Domo pessoal

Cá estou pra lhes apresentar mais uma de minhas fics, que compõem a 'Saga de uma nova vida' iniciada com Troca Equivalente. Encanto de Sereia se passa após Ariel, o casal principal é claro, jamais iria me esquecer deles, Sorento e Ariel voltaram. Agora com uma história nova, alias, uma antiga história que será contada agora.

Preparem-se para um retorno ao passado, para ser mais especifica há duzentos anos atrás. Espero sinceramente que gostem. Ah, não poderia deixar de falar, essa historia contem a participação especial de um personagem que vem atiçando a curiosidade de muitas pessoas, então, não percam!

.::Um Encanto de Sereia::.

By Dama 9

Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem, apenas Emmus, Ariel, Ariel (De Siren) são criações minhas para essa saga.

Boa leitura!

Capitulo 1: Ariel.

.I.

O belo veleiro branco deslizava com suavidade pela baia de Horn. O dia era tranqüilo e até as gaivotas davam rasantes calmos entre as ondas.

No leme da formosa 'Ariel', Emmus observava a jovem de melenas negras sentada na popa com um binóculo nas mãos, observando compenetrada a praia.

-Isso é invasão de privacidade, sabia? –ele gritou para que ela pudesse ouvir.

As velas agitavam-se com o vento, mesmo em toda aquela calmaria, a região não deixava de ter ventos como aqueles que impulsionavam Ariel pela água. Com um movimento hábil, girou o timão fazendo o veleiro dar uma guinada para a direita, afastando-se prontamente de um agrupamento de corais.

-Só estou me certificando que a maré não vá subir e afoga-los; ela falou levantando-se e indo até ele, desistindo de continuar ali por mais duas horas como estava desde que chegara.

-Sei, para não te contrariar, vou fingir que acredito; Emmus provocou, enquanto num movimento lento passou uma das mãos pelos cabelos negros, que esvoaçavam levemente com o vento. –Mas mudando de assunto, não acha que esta na hora de relaxar um pouco e deixa-los se divertirem também? –ele indagou, sabendo que mesmo a distancia alguém como eles poderiam se sentir observados e sentir isso no meio de uma lua-de-mel não era nem um pouco agradável.

-Mas...;

-Ariel; Emmus falou em tom sério e grave, fazendo-a se aquietar e abaixar a cabeça.

Suspirou pesadamente, não queria levantar a voz para ela daquela forma, se odiava cada vez que tinha de fazer isso, mas apesar de tudo era necessário. Desceu a ancora, travando o timão, aproximou-se da jovem que evitava lhe encarar.

-Desculpe; o cavaleiro sussurrou, envolvendo-lhe os ombros e puxando-a para um abraço carinhoso. –Não queria gritar com você, me desculpe;

-Tudo bem; a jovem sussurrou, correspondendo ao abraço. –Sei que mereci, mas...;

-Você esta preocupada; Emmus a cortou, enquanto afagava-lhe as melenas negras. –Mas entenda, eles precisam viver, não são mais crianças que não sabem se defender e precisam ser vigiados constantemente para não se machucarem.

-Eu sei, só que...; Ariel parou dando um suspiro pesado. –Só queria garantir que ninguém iria lhes fazer mal; ela confessou.

-Não se preocupe, enquanto eles estiverem aqui, não vou deixar que nada aconteça; ele falou.

-Promete? –ela perguntou erguendo a cabeça, para fitar-lhe diretamente.

-Tem a minha palavra; Emmus falou tocando-lhe a face delicadamente, afastando os primeiros resquícios cristalinos que insinuavam-se pelos cantos dos olhos da jovem. Olhos rosados, não mais violeta. –Mas agora você precisa mesmo relaxar; ele completou com um sorriso de menino levado nos lábios.

-Emmus, o que vai fazer? –Ariel perguntou tencionando se afastar, porém rapidamente ele suspendeu-lhe do chão.

-Apenas agilizando o processo; ele brincou antes de pular da beira do veleiro com a jovem entre os braços.

-EMMUS! –ela berrou, porém seus gritos foram abafados pela água, assim que afundaram.

