o prendiam. O espanto foi geral o povo sussurrava agitado. O menino foi levado para longe. E o faraó ergueu-se furioso.
- Como podes desrespeitar os deuses desta maneira? Será morta da forma mais dolorosa que houver. – diz apontando para a garota.
- Me perdoe senhor, não tinha a intenção de ofender a vós nem aos gloriosos deuses. – diz Maya se ajoelhando e reverenciando o faraó – Apenas considerei que aquela oferenda era imprópria para um deus tão grandioso, pensei que uma oferenda mais pura o agradaria mais.
- Que tipo de oferenda seria? – diz coçando o queixo parecendo levar em consideração.
- Uma oferenda de sangue, meu senhor.
- Oferenda de sangue? Como pode dizer que uma oferenda de sangue é mais nobre que uma oferenda de vida? Ignorante – o faraó volta a se enfezar e faz um gesto para que os guardas a prendam.
Os guardas do faraó foram rapidamente até ela e ameaçaram com suas lanças em seu pescoço. Mas mesmo assim ela mantinha uma aparência calma. Cahlied que estava em meio ao povo fez menção de puxar sua espada, não poderia deixar sua pupila morrer desse modo. Mas ao olhar para Maya ela balançou levemente a cabeça negativamente para que ele não fizesse aquele ataque suicida.

- Majestade, novamente não quis ofender e tão pouco sou ignorante, apenas não acabei de falar o que queria. Não seria um sacrifício de sangue comum, seria uma confirmação de minha lealdade, pois o meu sangue seria a oferenda. Deste modo eu poderia servir ao deus Amon com todo meu ser.
Novamente o faraó parecia pensativo, por fim ele concordou.
– E este sacrifício satisfará os deuses. – Com um movimento os guardas a soltaram e devolveram seus sais.
Maya tomou o lugar onde anteriormente estava o menino e com um breve movimento cortou seus dois pulsos. Largou o par de sais e deixou que o sangue escorresse por seus braços caindo por fim no piso de ouro do templo.
Sem que a sacerdotisa soubesse sua mãe e seu tio estavam no meio do templo e assistiam ao sacrifício de sangue que poderia se tornar de vida se a sacerdotisa não fosse socorrida a tempo. Provavelmente seria a última vez que veriam a jovem.
Durante alguns minutos a sacerdotisa permaneceu firme diante dos olhos de todos, mas logo começou a vacilar. O velho sacerdote ordenou que a tirassem dali para que as festividades continuassem. As servas do templo a ajudaram a andar até seu quarto onde cuidaram de seus ferimentos. As festividades continuaram durante toda a noite até o amanhecer, quando o povo voltou para casa e o faraó começou a viagem de volta a seu palácio.
Durante todo o dia seguinte, o templo foi tomado pelo mais profundo silêncio. Pois os sacerdotes haviam se recolhido para honrar os deuses e as servas estavam ocupadas em suas tarefas e em cuidar da jovem sacerdotisa. Enquanto isso, Cahlied (o homem que treinara Maya desde pequena) perambulava pelo templo esperando por notícias de sua pupila. Maya estava desacordada desde a noite anterior, estava muito pálida e fraca, mas segundo as servas ela melhoraria logo.