Some like it cold
(Byakuya e Renji)
Encerrados secretamente naquela penumbra do quarto no alto da escada, tinham as vestes atiradas no chão rente a cama de casal, e os corpos jogados de qualquer jeito, cansados, e ainda ofegantes, emaranhados sobre os lençóis.
Renji esticou uma das mãos para tocar as maçãs rubras do capitão, mas teve o movimento consecutivamente detido pelos dedos longos e frios do homem.
— Não é minha intenção, fazer disso um romance barato. — A voz do Kuchiki saiu esvaída, rasgando a lucidez do outro quase aos sussurros. No entanto, mesmo naquela situação tão íntima e despida, ele ainda tinha seu tom imponente sobre o subordinado, impecavelmente intacto.
O ruivo retraiu seus sentidos diante da repreenda, e levantou-se da cama em sigilo. Estava constrangido com a advertência proferida tão friamente contra seu indício humilde de carinho, que só conseguiu dar de costas sem encará-lo, enquanto apanhava suas roupas sobre o assoalho.
Era característico do capitão, empenhar em fazê-lo se sentir um miserável. E num relacionamento por mais superficial que fosse, ele não seria diferente. Sempre precisava deixar o 'sutil' recado, de que sua insuficiência era tão ínfima, a ponto de privá-lo até mesmo das tentativas de contentar suas insatisfações, quando ele não era capaz de lhe suprir nas necessidades físicas, profissionais ou espirituais.
Ah, o sempre exigente Kuchiki Byakuya! Cheio de peculiaridades e excentricidades tão típicas, que apenas Renji era capaz de enxergar e decifrar, além da visão limitada que os outros conseguiam ter do seu capitão.
— Me desculpe por hoje. — Abarai disse, abrindo amargamente a porta do quarto, na esperança estúpida de que o intragável amante fosse girar o pescoço em sua direção, acalentando suas frustrações.
O homem permanecia estático, envolvido nos finos tecidos de seus nobres lençóis de seda, destilando sua impassibilidade, encarando o espaço vazio que jazia ao seu lado, onde segundos atrás ainda tinha impregnado o calor violento do vice-capitão.
— Ainda não foi? —Devolveu Byakuya indiferente, claramente o expulsando do recinto. O que na linguagem dele, poderia ser arduamente traduzido para: "Quando posso te ver de novo?"
Renji marchou para fora do quarto, com passos contidos e em silêncio, deixando a porta entreaberta, numa decisão irrelevante e proposital.
Já do lado de fora da mansão do Kuchiki, ele fitou a lua cheia com notável ardor em seus pequenos olhos castanhos, e sorriu.