-o-o-o-o-o-

Um baixo suspiro saiu de seus lábios, sentia o corpo quente devido ao sol sobre si, remexeu-se um pouco sobre a toalha, sentindo um par de braços estreitarem-se em sua cintura.

-Ariel; Sorento chamou num sussurro.

Sorriu abrindo os olhos e encontrando o olhar apaixonado dele sobre si. Alias, todas as manhãs era assim agora, desde que se tornara a senhora De Siren, a pouco mais de três semanas atrás.

-Oi; ela falou.

-Não acha melhor sairmos um pouco do sol? –Sorento perguntou com ar preocupado, mesmo porque, vinha a cercando de cuidados o tempo todo.

-Eu estou bem aqui; Ariel respondeu com ar manhoso.

-Mas amor...;

-Vamos ficar só mais um pouquinho; a jovem pediu com os orbes violeta brilhando intensamente. –Depois prometo que não insisto mais; ela falou com ar angelical.

-Não sei por que insisto; ele falou suspirando.

-Porque você é muito teimoso; ela brincou.

-Acha que nossos filhos vão herdar isso? –Sorento indagou curioso.

Parou por alguns segundos, ponderando sobre o que ele havia acabado de perguntar.

-Ariel;

-Não sei; ela respondeu num sussurro, ainda com o olhar vago.

-Uhn!

-Mas gostaria que ela ou ele, tivesse seus olhos; a jovem falou sorrindo ao voltar-se para ele.

-Contanto que fosse tão linda quanto você; ele respondeu sorrindo, dando-lhe um beijo suave nos lábios.

-Sorento, olhe; ela falou sentando-se rapidamente na manta.

-O que? –o marina perguntou.

Seguiu o olhar da jovem vendo não muito longe da baia, um veleiro branco com a vela do mastro principal igualmente branca, mas o que mais lhe chamou a atenção foi à silhueta de uma mulher em traçados pretos no centro da mesma. Não era uma mulher comum e sim, uma sereia.

-Ariel; a jovem murmurou lendo o nome do veleiro na lateral do barco.

-Que coincidência; Sorento murmurou ao constatar que o veleiro tinha o mesmo nome da esposa e a sereia da vela também era intrigante.

-A propósito Sorento, quem é o dono do 'Recanto das Sereias'? –Ariel indagou.

O Recanto das Sereias era uma bela propriedade situação na costa austríaca em Horn, a mansão era antiga, porém com sutis toques de modernidade. Era cuidada por Evariste e Sophie Rivers, mas quanto ao dono, não sabia quem era.

Quando viajaram para Viena, pensaram em passar a lua-de-mel toda por lá, mas logo no segundo dia, Carite ligara avisando que um amigo tinha uma casa em Horn e que ficaria feliz em recebê-los, mas ao chegarem surpreenderam-se muito com o lugar, o Recanto tinha um jardim imenso, repleto de gérberas, tulipas e lírios da paz.

Foram recebidos por Rivers e Sophie que lhes deram as boas vindas em nome do dono, que se desculpava pela viagem de negócios que fora obrigado a fazer de ultima hora e não pode esperar para recebê-los.

-Não sei querida, Carite disse apenas que era um amigo, por quê? –ele indagou.

A verdade é que estava tão curioso quanto à esposa para saber os mistérios daquela propriedade, principalmente porque, lá dentro não vira uma foto de família. Aquele era um ambiente que transpirava o termo 'família', não vira uma foto, ou algo que lhe desse alguma pista sobre qual o tipo de personalidade de seu anfitrião.

Garimpando algumas informações descobrira que era um casal a habitar a casa, mas não conseguira descobrir se eram realmente um casal ou não. Não que isso importasse, mas a curiosidade é um pecado irresistível e ninguém esta imune a ser tentado assim; ele lembrou-se.

-Por quê? –Sorento perguntou.

-Curiosidade, eu acho; ela murmurou adquirindo um ar amuado.

-O que foi?

-Às vezes eu acho que não consigo me lembrar... Não sei, parece que estou deixando algo importante para trás e não consigo lembrar; Ariel murmurou ainda fitando o veleiro.

-Porque diz isso?

-Foi só uma coisa que me passou pela cabeça, mas esquece. O que acha de irmos para a casa e depois caminhar no centro? –ela sugeriu.

-Ótimo! –ele falou, levantando-se e ajudando-a em seguida.

Antes de partir, lançou um ultimo olhar ao veleiro, vendo-o ainda no mesmo lugar de antes.

-o-o-o-o-o-

-Isso foi golpe baixo; Ariel reclamou enquanto ele lhe ajudava a subir no veleiro novamente.

-Eu sei, mas admita, você estava precisando relaxar; Emmus falou vendo-a ficar ainda mais emburrada, enquanto ia sentar-se numa manta estirada na popa. –Mas estive pensando numa coisa; ele começou seguindo-a.

Os longos cabelos negros colavam-se as costas, junto com a camisa regata que fora delicadamente obrigado a usar, já que estava proibido de usar suas roupas escuras, que sempre trazia consigo naquela época.

-No que? –ela perguntou, pegando uma toalha próxima de sua mão, para enxugar os cabelos.

-Numa historia que você me contou, algum tempo depois que nos conhecemos; ele falou sentando-se ao lado dela.

Retirou a camisa molhada, jogando-a num quanto qualquer, enquanto deitava-se sobre a manta, cruzando os braços abaixo da cabeça.

-Uhn! –Ariel murmurou voltando-se para ele, mas viu-o apontar para a praia e logo compreendeu a que ele se referia. –O que é o destino, não? –ela comentou.

-Coincidência; Emmus corrigiu, fechando os olhos e relaxando.

-Destino;

-No máximo casualidade; ele falou mantendo-se impassível.

-Você não tem jeito, mesmo; ela murmurou sorrindo, vendo que apesar de tudo ele se negava a admitir o poder do 'destino' na vida das pessoas, mas também não podia culpá-lo, durante muito tempo pensou assim, mas fora ele mesmo a provar que estava errada e o quão forte era o poder do destino na vida das pessoas.

Só esperava um dia poder provar isso a ele; a jovem pensou antes de deitar-se ao lado dele, aproveitando o sol daquele inicio de tarde.

-Mas gosto dessa historia; ele murmurou, em meio a um baixo suspiro.

Deu um meio sorrido, pelo menos nem tudo estava perdido e ainda havia esperança; a jovem pensou, fechando os olhos, deixando a mente vagar em meio a lembranças.

.II.

253 anos atrás/ Grécia/ Athenas...

Deu um baixo suspiro, enquanto o barco a velas deslizava pelas águas cristalinas da praia do Cabo.

Não havia melhor momento em sua vida do que aquele, as guerras haviam acabado sem grandes perdas, pelo menos com relação aos marinas; Sorento pensou, lembrando-se que infelizmente os cavaleiros de Athena não haviam levado a melhor na guerra contra Hades, mas ainda sim, aquela terra fora salva, em nome da nova geração.

Não pode deixar de lembrar-se da pequena garotinha de cabelos cor de fogo que nascera há pouco mais de um ano. Endora, ela não era apenas o coração do oceano, mas sim, o espírito indomável que habitava todos os corações daqueles que lutaram e ainda lutam pela herança.

Sorriu consigo mesmo ao lembrar-se da pequena, que embora ainda nova, já dava sinais de ter herdado bem mais coisas de Ekil do que os flamejantes cabelos vermelhos. Tinha até dó de Tétis, se já era difícil agüentar o ex-imperador em dados momentos, já pensou quando a princesinha tivesse idade de saber o que quer.

Aquela garotinha ainda viria a surpreender à todos...

Girou o leme, passando próximo a um rochedo, o dia estava propicio para uma boa pescaria, não que fosse dado a esse esporte, mas apenas ficar em contato com aquele mar tranqüilo e livre de maresia já era um bom remédio para uma alma cansada de viver em meio às tensões de uma guerra.

Desceu a ancora e afastou-se do timão, indo em direção a popa. Ainda bem que pudera tirar essa folga, apesar de todas as preocupações estava precisando esfriar a cabeça e saber que Damyan estava cuidando de tudo enquanto estava fora, ajudava a aplacar as preocupações.

Não era dado a confiar muito nas pessoas que não fosse Tetis, ou Ekil, mas Damyan – o Cavalo Marinho, era um bom amigo e tão fiel ao imperador quanto ele mesmo, então, pela vasta experiência em julgar as pessoas, sabia que nele podia confiar.

Abaixou-se perto de uma caixa, antes da entrada para as cabines e de lá retirou uma rede, quem sabe o mar estivesse pra peixe; ele pensou, dando um meio sorriso. Não que fosse adepto a pescar com rede, mas não estava querendo usar uma vara, iria apenas joga-la na água, deitar-se na popa e espera-la agarrar alguma coisa.

Com um movimento ágil, a rede caiu na água, afundando em seguida. Sentou-se um pouco na beira, sabia que não iria pegar nada logo de cara, mas não iria fazer mal esperar um pouco para ver.

-o-o-o-o-o-

Sentiu os pés afundarem na areia, mas mesmo assim não deixou de correr atrás da jovem de melenas negras, tentando impedi-la de lançar-se entre as águas do Cabo. Parou de correr suspirando cansada. Não iria conseguir alcança-la desse jeito.

-Ariel; Carite chamou perdendo o fôlego. De onde ela tirava toda aquela energia?

-Carite, você esta ficando velha, mal consegue me acompanhar; a jovem brincou, vendo-a serrar de maneira perigosa os orbes azuis.

-Ainda é muito cedo pra sair mergulhando por ai; a sereia falou.

-Não se preocupe, só vou entrar um pouco na água, sabe... Nadar por ai; Ariel falou gesticulando casualmente. –Volto antes do almoço; ela completou indicando a mascara de mergulho que tinha nas mãos.

-Ariel, por favor; Carite pediu, fitando-a com ar preocupado.

Havia prometido que não a deixaria sozinha por muito tempo, mas aquela garota conseguia se esquivar de si, o que não era muito seguro se levar em consideração uma certa deusa neurótica com complexo de grandeza que estava a solta.

-Não se preocupe, já disse. Você sabe, conheço essas praias melhor do que ninguém. Não vai acontecer nada; Ariel respondeu retirando o vestido que usava e jogando a peça para ela, mantendo-se vestida apenas com um maiô preto.

-Mas é perigoso sair para mergulhar sozinha; ela insistiu.

-Eu não vou longe, prometo; Ariel falou com aquele olhar brilhante, que impedia a qualquer um de recusar a conceder seus mais ínfimos desejos.

Suspirou pesadamente, dando-se por vencida, não iria convencê-la a voltar, mas ficaria atenta para evitar alguma coisa.

-o-o-o-o-

Céus, como adorava aquela sensação de liberdade. Era como se o mundo houvesse parado e nada mais importasse.

O corpo deslizava entre as ondas como se a vida toda fizesse parte disso. Mergulhou, nadando entre um aglomerado de corais, apenas com uma mascara de mergulho nas mãos. Os equipamentos atuais eram pesados demais para si, então contentava-se apenas com aquilo, para poder enxergar em baixo da água.

Tudo ali em baixo parecia mais vivo e intenso; ela pensou submergindo. Viu pouco mais do que três metros de distancia, um barco se aproximando. Deveria ser algum pescador que estava de passagem.

Como não queria parar e falar com ninguém, mergulhou novamente, mas assustou-se quando uma rede vinda sabe-se lá de onde, envolveu seu corpo, jogando-a para o fundo.

Debateu-se agitada, tentando vencer aquela rede, mas cada vez mais ela grudava em seu corpo. Sentiu o ar escapar por seus lábios e a pressão em sua cabeça aumentar com a profundidade.

Até que do nada, foi arrastada pelas águas e acabou por engolir uma porção de água. Sentiu-se suspensa no ar com brusquidão.

-Por Zeus; ouviu um grito longínquo, depois tudo ficou escuro.

.III.

Viu a corda que segurava a rede, mexer-se. Imaginou que fosse o vento, mas quando a corda retesou, correu para agarrá-la, antes que a rede arrebentasse.

-Que peso; Sorento reclamou, com os dentes serrados pelo esforço.

Puxou com força, vendo a corda aproximar-se cada vez mais do barco. Amarrou uma ponta no mastro principal e começou a puxar, fazendo o barco envergar um pouco com o peso que estava fazendo naquela lateral.

Com um único impulso, conseguiu puxar a rede para cima, mas quase a largou com o susto.

-Por Zeus; Sorento gritou espantado. –Uma sereia; ele murmurou ao ver a jovem de melenas negras presas com algumas algas na rede.

Puxou-a rapidamente para dentro do barco, deitando-a sobre o assoalho de madeira, com cuidado pegou uma faca na caixa perto de si e começou a cortar a rede, evitando machucá-la no processo.

-Acorde; Sorento pediu em tom de desespero, chacoalhando-a pelos ombros.

Nada! Não houve resposta.

Numa atitude de desespero, abaixou-se até a jovem, entreabrindo-lhe os lábios. Na atual circunstancia, não tinha tempo de pensar em conceitos de pudores, o importante era salvá-la.

Engoliu em seco, antes de continuar, pedindo a todos os deuses para que desse certo.

Um sopro de ar entrou pelos lábios da jovem, sentiu que sua cabeça ira explodir a qualquer momento, até num impulso instintivo virou-se para o lado tentando colocar pra fora toda a água que engolira.

-Você esta bem? –ouviu alguém perguntar, enquanto num toque delicado, sentia um par de mãos envolver-lhe os ombros, fazendo com que se deitasse.

Assentiu fracamente, abrindo os olhos lentamente, até encontrar um par de orbes rosados lhe fitando com preocupação. Quem era ele? –a jovem se perguntou, vendo a imagem sair de foco por alguns segundos.

-Quem é você? –Sorento perguntou, cauteloso.

Nunca vira aquela garota antes, mas era como se a muito já a conhecesse.

Os longos cabelos negros colavam-se a pele alva. Era incrível que alguém nativo do Mediterrâneo tivesse uma pele naquele tom nevado.

Só notou a intensidade com que a olhava, quando viu o leve rubor tingir a face da jovem. Desviou-o rapidamente, constrangido.

-Ariel; ela respondeu calmamente, sentando-se. –E você?

-Sorento; o marina respondeu, estendendo-lhe a mão para que pudesse levantar. –Desculpe, não imaginava que houvesse alguém mergulhando por aqui, muito menos-...;

-Uma mulher; a jovem o cortou arqueando levemente a sobrancelha.

-É; ele respondeu simplesmente.

-Homens; Ariel resmungou, rolando os olhos.

Poderia ser uma gracinha, mas tinha o cérebro tão limitado; a jovem pensou com pesar. Tinha que ter um defeito.

-Ahn! Convenhamos que esse esporte não seja uma pratica muito comum entre o-...;

-Sexo frágil; ela o cortou novamente com ar enfezado.

-Poderia me deixar terminar as frases primeiro? –ele indagou aborrecido.

-Sabe qual o problema? –Ariel perguntou, embora não esperasse a resposta. –Você, aposto que você é o tipo de cara acostumado com garotas de mente limitadas sedentas por um bom partido, mas caso não saiba, esse mundo ainda tem salvação; a jovem continuou apontando para si mesma. –Porque eu, querido... Tenho perspectiva de vida; ela completou com um sorriso travesso iluminando ainda mais os orbes violeta.

Fitou-a longamente ainda processando o que ela acabara de falar. Definitivamente, jamais conhecera uma garota como aquela. Tão petulante; ele pensou serrando os orbes.

-Bom, já que isso ficou claro, foi um prazer te conhecer. Até mais; Ariel falou encaminhando-se para a popa do barco. Era melhor voltar pra água, se aquele barco não tivesse aparecido, seu mergulho não teria sido interrompido; ela pensou preparando-se para saltar.

Deu um único impulso e imaginou-se caindo na água, quando braços fortes enlaçaram sua cintura e puxaram-na de encontro a um peito musculoso e bem delineado.

-Ficou louco? - ela berrou sentindo o coração disparar e ir bater na garganta.

-Eu é que pergunto? -Sorento rebateu, afastando-se ainda mais da beira do barco, porém sem solta-la.

Debateu-se irritada, mas ao senti-lo estreitar os braços em torno de si, perdeu o fôlego e deu-se por derrotada.

-Você se machucou, quer piorar ao voltar para a água? –o marina continuou, dando um baixo suspiro.

Sentiu-a estremecer e aliviou a força que empregava para segurá-la, vendo que seus braços roçavam mesmo que levemente os arranhões que ela tinha nas costas e nos braços por causa da rede.

-Eu estou bem, não preciso de cuidados; Ariel falou aborrecida.

-Isso não é discutível; Sorento falou taxativo, puxando-a consigo até a cabine no andar de baixo veleiro.

-Você não manda em mim; a jovem falou irritada.

-Não seja mimada; Sorento reclamou, fazendo-a gentilmente sentar-se num catre no canto da cabine.

-Eu? Mimada? –Ariel falou com os orbes faiscando de indignação.

Serrou os punhos ainda mais irritada quando ele lhe deu as costas e aproximou-se de um armário pequeno, retirando de lá uma caixinha com alguns vidros que não soube identificar o que era.

-Se queria voltar à praia era só falar; ele falou depois de alguns minutos de silencio. Por algum motivo que não sabia qual, preferia ouvi-la esbravejar a agüentar aquele silêncio.

Olhou-a por cima do ombro e viu-a encolher-se no catre, tremendo levemente. O corpo ainda estava úmido e coberto de sal. Era melhor limpar aqueles aranhões logo, antes que algum pudesse piorar; ele pensou sentando-se ao lado dela. Viu-a instintivamente se afastar um pouco, mas não se abalou.

Colocou a caixa entre eles e retirou um dos frascos, virando-o na pontinha de um lenço que tinha em mãos.

-O que é isso? –Ariel perguntou torcendo o nariz ao sentir o forte cheiro de álcool invadir a cabine, porém a mancha sobre o lenço era verde.

-Álcool com arnica; Sorento respondeu calmamente, aproximou a mão para colocá-lo sobre o ombro da jovem, mas ouviu-a gritar e afastar-se rapidamente. –Calma;

-Isso dói; ela reclamou, afastando-se ainda mais quando ele aproximou-se novamente.

-Mas vai impedir que piore;

-Já disse, não precisa. Com o tempo sara sozinho; Ariel falou contendo um breve tremor.

-Vamos Ariel, vai ser rápido se me deixar cuidar disso; Sorento falou fitando-a com ar sereno.

Fitou-o longamente, porque será que apesar de tudo, confiava nele? –ela se perguntou confusa, mal sentindo o cavaleiro segurar seu braço e colocar o pano com álcool, só notou isso quando a pele ferida começou a arder.

Piscou seguidas vezes, desviando o olhar com a face levemente corada.

-Não é tão ruim, não é? –Sorento perguntou com um sorriso doce nos lábios, vendo, balançar a cabeça freneticamente para os lados, pelo visto não ouvira o que disse; ele concluiu.

-Você é de Atenas mesmo? –ela perguntou mudando de assunto.

-Sou, mas passei alguns anos fora do país e voltei a Atenas, pouco mais de seis meses; ele explicou. –E você?

-Sou daqui também; Ariel murmurou, enquanto ele fazia um leve curativo em seu ombro. –Não consigo me imaginar vivendo em outro lugar que não seja a Grécia; ela falou com um sorriso nervoso quando ele se aproximou mais, ficando perigosamente próximo.

-E eu que pensei que o sonho de toda garota fosse viver em Paris, Madri, ou qualquer uma das capitais mais badaladas; o marina falou com um sorriso maroto nos lábios ao vê-la estreitar os orbes perigosamente. –Mas pelo visto você não pensa assim; ele completou;

-Vou me abster do direito de permanecer em silêncio, se eu fosse dizer o que penso, você ficaria escandalizado; ela completou rolando os olhos. Os homens de sua época eram tão cansativos, alias, eles e suas mentes limitadas pelo baixo ventre.

-Porque não experimenta dizer, ai eu julgo se é algo tão escandaloso assim; Sorento sugeriu com ar curioso.

-Acredite, você não vai querer; Ariel insistiu.

Quantos anos tinha mesmo, ah sim... Dezoito e ainda estava solteira, para a desgraça da família, que pretendia lhe ver casada com quinze, isso é claro se tivesse um gênio dócil, fosse de se submeter e não houvesse espantado cada um dos pretendentes.

Por sorte, na primeira oportunidade, deixara a casa dos pais e fora viver com a prima. Carite era independente e não tinha ninguém para prestar contas que não fosse a si própria e ela não se importou de lhe abrigar quando deixara a casa dos pais, com os mesmos praguejando uma infinidade de impropérios de como iria ficar mal falada e outras coisas mais.

Era pedir muito ser compreendida? Não, definitivamente não, mas não estava disposta a pagar com sua liberdade para agradar a família. Agora sua família resumia-se a ela e Carite, sem ninguém mais para lhe aborrecer. Amava seus pais, claro que sim, mas não o suficiente para casar-se com algum velho amigo da família, que pretendia lhe usar como bibelô de exposição e achar que aceitaria isso fácilmente. Depois da ultima discussão com os pais, deixara claro que não pretendia se casar.

Talvez pelo que notara do cavaleiro a sua frente, ele era o tipo que concordaria com seus pais sem ao menos lhe conhecer. Uma pena... Uma grande pena; ela pensou.

-Mas...;

-Acho que terminou; Ariel falou afastando-se quando o ultimo curativo fora feito.

-...; Sorento assentiu. Pressioná-la a conversar consigo não iria ajudar em nada; ele pensou. –Então, se quiser descansar, fique a vontade, vou arrumar as coisas para voltar para a praia;

-Por quê? –ela perguntou confusa.

-Não pense que vou deixar você voltar a nado para onde quer que você tenha vindo, não é? –foi a vez dele estreitar os orbes.

-...; negou com um aceno, sem conseguir encontrar palavras para contrariá-lo.

-Ótimo; Sorento falou aproximando-se de um banco próximo ao catre e de lá pegou uma blusa de malhas, aproximou-se da jovem e antes que Ariel pudesse recuar, envolveu-lhe os ombros com a blusa. –Melhor assim; ele completou saindo em seguida da cabine.

Observou-o se afastar, sem conter um breve suspiro. Poderia ser bem teimoso, mas era uma gracinha; ela pensou com um fino sorriso nos lábios.

-o-o-o-o-o-

Observou o veleiro aproximar-se lentamente da praia, num local reservado para barcos, com um dec. Ouvia vozes animadas ao longe, mas isso não lhe importava agora, alias pouco lhe importava. Sua prioridade ali era outra; ele pensou, recolhendo as longas asas negras e mantendo-se oculto dos olhos mortais.

Sentiu a aproximação de alguém atrás de si, mas não se importou, a pessoa iria simplesmente passar por si e mais nada; Anteros pensou.

-Não acha que já esta na hora de passar a guarda? –uma voz melodiosa chegou a seus ouvidos.

Ignorou achando não ser consigo, mas a presença tornou-se ainda mais imponente ao ser ignorada. Sim, ela estava falando consigo. Virou-se para trás com os orbes dardejantes, por ser tirado de seus pensamentos, mas estancou ao ver uma jovem de melenas esverdeadas e orbes azuis atrás de si.

Já a vira antes, mas onde? –Anteros se perguntou.

-Ela vai ficar bem; Carite falou calmamente apontando para o veleiro.

Seguiu a indicação da sereia e viu a jovem de melenas negras sair do veleiro acompanhado do marina. Sentiu seu sangue ferver e serrou os punhos nervosamente, tentando conter o impulso de ir lá e afastá-la dele.

Mesmo depois de anos, quando achava que já havia controlado os efeitos daquela flecha, cada vez que a reencontrava, tinha certeza de que era um fraco.

Respirou fundo, passando a mão levemente pelos cabelos negros, tentando acalmar-se.

-Mesmo que mais um século se passe, a historia vai se repetir e você sabe, o seu lugar nisso tudo; ela falou passando por ele e indo em direção ao porto. –Nos bastidores;

Viu-a se afastar e não pode deixar de concordar com tala firmação, apesar da dor que isso lhe causava, sabia que agora era hora de passar a guarda; o anjo negro pensou antes de desaparecer, no momento que a jovem de melenas negras encontrava a sereia, acompanhada do marina.

Continua...